domingo, 19 de agosto de 2012

Um jornalismo de vão de escada?

Nos últimos tempos tem sido ouvida a voz de gente muito corajosa que, sobretudo através da televisão, tem denunciado o compadrio e a promiscuidade que, simultaneamente, domina o aparelho de Estado e os interesses empresariais, havendo algumas dessas vozes que não hesitam em utilizar a palavra corrupção para descrever o estado a que chegamos. Ninguém tem dúvidas quanto às dificuldades por que passamos e, por isso, é exigível mais rigor na gestão pública e mais equidade nos sacrifícios pedidos à população. A austeridade é realmente necessária, mas os sacrifícios têm que ser equitativamente repartidos. Porém, não tem sido assim e isso é uma chocante evidência, que deve ser denunciada pela imprensa.
Os relatos que circulam na blogosfera, verdadeiros ou não, são muito preocupantes. Somos frequentemente confrontados com informações relativas a admissões nos quadros do Estado de assessores, especialistas, motoristas e gestores, aparentemente amigos e até familiares do poder. É verdade ou não? Haverá governantes que viajam demais e que levam consigo grandes comitivas. É verdade ou não? Dizem que há serviços e fornecimentos adjudicados aos amigos e sem concurso. É verdade ou não? Dizem que há demasiadas excepções à supressão dos subsídios dos assalariados e pensionistas do Estado. É verdade ou não? A imprensa e os jornalistas raramente tratam esses temas. Estarão dependentes dos poderes que dominam a sociedade? Estarão amedrontados? Será uma questão de preguiça ou de obediência à lei do menor esforço?
A generalidade dos jornalistas perde muito tempo com o futebol e com os pequenos escândalos sociais, esquecendo a sua função de formar e de informar sobre os assuntos importantes e, sobretudo, está a perder a prática da reportagem de investigação que traga para o conhecimento público os casos de desgoverno, de abuso de poder, de despesismo, de favorecimento ilícito e de corrupção, que possam eventualmente constituir notícia com interesse relevante. O jornalismo que vamos tendo parece de vão de escada ou, como se diz na gíria, é um jornalismo de corta e cola.

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