terça-feira, 30 de abril de 2013

Até ele anda à procura do consenso



A política anda muito agitada porque as coisas não têm corrido bem, não só porque os tempos estão muito difíceis por esta Europa que cada dia se encaminha para a fragmentação, mas também porque há demasiada arrogância e pouca humildade naqueles que nos governam e que estão a dar uma imagem de incompetência, falta de imaginação e ausência de coragem. 
Os tempos em que diziam não precisar de mais tempo nem de mais dinheiro já passaram e os conselheiros do tipo catroga, borges, nogeira e moedas, que tantas ilusões venderam, estão ausentes. Agora, no meio da tempestade em que se meteram, descobriram que era necessário o consenso e não falam noutra coisa. Até o contabilista-mor, ou representante da troika no governo, insiste no consenso para apoiar as suas ideias lunáticas e aberrantes de aplicar medidas de austeridade cada vez mais severas para satisfazer os especuladores internacionais, mesmo que essas políticas conduzam ao desemprego e ao empobrecimento dos portugueses. Ao fim de dois anos de governo, o homem ainda não percebeu que a austeridade mata a economia e comporta-se como um pequeno lacaio do ministro Wolfgang Schauble, o homem que disse, a partir de Berlim, que as críticas à Alemanha resultam da inveja. Já aqui tínhamos referido em Janeiro que “há um cavalo de Tróia no nosso governo” e, depois, em Fevereiro, chamamos a atenção para “o agente favorito da troika”. Hoje ninguém tem dúvidas disso e não é para admirar esse comportamento de um funcionário que foi director-geral do Banco Central Europeu e conselheiro na Comissão Europeia, isto é, estudou muito e andou sempre por bons lugares, mas que percebe muito pouco de economia e não compreende que a dignidade nacional é um valor.
Mas afinal, para quem é que ele governa? Para os especuladores ou para os portugueses? O jornal i destaca hoje que ele está isolado no governo. Deve estar. Então que se vá embora para vermos se ainda é possível seguir outro caminho.


sexta-feira, 26 de abril de 2013

A "jangada ibérica" está em perigo



Os jornais espanhóis destacam hoje com enorme apreensão que, no final do primeiro trimestre de 2013, o desemprego atingiu 27,16% e, pela primeira vez, ultrapassou os seis milhões de desempregados, com a Andaluzia e a Extremadura a atingirem 36,8 e 35,5% de desempregados, respectivamente. A notícia caiu como uma bomba numa sociedade em crise política, económica e social. Com base nessa notícia, o jornal i associou as realidades espanhola e portuguesa, tendo-se inspirado em “A Jangada de Pedra”, um romance de José Saramago que conta a história ficcional da separação geográfica da Península Ibérica do continente europeu, ficando os dois países ibéricos a navegar à deriva no oceano, sem se identificarem cultural, social ou economicamente com o espaço europeu. E o jornal i titula:  
  Jangada de Pedra afunda-se.  
  Portugal e Espanha com mais de 7 milhões de desempregados.  
Na realidade a catástrofe social está a atingir fortemente a Península Ibérica, com Portugal e Espanha a baterem sucessivamente recordes no desemprego e sendo cada vez mais consensual que estão a ser vítimas das políticas de austeridade impostas pelos seus credores internacionais. No conjunto, há 7 125 900 pessoas sem trabalho, mas a realidade é bem mais negra nos dois países se forem contabilizados os que já deixaram de procurar emprego e ficaram de fora das estatísticas oficiais. Este panorama não se vai alterar a curto prazo, pois as previsões das duas economias para 2013 são perfeitamente desastrosas: em Portugal o PIB deve cair 2,3%, enquanto em Espanha as últimas previsões apontam para uma queda do PIB de 1,3%, para além de haver dificuldades adicionais devidas à recessão europeia. Com este cenário tão negro, os governantes ibéricos têm que reagir rapidamente em Bruxelas e Frankfurt para travar esta catástrofe social e fazer respeitar a dignidade dos seus povos, colocando a criação de emprego acima de quaisquer outros objectivos. A "jangada ibérica" está realmente em perigo de se afundar.

Joana Vasconcelos: de Paris para Lisboa



Depois de no ano  passado ter mostrado as suas principais obras no Palácio de Versalhes, em Paris, numa exposição que recebeu 1,6 milhões de visitantes, a artista plástica Joana Vasconcelos apresenta-se agora em Lisboa no Palácio Nacional da Ajuda. Inaugurada no dia 23 de Março, ao fim do seu primeiro mês a exposição já foi visitada por 43 mil pessoas, quase tantas como as 50 mil que visitaram o palácio no ano passado. A exposição apresenta 38 obras criadas na última década e a par das peças inspiradas no bestiário de Rafael Bordalo Pinheiro revestidas de crochet açoriano, estão também patentes algumas das obras mais recentes, nunca antes exibidas em Portugal, mas também algumas das mais emblemáticas obras do percurso criativo da artista, como o par de sapatos gigantes femininos Marylin criados a partir de tampas e panelas portuguesas, o Coração Independente Vermelho criado com talheres de plástico ou o Lilicoptère, um velho helicóptero "Bell 47" decorado exuberantemente como se estivesse para ser utilizado pela rainha Maria Antonieta. 
A exposição de Joana Vasconcelos é também uma oportunidade para visitar o Palácio Nacional da Ajuda, que foi a residência oficial da monarquia portuguesa até à proclamação da República e que está aberto ao público desde 1968. A exposição ficará patente até 25 de Agosto e há expectativas de que o número de visitantes venha a superar os 167 mil que, em dois meses e meio, visitaram a anterior exposição de Joana Vasconcelos apresentada em 2010 no Museu Colecção Berardo, em Lisboa. É um acontecimento a não perder!

Comunicação e publicidade nos negócios



Foi ontem anunciado que a companhia aérea Etihad Airways, dos Emirados Árabes Unidos, adquiriu 24% da Jet Airways, a maior companhia privada de aviação indiana, num negócio avaliado em 379 milhões de dólares. A Jet Airways é uma companhia fundada em 1993 por Naresh Goyal, que desde então se tornou num dos homens mais ricos da Índia, tem sede em Bombaim, dispõe de 122 aviões ao serviço e tem 40 aviões encomendados, dos quais 38 à construtora americana Boeing. Internamente voa para 42 destinos e, internacionalmente, para 21. Com esta transacção a Etihad Airways quer ter uma presença no mercado interno indiano que se espera tenha uma taxa de crescimento de 10% nos próximos anos e assegurar, também, uma parte do tráfego internacional do segundo país mais populoso do mundo. Por outro lado, a estratégia da Etihad de adquirir participações e fazer alianças, pretende reforçar os seus factores de competitividade perante os seus rivais – Qatar Airways e Emirates. Da parte da Jet Airways esta operação representa a entrada de capital e de know-how no domínio do negócio do transporte aéreo. 
O que é curioso neste negócio e que não é habitual na Europa, é a sua publicitação na imprensa indiana através de anúncios a ocupar toda a primeira página dos principais jornais, como por exemplo na edição de hoje do The Times of India, a mostrar que a parte financeira não é tudo, mas que a comunicação e a publicidade também são uma componente importante nos negócios, porque transmitem informação ao público e revelam alguma transparência.



terça-feira, 23 de abril de 2013

A "mão invisível" que manda no gaspar



O escocês Adam Smith publicou em 1776 um livro que ficou famoso – Uma Pesquisa Sobre a Natureza e as Causas das Riquezas das Nações – no qual introduziu o conceito de mão invisível para descrever como funciona a economia de mercado, isto é, uma harmonia de interesses entre a oferta e a procura ou entre produtores e consumidores, como se uma mão invisível os orientasse.
Actualmente, os nossos governantes também parecem obedecer a uma mão invisível. Não ouvem o que disse o Nobel Joseph Stiglitz: “A austeridade é uma receita para um crescimento menor, para uma recessão e para mais desemprego. A austeridade é uma receita para o suicídio”. Não ouvem o que disse o Nobel Paul Krugman: “Os membros da troika são sádicos. Digam-lhes apenas que não”.
No mesmo sentido, são agora as opiniões dos líderes da troika. Christine Lagarde, a Directora-Geral do FMI, diz que “as medidas de austeridade aplicadas nos países em processo de consolidação orçamental não têm de ser brutais e devem ter em conta as respectivas estruturas sociais”. Durão Barroso, o Presidente da Comissão Europeia também veio agora dizer que “a Comissão cometeu erros nas políticas de austeridade impostas aos países sob resgate, que atingiu os seus limites. Não pode apenas estar bem desenhada, mas tem que ter um apoio social e político mínimo”. E o Diário de Notícias publicou.
Então, se Stiglitz e Krugman dizem o que dizem, se Lagarde e Barroso já emendaram os seus discursos, interrogo-me sobre qual é a mão invisível que nos está levar para a pobreza e a que obedecem cegamente o nosso primeiro e o nosso contabilista gaspar? Será que continuam sem olhar à sua volta e sem ouvir ninguém, empurrando-nos para a catástrofe?

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Um 25 de Abril de indignação e protesto



Aproxima-se mais um aniversário do 25 de Abril, que é o Dia da Liberdade. Todos os anos, muitos milhares de portugueses celebram esse dia libertador que abriu as portas à Liberdade e à Democracia, que permitiu o fim da guerra colonial e que, também, potenciou um vastíssimo conjunto de conquistas sociais que, em poucos anos, transformaram o nosso país. Por isso, o 25 de Abril tem sido sempre comemorado como um dia histórico, uma grande festa popular e um dia de enorme alegria.
Porém, nunca a celebração do 25 de Abril decorreu num ambiente tão preocupante e sob tão ameaçadoras circunstâncias. Os ventos que sopram são muito fortes e traiçoeiros e é cada vez mais evidente que os que governam esta nau que é Portugal, não têm experiência nem têm capacidade para a dirigir. Chegaram ao poder com um programa eleitoral e fazem o seu contrário. Diziam ter soluções e afinal não conheciam a realidade. Estão a levar-nos para uma catástrofe, como se não houvesse outras soluções para enfrentar este temporal, que é realmente severo. Andam perdidos e sem rumo. Estão de cócoras perante os seus patrões da troika, humilhando um povo com muitos séculos de história. Impõem-nos uma austeridade irracional e o resultado está à vista por todo o país: a destruição da economia e o desemprego, a pobreza e a emigração dos jovens, a fragmentação social, a perda da esperança e o medo generalizado. 
Andamos tristes e em tempo de incertezas. Há que reagir contra este estado de coisas, porque temos o direito à indignação e ao protesto. O 25 de Abril tem que ser uma afirmação da nossa força colectiva e do nosso protesto, da nossa esperança e da nossa determinação num futuro melhor. Viva o 25 de Abril!


sábado, 20 de abril de 2013

Os momentos dolorosos da festa brava


Ontem, durante a lide do primeiro touro de uma das corridas da Feira de Sevilha, que se realizava na praça de touros La Real Maestranza, o toureiro madrileno Julián López ou El Juli foi colhido com muita gravidade. Era uma tarde soalheira com a temperatura acima dos 30 graus e estariam mais de doze mil espectadores nas bancadas. A corrida iniciara-se às 18.37 horas, quando saiu o primeiro touro (o Ebanista de 532 kilos) para ser lidado por El Juli. Ás 18.48 horas, isto é, com 11 minutos de lide, aconteceu uma violenta colhida do toureiro de 30 anos de idade. El Juli foi levantado do chão pelo touro que lhe perfurou a perna direita no sentido ascendente e com uma extensão de 25 a 30 centímetros, tendo o ferimento sido classificado como “grave, profundo e extenso”. Além disso, o touro atingiu o toureiro na boca e partiu-lhe vários dentes. Apesar da gravidade dos ferimentos, o toureiro ainda conseguiu levantar-se sem apoio, antes de ser retirado da arena pela sua quadrilha. El Juli é um dos maiores toureiros espanhóis e já tinha sido colhido e ferido na mesma perna em Julho de 2010, numa corrida das famosas Festas de San Fermin, em Pamplona.
Às 18.58 horas, isto é, 10 minutos depois, saiu o segundo touro da tarde (o Carretón de 579 kilos) e a corrida continuou com o público a vibrar de entusiasmo e sem saber se El Juli corria ou não perigo de vida. Com toda a normalidade. Com indiferença. Como se fosse um caso banal.
Apesar da tauromaquia e da chamada festa brava não fazerem parte dos meus espectáculos favoritos, reconheço que têm muitos admiradores, sobretudo em Espanha, mas também no sul de Portugal. É a chamada cultura da festa brava. Por isso, muitos jornais andaluzes, espanhóis e até latino-americanos destacaram a colhida de El Juli como tema da sua primeira página, ilustrando-a com uma oportuna fotografia. El Correo de Andalucia é apenas um exemplo.


quinta-feira, 18 de abril de 2013

Made-in-the-USA: a reindustrialização



A revista Time dedica a sua última edição a um tema de grande interesse – a reindustrialização da América.
Nos últimos vinte anos a China tornou-se a “fábrica do mundo” e os países ocidentais começaram por valorizar essa situação por razões ambientalistas e de mercado, mas agora começaram a ver a outra face da moeda e a sentir os maus resultados desse modelo de desenvolvimento, que lhes acentua debilidades e dependências. Depois de décadas seguidas em que a América e os países mais desenvolvidos da Europa, se deslumbraram com a terciarização e procederam a uma enorme desindustrialização das suas economias, criando pobreza e desemprego crónicos onde antes havia prosperidade e desenvolvimento, começam a surgir sinais que apontam para a alteração deste quadro.
Nos Estados Unidos, segundo revela esta semana a revista Time, a produção industrial está a crescer a bom ritmo e, nos últimos três anos, foram criados 500 mil postos de trabalho, sendo a primeira vez que, em mais de uma década, aumentou o emprego industrial.
Porém, a nova indústria e as fábricas da actualidade já não têm as características do passado recente e a nova produção industrial made-in-America é agora baseada em tecnologias de ponta, com mais máquinas e com menos trabalhadores do que antes. As novas indústrias e os novos empregos estão a exigir novos conhecimentos, pelo que é indispensável a adaptação dos modelos educativos aos novos tempos. O exemplo dos Estados Unidos mostra que estamos no início de uma reconfiguração da economia global e que em Portugal há muito a fazer nestes domínios.


quarta-feira, 17 de abril de 2013

A transparência dos ministros franceses



O governo francês acaba de tomar medidas para a transparência financeira dos responsáveis políticos, na sequência do caso Cahuzac, o ministro que mentiu ao declarar que não tinha contas bancárias no estrangeiro e que, dessa maneira, afectou a credibilidade do governo e dos governantes franceses. Esta medida foi, segundo o Libération – o jornal criado em 1968 por Jean-Paul Sartre - o fim do tabu, que até agora protegia a total opacidade do património dos governantes. 
A moralização da vida política passa, entre outras coisas, pela transparência, isto é, a atitude de mostrar as pessoas e as instituições como elas são, sem ocultar os traços da sua personalidade, o seu modo de vida ou o seu património. Por isso, um dos aspectos essenciais da credibilidade dos agentes políticos e dos governantes passa pela divulgação do seu património. É sabido como os agentes políticos investidos em funções têm poder para determinar aquisições, para fazer ajustes directos, para favorecer clientelas e para distorcer concursos, podendo daí retirar benefícios de ordem diversa, designadamente o recebimento de prendas ou de “luvas”, na linha de um comportamento ganancioso, corrupto e de servilismo ao dinheiro. A transparência total ou parcial é um princípio já prevalecente nos países europeus e a França era uma excepção. A partir de agora é possível conhecer detalhadamente o património dos 38 ministros franceses, as suas casas, os seus carros, barcos ou aviões, as suas acções e depósitos bancários. Por cá também é assim mas, aparentemente, a lei não é cumprida.

Futebolistas lusos em alta na Galiza


O diário desportivo Depor que se publica na Corunha, dedica hoje a sua primeira página, não a um, nem a dois, mas a cinco futebolistas portugueses que jogam no Real Club Deportivo de la Coruña, que disputa a Liga Espanhola de Futebol e, em bom português, escreve: “revolução”.
Segundo salienta o diário, os cinco jogadores portugueses que alinham no Depor - Bruno Gama, Pizzi, Sílvio, Salomão e Nélson Oliveira – têm sido os goleadores da equipa e são responsáveis pelo incrível momento da equipa azul e branca que venceu os últimos quatro jogos e, surpreendentemente, deixou o último lugar da tabela classificativa. Há um mês (27ª jornada) o Depor estava em 20º lugar com 17 pontos e, agora (31ª jornada), está em 16º lugar com 29 pontos. A imprensa desportiva tem-se rendido à eficácia dos jogadores portugueses e alguns dos seus títulos são elucidativos:
 

• Portugueses alimentam o sonho do Deportivo


• Legião portuguesa tira Depor da zona de perigo


• El Deportivo más portugués de la historia


• Real Club Deportivo, una casa portuguesa en Riazor

Embora o interesse dos portugueses esteja concentrado essencialmente em Mourinho, Ronaldo e nos outros portugueses do Real Madrid, o facto é que os futebolistas portugueses também estão a despertar euforias na Galiza.

terça-feira, 16 de abril de 2013

Alemanha: dois pesos e duas medidas



Segundo revelou o jornal i na sua edição de ontem, o governo grego vai recorrer aos tribunais internacionais para exigir à Alemanha que pague o que ainda lhe deve, a título de reparações de guerra, pela ocupação do seu território pelas tropas nazis entre 1941 e 1944, durante a Segunda Guerra Mundial, e que se estima tenha causado cerca de 300 mil mortes. O jornal informa que “69 anos depois da saída das tropas de Hitler do país”, a Grécia mostra-se disposta a ir até às últimas consequências para reaver a indemnização de guerra a que tem direito e que nunca foi paga na totalidade, acrescida de juros de mora. Essa indemnização, que a Alemanha ainda deve à Grécia, está calculada em mais de 162 mil milhões de euros.
O todo poderoso Ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schauble, já avisou os gregos da inconveniência de trazerem esse assunto à discussão pública, mas o ministro dos Negócios Estrangeiros grego, também já avisou que os gregos não vão esquecer o passado e que serão, em última instância, os tribunais internacionais a decidir. Ora, o ministro Schauble – que parece ser o tutor do nosso gaspar - foi o tal que disse que as críticas à Alemanha se deviam à inveja, o que originou que o acusassem de acordar fantasmas.
Este caso é uma curiosidade pouco conhecida da História da Europa, mas mostra claramente a forma como a Alemanha tem procurado impor-se no espaço europeu, em clara violação do princípio da igualdade dos Estados-membros, da prosperidade partilhada e da solidariedade comunitária, usando dois pesos e duas medidas, isto é, não cumpre as suas obrigações para com alguns países e, sem qualquer contemplação, exige aos outros que cumpram rigorosamente as suas dívidas com juros especulativos.

A monarquia espanhola sob contestação



No ano passado, quando a Espanha já estava mergulhada numa crise económica de enorme dimensão, a sua opinião pública soube que o Rei Juan Carlos tinha viajado para o Botsuana para participar numa dispendiosa caçada aos elefantes, durante a qual partiu uma anca, pelo que veio mais tarde a pedir desculpa aos espanhóis. Porém, os problemas de saúde do Rei continuaram e isso fez cair a sua popularidade nos últimos meses, que se acentuou à medida que se iam conhecendo os pormenores do processo judicial que envolve o seu genro Iñaki Urdangarin e, mais recentemente, também a infanta Cristina, sua filha. Com todos estes casos e a divulgação de alguns escândalos na Família Real, verdadeiros ou falsos, a popularidade do Rei tem caído continuamente e, de acordo com uma sondagem publicada recentemente pelo El País, verifica-se que 53% dos inquiridos desaprovam a forma como o Rei exerce as suas funções. 
Neste contexto, as celebrações do 14 de Abril tiveram este ano uma participação mais significativa do que antes. Todos os anos, nesse dia, os republicanos celebram o início da Segunda República em 1931, que terminou oito anos mais tarde com a vitória do general Franco na guerra civil espanhola. No passado domingo, mais de oito mil manifestantes desfilaram no centro de Madrid agitando centenas de bandeiras republicanas, para comemorar os 82 anos da II República e para exigir o advento da terceira, num país em que o regime monárquico está cada dia mais manchado por escândalos e a perder popularidade. Daí a crescente contestação dos nostálgicos, como lhes chama o jornal madrileno La Gaceta.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Apesar do mau tempo no canal…


Sob o ponto de vista astronómico a Primavera chegou aos Açores há mais de três semanas, mas numa óptica puramente meteorológica parece que o Inverno se continua a estender pelo mês de Abril, pois há uma chuva intensa e persistente, quase quotidiana, assim como uma forte ventania com rajadas frequentes, pelo menos nas ilhas do Grupo Central. Nos canais do Faial e de S. Jorge, o mar corre dos quadrantes de oeste, mostra-se revolto e por vezes alteroso, com muita espuma e alguma rebentação na crista das ondas. O anticiclone continua emigrado para latitudes mais altas e, evidentemente, está a fazer muita falta, pois não se vêem embarcações na faina da pesca.
Porém, as lanchas do Pico desafiam todas as condições meteorológicas porque são tripuladas por marinheiros experientes e, apesar do “mau tempo no canal”, cumprem religiosamente os seus horários e fazem a travessia do canal com segurança. Assim, é sempre possível ir do Pico ao Faial ou da Madalena à Horta, regressando algumas horas depois, porque embora a navegação tenha algum desconforto, esse esforço é compensado pela alegria do reencontro com amigos de há muitos anos, daqueles com quem nos identificamos social e culturalmente e que, entre outras coisas, nos oferecem a partir da sua varanda, o mais deslumbrante panorama paisagístico que é possível apreciar nestas ilhas.
Muito obrigado! Que em breve tenham grandes alegrias, como merecem.

sábado, 13 de abril de 2013

As reflexões de Mário Soares



As coisas da governação não têm corrido bem àquela malta e, recentemente, foi dito que “o país está a ser destruído” e que, assim, iremos afundar-nos. Porém, o governo decidiu dramatizar e teatralizar a situação e tem pretendido passar a mensagem de que não há alternativa política ao actual rumo e tem procurado contrariar a realidade com a falsa ideia de que tudo tem corrido bem (até ao chumbo do Tribunal Constitucional). Assim, a entrevista de Mário Soares ao jornal i é mais um sinal de lucidez a denunciar “o tremendo desastre que está realmente em curso” e o que por ele foi dito, com a sua experiência e sabedoria, é realmente para ser levado em conta.
Perante a grave crise da União Europeia e do euro, Mário Soares considera que é necessário começar por “repor os mercados usurários a obedecer aos estados, e não o contrário”. Por isso, critica a subserviência do governo em relação à troika, que vem operando e ameaçando com arrogância e que tem sido aceite passivamente “como se fosse dona de Portugal”. Na realidade, a troika devia ser uma representante do projecto europeu de solidariedade e de progresso partilhado, mas comporta-se como um verdadeiro bando de abutres que, através de condições muito severas e de juros especulativos, vem atentando contra a dignidade nacional de um estado-nação que é o mais velho da Europa. O que, provavelmente, nem a troika nem os seus luso-interlocutores, sabem.
Mas a crítica de Mário Soares também se dirige ao homem do leme que “se permite passar uma semana na Colômbia e no Peru” e que não tem consciência da gravidade da crise que se vive no país. E, recorrendo à História, recorda o que se passou há 105 anos, em que “por muito menos que isto foi morto o rei D. Carlos”. São apenas algumas das reflexões de Mário Soares.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Uma navegação sem rumo e sem destino



A situação que atravessamos é cada vez mais complexa e a recente decisão do Tribunal Constitucional apenas veio confirmar que o governo já não consegue disfarçar a sua incapacidade para mudar de políticas. O governo diz tudo e o seu contrário. Que não tinha Plano B e afinal…Que não tinha necessidade de mais tempo nem de mais dinheiro e afinal… As previsões são grosseiramente erradas e o professor Marcelo já veio dizer que o ministro Gaspar parece um astrólogo e perdeu credibilidade. O discurso dos partidos da coligação é completamente diferente do discurso que fizeram durante a campanha eleitoral. Não se prepararam. Não estudaram. Não sabem o que se está a passar na economia e na sociedade, nem na eminente ruptura social que nos ameaça. As oposições reclamam o fim desta caminhada sem rumo e desta teimosa escolha de austeridade, sem que seja feita qualquer coisa pelo crescimento e pelo emprego. Mas não são apenas as oposições a protestar. 
Hoje, o Jornal de Notícias destaca em primeira página que “Barões laranja levantam a voz contra o Governo” e lá estão plasmadas as declarações de Manuela Ferreira Leite, António Capucho e Rui Rio. E o que dizem? Que a insistência na austeridade não vai levar a lado nenhum, que há um despacho a proibir novas despesas que “não tem ponta por onde se lhe pegue” e “é sintoma de um governo que já está sem norte e faz disparates desta natureza”, ou que se trata de um governo que “é incapaz e incompetente”. Depois, há Pacheco Pereira que pede a demissão do governo e salienta o seu “espírito de vingança em relação a todos os que lhe criam obstáculos”; e Ângelo Correia que se mostra indignado com a receita de austeridade imposta pelo governo”; e Alberto João Jardim a dizer que “não basta a demissão do ministro das Finanças, mas que tem que ser um novo governo”. E são muitos mais. Contudo, o nosso primeiro é surdo e teimoso. Acusado de ter à sua volta gente inexperiente e incompetente, decidiu recorrer a um maduro. Já tinha um branco, agora tem um maduro. Infelizmente não deve ser com estes maduros que podemos alimentar a esperança em dias melhores.



quarta-feira, 10 de abril de 2013

Lisboa abandonada



Com este título, a última edição da revista Visão inclui uma reportagem que informa que a cidade de Lisboa tem quase cinco mil edifícios devolutos, todos em mau estado de conservação ou a desmoronar-se.
As causas desta situação, que se tem agravado nos últimos anos, são diversas e complexas. São apontadas o êxodo que nos últimos anos tem afastado as pessoas do centro para as periferias, os problemas de heranças em que os herdeiros não se entendem quanto ao destino do imóvel, a exigente burocracia camarária em relação aos projectos de construção ou reconstrução, a rigidez das rendas que ainda não estimula os senhorios a fazer obras e a especulação imobiliária que prefere as construções novas e mais rentáveis do que a reabilitação de prédios antigos. Todas estas causas podem sintetizar-se em especulação imobiliária e crise económica.
Dizem os especialistas que a lei devia facilitar a reconstrução e dificultar a construção, como acontece na França e na Suíça, mas também que, se os proprietários não dão uso à propriedade, o Estado deve intervir e expropriá-la, para a negociar depois a preço justo. A situação ainda é mais complexa porque com a actual crise faltam recursos para tantas obras e, para além disso, actualmente não há gente para encher tanta casa vazia. Porém, é preciso salvar a cidade abandonada e encontrar soluções com urgência, até porque a defesa do património e a reabilitação urbana podem ser boas saídas para a crise económica que atravessamos. Foi isso que John Maynard Keynes nos ensinou!


terça-feira, 9 de abril de 2013

R.I.P. Margaret Thatcher


A morte de Margaret Thatcher aos 87 anos de idade não deixa ninguém indiferente, como de resto se observa na imprensa mundial que hoje destaca o desaparecimento da antiga Primeira-Ministra d0 Reino Unido, enquanto toda a imprensa britânica é unânime na homenagem que lhe presta. Entrou na vida política em 1950, mas só em 1959 conseguiu ser eleita deputada pelo Partido Conservador. A partir de 1961 ganhou notoriedade quando passou a ocupar postos governamentais, primeiro como Secretária de Estado do Ministério de Pensões e Segurança Social no governo de Harold MacMillan e, em 1970, como Ministra da Educação e Ciência no governo de Edward Heath. Em 1975 foi eleita líder do Partido Conservador pelo que também se tornou líder da oposição, sendo a primeira mulher a liderar um dos grandes partidos britânicos.
No início de 1979 o governo trabalhista de James Callaghan foi afastado por uma moção de censura e, depois de eleições gerais, Margaret Thatcher tornou-se na primeira mulher a desempenhar as funções de primeira-ministra do Reino Unido e a ocupar o número 10 de Downing Street, o que sucedeu entre 1979 e 1990. A sua acção contra o declínio nacional e pela afirmação da autonomia britânica foi persistente, resistindo à criação da União Europeia e criticando a União Soviética, o que levou os russos a chamarem-lhe Dama de Ferro. Porém, foi a sua pronta reacção à invasão argentina das Falklands e a vitória britânica que, em 1982, lhe trouxeram apoios internos e reconhecimento internacional. Polémica e teimosa até ao limite do razoável, mas com uma carreira política marcada pela competência e pela coragem, Margaret Thatcher foi uma grande dirigente europeia.

domingo, 7 de abril de 2013

Como eles gostam de viajar à nossa custa



Entre os dias 15 e 19 de Abril e a convite dos seus homólogos, o primeiro magistrado da nação efectuará visitas oficiais à Colômbia e ao Peru que, por acaso, são os dois maiores produtores mundiais de cocaína. É a sua primeira viagem oficial em 2013 e, sabendo-se que os seus antecessores fizeram muitas mais viagens, ficamos na dúvida se é bom ou mau fazer tão poucas viagens. Para esclarecer essa dúvida, era muito desejável que os contribuintes soubessem quanto custou cada viagem oficial, quem integrou a comitiva e que resultados foram obtidos por cada um dos seus membros, isto é, que houvesse uma avaliação custo/benefício de cada viagem presidencial ou ministerial. Se isso não for feito, então todos podemos pensar que essas viagens não passam de requintadas passeatas que os jornalistas-acompanhantes relatam como se fossem coisa importante para o país. 
Nesta viagem, a comitiva presidencial incluirá vários membros do governo, alguns deputados em representação dos grupos parlamentares da Assembleia da República, uma delegação empresarial com representações dos sectores da banca, eléctricas, tecnológicas, distribuição e construção, entre outros e, naturalmente, muitos jornalistas. Não sei qual o interesse do Chefe do Estado em ser acompanhado por tão alargada e dispendiosa comitiva. Muita gente, demasiada gente. Tudo à grande, tudo à nossa conta e tudo a aprofundar o défice e a dívida. Haverá encontros e recepções, troca de comendas, visitas às câmaras municipais de Bogotá e Lima, algumas inaugurações, a presença em seminários económicos a realizar nas duas capitais e os habituais encontros com a comunidade portuguesa desses países que, em ambos os casos e fora os “correios de droga” que cumprem pena de prisão, não chegarão às duas centenas, isto é, a comitiva presidencial será provavelmente maior do que a comunidade que vai ser visitada. Como eles gostam de viajar à nossa custa!

sábado, 6 de abril de 2013

Relvas ou o ministro faz-de-conta

Nas actuais circunstâncias que se vivem na nossa terra, o desafio de governar e ser governante é muito exigente. É para gente experiente, sabedora e com vocação para servir. Não é tempo de facilidades. Por isso, foi com muita surpresa que a opinião pública tomou conhecimento da facilidade com que o ministro Relvas tinha adquirido um diploma de licenciatura, enquanto o comum dos mortais gastou muitos anos das suas vidas para atingir igual objectivo. Foi um caso de batota e de esperteza. Não era preciso esse diploma para ser ministro, nem uma licenciatura é garantia de melhor prestação como governante. Mas o rapaz era atrevido, viu que era fácil ser doutor, que isso lhe dava estatuto político e social e… pronto! Encomendou. Foi uma espécie de take away.
Ao fim de alguns meses de humilhações e de uma entrada directa no anedotário nacional, que as redes sociais difundiram e até internacionalizaram, o ministro Relvas demitiu-se. Devia ter sido demitido há muito tempo, mas o amigo não teve coragem. O seu controverso percurso ministerial foi um rosário de fintas, truques e trafulhices, misturadas com muita arrogância e algumas pouca vergonhas. Recordo o insulto que foi para todos nós o seu réveillon no Copacabana Palace, a emboscada em que caiu no ISCTE e o pavor com que reagiu à grandolada e, finalmente, o deslumbrado e desastrado balanço de despedida, em que se auto-elogiou, se vangloriou por ter feito um primeiro-ministro e se imaginou com um lugar na História. Poor boy! Saiu pela porta das traseiras, sem coragem e sem dignidade, a mostrar que aqueles que o contestavam tinham toda a razão.  

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Angola: onze anos de paz e de progresso

Angola comemorou 11 anos de paz e de progresso e o Jornal de Angola evocou o “dia que mudou o curso da História”, ao relembrar que o país atravessou quatro décadas da sua história em guerra – de 1961 a 1974 contra o poder colonial português e a partir de 1975 numa guerra civil. No dia 4 de Abril de 2002 foi assinado o acordo que pôs fim à guerra entre o governo do MPLA-Popular de Libertação de Angola e a UNITA-Nacional para a Independência Total de Angola, as duas formações políticas de maior influência no país. Os dois partidos calaram as armas e puseram um ponto final a 27 anos de guerra civil.
O impacto da paz repercutiu-se de imediato na economia angolana que, entre 2004 e 2008, registou um crescimento médio de 17% ao ano, suportado pelos aumentos da produção e do preço do petróleo. Porém, com a crise internacional e a acentuada descida das receitas petrolíferas as taxas de crescimento reduziram-se para valores entre 2,4% e 3,4% entre 2009 e 2011. Essa realidade revela que o boom económico angolano deve ser visto com prudência, porque assenta largamente no petróleo que constitui a quase totalidade das exportações do país, mas também porque ainda há muitos angolanos a viver numa situação de pobreza e existe uma desproporcionada concentração de actividades em torno da cidade de Luanda. Para além disso, existem elevados níveis de corrupção, claramente revelados pelos Corruption Perceptions Index 2012 da Transparência Internacional que colocam Angola em 157º lugar entre 174 países.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

A importância da criação de emprego

Segundo uma informação veiculada pela imprensa brasileira, o governo federal criou o seu 39º ministério – a Secretaria da Micro e Pequena Empresa - exclusivamente vocacionado para a prossecução de políticas de apoio a micro e pequenas empresas. Essa decisão revela a atenção que é prestada às PME pela sua importância na economia brasileira.
As PME também são muito importantes na economia portuguesa. Segundo os dados fornecidos pelo INE relativos ao ano de 2008, existiam 349 756 PME (classificadas de acordo com a definição europeia) que empregavam 2 178 493 pessoas (72,5% do emprego nacional) e realizavam um volume de negócios de 201,7 mil milhões de euros (57,9% do volume de negócios nacional). Apesar da sua importância, a dimensão da economia portuguesa não justifica que seja criado um ministério específico para as apoiar, como é óbvio.
Porém, nas actuais circunstâncias de recessão e desemprego, o Poder Local e em especial as Câmaras Municipais, têm uma potencialidade única para criar uma estrutura – uma espécie de balcão único municipal – vocacionado para a promoção do desenvolvimento económico local e para apoio à comunidade empresarial, para a ligação às agências do poder central e para a atracção do investimento, a oferta de incentivos apropriados, a desburocratização administrativa, o empreendedorismo e a criação de empresas, a motivação da iniciativa e, sobretudo, a criação de emprego. A Câmara Municipal que tem pelouros para as áreas do Ambiente, Segurança, Urbanismo, Desporto, Habitação, Cultura, Espaços Verdes, Higiene Urbana, etc., etc., deverá ter um papel económico mais activo e ter um pelouro para as actividades económicas e para o emprego, dirigido por um vereador especialmente qualificado para esse efeito.  Isso já acontece em alguns Municípios, mas esse conceito deverá estender-se rapidamente a todo o país. É uma obrigação do Poder Local e é uma necessidade que não pode ficar apenas dependente do "Terreiro do Paço" e de gente que não conhece a realidade local.