sexta-feira, 25 de março de 2011

Cegueira política

O primeiro Ministro de Portugal decidiu apresentar a sua demissão ao Presidente da República, na sequência de uma votação em que a maioria da Assembleia da República rejeitou a proposta governamental de medidas adicionais, visando a redução do défice público e do endividamento do Estado.
Esse facto, ocorrido na véspera do início da Cimeira da Primavera, foi chamado à primeira página de inúmeros jornais portugueses e estrangeiros, porque pode significar uma grave crise política em Portugal, mas também porque pode gerar contágios em países como a Espanha, a Itália e a Bélgica e, consequentemente, na moeda única e na própria economia europeia.
Para o governo, a aprovação destas medidas, vulgarmente designadas por PEC 4, era um elemento essencial para assegurar a confiança dos mercados financeiros e para garantir a correcção estrutural do défice e da dívida pública portuguesas.
Para a oposição, as medidas propostas eram demasiado gravosas para a população de menores rendimentos e a forma como foi conduzida a sua apresentação foram consideradas desleais e feriram a sua confiança no governo.
As linhas gerais desse programa já tinham sido apresentadas e tinham merecido o apoio do Banco Central Europeu e da Comissão Europeia, mas foi exactamente essa apresentação sem prévia discussão, que despoletou a situação de crispação entre o governo e a oposição e a demissão do Primeiro Ministro.
Agora, o cenário mais provável são eleições antecipadas, embora até lá se agravem dramaticamente as condições de financiamento e a credibilidade internacional do nosso país. Mas certamente que, nesta grave emergência, haveria outras soluções democráticas se os principais agentes políticos, incluindo os partidos políticos, se tivessem empenhado como o interesse nacional exigia.
Sinto-me defraudado e pergunto-me como é possível, tanto egoísmo e tanta cegueira política.

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