quinta-feira, 31 de outubro de 2013

As ondas da Nazaré na imprensa mundial

As ondas gigantes da Nazaré tornaram-se famosas nos últimos anos por atraírem a elite do surf mundial das grandes ondas. Essas ondas formam-se ao largo da costa da Nazaré onde existe uma falha geológica semelhante a um desfiladeiro submarino conhecido por canhão da Nazaré, que numa curta extensão de algumas dezenas de quilómetros passa de profundidades de 5 mil para 50 metros, sendo por esse "desfiladeiro" que se desloca a ondulação sem dissipar energia e a uma velocidade muito superior ao normal. O ponto extremo dessa falha situa-se na Praia do Norte, nas proximidades do farol da Nazaré, onde as ondas são muito maiores do que as que se formam por toda a costa ocidental portuguesa.
No ano de 2011 o surfista havaiano Garrett Mc Namara descobriu as ondas da Nazaré e surfou uma onda de 78 pés que entrou no Guiness Book of Records e, já em 2013, surfou uma onda calculada em 112 pés, mas o próprio surfista retirou-a da avaliação. Agora, no passado dia 28 de Outubro, foi o surfista brasileiro Carlos Burle que, aos 46 anos de idade, não só salvou uma surfista brasileira acidentada com a coragem que pudemos ver em directo pela televisão, como surfou depois uma onda que poderá bater o record de Garrett McNamara. Foi um acontecimento mundial e até a edição do dia 30 de Outubro do Irish Examiner destacou este feito na sua primeira página com uma espectacular fotografia.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

A identidade portuguesa em Ceuta

Um dos jornais que se publica diariamente em Ceuta, a cidade autónoma de Espanha situada no norte de África, é o El Pueblo de Ceuta. Trata-se de um jornal com conteúdos de incidência local e com uma tiragem muito limitada pois serve uma cidade com cerca de 80 mil habitantes.
Na primeira página da sua edição de hoje, o jornal inclui várias notícias de carácter local e ilustra-as com uma fotografia em que se destaca o brasão de armas da cidade, que é o escudo português.
Esse brasão de armas é uma herança do tempo em que a cidade pertenceu aos domínios do rei de Portugal. A cidade de Ceuta foi conquistada em 1415 por D. João I e até 1640 foi governada pelos portugueses, mas quando ocorreu o movimento da Restauração que restituiu a plena soberania a Portugal e terminou com a União Ibérica, a população não aclamou o Duque de Bragança como rei de Portugal e decidiu ficar sob o domínio espanhol. A situação veio a ser reconhecida pelo Tratado de Lisboa de 1668, mas a cidade decidiu manter a sua bandeira formada por gomos brancos e pretos, semelhante à da cidade de Lisboa e o escudo português. Assim, o brasão de armas de Ceuta é o escudo português, o que constitui uma curiosidade histórica.

O milagre económico lusitano?

A iniciativa de convocar as chamadas jornadas parlamentares da maioria, aparentemente para esclarecer os deputados sobre o conteúdo do Orçamento do Estado que em breve vai ser discutido, teria sido uma coisa positiva se não se tivesse transformado numa jornada de propaganda pura e dura, que encheu as televisões com o discurso de um sucesso que todos sabemos não ser verdade. Porém, propaganda é assim mesmo, mas não gostei. Além disso não gostei nada de ver a segunda figura do Estado metida naquela sessão, inclusive a lembrar-nos que a primeira figura estava ausente. Em nome da credibilidade do Estado, isso não pode acontecer. Não lhe fica bem e, se havia dúvidas, aí está a confirmação de que é uma marioneta do seu partido, o que ajuda a explicar como chegou e onde chegou.
Mas houve outras notas interessantes nestas jornadas, a fazer corar de vergonha o Paul Krugman e o Joseph Stiglitz. A primeira foi a declaração substantiva  do vice-ministro Portas de que "é possível que Portugal esteja a poucas semanas de saber oficialmente que saiu de uma recessão técnica", o que parece ser uma adivinhação ou uma pressão sobre o INE, semelhante às que são feitas sobre o TC. A segunda foi a bomba lançada pelo ministro Lima, que até parecia ser diferente naquele governo de adolescentes (comentador Mendes dixit), ao classificar como "milagre económico" o que está a acontecer com a economia portuguesa. Como é possível dizer-se isto quando “vemos, ouvimos e lemos” uma realidade bem diferente no nosso quotidiano e, no mesmo dia, o INE nos veio dizer que em 2012 emigraram 121.418 pessoas, isto é, mais de 10 mil pessoas por mês do melhor que a nossa comunidade tem – um record histórico desde que há registos. O que é que querem fazer de nós?

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Os grandes temporais marítimos voltaram

O tempo invernoso já chegou à Europa e, nessas circunstâncias, o objecto da notícia transfere-se por vezes para a orla marítima, como se verificou nos últimos dias com o anúncio da ocorrência dos maiores temporais que aconteceram nos últimos dez anos nas Ilhas Britânicas, nas costas escandinavas, alemãs, holandesas, belgas e francesas. São ventos ciclónicos, chuvas torrenciais e uma anormal agitação marítima a provocar vítimas e muita destruição. Os mesmos temporais que afectaram o norte da Europa também chegaram à costa portuguesa e algumas barras foram encerradas, enquanto as ondas gigantes voltaram à Nazaré para atrair os surfistas das grandes ondas e na Figueira da Foz aconteceu um naufrágio em que se perderam três vidas.
A notícia dos temporais nas costas europeias e, sobretudo a publicação de fotografias, é uma prática editorial comum na imprensa anglo-saxónica. Curiosamente, neste caso foram jornais americanos como o International New York Times e sul-africanos, como o The Times de Johannesburg, que reproduziram uma fotografia do mar em Newhaven no sueste da Inglaterra.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

A língua portuguesa tem afirmação global

O Camões - Instituto da Cooperação e da Língua anunciou que a língua portuguesa é falada por 244 milhões de pessoas em todo o mundo, significando que é a sexta língua mais falada no mundo. Além disso, é a quinta língua mais usada na Internet (82,5 milhões de cibernautas) e a terceira mais utilizada nas redes sociais Facebook e Twitter (58,5 milhões de utilizadores).
No entanto, este posicionamento da língua portuguesa não é um valor absoluto, isto é, as diversas línguas são posicionadas em função dos diferentes critérios utilizados pelas organizações que se dedicam a essa análise, havendo até as que consideram o português como a quarta língua mais falada no mundo, depois do mandarim, do espanhol e do inglês. Entre as línguas europeias, o português surge como a terceira língua mais falada e um estudo da Bloomberg considera-o a sexta língua do mundo mais utilizada nos negócios. Porém, a expressão do português enquanto língua global também é evidenciada pelo facto de ser a língua mais falada no hemisfério sul, com 217 milhões de falantes em Angola, Brasil, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.
O português é falado nos cinco continentes e é a língua oficial de oito países – Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste – sendo também uma das línguas oficiais do território de Macau, na República Popular da China.

domingo, 27 de outubro de 2013

Gulbenkian mostra “O Brilho das Cidades”

Na sua linha programática de apresentação de grandes exposições, a Fundação Calouste Gulbenkian tem patente na sua Galeria de Exposições Temporárias a exposição O Brilho das Cidades. A Rota do Azulejo. Trata-se de mais uma excelente exposição e, como é habitual, aborda uma temática de grande interesse cultural.
A arte da azulejaria é muito antiga e as primeiras utilizações de cerâmica vidrada como revestimento surgiram no Egipto, Mesopotâmia, Assíria e Pérsia, mas expandiram-se depois por terras de muçulmanos e de cristãos, acabando por chegar à Europa ocidental e ao norte de África. À sua funcionalidade juntou depois a decoração, a traduzir o sentido estético das comunidades e alguns aspectos da sua vida cultural.
A exposição percorre todo o processo histórico da afirmação do azulejo e junta quase duas centenas de peças representativas da sua produção desde a Ásia Central à Europa ocidental, que são provenientes de uma dúzia de museus e de colecções nacionais e internacionais devidamente referenciados. Nesse aspecto, deve ser salientada a singular capacidade que a Fundação Calouste Gulbenkian tem para atrair peças de museus de referência internacionais, o que torna as suas exposições muito mais valorizadas. A exposição “O Brilho das Cidades. A Rota do Azulejo” foi inaugurada no dia 25 de Outubro e estará patente ao público no Museu Gulbenkian até 24 de Janeiro 2014.

sábado, 26 de outubro de 2013

Há uma nova sinalética: “Não aos cortes”

A crise que desde 2008 tem afectado a Europa devido à especulação e à fraude praticada pelos grandes grupos financeiros internacionais, tem conduzido ao crescimento dos défices e ao aumento das dívidas públicas da generalidade dos países, sobretudo na orla euro-mediterrânica. Daí têm resultado orientações ou imposições das instituições políticas e financeiras europeias, no sentido dos défices públicos regressarem ao nível dos 3% do PIB e das dívidas serem reduzidas para valores da ordem dos 60% do PIB. Assim, há diversos países europeus que estão actualmente sujeitos a programas de ajustamento que implicam enormes cortes orçamentais para reduzir os gastos públicos, mas que têm conduzido à quebra da procura interna, à recessão e ao desemprego, sem atenuar o peso da dívida pública. São as chamadas politicas de austeridade que se têm mostrado muito violentas e com devastadores efeitos económicos e sociais, com destruição do tecido económico, o retrocesso nas políticas de educação e de saúde, assim como no aumento da pobreza e da desigualdade. O protesto contra estas políticas e contra os cortes orçamentais tem sido frequente em Espanha e na Itália, por vezes com sinais de alguma violência, mas também em Portugal, França, Grécia, Irlanda e outros países, pois existe a convicção de que há alternativas ao actual modelo, que passam pelo estímulo à economia e à criação de emprego. Nesta onda de crítica ao falhanço das políticas de austeridade, a novidade surgiu recentemente em Espanha, onde as marchas de protesto utilizam uma eloquente sinalética que proibe a tesoura e os cortes como mostra a edição do  El Periódico de Catalunya.

As viagens e passeios que nós pagamos

A proposta governamental do Orçamento do Estado para 2014 inclui uma verba de 34,8 milhões de euros para deslocações e estadas dos titulares e do pessoal dos gabinetes ministeriais, havendo sete ministérios que irão gastar mais em 2014 do que no corrente ano de 2013. Numa altura em que o país está em grandes dificuldades, em que há sinais de decadência e de progressivo empobrecimento, com os salários e as reformas a serem intensamente penalizados, esta lógica despesista parece não ter explicação. É uma situação incompreensível. É um abuso. Fazem-se contas e não se percebe quem vai fazer e para que servem tantas viagens. Provavelmente, os nossos governantes até deveriam viajar mais para melhor conduzirem as suas actividades em prol do interesse nacional, mas deveriam dispensar as suas numerosas e dispendiosas comitivas, com demasiados assessores, ajudantes e convidados, para além dos habituais jornalistas que outra coisa não fazem que não seja promover a Excelência que os convidou e transmitir para o país algumas banalidades a respeito do país para onde a Excelência viajou, pois não vão fazer jornalismo nenhum. E se isto é válido para o governo, também se aplica às comitivas de Belém, porque são sumptuárias e desproporcionadas. Este tipo de comportamentos é muito condenável, não tanto pelo peso que estas despesas têm no Orçamento do Estado, mas sobretudo porque constituem um mau exemplo e um sinal muito negativo para os sectores da população que pagam impostos e têm sofrido uma brutal perda de rendimentos.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Espanha: cultura para vencer a depressão

A edição sevilhana do jornal ABC destaca hoje na sua primeira página a representação da ópera Aida, de Giuseppe Verdi, informando que será apresentada nos dias 25, 28 e 31 de Outubro e 3, 6 e 9 de Novembro no Teatro de la Maestranza de Sevilha. A famosa ópera é uma das mais representadas e mais espectaculares de entre todas as que se conhecem, tendo sido estreada no Cairo em 1871 mas, ao contrário do que por vezes se pensa, não foi encomendada para a inauguração do canal do Suez, que aconteceu em 1869.
Não é vulgar que os temas culturais ocupem as primeiras páginas dos jornais e, por isso, a escolha da edição sevilhana do jornal ABC merece ser destacada, sobretudo porque é uma forma de atenuar a profunda depressão que atravessa a Andaluzia e as suas cidades. De resto, a mesma edição, salienta que “o desemprego baixa em Espanha, mas sobe na Andaluzia”.
Na realidade, a Andaluzia tem uma taxa de desemprego da ordem dos 36% da população activa e algumas das suas cidades estão “na vanguarda do desastre”, como há tempos se lhes referiu a revista Time, enquanto no ano passado também a revista Visão apresentou uma reportagem sobre “a vida na capital do desemprego na Europa”. Perante este quadro de crise económica, de desemprego e de desagregação social, a apresentação da ópera Aida na abertura da temporada lírica em Sevilha, é um exemplo de como a cultura pode ajudar a superar a depressão, ou de como os andaluzes podem animar-se, ao assistirem à representação das paixões entre Radamés, um triunfante general egípcio, e Aida, uma escrava etíope que servia na corte dos faraós.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

O petróleo do orgulho brasileiro

Em poucos anos, o Brasil tornou-se num dos dez maiores produtores mundiais de petróleo e, na base dessa realidade, estão a descoberta de abundantes reservas on-shore e off-shore e a criação da Petrobras, daí resultando que a Constituição tivesse passado a garantir ao Estado o monopólio da extracção do petróleo brasileiro. Porém, foi com a crise petrolífera de 1973 e com o reconhecimento de que a exploração off-shore se tornara economicamente rentável, que o Brasil intensificou a pesquisa de petróleo no mar, a qual veio a ter grande sucesso em 2007 quando foi descoberto um campo petrolífero de 800 Km de extensão ao longo da costa brasileira, onde estão definidas 17 áreas de concessão, a maior das quais está situada na bacia de Santos. Entre os seus concessionários está a Galp Energia que, desde 1999, mantém uma parceria com a Petrobras em cerca de duas dezenas de projectos, sendo os principais o campo Lula e o campo Iracema, onde tem participações entre 10 e 20%.
Entretanto, a maior reserva de petróleo brasileira até agora descoberta – o campo Libra – foi leiloado e foi adquirido por 35 anos por um consórcio que integra a Petrobas (40%), a Shell (20%), a Total (20%) e as estatais chinesas CNPC e CNOOC (10% cada), mas este leilão foi muito contestado, gerou greves e obrigou à mobilização do Exército, porque o petróleo tornou-se um símbolo do orgulho nacional brasileiro – “o petróleo é nosso”, escreveu o Correio Braziliense, mas afinal não é apenas brasileiro. O governo de Dilma Rousseff que tanto criticara os seus adversários políticos “por quererem entregar o petróleo brasileiro às multinacionais”, fez exactamente isso ao dividir a sua maior reserva com as multinacionais dominadas por ingleses, franceses, holandeses e chineses, em nome da necessidade brasileira de financiamento para a educação, para a saúde e para a criação de empregos.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Sopram ventos perigosos em Moçambique

A situação em Moçambique já se vinha a deteriorar nas últimas semanas devido a rivalidades políticas e divergências quanto à legislação eleitoral, com acusações mútuas entre a Frelimo, que é o partido maioritário e que governa o país, e o principal partido da oposição que é a Renamo. Estes dois partidos protagonizaram uma violenta guerra civil que durou desde 1975 a 1992, ano em que foi assinado o Acordo de Roma mas, aparentemente, a Renamo nunca se desarmou completamente. No entanto, passou a participar na vida democrática moçambicana e, actualmente, na Assembleia Nacional de Moçambique dispõe de 51 deputados que se sentam ao lado dos 191 deputados da Frelimo e dos 8 deputados do Movimento Democrático de Moçambique (MDM).
Ontem ocorreram confrontos armados entre os dois maiores partidos e o quartel-general da Renamo em Santungira, na província de Sofala, a cerca de 600 quilómetros para norte da cidade de Maputo, foi assaltado pelas Forças Armadas de Defesa de Moçambique. Segundo destaca o jornal O País que se publica em Maputo, não houve mortos nem feridos, tendo Afonso Dhlakama e os seus homens fugido para a serra da Gorongoza. A Renamo já anunciou que esta acção marca o fim da democracia em Moçambique e pode levar o partido a pegar novamente em armas a nível nacional, enquanto o presidente Armando Guebuza afirmou que não há espaço no país para dois exércitos. Entretanto, poucas horas depois, em retaliação e como sinal de resistência, homens armados da Renamo atacaram um posto da polícia em Maríngué, no centro de Moçambique.
É preciso accionar rapidamente todos os mecanismos e canais de influência, alguns dos quais passam por Portugal, para que esta turbulência entre moçambicanos fique por aqui. Falem, dialoguem, entendam-se!

 

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

The United States of Texas

Há uma crise mundial que está a atravessar o mundo, sobretudo no chamado mundo ocidental, havendo algumas teorias que procuram explicar o ambiente recessivo e preocupante que se está a viver na Europa e nos Estados Unidos. Para uns trata-se de um dos habituais ciclos económicos capitalistas, se bem que mais prolongado do que noutras épocas, para outros trata-se da mudança dos centros de poder económico mundial para o oriente e para outros, ainda, trata-se de uma profunda alteração do nosso paradigma civilizacional. Hoje, em maior ou menos escala, a generalidade dos países ocidentais tem grandes problemas para resolver e, nesse número, incluem-se os poderosos Estados Unidos da América, onde se procuram ultrapassar as dificuldades e onde surgem as mais curiosas respostas. A revista TIME estudou o que se está a passar no Texas porque, contra todas as probabilidades, se tem verificado a chegada maciça de emigrantes de todos os outros Estados e há um acentuado dinamismo económico.
O Estado do Texas é o segundo maior dos Estados Unidos, com uma área que é maior do que a Alemanha e a Polónia juntas e tem cerca de 25 milhões de habitantes. Aparentemente é um Estado pouco atraente por ter um clima muito severo, grandes desigualdades sociais, poucos serviços sociais, alguns milhões de pessoas sem seguro de saúde e alta criminalidade. Então, pergunta a revista TIME, por que razão os americanos se deslocam mais para o Texas do que para qualquer outro Estado? O Texas é o Estado que mais cresce e três das cinco principais cidades americanas que mais crescem estão no Texas: Austin, Dallas e Houston. Enquanto no resto do país está a desaparecer a classe média e a aumentar o custo de vida, no Texas parece estar criada uma maneira radicalmente simples e barata para se viver e para fazer negócios. Para muitos americanos, o Texas parece ser o futuro. Haverá alguma coisa que possamos aprender com eles?

sábado, 19 de outubro de 2013

O Pico e o seu poder de atracção

Mais uma vez andei pela ilha do Pico, que é  a segunda maior ilha dos Açores e sobre a qual vale sempre a pena repetir o que sobre ela disse Raúl Brandão em As ilhas desconhecidas:
“O Pico é a mais bela, a mais extraordinária ilha dos Açores, duma beleza que só a ele lhe pertence, duma cor admirável e com um estranho poder de atracção. É mais do que uma ilha - é uma estátua erguida até ao céu e amolgada pelo fogo - é outro Adamastor como o do cabo das Tormentas".
Podia considerar-se estar tudo dito com estas palavras ou considerar-se que Raúl Brandão apenas utilizou uma retórica desproporcionada, mas na realidade esta ilha tem um estranho poder de atracção sobre os forasteiros, pela imponência da montanha e pelas cores dos seus mares, das suas encostas e dos seus “mistérios”. Porém, o mesmo não se poderá dizer em relação aos picoenses que, sem actividades económicas relevantes para além da pecuária, vão procurando outros locais alternativos para viver e para trabalhar. Assim, a ilha envelhece, desertifica-se e vai acumulando histórias e memórias de um passado de isolamento e de fainas baleeiras de grande temeridade e dureza, mas também das boas lembranças que chegavam da longínqua América, para onde muitos açorianos tinham emigrado desde meados do século XIX.  
Tem havido muito progresso na ilha, mas até agora, nem o sistema político, nem a autonomia regional, nem a economia global conseguiram ainda dar passos consequentes para resolver a equação económica e social destas comunidades e para um melhor aproveitamento destes 447 Km2 de superfície, cuja paisagem natural tem sido tão bem preservada. Porém, há que confiar que melhores dias virão porque esta exemplar riqueza cultural e esta emocionante paisagem são singulares e vão perdurar no tempo. Eu deixo a ilha hoje para regressar ao rectângulo, mas voltarei sempre.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Angola, o estado da Nação e a parceria

Durante seu o discurso sobre o estado da Nação pronunciado no dia 15 de Outubro na Assembleia Nacional de Angola, o Presidente José Eduardo dos Santos anunciou o fim da intenção de estabelecer uma parceria estratégica com Portugal, semelhante às que Angola tem com os Estados Unidos, a China e o Brasil. Depois de ter salientado que Angola tem relações estáveis com quase todos os países do mundo, afirmou que "só com Portugal as coisas não estão bem” e acrescentou que têm surgido incompreensões ao nível da cúpula e, por isso,  o clima político actual não aconselha à construção da parceria estratégica antes anunciada.
Porém, o Presidente angolano não anunciou qualquer corte de relações com Portugal, nem sequer o fim da prevista parceria estratégica, pois apenas se referiu à “cúpula” e ao “clima político actual”, o que é um recado bem direccionado à incompetência e alguma leviandade com que tem sido tratada a relação Portugal-Angola, que é bem mais forte do que as circunstâncias políticas conjunturais. No entanto, os interesses angolanos e portugueses estão em causa e, por isso, a forma de fazer política deve ser repensada para proteger as centenas de empresas portuguesas que têm negócios com Angola e os 150 mil portugueses que por lá trabalham, mas também os legítimos interesses angolanos que se instalaram em Portugal. Perante as dificuldades que atravessamos, Angola tem sido um importante ponto de apoio para Portugal, mas Portugal também tem sido um paraíso para as elites angolanas. É um jogo de interesses e de vantagens comuns, mas nesse jogo que agora foi posto em causa, há que alterar comportamentos. Comecemos por corrigir os comportamentos dos nossos políticos, dos nossos empresários e dos nossos jornalistas para que “não vendam a alma ao diabo”, nem pactuem com comportamentos económicos de menor transparência que, como sabemos, acontecem e estão à vista em Portugal. Não sejamos como o Machete, nem como os muitos machetes que andam cá e lá. Nos negócios, como na vida, não vale tudo. Foi essa nossa fraqueza e, em muitos casos, subserviência, que deu força ao discurso do estado da Nação de José Eduardo dos Santos.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Despesismo do governo é mau exemplo

O Orçamento do Estado para 2014 é muito duro para os contribuintes, para os funcionários públicos e para os reformados e pensionistas, mas não tem o mesmo grau de exigência para aqueles que deviam dar o exemplo da contenção e da parcimónia, isto é, os governantes. Assim, sem bons exemplos, eles nunca conseguirão comandar esta nau e far-nos-ão andar à deriva como tem acontecido. No próximo ano os ministros e os respectivos gabinetes vão gastar mais do nosso dinheiro, pois verifica-se um aumento de cerca de 8,13% na sua despesa, quando comparado com a estimativa de despesa incluida no segundo orçamento rectificativo para o ano corrente. O governo engordou por via das várias remodelações decididas ao longo dos últimos meses com mais ministros, mais secretários de Estado, mais assessores e mais equipas de apoio, pelo que hoje já tem mais gente (56) do que o maior dos governos de Sócrates (55) que o primeiro ministro e o seu amigo catroga apontavam como exemplo de gorduras do Estado. Alguns gabinetes irão reforçar de forma significativa os respectivos orçamentos para 2014, como acontece por exemplo com a Presidência do Conselho de Ministros. É um mau exemplo por gastar mais, mas é uma falta de pudor por retirar esse dinheiro aos reformados. O Correio da Manha dá-nos hoje a exacta medida deste desregramento e deste despudor ao anunciar que a equipa do primeiro ministro é constituída por 60 pessoas, onde se incluem dez secretárias que ganham 1882 euros cada uma, onze motoristas que recebem 1848 euros cada qual e nove assessores que auferem uma média de 3653,81 euros. O jornal fez as contas e concluiu que esse gabinete custa 134 900 euros por mês, de acordo com a lista de nomeações publicada pelo Governo, com um salário médio de 2248 euros. Porém, todos sabemos que não é assim. Nesses gabinetes gasta-se à tripa forra e, por isso, a despesa da Presidência do Conselho de Ministros ainda será acrescentada com as viagens, as ajudas de custo, as despesas de representação, as horas extraordinárias, as viaturas, as refeições, os telemóveis e eu sei lá que mais, fazendo com que este despesismo seja um mau exemplo que passa para a sociedade.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Um Orçamento que ainda nos afunda mais

O governo anunciou a sua proposta do Orçamento do Estado para 2014 e, embora o vice-portas tivesse recentemente informado que não haveria mais austeridade, o facto é que a proposta governamental inclui novos e brutais cortes nos salários e nas pensões, assim como mais impostos e taxas. No seu conjunto o Orçamento significa um severo corte nos gastos públicos de cerca de 3,9 mil milhões de euros, ou seja, cerca de 2,3% do PIB. Trata-se de mais um brutal pacote de austeridade e, mesmo os partidos do governo, reconhecem que a proposta tem medidas gravosas. Este Orçamento é o terceiro preparado pelo actual governo e é a melhor prova da má governação que nos tem orientado. Antes de se instalarem no poder, prometeram que nunca haveria aumento de impostos nem cortes nas pensões e essas promessas foram uma descarada mentira. Nunca reconheceram a sua impreparação, nem a sua postura adolescente e de xicos-espertos. Têm-nos mentido repetidamente.
Hoje, o Diário de Notícias diz que é uma austeridade desigual, pois 82% resulta dos cortes na função pública, nos reformados, nos pensionistas e nos sectores da Educação e da Saúde, enquanto apenas 4% dessa austeridade vem das taxas para a banca, das petrolíferas e das redes de energia. Alguns destes cortes são imorais, injustos e inconstitucionais e vão afectar, uma vez mais, a procura interna, o produto e o emprego, além de contribuírem para o aumento da pobreza. Os grandes interesses empresariais quase ficam intocados e os seus encargos fiscais serão aliviados para estimular o investimento, mas o que vai acontecer é uma maior fuga de capitais.
Este Orçamento do Estado é uma verdadeira humilhação para os portugueses e uma vergonha para quem o patrocinou. Afunda-nos e empobrece-nos, mas eu não acredito que sejam capazes de o cumprir.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Moçambique e a importância do cajú

O semanário moçambicano Domingo que se publica na cidade do Maputo e que  é um dos periódicos publicados pela Sociedade do Notícias, SA , na sua última edição, dedica uma extensa reportagem ao cajú e à sua economia específica, dizendo que está em alta. E parece que sim.
Moçambique já foi um dos maiores produtores e exportadores mundiais de castanha de cajú até finais da década de 1970. Naquela altura, produzia cerca de 200 mil toneladas por ano, mas após a independência verificou-se uma redução da produção para as 15 mil toneladas anuais. Os tempos mudaram e, actualmente, o Instituto de Fomento do Cajú pretende recuperar o lugar que perdeu: na campanha de 2010-2011 foram exportadas cerca de 112 mil toneladas de castanha, mas na campanha seguinte as condições agro-climáticas trouxeram a produção para cerca de 80 mil toneladas. Na presente campanha de 2012-2013, a estimativa aponta para uma produção de 110 mil toneladas e esse resultado está a mostrar a importância económica e social do cajú para os moçambicanos. Actualmente, mais de 40 por cento dos agricultores moçambicanos, ou cerca de um milhão de agregados familiares produzem castanha de cajú, uma das poucas culturas fiáveis que os agricultores conseguem produzir no país. Na província de Nampula, a castanha de cajú, representa cerca de um quinto dos rendimentos totais dos agregados familiares e aproximadamente dois terços do total dos rendimentos em dinheiro. Perante este quadro, há um plano para aumentar o plantio de cajueiros e para expandir as áreas de produção de castanha de cajú, mas também para instalar novas fábricas de processamento que levem a um maior valor acrescentado do cajú moçambicano. Moçambique é actualmente um médio produtor mundial e quer recuperar quota de mercado a nível mundial, porque isso contribui para acabar com a pobreza de grande parte da sua população rural e para equilibrar a balança comercial do país.

Autumn beauty

Há dias destacamos aqui a primeira página do The Daily Telegraph por ter publicado a fotografia de uma onda gigante a rebentar sobre o farol de Seaham Harbour, no distrito de County Durham, no noroeste da Inglaterra.
Hoje é o jornal The Times que, na sua primeira página, destaca uma fotografia de Batcombe Vale, na região do Somerset, no sudoeste da Inglaterra, com a legenda “Autumn beauty”, na qual se pode observar a espessa neblina que cobre uma vasta área e que apenas deixa a copa das árvores à vista.
São duas excelentes fotografias a justificar que “uma imagem vale mais do que mil palavras”, mas a publicação destas duas fotografias em dois prestigiados jornais ingleses, separada por poucos dias, revela uma maneira diferente de fazer jornalismo, que é pouco habitual. Não se trata de optar entre conteúdos genéricos ou conteúdos especializados, nem de publicar notícias e opiniões sobre os mais diversos interesses sociais, com maior ou menor sensacionalismo para atrair leitores. O que estes jornais fazem é a promoção do fotojornalismo, isto é, a difusão da informação através da imagem com o apoio de um texto, em vez da habitual informação escrita apoiada por uma fotografia. Assim, o fotojornalismo mostra que pode ir para além das imagens das guerras, das catástrofes ou das competições desportivas e tratar temas tão vulgares, mas esteticamente atraentes, como é a chegada do Outono.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Air Costa para bem voar na Índia!

A Índia é uma federação de Estados com muitos contrastes culturais, muita gente, muitas religiões e mais de quatrocentas línguas e dialectos, havendo 23 línguas oficiais nos seus 28 Estados. O quarto maior desses Estados é o Andhra Pradesh, que é três vezes maior que Portugal e tem 84 milhões de habitantes, sendo a sua língua nacional o telugu (a 16ª língua mais falada no mundo). O seu principal jornal é o Eenadu (ఈనాడు) que se publica em Hyderabad, que tem seis milhões de leitores e que é redigido em telugu que, naturalmente, não domino. Na sua edição de hoje, o que chama a atenção dos leitores, no meio dos caracteres que não compreendemos, é uma notícia e um anúncio da Air Costa.
A Air Costa é a primeira companhia aérea regional do Estado de Andhra Pradesh e iniciou exactamente hoje os seus voos comerciais com dois aviões Embraer E-170 de fabrico brasileiro. A sua base será na cidade de Vijayawada e, por agora, voará para Hyderabad, Chennai, Bangalore, Jaipur e Ahmedabad mas, em Novembro, quando receber dois novos Embraer E-190, também voará para Madurai, Visakhapatnam, Goa, Thriuvananthapuram e Mysore. Até ao fim de 2014 a Air Costa espera ter uma frota de dez Embraer E-190. Na Índia é frequente, muito frequente, o aparecimento de companhias aéreas privadas de carácter regional, nacional e internacional que, com toda a lógica económica, nascem, crescem e morrem. A Air Costa será provavelmente mais uma delas, mas o que verdadeiramente surpreende é este nome em Andhra Pradesh.

domingo, 13 de outubro de 2013

Há novos protagonistas na Catalunha

Celebrou-se ontem o Dia Nacional da Espanha e, na cidade-capital da Comunidade Autónoma da Catalunha, que tanto tem defendido a sua independência, esse dia ficou assinalado por uma manifestação da chamada maioria silenciosa que se opõe ao projecto independentista. Como sempre sucede em todos os tipos de manifestações, a contabilização do número de manifestantes que participam é distorcida, mas parece que umas cem mil pessoas encheram a praça da Catalunha em Barcelona e, esse número, satisfez a organização.
Os participantes quiseram afirmar-se como "catalães que se sentem espanhóis" e invocar a Hispanidade como um valor cultural comum que é partilhado universalmente, tendo adoptado bandeiras espanholas e catalãs coladas e utilizado como principal slogan a frase Som Catalunya –Somos España (Somos Catalunha, Somos Espanha), como noticia o jornal La Vanguardia.
O príncipe Filipe que, por doença do Rei, presidiu pela primeira vez às cerimónias militares do Dia Nacional da Espanha que decorreram em Madrid, discursou depois numa cerimónia pública e, tal como os manifestantes de Barcelona, apelou à unidade e a um futuro comum. Significa que a reivindicação independentista catalã que até agora se exprimia nas ruas sem contraditório e com grande força, passou a ter uma força que se lhe opõe também nas ruas, o que pode aumentar a tensão social e perturbar o processo democrático catalão. Serão uns e os outros. É preciso cuidado e, por isso, é a altura dos dirigentes nacionais actuarem e com rapidez.
 

As belas fotografias do Outono

No hemisfério norte, o Outono começa habitualmente no dia 23 de Setembro, quando o Sol no seu movimento orbital aparente cruza o plano do Equador Celeste. É o equinócio do Outono e, depois do dia ter sido maior do que a noite durante seis meses, a partir dessa data, a noite vinga-se e será maior do que o dia durante seis meses.
No Outono baixam as temperaturas e aumenta a pluviosidade, as árvores perdem as suas folhas verdes, há mais nevoeiro e mais neve, o tempo torna-se sombrio e, no mar, as tempestades são mais frequentes.
O jornal inglês The Daily Telegraph, que qualquer dia é bicentenário e tem uma circulação diária de quase um milhão de cópias, quis evocar o recém chegado Outono e decidiu publicar na sua primeira página uma fotografia de uma onda gigante a atormentar um farol. Como acontece com frequência nos jornais ingleses foi mais uma vez escolhido o espectacular encontro do mar do Norte com o farol de Seaham Harbour, no distrito de County Durham, no noroeste da Inglaterra. É uma imagem que se repete muitas vezes todos os anos e que realmente impressiona. Um grande documento fotográfico! 
 
 

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

As pensões vitalícias são uma aberração

É um dos temas do momento, porque é muito populista e assenta perfeitamente no nosso actual momento político, certamente para disfarçar o tsunami orçamental que nos vão apresentar na próxima semana: trata-se da proposta governamental para cortar em 15% as subvenções vitalícias dos titulares de cargos políticos.
Essa regalia foi extinta em 2005, mas continua a ser atribuída aos políticos que nessa data já tinham adquirido esse direito e, por isso, o seu número não cessa de aumentar, obrigando a sacar mensalmente quase um milhão de euros por mês dos nossos impostos para lhes pagar. Esta transferência é uma situação que nos envergonha a todos, incluindo aqueles que a recebem! Estas quatro centenas de políticos que recebem uma pensão vitalícia por terem servido ou terem-se servido do Estado, não estiveram integrados em nenhum regime contributivo e beneficiam de um direito que eles próprios criaram em seu proveito, o que torna mais aberrante a situação.
Apesar da relação destes beneficiários ser secreta (vá-se lá saber porquê), os seus nomes vão aparecendo na blogosfera e verificamos que a maioria é possuidora de fortuna pessoal ou ocupa altos e bem remunerados cargos: Carlos Melancia, Eduardo Catroga, Álvaro Barreto, Zita Seabra, António Vitorino, Joaquim Ferreira do Amaral, Duarte Lima, Dias Loureiro, Santana Lopes, Marques Mendes, Mário Soares, José Penedos, João Cravinho, Carlos Encarnação, Odete Santos, Isabel de Castro, Manuel Alegre, Cavaco Silva, Ângelo Correia, Armando Vara, Almeida Santos, Rui Gomes da Silva, Manuela Ferreira Leite, Alberto João Jardim, Freitas do Amaral, Jorge Coelho, Carlos Brito, Fernando Rosas, Miguel Relvas, José Lello e assim por diante.
Enquanto há muitos milhares de reformados que descontaram durante muitos e muitos anos e agora são sujeitos a cortes nas suas magras pensões, estes políticos que nada descontaram têm estado até agora intocáveis nesta aberração que são as suas pensões vitalícias. Como é injusto e cruel tudo isto! Por isso, em vez de lhes ser aplicado um desconto de 15%, melhor seria acabar com essas transferências e obrigá-los a devolver tudo o que já receberam e que foi pago com os nossos impostos.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Eles já procuram bodes expiatórios

O actual governo tomou posse no dia 21 de Junho de 2011 e, portanto, já leva quase 28 meses de actividade. Não vale a pena usar quaisquer indicadores económicos ou sociais para conhecer a nossa realidade, porque ela está à vista de todos: as desigualdades acentuaram-se, aumentou a pobreza, há uma geração de gente qualificada que continua sem emprego, os mais capazes emigraram e os mais incapazes tornaram-se assessores, o território continua a desertificar-se, o pequeno comércio está a morrer e os problemas financeiros – dívida e défice – continuam como antes, ou talvez, pior. Uns dias dizem-nos que estamos no bom caminho, para no dia seguinte nos ameaçarem com um segundo resgate e nos imporem mais cortes aos nossos rendimentos do trabalho. Apesar das políticas seguidas serem um insucesso ou mesmo uma quase tragédia, eles insistem no mesmo caminho e atacam os mais fracos, enquanto cobardemente estão de cócoras perante a banca, a edp, a galp, as ppp e os outros tubarões que tomaram conta da nossa terra com a cumplicidade destes políticos. Já não há linhas vermelhas e para o par passos-portas já parece valer tudo.
Nos últimos dias e em antecipação à apresentação do Orçamento do Estado, toda a artilharia governamental e dos seus lambe-botas, se virou contra a Constituição e contra os juízes do Tribunal Constitucional, usando a ameaça e procurando, desde já, um bode expiatório para o vendaval que se aproxima. Ora, é preciso dizer claramente que a Constituição não tem de se adaptar às decisões políticas do governo, mas este e as suas políticas é que têm de se adaptar à Constituição. Que, ao menos em Belém, se perceba isto e se actue em conformidade.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

EDP: um Estado dentro do Estado?

No seu recente discurso ao país sob a forma de conferência de imprensa o irrevogável ministro portas ultrapassou as marcas e atirou muita poeira para os olhos dos portugueses. Entre as coisas que anunciou para exibir o seu populismo e a sua (in)coerência, destacou-se o anúncio de medidas de poupança que o governo vai adoptar no próximo ano, que não afectam directamente os contribuintes, nem os reformados, nem os funcionários públicos. Era o ataque ao capital que este governo fazia, pela boca do corajoso ministro e a medida anunciada era, nada mais nada menos, que uma nova taxa sobre as rendas das produtoras de electricidade. Finalmente, a população via uma decisão que contribuia para a moralização da nossa vida fiscal!
Porém, o presidente não executivo da EDP que dá pelo nome de catroga, reagiu imediatamente e, esquecendo-se que a empresa teve um lucro de 1125 milhões de euros em 2011 e um lucro de 1012 milhões de euros em 2012, veio dizer que se tratava de uma taxa injusta, que violava os contratos assinados com a China Three Gorges, a empresa que detém 21,35% do seu capital e que, além disso, também iria afectar os consumidores. E fica a dúvida: catroga é mandarete ou mandarim?
A personagem tornou-se conhecida dos portugueses pelo seu estilo caceteiro e pela ignorância com que tratou os problemas do Estado, ao insistir que se resolviam com o corte de gorduras. Depois foi premiado e passou a ganhar cerca de 45 mil euros por mês, coisa que o comentador mendes, seu correlegionário, considerou mais ou menos pornográfica. Deixou de ter vergonha. É um novo-rico. E disse, ainda, que com esta medida, a credibilidade do Estado ficaria em xeque. É caso para ver como o dueto passos-portas vai resolver o xeque que já lhe foi posto pelos accionistas chineses da EDP e pelo seu amigo catroga.

domingo, 6 de outubro de 2013

Australia: sails of the century

A generalidade dos países marítimos conserva tradições e evoca memórias do seu passado de ligação ao mar, através de diversas manifestações que visam a preservação desse legado. Uma dessas manifestações é a chamada revista naval, um evento em que um significativo número de navios de vários países se reúne e desfila a propósito de um acontecimento considerado relevante para o país organizador.
É com esse espírito que a Austrália organiza no porto de Sydney, entre os dias 3 e 11 de Outubro, a International Fleet Review (IFR), na qual participam 40 navios de guerra e 17 veleiros de cerca de duas dezenas de países. O evento comemora o primeiro centenário da entrada no porto de Sydney da nova Royal Australian Navy: no dia 4 de Outubro de 1913 entraram na baía de Sydney o navio-chefe HMAS Australia, à frente dos HMAS Melbourne, Sydney, Encounter, Warrego, Parramatta e Yarra, tendo então sido saudados por milhares de pessoas. Foi um momento de grande exaltação patriótica e de orgulho nacional que, como reconhecem os historiadores, muito contribuiu para a afirmação e para o progresso da Austrália.
Apesar do período de crise por que passa a Europa, a tradição marítima europeia estará presente na baía de Sydney por navios da Grã-Bretanha, França, Espanha e Holanda. A imprensa australiana destaca este evento e o The Sydney Morning Herald titula “Sails of the  century”, apresentando uma sugestiva imagem em que um veleiro navega, tendo por fundo a Sydney Harbour Bridge, um dos ex-libris da cidade. E aqui está, como um país jovem e quase sem história arranja pretextos para reforçar a sua coesão nacional, enquanto por aqui vamos assistindo à destruição de símbolos marcantes da nossa história por gente sem estatuto cultural, que até nos governa.

sábado, 5 de outubro de 2013

Viva a República!

O dia de hoje não foi feriado nacional porque no ano passado, a pretexto da crise económica e de um novo Código do Trabalho, foram eliminados os feriados de 5 de Outubro (Implantação da República) e de 1 de Dezembro (Restauração da Independência), além de dois outros feriados religiosos.
Assim, a implantação da República foi discretamente comemorada no salão nobre dos Paços de Concelho, com a leitura de dois discursos e a presença de muitas entidades oficiais, além de muitos assessores e seguranças, mas sem a participação popular porque o povo estava a trabalhar. Um pequeno grupo de manifestantes fez-se ouvir com as suas vaias, assobios e gritos de demissão.
De tudo isto, aproveitou-se o discurso do recém-eleito Presidente da Câmara Municipal de Lisboa que, para além de ter prestado homenagem a Raúl Rego, disse: "Estamos numa crise e temos de a vencer. Estamos num impasse e temos de o ultrapassar. Mas não podemos vencer este impasse secundarizando a democracia e as suas regras. Pelo contrário, devemos usar a democracia como referência e argumento para, em sua defesa, nos unirmos e mobilizarmos".
Criticou o "vale tudo político" e o "vale tudo financeiro e económico", isto é, que as "regras fundamentais da democracia ou do Estado de Direito sejam ignoradas ou postergadas, em nome de objetivos imediatos ou sob pressão dos acontecimentos" e acrescentou que "a crise tem de ser combatida com as regras e os instrumentos da democracia" e "na convicção de que não há contradição entre democracia e desenvolvimento económico".
Ora aqui está um discurso apropriado, que honra a República. Terá sido ouvido por aqueles a quem se destinava?

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

O irrevogável ministro da propaganda

Foi ontem anunciado com alguma solenidade que a troika fez uma avaliação positiva do programa de ajustamento económico e financeiro em curso e o mesmo personagem que dias antes falava do penta, falou agora em corridas de cinco mil metros. O homem é mesmo um desportista, além de habilidoso e espertalhão, mas não pode pensar que os outros estão distraídos e não o topam. Há três meses decidiu irrevogavelmente demitir-se, porque seria um acto de dissimulação se continuasse no governo, mas deu o dito por não dito e ficou. A bem da nação! Assim se criou uma crise política que assustou os nossos credores e tem custado milhões. Porém, o personagem acha que valeu a pena porque lhe permitiu chegar onde queria, isto é, manda naquela malta toda, desde as albuquerques aos moedas, passando pelo próprio passos.
Entretanto, ele disse que são visíveis sinais de melhoria do clima económico e que, este ano, o produto já não cairá 2,3% como previsto, mas apenas 1,8%, enquanto o desemprego não se situará nos previstos 18,2%  mas que ficará pelos 17,4%. É isto que o anima? Ora o défice público continua sem cair, a pobreza aumenta, o pequeno comércio está bloqueado, os jovens emigram e a dívida pública continua a aumentar. Porém, há dúvidas sobre a real andamento da economia e eles não se entendem sobre se a dívida é ou não é sustentável. No meio de toda esta desorientação e de tanta propaganda, vieram dizer-nos que todas as medidas de carácter excepcional serão mantidas no orçamento do próximo ano e que não há qualquer possibilidade de haver uma redução de impostos para as famílias no próximo ano. Então, se há sinais de melhoria, por que razão nos escondem os cortes e nos vão continuar a atrofiar?

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Le Portugal au top

A propósito da presença da equipa de futebol do Benfica em Paris, onde hoje jogará no Parque dos Príncipes com o Paris Saint-German, o jornal L’Equipe dedica um dos seus títulos de primeira página ao desporto português e escreve: Le Portugal au top.
Não é habitual que a imprensa internacional destaque Portugal e, quando acontece, é quase sempre por maus motivos – défices exagerados, dívida excessiva, intervenção da troika, desemprego, pobreza, má governação e outras coisas de natureza política ou económica. Porém, no campo do desporto as coisas são diferentes e, neste caso, o jornal desportivo francês coloca o nosso país no topo e destaca o Benfica (va chauffer le Parc), o Vitória de Guimarães (est ressuscité) e o ciclista Rui Costa (un maillot à honorer). Haveria outras coisas a salientar no aspecto desportivo, mas estes destaques já são suficientemente animadores, sobretudo para os muitos portugueses que vivem em França e que hoje se sentirão orgulhosos ao ler a primeira página do L’Equipe.

 

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Ele (e só ele) vê a luz ao fundo do túnel

O nosso Chefe do Estado inicia hoje uma visita oficial de três dias à Suécia e, segundo relata o jornal Público, “o primeiro encontro com o rei Carlos XVI Gustavo e a rainha Sílvia acontecerá nas cavalariças reais, de onde o chefe de Estado português partirá de coche em cortejo para o Palácio Real, onde se irá realizar a cerimónia oficial de boas-vindas, seguida de um encontro privado entre Cavaco Silva e o rei da Suécia”. Outros jornais referem que a viagem se destina  “a atrair investimento e parcerias”, ou “a exportar vinho e têxteis” ou, ainda, “a vender Portugal na Suécia”, não sendo referidos os banquetes, os discursos e as trocas de comendas. Como habitualmente, a comitiva presidencial é alargada, quase a lembrar uma excursão turística, embora as lições do passado que estão estudadas e são conhecidas não sejam levadas em conta, isto é, este modelo de visitas oficiais são caras e deveriam ser repensadas porque não produzem quaisquer resultados.
Ora, a propósito desta visita, o Chefe do Estado deu uma entrevista a um jornal sueco que o Diário de Notícias hoje reproduz, na qual declara que “Portugal já saiu da recessão e apresenta o maior crescimento da Europa”. Depois, o venerando Chefe do Estado utiliza a sua tese do bom aluno para afirmar que o “povo português tem mostrado um grande sentido de responsabilidade”, pelo que não vê “razão lógica para as obrigações do Estado português atingirem taxas de juro de 7%”. Acrescenta, ainda, que “finalmente começamos a ver uma luz ao fundo do túnel” e que não se compreende a razão porque “os mercados não nos premeiam com taxas de juro mais baixas”. Isto é que é um professor de Economia!