segunda-feira, 29 de julho de 2013

Nasceu um líder mundial: Francisco

A viagem do Papa ao Brasil revelou a consagração de um líder mundial cuja dimensão ultrapassa largamente a sua condição de líder religioso. Os mass media de todo o mundo, mas em especial os brasileiros, mostraram as multidões e o Correio Braziliense foi apenas um deles, ao exibir na sua primeira página a memorável fotografia de uma multidão de 3 milhões de pessoas na praia de Copacabana. As ventos de contestação que sopram em todo o mundo e que tinham chegado ao Brasil, parece terem cessado de repente perante a espectacular onda de entusiasmo, confiança, alegria e esperança que varreu a sociedade brasileira, especialmente os mais desfavorecidos.
O mundo que vive numa paz podre e precária, com inúmeros conflitos regionais um pouco por todo o lado, com o  fosso entre ricos e pobres a alargar-se e com muitas revoltas contra a injustiça e a corrupção, pareceu surpreendido. Nos tempos de incerteza que vivemos, já não estávamos habituados a ouvir vozes mundiais verdadeiramente respeitadas, cujas atitudes aproveitem ao homem e à Humanidade. Perante tudo isso, todos ficamos admirados com a grandeza de um homem e do seu discurso a apelar à procura do bem comum e de uma visão humanista da economia, a revelar como são pequenos e vulgares os líderes políticos que por aí andam, vergados pelo egoísmo e pela corrupção (como o Papa denunciou), mas também sem outro projecto que não seja a defesa dos seus próprios interesses. Nasceu, de facto, um líder mundial que apela para a construção de um mundo melhor e mais solidário!

domingo, 28 de julho de 2013

Sob o signo de Amadeo, um século de arte

O Centro de Arte Moderna (CAM) é um dos mais antigos e prestigiados centros de arte moderna da Europa e está a comemorar os seus 30 anos de idade com uma extensa exposição de mais de 350 obras, de entre as cerca de 10 mil da sua colecção, que ocupam pela primeira vez a totalidade dos seus espaços expositivos. Até ao fim do ano, vai ser possível observar as obras-primas do modernismo português e algumas peças-chave da arte do século XX que habitualmente se encontram nas reservas da Fundação Calouste Gulbenkian.
A exposição intitula-se "Sob o Signo de Amadeo" - porque o ponto de partida é Amadeo de Souza-Cardoso e a sua obra – sendo mostradas cerca de 170 obras do autor, isto é, a totalidade do seu acervo, em que às suas pinturas se juntam diversos desenhos em papel e uma enorme colecção de brasões. Porém, a exposição não se limita à obra de Amadeo, mas percorre o que de melhor foi feito ao longo do último século na pintura portuguesa e, assim, encontramos obras de Almada Negreiros, Sarah Afonso, Vieira da Silva, Vespeira, Paula Rego, Júlio Pomar e muitos outros artistas modernos e contemporâneos. A exposição estarará patente ao longo de seis meses e poderá ser vista até ao dia 19 de Janeiro de 2014.
É uma oportunidade para revisitar a obra pioneira de Amadeo de Souza-Cardoso, o genial modernista que é a maior referência da arte portuguesa do século XX e que faleceu por doença em 1918, quando tinha apenas 30 anos de idade.

 

Uma voz para ouvir!

Termina hoje no Rio de Janeiro a viagem que o Papa Francisco fez ao Brasil a propósito da 28ª Jornada Mundial da Juventude, que é também a primeira viagem internacional do seu pontificado.
A visita tem tido repercussão mundial e tem constituído uma grande jornada de afirmação da Igreja Católica não só na América Latina, mas também pelo mundo. Nas suas intervenções, o Papa dirigiu-se especialmente aos jovens e apelou ao seu protagonismo na construção de um mundo melhor, tendo dado razão àqueles que “deixaram de ter confiança nas instituições políticas porque vêem muito egoísmo e corrupção”, numa alusão a todos os que no mundo estão insatisfeitos com os seus políticos e com as suas promessas mentirosas, mas também àqueles “que perderam a fé” ao verem os erros dos padres e dos crentes que não seguem a palavra do Evangelho. Uma das mensagens mais repetidas pelo Papa foi a denúncia da pobreza, enquanto violação dos Direitos Humanos, tendo afirmado que “a ninguém falte o necessário e que a todos seja garantida dignidade, fraternidade e solidariedade: este é o caminho a seguir.”
Ontem, o Papa esteve no Theatro Municipal do Rio de Janeiro para um encontro com as lideranças políticas, culturais e empresariais brasileiras e, no seu discurso, afirmou que “o futuro exige a reabilitação da política, uma visão humanista da economia, uma sociedade mais justa e uma política que consiga cada vez mais e melhor participação das pessoas, que evite o elitismo e erradique a pobreza”. Muitos jornais mundiais destacaram essas afirmações e o diário espanhol La Gaceta é apenas um deles. Bom seria que a voz de Jorge Mario Bergoglio, o argentino que se tornou no 226º Papa da Igreja Católica,  chegasse à Europa para sobressaltar os eurocratas e, também a Portugal, para acordar os herdeiros do passos-gasparismo. Imitem-no!

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Temos ou não temos um novo governo?

Há três semanas atrás o ministro Gaspar atirou a toalha ao chão e, de imediato, o irrevogável ministro Portas bateu com a porta. O governo tremeu. Anunciaram-se outras demissões. A crise estava instalada. Falou-se em eleições antecipadas. Porém, o ministro Portas deu o dito por não dito e as coisas acalmaram. Belém hesitou na aceitação desta solução e duvidou que os amuados se tivessem realmente reconciliado. Então, atirou uma bóia a pedir um acordo de salvação nacional. Todos entraram tacticamente nessas negociações em que havia dois caminhos muito distintos em confronto e, por isso, não houve acordo. Assim, tudo voltou ao ponto anterior e, por falta de alternativa, em Belém passou a acreditar-se na bondade da reconciliação entre os amuados e ficou tudo na mesma. Deixou de ser necessária a salvação nacional. O irrevogável ministro Portas foi promovido, vieram dois ou três novos ministros e passou a haver 42 secretários de Estado. Desde então, temos assistido a uma campanha de propaganda na tentativa de fazer passar a ideia de que temos “um novo governo” e “um novo ciclo”, esquecendo-se os desastrosos resultados dos dois últimos anos, em que o ex-ministro Gaspar reconheceu ter falhado e estar desacreditado, com 127% de dívida pública, 10,6% de défice, 4% de recessão e quase 18% de desemprego. Por isso, nenhuma renovação de caras, nenhuma revisão orgânica, nenhuma redistribuição de poder poderá apagar estes dois anos de falhanço, de desastre económico e de tragédia social que ocorreram sob a responsabilidade do primeiro Passos e com a cumplicidade do ministro Portas. Agora, o vice-primeiro Portas recebeu a coordenação económica, as relações com a troika e a diplomacia económica. Provavelmente, é muito poder para um só homem, a quem o seu imprevisto sucessor, chamou recentemente hipersensível e com comportamento errático. Se ele é a chave do nosso futuro, como sugere o Jornal de Notícias, fico preocupado.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

As Ruas Floridas regressam ao Redondo


Integradas nas Festas de Agosto, as Ruas Floridas vão animar as ruas da vila alentejana do Redondo entre os dias 3 e 11 de Agosto e, tal como tem acontecido nos anos anteriores, o evento irá constituir certamente uma grande manifestação de cultura popular. As Ruas Floridas realizam-se bienalmente e consistem na decoração das ruas da vila do Redondo com flores e outros objectos manufacturados com papel. Trata-se de uma tradição que remonta à primeira metade do século XIX, mas que se perdeu quando, há cerca de sete dezenas de anos, surgiu a novidade da iluminação eléctrica pública que, naturalmente, deslumbrou a população. Depois de 1974 a iniciativa e o dinamismo populares tentaram recuperar a tradição das ruas floridas, mas não tiveram sucesso. Só a partir de 1994, quando a Câmara Municipal do Redondo se envolveu nessa iniciativa e apoiou o espírito de participação e o envolvimento cívico da população, é que renasceu a tradição de enfeitar as ruas e nasceram as Ruas Floridas, integradas nas Festas de Agosto. Muitos meses antes do evento, os moradores de cada rua organizam-se, escolhem um tema que mantém em sigilo e trabalham diariamente na produção de milhares de flores. É um caso raro de imaginação, de criatividade e de estética mas, sobretudo, é um exemplo da dedicação de muita gente, cujo prémio é apenas o reconhecimento dos visitantes. Não costumo faltar e, desta vez espero, voltar ao Redondo, até porque a gastronomia da terra também se recomenda.

 

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Sopram bons ventos de Espanha

Dizia-se antigamente que “de Espanha, nem bom vento, nem bom casamento”, mas os tempos mudaram. Desde que os dois países adoptaram a democracia como sistema político e que ambos se integraram na União Europeia, as respectivas economias também se têm integrado cada vez mais. Hoje a Espanha é o principal destino das exportações portuguesas e Portugal é o terceiro maior destino das exportações espanholas.
A Espanha é a 5ª maior economia da União Europeia e a 15ª maior economia do mundo. Depois de mais de uma dezena de anos de crescimento acima da média europeia, a economia espanhola começou a desacelerar em finais de 2007 e entrou em recessão em 2008. Em 2009 o produto contraiu 3,7%, em 2012 o défice público cifrou-se em 10,6% e em Janeiro de 2013 o desemprego atingiu 26,7%. A dívida pública espanhola, entre 2009 e 2012, passou de 53,9% para 84,2% do PIB. A juntar às suas dificuldades económicas e ao aumento substancial da pobreza, o problemas das soberanias agudizou-se e até a estabilidade da Casa Real já não é o que era. Porém, há alguns sinais de mudança. As exportações de Espanha cresceram 7,3% em Maio face ao mesmo mês de 2012, prenunciando que a economia anima e que o país está a recuperar da pior crise económica da sua história democrática. Hoje é a edição do jornal ABC que destaca que a próxima EPA (Encuesta de Población Activa) será “a melhor desde que começou a crise” e que, no segundo trimestre deste ano, mais de cem mil pessoas tinham saido do desemprego e que a taxa de desemprego baixara para os 27%. Embora seja uma notícia de um jornal conservador, provavelmente para dar ânimo ao Primeiro-Ministro espanhol, não há dúvida de que estes ténues sinais de retoma também são uma boa notícia para Portugal.

 

sábado, 20 de julho de 2013

Rui Costa, o herói dos Alpes

Inesperadamente e três dias depois de ter triunfado em Gap na 16ª etapa da 100ª edição da Volta à França, o ciclista português Rui Costa fez história e voltou a vencer, desta vez na 19ª etapa que terminou em Le Grand-Bornand. Foi uma longa etapa de mais de duzentos quilómetros no terreno montanhoso dos Alpes, com várias contagens de montanha de categoria extra e de primeira categoria e que, na sua fase final, decorreu debaixo de condições climatéricas adversas, que tornaram muito perigosas as descidas, feitas com má visibilidade e com o piso molhado.
Com este triunfo, Rui Costa tornou-se no segundo ciclista português a ganhar duas etapas na mesma edição da Volta à França, depois de Joaquim Agostinho o ter feito em 1969, isto é, há 44 anos. A forma confiante e segura como desenvolveu a sua corrida, que pudemos acompanhar em directo pela televisão, mostram que Rui Costa é um grande atleta e que, definitivamente, já é um dos melhores ciclistas do mundo.
Desta vez, porém, a imprensa desportiva portuguesa reagiu de maneira diferente daquilo que acontecera com a anterior vitória de Rui Costa e o diário A Bola destaca o seu feito em manchete e classifica o ciclista como “o herói dos Alpes”. É este reconhecimento e este estímulo que são necessários para que os nossos atletas se internacionalizem.

Viagem presidencial às Ilhas Selvagens

O Presidente da República decidiu efectuar uma visita às Ilhas Selvagens, tal como tinham feito dois dos seus antecessores, mas ao contrário do que sucedera com Mário Soares e Jorge Sampaio, decidiu passar uma noite na Selvagem Grande.
Durante dois dias, esteve nas ilhas numa visita que coincidiu com o 50º aniversário da primeira expedição científica e que pretendeu assinalar a "importância científica, ambiental e estratégica" daquele pequeno arquipélago.
As Ilhas Selvagens são o local mais remoto do território português, encontram-se integradas administrativamente na Região Autónoma da Madeira e têm uma área aproximada de 4 Km2. Constituem dois pequenos grupos de ilhas – a Selvagem Grande (153 metros de altitude) com dois pequenos ilhéus que formam o grupo mais a norte e a Selvagem Pequena (49 metros de altitude) que, com o ilhéu de Fora e os ilhéus adjacentes, forma o outro grupo, estando separados por um profundo canal com cerca de 10 milhas de largura.
Desde 1971 que foi constituída a Reserva Natural das Ilhas Selvagens. A importância destas ilhas é enorme, não só pelas suas características ambientais, mas principalmente porque determinam os contornos da Zona Económica Exclusiva portuguesa (ZEE) e a sua extensão. Acontece que tem havido em Espanha quem interprete que as Ilhas Selvagens, localizadas a apenas 82 milhas do arquipélago das Canárias e a 163 milhas da Ilha da Madeira, são ilhéus e que, por isso, não poderiam ser consideradas na delimitação de uma ZEE de duzentas milhas.
A viagem presidencial tem por isso uma grande importância simbólica e é um acto de soberania que merece o aplauso dos portugueses. Porém, aconteceu numa altura inoportuna devido à crise que se vive em Lisboa e, além disso, a reportagem televisiva que pudemos observar, mostrou uma verdadeira multidão na comitiva presidencial, para além da fragata Vasco da Gama, do navio patrulha oceânico Viana do Castelo, do navio hidrográfico Gago Coutinho e de um helicóptero EH101. Tanta gente e tanta despesa em tempo de crise deixam muito a desejar e são lamentáveis.


quinta-feira, 18 de julho de 2013

A miopia dos nossos jornais desportivos

São muito raros os sucessos internacionais do desporto português e, mais raros ainda, aqueles que têm uma expressão mediática a nível internacional, pois a indústria do futebol e os seus mais famosos nomes como Eusébio, Figo, Mourinho ou Ronaldo são excepções a esse panorama geral. Nos grandes eventos desportivos internacionais, incluindo os Jogos Olímpicos, os atletas portugueses raramente se destacam e, relativamente às chamadas modalidades desportivas, os nomes e os feitos mais salientes dos atletas portugueses contam-se pelos dedos de uma mão – Joaquim Agostinho, Carlos Lopes, Rosa Mota, Nelson Évora e poucos mais. 
A Volta à França em bicicleta, que está este ano a disputar a sua centésima edição, é um dos raros eventos desportivos que proporciona uma mediatização à escala mundial e ontem aconteceu uma vitória do ciclista português Rui Costa. Na história do nosso desporto e com esta vitória, o ciclista entra nessa galeria de eleição onde apenas se encontram meia dúzia de atletas. As televisões mostraram as imagens da corrida solitária e triunfante de Rui Costa, bem como as suas declarações a dedicar a vitória aos portugueses, mas os jornais portugueses foram bem mais discretos e deram àquele resultado um destaque residual. Todos os jornais diários desportivos portugueses parecem ter miopia e preferiram destacar o “festival de Markovic”, um futebolista sérvio de 19 anos de idade que alinha pelo Benfica e que num jogo-treino contra a equipa suíça do Sion meteu dois golos, “o segundo deles uma verdadeira obra-prima”, segundo titulou um deles. Esses jornais ditos desportivos - A Bola, Record e O Jogo – servem as suas audiências e defendem o seu negócio, o que é natural, mas sofrem de uma valente miopia e não servem o fenómeno desportivo, nem reconhecem o mérito dos nossos atletas.

terça-feira, 16 de julho de 2013

A insaciável ganância da nossa banca


Em tempos de muita preocupação pela sequência de infelizes acontecimentos que desde o início do mês têm dominado a nossa vida política e que são demonstrativos do amadorismo, do egoísmo e da incompetência que tem havido numa governação de resultados económicos e sociais catastróficos, há outras notícias que também nos surpreendem pela negativa. O caso da banca e dos banqueiros é ilustrativo pois revela que, mesmo em tempo de crise, mantêm a ganância de outros tempos.
A banca que deveria ser uma das alavancas da nossa recuperação económica, continua a revelar uma fragilidade persistente. Os seus prejuízos, devidos principalmente ao crédito mal parado, mas também à quebra da actividade económica, ascendem a muitos milhões de euros. Os seus accionistas que com tanta ganância arrecadaram os lucros no tempo das “vacas gordas”, afastam-se agora e “obrigam” o Estado a suportar os prejuízos em nome da “estabilidade do sistema”. Nesse quadro, o anúncio agora feito pela Autoridade Bancária Europeia de que os banqueiros portugueses estão entre os dez mais bem pagos dos 27 países da União Europeia, deixa-nos perplexos. No total, os 11 gestores portugueses - cujos nomes e empresas não foram divulgados - receberam 17,6 milhões de euros, o que corresponde a uma média de 1,6 milhões de euros para cada um, entre salários e bónus: foram 5,2 milhões relativos a remunerações fixas e 12,4 milhões relativos a prémios de gestão. E têm sido competentes? Parece que não, como demonstram os seus resultados gerais, mas também o caso do BANIF que, apenas numa semana, registou uma desvalorização de 56%, passando de 8,6 para 3,8 cêntimos por acção. Por outro lado, quando se julgava que o caso BPN estava encerrado depois da sua venda por 40 milhões de euros, viemos agora a saber que o Estado já pagou 22 milhões de euros ao BIC no âmbito do respectivo contrato de privatização e que o banco luso-angolano ainda reclama o reembolso adicional de mais algumas dezenas de milhões de euros. Que o BIC engrosse a lista de glutões não é para admirar, mas já surpreende que os negociadores do Estado tivessem actuado de uma maneira tão imprecisa e que não tivessem protegido o interesse público. Quem negociou isto?
A banca está no topo das notícias mas, como se vê, não é por boas razões.

sábado, 13 de julho de 2013

As quezílias partidárias portuguesas


O discurso do Presidente da República do dia 10 de Julho, em que apelou a um consenso entre os três maiores partidos portugueses foi tardio e, como salienta o Diário Económico, agravou a crise política que só na aparência é recente. Desde há muito tempo, que era visível a necessidade de uma ampla base social de apoio para resolver alguns dos grandes problemas estruturais da sociedade e da economia portuguesas. Porém, bastava observar a agressividade das sessões da Assembleia da República, ouvir as intervenções de um sem número de deputados ignorantes ou analisar a lógica dos interesses pessoais ou partidários dos actores políticos, para verificarmos que poucos se subordinam ao chamado superior interesse nacional. A juntar a isto, está o falhanço das políticas do actual governo e os seus desastrosos resultados. Assim, a preocupação geral é cada vez maior e há cada vez menos paciência para ouvir quezílias partidárias, melindres, amuos e garotices. Estamos fartos de toda esta gente que vive amarrada ao poder. Por esta via não vamos a lado nenhum. Precisamos de outra gente, de outra ética e de outra noção de serviço público. Evidentemente que, sem deixar de ter presente os constrangimentos financeiros actuais, é urgente um acordo entre as principais forças políticas, eventualmente sob a forma de um pacto de médio prazo, com incidência em domínios como a justiça, a fiscalidade, a segurança social, os serviços públicos, a gestão orçamental e a gestão da dívida. Porém, nada disto terá sentido sem uma prévia reforma do sistema político, com menos deputados, vereadores, assessores, motoristas, seguranças e outros beneficiários do orçamento, com menos mordomias e regalias de toda essa gente recrutada nas fileiras partidárias, para que a classe política se possa apresentar ao povo com uma credibilidade mobilizadora e inspiradora de confiança. Podem começar o pacto exactamente por aí. Por aí começa também a "salvação nacional".

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Luso seguidismo e outras trapalhadas


Segundo revela o diário Los Tiempos que se publica na cidade boliviana de Cochabamba, a Organização dos Estados Americanos (OEA) aprovou ontem uma resolução que condena o tratamento dado ao Presidente do Estado Plurinacional da Bolívia, cujo avião foi recentemente impedido de sobrevoar alguns países europeus, fazendo uma chamada de atenção para que a França, Itália, Portugal e Espanha se expliquem e apresentem as correspondentes desculpas. A resolução foi aprovada por consenso, mas os Estados Unidos e o Canadá opuseram-se por considerarem que as circunstâncias do incidente diplomático não eram ainda claras. É lamentável que isto tenha acontecido, porque o Direito Internacional garante total imunidade diplomática aos Chefes de Estado e, dessa forma, não só foi hostilizada a Bolívia, mas também os outros Estados sul-americanos. O Presidente Evo Morales tinha-se deslocado a Moscovo para participar na cimeira dos países exportadores de gás, mas dia 2 de Julho, quando regressava ao seu país, o seu avião foi obrigado a aterrar em Viena. Entretanto, os governos de França, Itália, Portugal e Espanha informaram não autorizar que o avião de Evo Morales utilizasse o seu espaço aéreo, certamente por pressão americana, pois havia fortes suspeitas que no seu interior viajava Edward Snowden, um ex-agente dos serviços secretos americanos, suspeito da divulgação de matéria classificada. Depois de 14 horas de “sequestro” o avião presidencial foi autorizado a seguir viagem, tendo escalado a Gran Canária, a cidade brasileira de Fortaleza e aterrado em La Paz na madrugada do dia 4 de Julho. Alguns dias depois e já depois de terem sido queimadas bandeiras em La Paz, inclusive bandeiras portuguesas, veio o ministro Portas assegurar que as autoridades portuguesas autorizaram antecipadamente o sobrevoo do avião de Evo Morales pelo espaço aéreo português. Em que ficamos? Na palavra da OEA ou na palavra (irrevogável) do ministro Paulo Portas?

segunda-feira, 8 de julho de 2013

A economia do mar e a saída da crise



A Galiza é, simultaneamente, uma das 19 comunidades autónomas da Espanha, mas também a região espanhola que tem mais afinidades com Portugal, não só pela língua, mas também por muitas outras vertentes culturais. Até à Idade Média a língua falada em Portugal e na Galiza foi o galaico-português, mas actualmente o português e o galego são línguas distintas embora com muitas semelhanças, que fazem com que o português que viaje na Galiza ou o galego que visite Portugal não se sintam no estrangeiro.
A Galiza tem uma cultura e uma economia muito ligadas ao mar e, nos seus cerca de 1600 km de costa recortada por baías e orlada de pequenas ilhas, concentra-se a maior parte da sua população de um pouco menos de 3 milhões de habitantes. A maior parte da população galega vive do mar, directa ou indirectamente – pesca, aquacultura, indústria conserveira e de transformação do peixe, portos, construção e reparação naval – pelo que se diz que três em cada quatro galegos vivem do mar. O mar é a base da economia galega e sustenta a mais activa frota piscatória europeia, mas também é um atractivo turístico com inúmeras pequenas praias e uma apreciada gastronomia ligada ao mar, para além do porto de Vigo ser o maior de toda a Espanha.
A crise também chegou à Galiza e La Voz de Galicia destaca hoje que “os galegos voltam a olhar o mar como saída da crise”. Bom seria que, por cá e tal como acontece na Galiza, também se pensasse na economia do mar como estratégia de desenvolvimento e que lhe fosse dada elevada prioridade na estrutura económica portuguesa.




Uma indecorosa telenovela política

Desde que no dia 1 de Julho o ministro Gaspar se demitiu, com uma carta em que confessa não se encontrar em condições de assegurar a credibilidade e a confiança necessárias para enfrentar uma nova fase do ajustamento, que entramos numa verdadeira telenovela política com episódios multi-diários que quase parecem um daqueles “compactos” de telenovela, em que as televisões juntam diversos episódios para transmissão conjunta. No dia seguinte foi o ministro Portas, o tal que engolira muitos sapos e que se deixara humilhar como figura número três do governo, a renunciar irrevogavelmente ao governo. Uma hora depois, uma discípula do ministro Gaspar tomava o seu lugar, aparentemente sem o acordo do ministro Portas. O primeiro ministro Coelho mostrou-se admirado e parecia navegar ao sabor dos acontecimentos como sempre fizera, sem controlar a nau, nem o rumo, nem os tripulantes. Sem inspirar a necessária confiança ao povo.
A crise estava instalada, não só por causa das atitudes irresponsáveis desta gente, mas sobretudo pelos dois anos de maus resultados governamentais, visíveis no desemprego, na dívida, no défice e na recessão económica. Então, os agentes políticos começaram a tomar posições e desdobraram-se em declarações. Os comentadores não tinham mãos a medir. Em Bruxelas, em Berlim e em Belém havia inquietação, mas o acordo chegou rápido. Cada vez mais do mesmo. Coelho engoliu sapos e insiste na mesma receita que tem dois anos de resultados trágicos. Sem qualquer vergonha nem dignidade, Portas perdeu toda a credibilidade ao dar o dito por não dito. Gosta de ser ministro.
Eu já cá ando há muitos anos e já vi muita coisa, mas não imaginava ver isto. A política não pode ser isto. Estudei mais do que o Portas e muito mais que o Passos. Devo ter visto mais do que eles. Por isso tenho grandes dúvidas no que aí vem, mas vou esperar para ver. Bom seria que me enganasse.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

O fado como paixão lusitana em Pequim

Realizou-se ontem em Pequim um espectáculo de fado para celebrar a “amizade lusófona com a China” e que se integrou na celebração dos 500 anos da chegada dos portugueses à China. A iniciativa pertenceu a uma chinesa residente em Portugal de nome Cao Bei, que parece ser uma das raras estrangeiras que canta o fado e que, nesta digressão, se fez acompanhar pela fadista Cristina Nóbrega e pelo guitarrista João Bengala. Aqueles três artistas, acompanhados por alguns artistas locais, protagonizaram o primeiro espectáculo de fado realizado em Pequim e que teve o título “Amizade Lusófona com a China”.
A edição de hoje do Jornal Tribuna de Macau, que se publica em português na cidade de Macau, destaca na sua primeira página esse acontecimento a que assistiram cerca de uma centena de convidados, em que se incluiam os representantes diplomáticos de vários países da CPLP. A empresária-fadista Cao Bei, que tem dois filhos de pai português e que também tem nacionalidade portuguesa, está empenhada na organização de outros eventos deste tipo, pois considera que a promoção do fado – que recentemente entrou na Lista do Património Imaterial da UNESCO – é essencial para lever os chineses a conhecer Portugal como um país onde não existe apenas o futebol. Cao Bei merece o nosso aplauso pelo seu esforço na promoção dos nossos valores culturais.

 

Lisboa é uma cidade cada vez mais suja

Lisboa tem vindo a ser afectada por uma verdadeira praga canina e, apesar das medidas tomadas pelas autoridades municipais, transformou-se numa cidade cada vez mais suja e num caso de evidente ameaça à saúde pública, cuja responsabilidade maior é dos lisboetas.
Os cães são geralmente uns animais simpáticos e muitas vezes são de grande utilidade para o homem, antigamente como animais de guarda e, mais recentemente, como animais de companhia. Dessa evolução resultou que os cães foram adoptados pelas famílias e que, muitas vezes, passassem a viver com os seus donos em espaços muito limitados. Foram integrados nas famílias e são tratados como tal. Ter animais em casa é um direito. Porém, fechados nessas jaulas que são os pequenos apartamentos urbanos, há a necessidade de trazer os cães à rua para lhes proporcionar exercício e, o acto de passear os cães, tornou-se um ritual quotidiano de muitas famílias. Porém, muitas pessoas manifestam o seu profundo desprezo e indiferença para com as outras pessoas, a sua falta de civismo e a sua irresponsabilidade social, porque a praga canina deixa dejectos um pouco por toda a cidade: nos passeios e nos jardins, junto das árvores e dos postes de luz, nos logradouros, à porta dos prédios e das lojas, afectando a higiene dos locais públicos e podendo ser causadores de graves doenças, sobretudo sobre os grupos mais vulneráveis. Muitos dos relvados da cidade onde antigamente brincaram as crianças, constituem hoje um verdadeiro perigo para a saúde pública pois são transmissores de vírus que podem provocar doenças gastrointestinais e, em casos limite, outras doenças mais graves. A população em geral e principalmente as crianças quando brincam nos espaços públicos estão, assim, sujeitas a doenças transmissíveis pelos cães.
Desde 1997 que a cidade de Lisboa dispõe de um regulamento municipal que impõe obrigações aos donos dos cães, no sentido de procederem à remoção imediata dos dejectos dos seus animais em espaços públicos. Infelizmente, há demasiada gente que não cumpre esse regulamento.  Exige-se, por isso, que os donos dos cães tenham mais vergonha e que a Polícia Municipal actue, em nome da saúde pública.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Há uma enorme onda mundial de protesto

A última edição do The Economist é dedicada aos protestos que estão a multiplicar-se por todo o mundo e, sobre essa matéria, aquela prestigiada revista destaca que “uma onda de raiva está a varrer as cidades do mundo” e avisa: “Politicians beware”.
Os protestos têm-se generalizado um pouco por todo o mundo e as suas origens são muito diferentes. No Brasil as pessoas reagiram contra os preços dos transportes públicos, na Turquia contestaram um projecto imobiliário em construção, na Indonésia manifestaram-se contra o preço dos combustíveis, na Grécia lutam contra o encerramento da estação televisiva oficial e no Egipto protestam contra a incapacidade governativa. Na União Europeia os protestos são contra as brutais políticas de austeridade, enquanto a primavera árabe se transformou num protesto permanente contra tudo. Houve motins dos jovens emigrantes na Suécia e dos jovens dos bairros de Londres, por serem excluídos da prosperidade que vêem à sua volta. No ano passado os jovens indianos ocuparam as ruas das suas cidades após a violação de uma estudante, em protesto contra a falta de protecção do Estado às mulheres. Bruxelas e Pequim estão alarmadas e, como diz a revista, os tempos que aí vêm são preocupantes. Em Portugal, também a manifestação de 15 de Setembro de 2012 foi, possivelmente, um sinal de protesto como não se vira desde 1974.
Os protestos têm realmente as mais diferentes origens e revelam um grande descontentamento popular, uma enorme indignação contra os políticos e contra a corrupção, contra as desigualdades e a injustiça social, contra a arrogância política e policial. Nascem de forma quase expontânea e agregam milhares de manifestantes, sobretudo da classe média e sem outro caderno reivindicativo que não seja a luta contra  um poder em que não se revêm e que não os protege. Alimentam-se nas redes sociais e nas ruas, sem o suporte dos partidos políticos ou dos sindicatos. É já uma nova ordem social. The Economist  evoca as grandes movimentações sociais de 1848 (Europa), de 1968 (América e Europa) e 1989 (Império Soviético), acrescenta-lhes 2013 (everywhere) e salienta que todos esses casos têm aspectos comuns e estão na origem de transformações sociais muito profundas.