sexta-feira, 18 de maio de 2012

Olivença e as utopias ibéricas

O semanário O Clarim foi fundado em Macau no ano de 1943 e é propriedade da Diocese de Macau mas, embora não seja a sua voz oficial, é um instrumento de divulgação da doutrina da Igreja Católica e do pensamento cristão na região de Macau. Porém, o semanário também é um dos jornais macaenses que continua a publicar-se em português e esse facto, só por si, torna-o um farol da cultura portuguesa naquela região da República Popular da China. Surpreendentemente, a sua última edição é ilustrada com uma fotografia da belíssima porta manuelina do Palácio dos Duques de Cadaval em Olivença e com o título: “Macau é solução para Olivença”. A cidade de Olivença constitui uma ferida nas relações ibéricas. Situada na margem esquerda do rio Guadiana, foi ocupada em 1801 pelas tropas espanholas concertadas com as tropas napoleónicas, durante a chamada guerra das Laranjas. Porém, o Congresso de Viena assinado em 1815, inclui uma Acta Final em que a Espanha reconhece os direitos de Portugal sobre as localidades por ela tomadas de assalto, embora nunca tivesse libertado Olivença. Oficialmente, o governo português não reconhece a soberania espanhola sobre Olivença e, muito timidamente, considera aquele território “português de jure”, mas também há muitas outras opiniões que insistem que Olivença deveria ser reintegrada no território português. Uma dessas vozes é do Grupo dos Amigos de Olivença, cujo presidente defendeu que a reintegração de Olivença nos mapas político e geográfico de Portugal deverá ser feita “através de uma fase de transição de 20 a 30 anos”, num processo idêntico ao de “Hong Kong e Macau”. Talvez por essa analogia, o semanário macaense destacou este complexo assunto ibérico para a sua primeira página, que é muito semelhante às reivindicações marroquinas sobre Ceuta e Melilla e à reivindicação espanhola sobre Gibraltar. São processos históricos ibéricos que o tempo transformou em utopias, porque a vontade das populações está hoje acima de quaisquer direitos históricos, sejam eles portugueses, espanhóis ou marroquinos.

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