sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Angola, o estado da Nação e a parceria

Durante seu o discurso sobre o estado da Nação pronunciado no dia 15 de Outubro na Assembleia Nacional de Angola, o Presidente José Eduardo dos Santos anunciou o fim da intenção de estabelecer uma parceria estratégica com Portugal, semelhante às que Angola tem com os Estados Unidos, a China e o Brasil. Depois de ter salientado que Angola tem relações estáveis com quase todos os países do mundo, afirmou que "só com Portugal as coisas não estão bem” e acrescentou que têm surgido incompreensões ao nível da cúpula e, por isso,  o clima político actual não aconselha à construção da parceria estratégica antes anunciada.
Porém, o Presidente angolano não anunciou qualquer corte de relações com Portugal, nem sequer o fim da prevista parceria estratégica, pois apenas se referiu à “cúpula” e ao “clima político actual”, o que é um recado bem direccionado à incompetência e alguma leviandade com que tem sido tratada a relação Portugal-Angola, que é bem mais forte do que as circunstâncias políticas conjunturais. No entanto, os interesses angolanos e portugueses estão em causa e, por isso, a forma de fazer política deve ser repensada para proteger as centenas de empresas portuguesas que têm negócios com Angola e os 150 mil portugueses que por lá trabalham, mas também os legítimos interesses angolanos que se instalaram em Portugal. Perante as dificuldades que atravessamos, Angola tem sido um importante ponto de apoio para Portugal, mas Portugal também tem sido um paraíso para as elites angolanas. É um jogo de interesses e de vantagens comuns, mas nesse jogo que agora foi posto em causa, há que alterar comportamentos. Comecemos por corrigir os comportamentos dos nossos políticos, dos nossos empresários e dos nossos jornalistas para que “não vendam a alma ao diabo”, nem pactuem com comportamentos económicos de menor transparência que, como sabemos, acontecem e estão à vista em Portugal. Não sejamos como o Machete, nem como os muitos machetes que andam cá e lá. Nos negócios, como na vida, não vale tudo. Foi essa nossa fraqueza e, em muitos casos, subserviência, que deu força ao discurso do estado da Nação de José Eduardo dos Santos.

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