terça-feira, 31 de julho de 2012

A overdose do Gaspar

Desde o ano de 1987, quando Portugal foi admitido na Comunidade Económica Europeia, que o deslumbramento e as facilidades tomaram conta dos portugueses e dos seus dirigentes. De repente, o país passou a aspirar à prosperidade europeia e Bruxelas tornou-se o destino prioritário dos nossos governantes, autarcas, assessores, técnicos e dirigentes muito diversos. Todos - o Estado, as Empresas e as Famílias - passaram a gastar demasiado em coisas não essenciais ou desnecessárias, com fundos próprios e com fundos comunitários, mas quase sempre com um excessivo endividamento. O Estado deixou-se engordar para satisfazer clientelas partidárias e cometeu exageros que são visíveis pelo país em infra-estruturas por vezes sumptuosas. Directa ou indirectamente, o subsídio passou a fazer parte da vida de muita gente. Os bancos perderam a cabeça e emprestaram o que tinham e o que não tinham. O apelo ao consumo e o crédito barato entusiasmaram os mais desatentos. Foram mais de vinte anos de euforia e de cegueira, até que os ventos da crise chegaram a Portugal, mostrando que os cofres estavam vazios, os credores à porta e que o país estava doente.
Quando alguém está doente, deve-lhe ser administrada a medicamentação adequada e proporcionada, nos exactos termos prescritos pelo médico. Nem mais, nem menos. Ao fim de um ano temos verificado como o monocórdico Gaspar – aquele valentão que ataca os fracos e se agacha com os fortes - com o pretexto de querer corrigir o défice público e reformar o Estado, mas sobretudo em obediência à troika, tem aplicado uma receita ao país que é uma verdadeira overdose. Ora, a realidade é que as overdoses enfraquecem os doentes e o resultado da overdose do Gaspar aí está: a emigração a aumentar, o desemprego a atingir os 15.4%, a pobreza a agravar-se, o pequeno comércio a fechar as portas, o interior a desertificar-se, a esperança a perder-se e a coesão social a fragmentar-se. Até o FMI e a OCDE acham que se tem ido longe demais.

Não esqueçamos os burlões do BPN

O Jornal de Negócios noticiou ontem que a maior burla de sempre na banca do Irão foi julgada por um tribunal que ditou a condenação à morte de quatro pessoas, a prisão perpétua para mais duas e várias condenações com penas de prisão até 25 anos, por envolvimento numa fraude de 2,6 mil milhões de dólares (2,1 mil milhões de euros). A fraude foi conhecida em Setembro do ano passado, a justiça funcionou e em poucos meses ditou a sua sentença. Nos Estados Unidos também se têm verificado condenações por infracções bancárias e a mais simbólica foi a de Bernard Madoff, o autor de uma fraude de 65 mil milhões de dólares (cerca de 45 mil milhões de euros), que já está a cumprir uma pena de 150 anos de prisão.
A ganância financeira e as práticas fraudulentas que lhe estão associadas, também existem na Europa, um pouco por toda a parte, estando ultimamente em destaque o que se passa nas bancas espanhola e inglesa. As notícias de falências, fraudes, burlas, lavagem de dinheiro e enriquecimento ilícito de gestores são frequentes, embora as notícias relativas à criminalização dos seus responsáveis sejam mais raras.
Portugal não está à margem dessa realidade. Porém, havendo quem avalie a fraude do BPN - a fraude do século - em quase 10 mil milhões de euros, parece que a punição dos responsáveis tende a ser esquecida. Já são passados muitos meses e eles continuam a passear-se e, despudoradamente, a exibir os frutos da sua vigarice e das suas burlas. Tornaram-se ricos e poderosos, mas não passam de uns burlões encartados. Todos sabem quem são e por onde andam. Alguns continuam encostados à política e até estão bem colocados no Estado e fora dele, como se nada se tivesse passado.
A justiça não acelera o seu trabalho e a imprensa parece ter-se esquecido do “maior escândalo financeiro da história de Portugal” mas, em nome da nossa dignidade, não podemos esquecer os burlões do BPN.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Nunca se deitam foguetes antes da festa

Esta manhã o jornal i ilustrava a sua primeira página com a fotografia da judoca Telma Monteiro, que foi a porta-bandeira da delegação portuguesa no desfile inaugural dos Jogos Olímpicos, anunciando:
Hoje é dia da primeira medalha portuguesa.
Esse título não significava um desejo, mas apenas aquilo a que vulgarmente se chama “deitar foguetes antes da festa”. Outros jornais limitaram-se a salientar que hoje era o dia de Telma Monteiro e de João Pina, insinuando que os seus currículos desportivos justificavam as melhores expectativas para as provas que os dois judocas disputavam hoje.
Porém, ainda não era meio-dia e, para nossa desolação, já ambos tinham sido eliminados, logo no seu primeiro combate. Para quem, durante anos a fio, se dedicou intensamente ao treino, se privou de uma vida normal e alimentou tão intensos sonhos desportivos, este resultado também foi desolador. No entanto, a incerteza quanto ao resultado final é uma das características da competição desportiva e nem sempre ganham os melhores. Os adeptos do desporto têm que estar preparados para essa dolorosa realidade. Que os outros também são bons. Que nós talvez não sejamos tão bons como nos fazem crer. E, sobretudo, que nunca se devem deitar foguetes antes da festa. Os jornais não podem ser vendedores de ilusões. Nem podem exercer esta irresponsável pressão sobre os atletas. Telma Monteiro e João Pina perderam. Paciência. Ganhar ou perder, é a essência do desporto. Melhores dias virão.

sábado, 28 de julho de 2012

Gente famosa: ousadias & atrevimentos


Segundo ela própria anuncia, a revista GQ foi eleita a melhor revista masculina do ano. Nem a Playboy, nem a Penthouse, nem a Maxim. A audiência masculina prefere a GQ!
Embora eu não seja leitor dessa revista, suponho que uma das razões da apetência masculina por esta revista são as suas capas ousadas, com esbeltas jovens despidas e em poses sugestivas, que procuram notoriedade e popularidade a troco de um qualquer cachet. Aparecer na capa de uma revista, seja cor de rosa ou de outra natureza, é certamente um dos melhores caminhos para se ter acesso à profissão de modelo, para uma eventual entrada no mundo do cinema ou, de uma forma mais geral, para se tornar naquilo a que a prensa amarilla convencionou chamar famoso.
Porém, na edição de Julho/Agosto não foi uma jovem à procura de fama que aceitou aliviar-se da roupa para, como se diz na gíria, fazer capa da revista. Bárbara Guimarães é uma popular profissional do entertainment televisivo, mas terá aceite este ousado papel, ou porque ainda ambiciona mais fama do que a que já tem ou porque precisava do dinheiro do cachet, porque os tempos estão nublados e a vida está realmente muito difícil. Porém, a motivação parece ter sido outra, como revelou numa entrevista alusiva aos seus vinte anos de carreira e à sua natureza sedutora. Foi apenas ousadia e atrevimento. A mulher do ex-ministro Carrilho disse: “Sou atrevida por natureza. O meu marido adora, não acha mal nenhum”. Ficamos todos descansados por saber que não é uma questão de fama, nem de dinheiro. É apenas um atrevimento dela, que ele adora. Assim, sim. Não é barbaridade nenhuma!



Londres foi o centro do mundo

Ontem à noite Londres foi o centro do mundo, durante a cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos mas, provavelmente, durante duas semanas, a cidade vai continuar a estar no centro das atenções mundiais devido às esperadas proezas atléticas.
O espectáculo ontem oferecido a muitos milhões de telespectadores foi grandioso e deslumbrante de imaginação, de tecnologia, de luz e de simbolismo, conseguindo mostrar algumas das facetas mais marcantes da história da Grã-Bretanha, desde os primórdios da sua vida rural até à criação do seu famoso Serviço Nacional de Saúde (NHS), passando naturalmente pela revolução industrial. A imprensa mundial e os jornais britânicos não se pouparam em elogios à noite gloriosa e de maravilha.
A cerimónia foi marcada por diversos momentos de grande espectacularidade, como a breve viagem que levou a rainha Isabel II e o agente secreto James Bond a percorrerem Londres de helicóptero e, depois, a saltarem de paraquedas sobre o estádio, que é uma ideia verdadeiramente genial e que ultrapassa muitas convenções que pudéssemos imaginar. Só a ficção do cinema permite esses efeitos. Porém, alguns dos mais conhecidos ícones britânicos contemporâneos que todo mundo conhece e admira, passaram pelo estádio. Houve o humor de Mr. Bean. A fantasia de Mary Poppins e de Harry Potter. A evocação dos Beatles e a música de Paul McCartney. Como se a Grã-Bretanha quisesse mostrar que Londres ainda é o centro ou um dos centros do mundo.
Depois houve o desfile das delegações olímpicas, os discursos apropriados e o acender da chama olímpica, que também foi um espectáculo dentro do espectáculo. Agora, os amantes do desporto vão ter duas semanas de grande interesse televisivo.

terça-feira, 24 de julho de 2012

A crise espanhola e a lusa hipocrisia

A edição de hoje do jornal madrileno La Gaceta traduz a inquietação que atravessa a Espanha, um país “pasto de las llamas”, mas também um país acossado pelos especuladores financeiros que pressionam os juros da dívida e reclamam um resgate, enquanto  a banca e várias comunidades autónomas se vergam ao peso dos credores. A situação é de tal forma complexa que o referido jornal, em vésperas dos Jogos Olímpicos, se refere ao desporto como “a única esperança de Espanha”. Neste inquietante quadro, a entrevista de Felipe González ao jornal El Pais, publicada na edição de 23 de Julho, é um discurso realista ao reconhecer que “a Espanha está a pagar por dez anos de erros baseados numa enorme bolha imobiliária” e ao considerar que Mariano Rajoy tem a obrigação de mobilizar um grande acordo nacional ou de regime para sair da crise. Segundo salientou, os erros resultaram de decisões políticas adoptadas depois de 1998 por José María Aznar, Rodrigo Rato e Mariano Rajoy, que não foram corrigidos pelo governo de Zapatero, que se limitou a “atirar mais gasolina para a fogueira”.
Aqui no rectângulo a evolução não foi muito diferente, mas a nossa hipocrisia cala-se perante os erros do passado, cometidos por sucessivos governos, a começar naturalmente por aquele que foi presidido pelo actual Presidente da República. Passamos pelo pântano e ficamos de tanga. Esquecemos tudo isso. Ávidos de poder e de tacho, os catrogas, os relvas, os borges, os moedas e os nogeiras atiraram-se ao pinto de sousa e imaginaram que o problema estava nas gorduras do Estado e no excesso de institutos públicos. Enganaram-se. Por ignorância ou por má-fé. Não foram competentes, nem responsáveis. Os sinais de ruina do nosso país e uma boa parte do nosso empobrecimento pertencem-lhes.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Tour de France: o triunfo de Wiggins


Terminou ontem em Paris o Tour de France que nesta sua 99ª edição foi ganho, pela primeira vez na sua história iniciada em 1903, por um ciclista inglês – Bradley Wiggins. A imprensa inglesa embandeirou, até porque o êxito aconteceu do outro lado do Canal e a histórica rivalidade com os franceses é tão intensa hoje, como foi nos tempos de Nelson e de Napoleão.
O Tour é uma das mais prestigiadas competições desportivas do mundo e é uma grande festa para os franceses, sendo disputada sempre no mês de Julho, ao longo de cerca de três milhares de quilómetros de estradas que atravessam o território francês e, por vezes, alguns dos países limítrofes. As passagens pelas montanhosas regiões dos Alpes e dos Pirinéus representam as maiores dificuldades para as quase duas centenas de ciclistas que habitualmente tomam parte na corrida.
Este ano, o inglês Bradley Wiggins fez história ao vencer de uma forma indiscutível, embora tivesse o apoio da mais competitiva equipa presente na prova, na qual participaram dois ciclistas portugueses: Rui Costa (18º) e Sérgio Paulinho (50º). Assim, a melhor prestação portuguesa no Tour continua a pertencer a Joaquim Agostinho que, nas corridas de 1978 e 1979, se classificou no 3º lugar.
Pudemos acompanhar o Tour de France, através das transmissões da RTP Informação. Para além das espectaculares imagens que nos chegaram a casa e que nos permitiram saber o andamento da prova passo a passo, também a qualidade do comentário do antigo ciclista Marco Chagas foi de alta qualidade e a lembrar quão incompetentes são a maioria dos comentadores desportivos das nossas televisões.

domingo, 22 de julho de 2012

Austeridade e crise como oportunidades…

A política de austeridade que tem sido seguida em Portugal está a afectar seriamente as nossas estruturas sociais e a transformar a vida das pessoas, criando-lhe dificuldades inesperadas. As medidas fiscais que têm sido adoptadas, o desemprego, a perda de rendimentos do trabalho, a generalizada subida dos preços de bens essenciais e a recessão económica, têm dado origem a um preocupante empobrecimento das famílias. À crise orçamental, juntaram-se a crise financeira, a crise económica e, agora, a crise social. A situação já pode ser classificada como grave. Ao percorrermos as ruas das nossas cidades e vilas, somos confrontados com o desolador retrato de uma crise profunda para a qual não vemos saída no curto prazo, com inúmeras casas comerciais encerradas e abandonadas, enquanto outras procuram resistir ao estertor que as ameaça, através de saldos, promoções e outras formas de atracção da clientela. Se as grandes superfícies já tinham provocado a inviabilização do pequeno comércio, a actual crise parece acelerar o seu fim e aprofundar irremediavelmente esse modelo de negócio.
Porém, no meio desta preocupante situação de austeridade e crise social, há quem não fique de braços caídos e recorra a todos os dotes de imaginação e de iniciativa para obter rendimentos. Seguem, provavelmente, a famosa declaração do nosso primeiro, quando afirmou que a crise deve ser encarada como uma oportunidade para mudar de vida. Será que os “preços do arco-da-velha” e os croquetes a 13 cêntimos, certamente com 23% de IVA incluído, que se anunciam nas proximidades de Santarém, são a concretização de uma oportunidade para mudar de vida?

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Tempos de muita incerteza na Síria

Um atentado suicida ocorrido ontem em Damasco atingiu o comando operacional do regime sírio, causando a morte de alguns dos seus principais dirigentes na área da segurança. No atentado terão morrido o ministro da Defesa, o seu vice-ministro que era cunhado de Bashar al-Assad e o chefe do grupo de gestão da crise e ex-ministro da Defesa. Os confrontos dos últimos dias na capital síria e este atentado representam uma escalada da violência que é muito preocupante e parecem mostrar que as tentativas desenvolvidas por Kofi Annan para encontrar uma solução negociada para o conflito têm sido infrutíferas. 
O Conselho de Segurança das Nações Unidas tem procurado a aprovação de algumas resoluções visando uma solução para o conflito, mas a Rússia e a China têm vetado essas propostas, até porque terão aprendido com a crise líbia e desconfiam da retórica humanitária ocidental que, segundo dizem, não passa de "camuflagem para a troca de regimes" e para o reforço da sua influência nesses países. A Rússia é uma velha aliada do regime sírio e, na actual conjuntura em que está ressurgir como potência mundial, não quer perder o seu aliado sírio para a esfera de influência dos Estados Unidos. Nessas condições, o apoio ao regime de Bashar al-Assad tem sido vital na estratégia russa para o Médio Oriente e, por isso, até parece que voltamos ao tempo da Guerra Fria e do confronto indirecto. Contudo, no problema sírio também entram outras variáveis que nos dificultam a compreensão da preocupante situação: a dureza da ditadura de Bashar al-Assad, as complexas rivalidades entre sunitas e xiitas, as sensíveis fronteiras com o Líbano, Israel e o Iraque, além da aliança com o Irão. São tempos de muita incerteza. 


quarta-feira, 18 de julho de 2012

A banca inglesa é corrupta. E por cá?

Durante anos a fio, habituamo-nos a considerar a banca e o sistema financeiro ingleses como verdadeiros referenciais de seriedade e credibilidade, que todo o mundo respeitava. Os homens e as instituições da City eram um farol orientador do sistema bancário e da finança à escala global. Porém, nos últimos anos as coisas evoluíram e, para além de ter sido contagiada pela gananciosa banca americana, a banca inglesa entrou numa crise endógena, muitas vezes associada a práticas fraudulentas. O resultado foi desastroso e o Estado decidiu capitalizar alguns bancos para suster a crise, mas sucedem-se os escândalos e as trafulhices com contornos criminais.
A propósito do escândalo do Barclays Bank e da manipulação das taxas de juro dos empréstimos interbancários, o jornal The Independent de 3 de Julho titulava: “Will we see City bankers behind bars?”. Alguns dias depois foi a revista The Economist que, a propósito do mesmo assunto, utilizou na sua primeira página a palavra “Banksters”. Hoje é o Daily Mail que, lembrando que o HSBC é o maior banco britânico e mundial, noticia em primeira página: “HSBC let drug gangs launder billions”. A revista Time também hoje titula que “Barclays is just the beginning”. As coisas coincidem num ponto: a fraude e a desonestidade tomaram a banca inglesa de assalto e são altamente responsáveis pela crise financeira mundial. No entanto, tanto quanto parece, as autoridades inglesas decidiram actuar. Aqui, no rectângulo, temos tido problemas bancários de diversa natureza, que terão sido muito graves, sobretudo no BPN. A inacção do BdP e da sua governação ajudou ao escandaloso descalabro que já nos custou alguns milhares de milhões de euros. E o que aconteceu? Nada! Ninguém foi responsabilizado e, pelo contrário, muita dessa gente foi premiada, com reformas milionárias ou com lugares no BCE, na CGD, no Estado e sabemos lá onde mais. Uma vergonha!

terça-feira, 17 de julho de 2012

Estamos num navio à deriva e sem rumo

O nosso país assemelha-se cada vez mais a um navio à deriva, ao sabor das ondas e dos ventos, desgovernado e sem rumo. A população anda inquieta e muito desorientada, devido ao desemprego, à carga fiscal, à debilidade da economia, à ineficiência da justiça, à insegurança, à descredibilização do Estado e, sobretudo, à perda de confiança na generalidade dos governantes e dos políticos.
Nesta emergência eram necessárias vozes e atitudes de comando, bons exemplos, experiência, seriedade e realismo. Porém, basta ouvir os discursos redondos e vazios dos poderes, para se perceber que também andam desorientados, que não estão a perceber o que se passa, que não têm rumo e que não têm nada para nos dizer, nem ideias para nos tirarem deste sarilho. O povo já os assobia e ridiculariza e, muitos deles, não passam de vaidosas e arrogantes caricaturas, sempre encostadas aos desígnios da troika.
O caso não é novo. Ao longo dos anos o Estado foi infiltrado por uma geração de boys que se instalaram e que depois passaram a circular pelas empresas, pela banca e pelos escritórios de advogados. Que se especializaram no lobby, na chantagem, no tráfico de influências, na cunha e no favorzinho. Que acumulam cargos. Que não têm preparação adequada. Que se protegem mutuamente. Que constroem currículos virtuais. Que não conhecem o mundo do trabalho. Que aspiram ao poder e ao dinheiro. Que enriquecem. Muitos chegam a secretários de Estado e a ministros e, antes e depois, são administradores ou assessores de empresas. São quase sempre os mesmos. Muitos vieram das chamadas jotas, das concelhias e das distritais do partido e muitos chegaram ao topo da pirâmide sem se saber bem porquê. Fazem parte de uma geração de boys que tem uma rede de lugares para oferecer ou trocar com os amigos e os militantes do partido. Que negoceia favores e estabelece relações promíscuas entre interesses públicos e privados. Que tem lugares assegurados na EDP e na CGD, na REN e na LUSOPONTE, mas também na JM, no BES, na IBERDROLA, na GALP, na CIMPOR e assim sucessivamente. As empresas municipais estão cheias deles. E são estes boys, altamente responsáveis pela descredibilização do Estado que continuam a querer dirigir-nos e a deixar que o navio ande à deriva.

O grande espectáculo olímpico está aí!


Faltam apenas dez dias para podermos assistir à cerimónia de abertura dos Jogos da XXX Olimpíada, que serão realizados em Londres a partir do próximo dia 27 de Julho e se disputarão até ao dia 12 de Agosto de 2012, com a prevista participação de 204 Comités Olímpicos Nacionais. Através do seu Comité Olímpico, Portugal participou pela primeira vez nos Jogos Olímpicos realizados na cidade de Estocolmo em 1912 e, desde então, tem participado em todas as edições, sendo a décima oitava nação com mais assiduidade olímpica. Geralmente, os resultados desportivos e o interesse do público português pelos Jogos não foram interessantes, mas nos últimos decénios a televisão deu um forte contributo para popularizar e massificar as competições olímpicas. Surgiram atletas de categoria mundial e, até 2008, os atletas portugueses conquistaram 22 medalhas olímpicas (quatro de ouro, sete de prata e onze de bronze).
A representação portuguesa que estará em Londres para participar na XXX Olimpíada é constituída por 42 atletas masculinos e 33 atletas femininos, que irão competir em 13 modalidades desportivas, com destaque para o atletismo, a vela e a canoagem, respectivamente com 22, 13 e 11 atletas. Segundo tem sido declarado pelos especialistas e comentadores desportivos, não é provável que os atletas portugueses venham a conquistar quaisquer medalhas. O tempo de Carlos Lopes, Rosa Mota e Fernanda Ribeiro parece que já lá vai. Serão sinais destes tempos de crise? Mas aguardemos. Acompanhemos esse grande espectáculo televisivo através dos canais da RTP e do Eurosport.

domingo, 15 de julho de 2012

Viva a chamarrita açoreana!

Foi ontem foi apresentado em ante-estreia em Lisboa, o documentário Não Me Importava Morrer Se Houvesse Guitarras No Céu“, realizado por Tiago Pereira e financiado pelo Governo Regional dos Açores.
O documentário é um notável registo da chamarrita, uma prática musical coreográfica que é tocada, cantada e dançada nos Açores e, especialmente, nas ilhas do Pico e do Faial, mas é também um alerta para a necessidade de estudar e preservar essa prática cultural, como uma manifestação do património cultural açoreano. A chamarrita é um dos mais antigos bailes tradicionais dos Açores e as suas origens não são bem conhecidas, embora seja um elemento enraizado na cultura e na identidade açoreanas. Trata-se de um baile de roda mandado, que é acompanhado quase sempre por cantadores e, sempre, por tocadores com viola da terra, violão, bandolim e, eventualmente, um ou outro instrumento, tendo diferentes coreografias que variam de ilha para ilha e até de freguesia para freguesia. A chamarrita resistiu às modernas práticas culturais e convive com elas, atraindo espontaneamente a população nas festas populares, mas também acompanhou a emigração açoreana e está presente nas comunidades do outro lado do Atlântico, sobretudo no Rio Grande do Sul e na Califórnia, entre outras.
O documentário de Tiago Pereira é, por isso, um documento de grande qualidade etnográfica e valia cultural e é, também, um estímulo para que o fenómeno da chamarrita possa ser devidamente estudado no contexto do património imaterial açoreano.

sábado, 14 de julho de 2012

Espanha com austeridade e sacrifício

Sob a pressão da sua realidade económica e das imposições da União Europeia, o governo de Espanha decidiu avançar com medidas de austeridade que possibilitem o equilíbrio das suas contas públicas e, entre elas, a subida da taxa máxima do IVA para 21%, o corte de salários aos funcionários públicos, a supressão da dedução fiscal na compra de casa e o corte nos subsídios de desemprego. Trata-se de uma dura receita, semelhante à que tem sido adoptada nos países em dificuldade, como por exemplo em Portugal.
A imprensa espanhola deu-lhe o devido destaque: Sacrifício titulava o La Razon, El gran ajuste anunciava o La Vanguardia ou A Europa ya manda, dizia o La Gaceta, enquanto o El País anunciava La EU pone bajo tutela a España.
A vice-presidente e porta-voz do governo espanhol foi clara ao dizer que “a Espanha vive actualmente um dos momentos mais difíceis e dramáticos da nossa História recente” e que as medidas de austeridade adoptadas não são fáceis nem populares, ao referir-se ao programa de ajustamento de 65 mil milhões de euros.
Porém, o problema espanhol é muito mais vasto, devido ao elevado índice de desemprego, à debilidade da banca, às dívidas das comunidades autónomas e às desigualdades regionais, pelo que a população, os sindicatos e outras forças reagiram de imediato e manifestaram-se nas ruas.
São tudo más notícias para Portugal, não só pela instabilidade social que se adivinha do outro lado da fronteira e que pode ter efeitos de contágio, mas também porque haverá menos importações de produtos portugueses e menos turistas espanhóis a visitar-nos.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Passeios tropicais em tempo de crise

Não é honesta a forma tão dispendiosa para o erário público que foi utilizada pela jovem mas experient ministra da agricultura e das florestas e das pescas e do mar e do ambiente e do ordenamento do território e de outras coisas que eu nem me lembro, para ganhar popularidade entre as suas hostes, ao proporcionar passeatas tropicais aos amigos.
Este tipo de porreirismo é condenável e os sacrifícios que me estão a ser exigidos em termos fiscais e outros, não podem servir para financiar estas irresponsabilidades da jovem e experient ministra. Exactamente quando eu recebo a notificação para pagar quatro vezes mais de IRS relativo a 2011 relativamente ao que pagara em 2010, para o mesmo rendimento, a jovem e experient ministra autorizou a ida de vinte pessoas do seu super-ministério à Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, conhecida também como Cimeira Rio+20, realizada no Rio de Janeiro, que visava discutir coisas importantes como a renovação do compromisso político com o desenvolvimento sustentável. E lá foram vinte assessores e adjuntos e secretários de estado e técnicos e sei lá quem mais. As clientelas do costume. Para quê tanta gente? Ao menos assistiram às reuniões? Apresentaram comunicações? O que ganhamos nós com isso?
Segundo revela o Correio da Manhã, esta decisão da jovem e experient ministra terá custado pelo menos 40 mil euros, sem incluir as ajudas de custo, pois as viagens aéreas terão custado cerca de mil euros cada uma e cada quarto de hotel rondava os 400 euros por noite. A  jovem e experient ministra ainda teve a insensatez de argumentar, não com o interesse nacional dessa viagem, mas com a bonificação que houve nos preços das viagens e dos hotéis. Depois queixam-se que o défice não baixa... Curiosamente, devido ao elevado preço dos quartos dos hotéis, o Parlamento Europeu cancelou a sua participação nesse evento. São os maus exemplos, como foram estes passeios tropicais em tempo de crise, que nos fazem desconfiar de tudo isto.

Promoção do país ou promoção pessoal?

Durante cerca de uma semana o ministro Portas deambulou pela China e, qual Fernão Mendes Pinto, andou peregrinando “por esse rio acima”, a chefiar uma comitiva aparentemente numerosa mas cuja composição não foi divulgada, lutando bravamente pelo interesse nacional – vender empresas e produtos, atrair investimentos e turistas. Foi uma estrela, um verdadeiro artista! Simultaneamente, ele era o ministro, o condottieri, o técnico de marketing, o estratega, o negociante, o animador, o elo de ligação entre o Ocidente e o Oriente e o “especialista a resolver problemas”, como a si próprio se classificou. A RTP, que nós pagamos, acompanhou-o e deu-lhe a visibilidade interna que ele ambicionava. O seu currículo ficou mais rico e mais internacional. Os chineses ficaram certamente impressionados com o estadista lusitano e com as suas ideias inovadoras, sobretudo quando ele descobriu que Macau pode ser uma plataforma de promoção de Portugal na China, uma coisa que nunca tinha sido antes descoberta. Porém, esquecendo que Macau já não está sob administração portuguesa, ei-lo a sugerir o envolvimento das autoridades da Região Administrativa Especial de Macau da República Popular da China no encaminhamento do turismo chinês para Portugal, ao afirmar que "Portugal tem que fazer, com a colaboração das autoridades de Macau, um esforço especialmente relevante junto da promoção turística aqui em Macau". Genial. Sobre a viagem da sua comitiva à China, o ministro disse que “cumpriu completamente os objectivos que tinha” e acrescentou que “confirmou a parceria estratégica entre a China e Portugal”. Na sua obsessão por regressar à Pátria com uma folha inteira de bons serviços, quase ignorou aqueles que por aquelas terras longínquas asseguram quotidianamente a preservação da língua e da cultura portuguesas. O jornal macaense Hoje Macau reagiu a essa desconsideração e denunciou que “Portas só vê cifrões”. Os portugueses de Macau e, naturalmente, a sabedoria chinesa ainda devem estar a rir-se deste xico-esperto.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Federer: o homem de todos os recordes

Ontem, o tenista suiço Roger Federer venceu pela sétima vez na sua carreira o Torneio de Wimbledon, o mais antigo e mais prestigiado torneio de ténis do mundo, que se disputa desde 1877. Com essa vitória, Federer igualou o recorde de vitórias neste torneio que era detido pelo americano Pete Sampras, voltando a alcançar a liderança do ranking ATP e permitindo-lhe igualar e ultrapassar o recorde de 286 semanas como número um mundial que também pertencia a Pete Sampras. Os jornais de todo o mundo evidenciaram este notável feito, mas terá sido o jornal desportivo belga DH aquele que deu o destaque mais apropriado ao feito de Roger Federer: o homem de todos os recordes.
De facto, Federer conquistou 17 títulos do Grand Slam (quatro no Open da Austrália, um no Torneio de Roland-Garros, sete em Wimbledon e cinco no US Open) e um career Grand Slam (a vitória nos quatro torneios do Grand Slam, um recorde que partilha com cinco tenistas). Tem o recorde de 24 finais de Grand Slam disputadas e de participação em 23 semifinais consecutivas do Grand Slam, o que totaliza seis anos consecutivos de participações em semifinais de torneios do Grand Slam.
Conquistou o Laureus World Sportsman of the Year por quatro anos consecutivos e também detém o recorde de vitórias na ATP World Tour Finals. Como consequência desta carreira, na versão de 2012 da lista dos atletas mais bem pagos do mundo divulgada pela revista Forbes, o tenista Roger Federer aparece em 5º lugar com proveitos de 41.7 milhões de euros, apenas superado por dois boxeurs, um golfista e um basquetebolista americanos. É de facto, um homem de recordes.

O gangsterismo bancário

A maior referência da imprensa económica mundial – The Economist – acaba de criar ou ressuscitar um substantivo que define o que tem sido o comportamento do sector bancário britânico e dos seus gestores: banksters! A palavra deriva directamente de gangster, um termo usado para definir um membro de uma organização criminosa ou, mais propriamente, um bandido que actua integrado numa quadrilha ou, como hoje se diz, que actua em rede. A palavra foi adoptada pela língua portuguesa que, com alguma frequência, utiliza o termo gangsterismo, para definir comportamentos próprios de gangsters, incluindo o banditismo e o crime organizado.
The Economist utilizou a referida palavra devido ao recente caso Libor, em que os gestores do Barclays Bank manipularam a taxa de juro de referência do mercado inter-bancário londrino, no sentido de aumentar os seus lucros.
Mas a história vai muito para além da Grã-Bretanha e atinge os Estados Unidos, o Canadá e a União Europeia, envolvendo o Citigroup, o JPMorgan Chase, a UBS, o Deutsche Bank e o HSBC, entre muitos outros bancos. E a conceituada revista diz peremptoriamente: “Employees, from New York to Tokyo, are implicated”.
Essa cultura de ganância e de desonestidade bancária, bem como essa prática do “vale tudo” alastrou e também terá influenciado outras taxas de referência, designadamente a Euribor, o que representa prejuízos para cada um de nós e mais lucros para os bancos, que se esqueceram que o seu papel é apoiar os seus clientes e a economia e não o de encher os bolsos dos seus accionistas e gestores. Como salienta a revista inglesa é a ganância do gangsterismo bancário, de que também nós somos vítimas indefesas neste canto da Europa.

domingo, 8 de julho de 2012

A obscenidade das pensões milionárias

Na sua edição de hoje, o Correio da Manhã denuncia que foi atribuída a um gestor do BPN uma pensão milionária de cinco mil euros líquidos mensais, além de receber uma indemnização de 178.655 euros e de ficar com o Mercedes que lhe estava atribuído. Em tempo de grande austeridade e quando se esperaria que fossem julgados e responsabilizados os gestores do BPN, esta notícia é uma afronta para a generalidade da população e evidencia que vivemos numa sociedade cada vez mais desigual e mais injusta, com a inquietação a generalizar-se e a ameaça de uma grande turbulência a aparecer no nosso horizonte. As chamadas pensões milionárias que foram ou estão a ser atribuídas num contexto de uma prosperidade económica que se esgotou, têm que ser rapidamente analisadas à luz de uma nova legislação que fixe um tecto máximo, justo e digno, proporcional ao contributo social de cada um, mas que seja moderado face à realidade nacional. Não é aceitável que os bancos e outras empresas, prósperas ou falidas, paguem chorudas indemnizações e pensões de dezenas ou mesmo centenas de milhares de euros a quem as serviu ou delas se serviu, recorrendo muitas vezes ao Estado para satisfazer esses encargos. É falsa a ideia de que são casos muito raros e sem significado na economia ou nas finanças públicas. Muitas dessas pensões, por via directa ou indirecta, são sugadas ao contribuinte e ele começa a perceber que é assim. Os casos que se conhecem na banca, por vezes com acumulação de várias pensões e de salários, são verdadeiras obscenidades no plano simbólico e, por vezes, premeiam quem teve altíssimas responsabilidades no estado a que isto chegou. Direitos adquiridos? Eu também tive os meus...

quinta-feira, 5 de julho de 2012

"Leões à conquista da Índia"

A Índia é um país muito grande e o seu desporto favorito é o cricket, embora o entusiasmo pelo futebol venha aumentando nos últimos anos devido às transmissões televisivas e já comecem a aparecer algumas estrelas de âmbito local. Uma delas é Sunil Chhetri, avançado do Mohun Bagan de Calcutá, que já representou a selecção da Índia por 58 vezes e que acaba de ser contratado pelo Sporting Clube de Portugal. Provavelmente, é o primeiro jogador de futebol indiano a jogar na Europa e, talvez por isso, o assunto chegou à primeira página do The Times of India, onde é salientado que Sunil Chhetri vai jogar no clube que produziu Figo e Ronaldo. O jornal Record anunciou esta transferência de um jogador de futebol de uma forma desproporcionada e caricata, como acontece muitas vezes com os jornais desportivos: leões à conquista da Índia.
Evidentemente que o público ligado às transferências de jogadores de futebol percebeu aquele título, mas se ele fosse tomado à letra até podia ser provocatório. Os nossos jornais desportivos distinguem-se, entre muitas outras especificidades, pelo sensacionalismo dos seus títulos, em que a utilização de metáforas é muito frequente, embora nem sempre contribuam para a melhor percepção da notícia, devido à diversidade e heterogeneidade do público leitor. Neste caso, em que a presença de um futebolista indiano em Portugal é uma notícia interessante no plano desportivo, não faz qualquer sentido falar em "conquista da Índia" pois recorda-nos algumas grandezas e misérias do nosso passado histórico, além de certamente não agradar aos indianos. Embora seja um assunto apenas curioso e sem importância, o facto é que aquele título é ridículo e desproporcionado.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Quem semeia ventos, colhe tempestades!

Nos últimos tempos estivemos tão concentrados nas coisas do futebol e no que se passava nos relvados, que nem demos a devida atenção ao que se passava com o relvas, habituados como estávamos a ouvi-lo falar de tudo, de bandeirinha na lapela e sempre rodeado de abraços, vénias e seguranças. Muito se escreveu sobre o poderoso relvas, dizendo-se que tudo controlava e que até o nosso primeiro dele dependia. Porém, nas últimas semanas o relvas foi protagonista da nossa imprensa por razões menos felizes. Em sucessivos artigos, era denunciado o uso de um excessivo poder, as pressões e as ameaças feitas sobre a imprensa, as ligações às secretas, à televisão pública e aos grandes interesses económicos internos e internacionais. O relvas parecia atravessar transversalmente a nossa sociedade. Estava em todas e a inteligente e arguta Clara Ferreira Alves já lhe dedicara um interessante artigo a propósito das suas ligações à Família Santos e à terra africana onde ele próprio crescera.
De repente, surgiu a dúvida e levantou-se o problema de saber se o relvas era doutor ou apenas um simples licenciado, qual era a sua especialização e como atingira tão elevado patamar académico. O assunto demorou algum tempo a esclarecer. Soube-se agora que o percurso académico do relvas é um cambalacho de todo o tamanho. Aparentemente fez uma ou duas cadeiras das 36 a que o plano de estudos o obrigava e, ao fim de um ano, teve o diploma. Uma vergonha para ele, para a instituição universitária e para nós todos. Algumas  universidades entraram na promíscua relação entre a política e os negócios e, aparentemente, andam muitos relvas por aí. Como se imaginava. Agora fico com a curiosidade de ouvir aqueles que tanto atacaram o pinto de sousa por muito menos. E não tardará a aparecer um qualquer paco bandeira a cantar: ó relvas, ó relvas, badajoz à vista...  
É sempre assim: quem semeia ventos, colhe tempestades!

terça-feira, 3 de julho de 2012

Alguém nos anda a enganar


A falência do Lehman Brothers, ocorrida em Setembro de 2008,  deu origem a uma grave crise financeira nos EUA, que contagiou o sistema financeiro mundial e veio a permitir a detecção de uma generalizada situação de incontrolada ganância, desmedida ambição e fraudulenta actividade bancária  em diversos países.  Muitos bancos deixaram de ser os locais onde as pessoas depositavam o seu dinheiro, para se tornarem centros de criminosa especulação. Em Portugal, a face mais visível dessa realidade foram os escândalos do BPN e do BPP, casos ainda por esclarecer e responsabilizar convenientemente. Como é triste e lamentável esta impunidade que nos envergonha!
Neste quadro de fragilidades, em Julho de 2011 as nossas autoridades financeiras e a banca portuguesa “respiraram de alívio” com a divulgação dos resultados positivos dos chamados testes de stress realizados no quadro do BCE. O Banco de Portugal, que foi a entidade responsável pela condução desses testes, anunciou então que o BCP, o BPI, a CGD e o Espírito Santo Financial Group, a holding que detém o BES, tiveram nota positiva nesses testes de resistência.
Passou menos de um ano e, agora, vem o ministro das Finanças anunciar que o Estado vai injectar mais de 6 mil milhões na banca: BCP e BPI com 4,5 mil milhões de euros e a CGD com 1,65 mil milhões, o que coloca os três maiores bancos portugueses “entre os mais bem capitalizados da Europa”. O BES parece ir ficar fora desta via de capitalização, pois realizou recentemente um aumento de capital de 1.010 milhões de euros, evitando assim o recurso ao apoio estatal. O assunto é controverso e complexo. Porém, se os testes de stress foram positivos em Julho de 2011, como surgiu esta necessidade de capitalização da banca em Julho de 2012? A quem aproveita tudo isto? É evidente que alguém nos anda a enganar. Ou não?

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Helsinki 2012: ouro para Dulce Félix

Decorreram em Helsinquia os Campeonatos Europeus de Atletismo e, no quadro oficial das medalhas conquistadas, verifica-se que foram medalhados atletas de 27 países e que Portugal aparece colocado na 11ª posição dessa tabela. Foi um resultado positivo para a representação portuguesa que conquistou três medalhas: uma de ouro por Dulce Félix que se tornou campeã europeia dos 10 mil metros, uma de prata por Patrícia Mamona que se classificou em 2º lugar no triplo salto e uma de bronze por Sara Moreira, que obteve o 3º lugar nos 5 mil metros. Todas estão de parabéns, especialmente Dulce Félix, até porque o seu êxito fez com que o hino nacional fosse ouvido na Finlândia.
O atletismo não é um desporto de massa e a preparação de atletas para a alta competição é, provavelmente, mais exigente do que em qualquer outra modalidade desportiva, implicando muitos anos de preparação e treino, para além de muito sacrifício e de muita privação. A escada do sucesso é longa e com muitos degraus que são percorridos anonimamente e no esquecimento dos jornais e das televisões. Porém, no historial olímpico português que regista apenas 22 medalhas, verifica-se que 11 foram conquistadas no atletismo (incluindo 4 medalhas de ouro), o que dá à modalidade um especial estatuto no panorama desportivo português. No caso de Dulce Félix, que em Novembro se classificara em 4º lugar na maratona de Nova York, o resultado agora obtido deixa boas perspectivas para os Jogos Olímpicos de Londres onde irá correr a maratona. Será a sucessora de Rosa Mota por que esperamos há muitos anos?

“Invencible España”

A selecção espanhola ganhou com brilho o campeonato da Europa de Futebol e, se tomarmos em conta as vitórias no campeonato da Europa de 2008 e no campeonato do Mundo de 2010, este resultado é um acontecimento único na história do futebol mundial. Os espanhóis que tão preocupados têm andado com a crise financeira, o enorme desemprego e as complexas questões das autonomias, para além das fragilidades e dos imbróglios da sua realeza, explodiram de incontida alegria e exibiram um sentido de unidade e de orgulho nacional que só o futebol lhes poderia dar: Invencible España, titula o ABC, mas esse é apenas um exemplo do exagero em que terá caído a imprensa espanhola.
De facto, a Espanha vive hoje um momento único de júbilo e festeja euforicamente este resultado. Todos os seus problemas foram postos para segundo plano e a simbólica fotografia dos jogadores a levantar a taça conquistada, ilustra as capas de todos os jornais espanhóis - nacionais, regionais, generalistas, desportivos e até económicos. É realmente um momento único na vida de nuestros hermanos.
No plano desportivo a vitória espanhola foi indiscutível e pode afirmar-se que ganhou o melhor ou quem mais mereceu.
No entanto, o reconhecimento do mérito da vitória espanhola também serve para nos recordar que estivemos tão perto e que fomos traídos por traves e postes.
Los españoles ganaron bien, pero no son invencibles. Nosotros lo sabemos bien!  

domingo, 1 de julho de 2012

UNESCO distinguiu os fortes de Elvas

A 36ª sessão do Comité do Património  Mundial da UNESCO que tem estado reunido em São Petersburgo, na Rússia, classificou como Património Cultural da Humanidade as muralhas e fortificações de Elvas, que constituem a maior fortificação abaluartada do mundo.
O conjunto de fortificações que foram classificadas estendem-se por um perímetro de cerca de dez quilómetros e por uma área de 300 hectares, onde se incluem todas as fortificações da cidade, os dois fortes - o Forte de Santa Luzia do século  XVII e o Forte da Graça do século XVIII -, os três fortins do século XIX, as três muralhas medievais e a muralha do século XVII, além do famoso Aqueduto da Amoreira, um dos ex-libris da cidade. Com a classificação das muralhas e fortificações de Elvas, passa a haver 14 bens culturais ou naturais portugueses inscritos na World Heritage List da UNESCO.
O reconhecimento do valor histórico e arquitectónico do património edificado em Elvas, por parte da UNESCO, também valoriza substancialmente a cidade e torna-a num pólo de atracção do turismo cultural, facto a que as autoridades locais não deixarão de estar atentas. Por isso, para tantos portugueses que por lá passam ao lado na "sofreguidão" das compras em Badajoz, parece ser a altura de visitarem a monumentalidade de Elvas e de apreciarem a sua gastronomia, pois há muitos e bons sítios para isso.