domingo, 10 de julho de 2011

Uma inesperada coesão nacional

Depois do que por cá disseram Cavaco Silva, Alberto João Jardim, António Costa, Rui Rio, os sindicatos e os patrões, os banqueiros e os políticos e tantos comentadores, mas também o que lá por fora disseram Trichet, Juncker, Van Rompuy, Barroso e Lagarde, escondo-me na minha pequenez para não emitir opinião sobre a decisão da Moody’s de baixar o rating da dívida soberana portuguesa e, por arrastamento, das regiões autónomas, das grandes autarquias e das maiores empresas.
Trata-se de um “murro no estômago” e agora tudo se torna mais difícil para dominar a crise, apesar daquela decisão ter gerado um inesperado e raro momento de unidade nacional na sociedade portuguesa. Em 1890 foram os ingleses que nos humilharam com o famoso ultimato, agora é uma empresa privada americana - a Moody’s - que nos castiga severamente ao classificar as nossas dívidas como lixo e ao considerar muito elevada a probabilidade de incumprimento. Porém, nesses apertos, a história mostra-nos que costumamos reagir. Poucas vezes temos assistido a tão unânimes reacções de repúdio e de coesão nacional e, por isso, esta nova situação até pode ter efeitos positivos, porque o BCE, a EU e o FMI também reagiram com prontidão e ficou agora mais claro que são a moeda única e a unidade europeia que estão em causa. De facto, eles não desistem de provocar o efeito dominó na Zona Euro!
No entanto, a superação da nossa crise não depende apenas da evolução do ambiente externo e muito menos da visão da Moody’s, pois passa sobretudo pela correcção estrutural da nossa falsa prosperidade e da muita ganância havidas nas últimas duas décadas, através de soluções endógenas: mais inovação, mais trabalho, mais poupança, mais organização e mais consumo de produtos portugueses. Se assim fizermos, a Moody's deixará de ladrar.

1 comentário:

  1. É com muito gosto que tomei conhecimento da existência deste blogue que visito pela primeira vez. Muitas outras cá voltarei, a isso obriga o nível intelectual do seu autor.
    Para arranque, apenas um pequeno comentário ao presente "post":
    Estou de acordo contigo. Finalmente temos de pensar e agir contando apenas connosco. As especiarias da Índia, o ouro do Brasil, as matérias-primas de África e por último os subsídios da CEE/UE, habituaram-nos mal. De tudo isso que esbanjámos, outros se aproveitaram.
    Já Peter Drucker dizia: não há países pobres nem ricos, há-os é mal e bem organizados.
    N Cruz

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