sábado, 30 de novembro de 2013

Como são famosos os burros de Paradela

Um dos objectivos da União Europeia é a melhoria das condições de vida e de trabalho dos seus cidadãos e a redução das desigualdades sociais e económicas entre as regiões, daí resultando uma especial atenção ao desenvolvimento da agricultura e à protecção e preservação do mundo rural. A Política Agrícola Comum (PAC) é o principal pilar para a concretização desses objectivos, actuando através de um sistema de subsídios à agricultura destinados a assegurar o abastecimento regular de bens alimentares e a garantia aos agricultores de um rendimento em conformidade com os seus desempenhos. A PAC é responsável por cerca de 43% de um orçamento comunitário de muitos milhões de euros e durante muitos anos esses subsídios têm corrido generosamente, sobretudo para os bolsos dos agricultores franceses (22%), espanhóis (15%) e alemães (14%), cabendo aos agricultores portugueses uma pequena fatia de cerca de 2%. Porém, com a chegada da crise e da austeridade acordou-se recentemente que até 2020 as despesas da PAC têm que passar de 43% para 38% do orçamento global.
Acontece que, no quadro da PAC e da preservação do mundo rural, desde 2003 que o burro mirandês está classificado como raça em extinção, o que passou a dar direito a um subsídio de 230 dólares anuais por cada animal. Por isso, o New York Times publicou ontem na sua primeira página uma fotografia de um burro mirandês e escreveu que “em Portugal as bestas de carga vivem de subsídios”. Foi esse o pormenor que interessou o jornal, pois desta vez não tratou do clima, da gastronomia ou do futebol lusitanos, mas foi até às freguesias de Paradela e Ifanes, no concelho de Miranda do Douro, para perceber como são tratadas as zonas rurais, não só no nordeste transmontano, mas também no sul da Europa. Aí o jornalista Raphael Minder verificou que a desertificação demográfica por que passa aquela região é um processo semelhante ao da extinção do burro mirandês, outrora um indispensável instrumento de trabalho,  mas que actualmente corre sérios riscos, mesmo com o subsídio comunitário. Como é curioso o facto do burro mirandês ser tão famoso e ter tido tanto destaque (com fotografia) num dos maiores jornais do mundo.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Evangelii Gaudium: o apelo do Papa

No passado dia 26 de Novembro o Papa Francisco fez publicar a sua primeira exortação apostólica a que deu o título de Evangelii Gaudium ou A alegria do Evangelho, que é dirigida “aos fiéis cristãos”, mas que apela “ao diálogo com os crentes das religiões não-cristãs”, apesar dos vários obstáculos e dificuldades, de modo particular os fundamentalismos de ambos os lados. O documento foi divulgado pela internet e tornou-se tema de primeira página em alguma imprensa internacional, inclusive na América, embora a imprensa portuguesa o tenha ignorado, provavelmente porque anda um pouco anestesiada (ou é controlada) pelos poderes dominantes. A exortação papal tem 224 páginas e um texto exposto em 288 pontos, que expressa a necessidade das estruturas da Igreja se reformarem, se descentralizarem e se tornarem mais missionárias, mas que também critica a “nova tirania” do “capitalismo selvagem”, a “idolatria do dinheiro” e a “sacralização do mercado”, defendendo a inclusão social dos pobres, a paz e o diálogo social. É, por isso, um documento muito oportuno para ser lido pelos nossos dirigentes políticos para que aprendam e percam o seu fanatismo e a sua cegueira neo-liberal, que estão a levar o nosso país à desagregação económica e social.
A exortação apostólica dedica uma parte do seu conteúdo aos desafios do mundo actual, em que o Papa denuncia o actual sistema económico e afirma que “devemos dizer não a uma economia de exclusão e de desigualdade social”, porque “esta economia mata” (53). Fala na “globalização da indiferença” (54), na “negação da primazia do ser humano”, na “ditadura de uma economia sem rosto” (55), numa “evasão fiscal egoísta” e numa “corrupção ramificada” (56), salientando que a “ambição do poder e do ter não tem limites” (56), que “o dinheiro deve servir e não governar” (58) e declara um “não à desigualdade social que gera a violência” (59).
Como destaca a síntese do Newsday, é preciso repartir a riqueza e é urgente combater a pobreza e a desigualdade, mas é também urgente que os nossos governantes aprendam alguma coisa com este lúcido apelo que é a mensagem papal.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Ensaio sobre a violência

Nos últimos tempos tem-se falado muito de violência doméstica, de violência urbana, de violência psicológica, de violência sexual, de violência física e de outros tipos de violência, mas numa conferência recentemente realizada em Lisboa, o tema da violência reentrou na ordem do dia quando Mário Soares declarou que “a violência está à porta” e que aquela iniciativa tinha sido promovida exactamente “para evitar a violência". O irrevogável ministro Portas e algumas das suas marionetas partidárias, aproveitaram a oportunidade para criticar Mário Soares e aquilo a que chamaram “um apelo implícito à violência”. Porém, não houve nenhum apelo desse tipo e, pelo contrário, tem sido o irrevogável Portas e os seus colegas de governo que repetidamente têm usado a violência sobre a minha pessoa e sobre muitos outros portugueses, dos quais muitos milhares já emigraram, quase um milhão estão desempregados e muitos mais empobreceram.
A violência corresponde sempre a um comportamento intencional e excessivo que causa dano moral ou físico a outra pessoa ou ser vivo, nele se incluindo a violação dos direitos humanos. Aquilo que o governo tem feito torna-me uma vítima da violência governamental, pois mentiu-me descaradamente em campanha eleitoral e depois reduziu-me a qualidade de vida, sem que alguma vez eu tivesse vivido acima das minhas possibilidades. O governo exige-me continuados sacrifícios, mas não vejo que os seus membros e os seus assessores os façam na mesma proporção. É uma violência. É também uma violência a redução da minha pensão para a qual descontei cerca de cinquenta anos, o aumento de todos os meus impostos directos e indirectos, a redução dos meus direitos à saúde, o aumento da minha factura da electricidade e assim sucessivamente. O que nos estão a fazer é uma violência e, em muitos casos, é uma desumanidade e uma ofensa à nossa dignidade. Assim, é a governação de Passos e de Portas ou de Maduro e de Branco, que constitui um verdadeiro caso de violência sobre os portugueses.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

A insaciável banca quer tudo e tudo

A lacónica notícia que só o jornal i puxou para a sua primeira página, impressiona: a banca que opera em Portugal registou nos primeiros nove meses do corrente ano um prejuízo de 1,55 mil milhões de euros, cabendo as maiores fatias desses prejuízos ao BCP (597 milhões de euros), BES (381 milhões de euros), CGD (278 milhões de euros) e BANIF (243 milhões de euros). Este facto e a forma como a imprensa não o destacou, suscita as maiores interrogações, mas é um sério aviso para os contribuintes portugueses que têm estado a pagar o BPN e o BPP, mas também a ajudar a CGD, o BANIF e outros institutos financeiros, à semelhança do que acontece com os contribuintes irlandeses, gregos, cipriotas e espanhóis, que também estão a pagar os desmandos dos seus bancos.
Antigamente, a banca tinha uma actividade respeitável pois captava as poupanças dos depositantes, remunerava-as, emprestava-as a terceiros e remunerava-se por isso. Porém, nos últimos anos muita coisa mudou e a banca portuguesa passou a especular, a financiar o Estado e a impor as suas regras, perante a passividade do regulador e do governo que, como diria um conhecido político, "é tudo farinha do mesmo saco". De facto, essa gente move-se num rodopio de promiscuidade de interesses entre a banca comercial, o Banco de Portugal e o governo.
Embora haja uma redução da actividade bancária e um aumento do crédito mal parado resultante de estratégias irresponsáveis e de gananciosas políticas de crédito adoptadas pela banca, nos resultados agora conhecidos há uma evidente cosmética contabilística que visa apoiar a fuga aos impostos e que, dada a promiscuidade ideológica entre reguladores e regulados, ninguém contesta. Não hove nenhum tsunami e, por isso, não se compreende que os bancos que se financiam a 1% no BCE e que aplicam esse capital em títulos de dívida portuguesa por vezes a 10% ou mais, tendo ganho 15 mil milhões de euros com dívida pública em 2012, segundo anunciaram os jornais, venham agora apresentar estes prejuízos. A banca quer tudo e é insaciável.

domingo, 24 de novembro de 2013

O Vasco ganhou e houve festa no Rio

O Brasileirão 2013 aproxima-se do fim e o Cruzeiro Esporte Clube de Belo Horizonte, vulgarmente conhecido por Cruzeiro, já assegurou o título de campeão brasileiro de futebol. Ontem no Rio de Janeiro e já com o título no bolso, a equipa defrontou o Clube de Regatas Vasco da Gama, que se encontrava na 18ª posição da tabela classificativa e, portanto, em vias de ser despromovido ou rebaixado, como dizem os brasileiros.
Porém, o Vasco venceu por 2-1 e essa vitória foi um balão de oxigénio na sua luta pela permanência no escalão máximo do futebol brasileiro. Os adeptos do clube e de uma forma geral a cidade do Rio de Janeiro festejaram, porque o Vasco é um dos símbolos da cidade. Na sua edição de ontem, o jornal desportivo Lance tinha feito um apelo explícito para que “todos juntos” apoiassem o Vasco, o que é realmente uma curiosidade.
No entanto, vista do lado de cá do Atlântico, a curiosidade também está no facto do Clube de Regatas Vasco da Gama ter sido fundado em 1898 por um grupo de remadores que se inspiraram nas celebrações do quarto centenário da viagem de Vasco da Gama para a Índia, que acontecera em 1498. O clube é actualmente um dos mais populares de todo o Brasil, é muito conotado com a comunidade portuguesa e o seu símbolo inspira-se na cruz da Ordem Militar de Cristo, enquanto as cores das suas camisolas são o preto e o branco, significando uma comunhão de etnias e uma atitude contra o preconceito racial. O Vasco ganhou e houve festa no Rio.

sábado, 23 de novembro de 2013

O Lacerda é o coveiro de serviço nos CTT

Recebi uma carta que me foi enviada por pessoa que não conheço e que assina como Francisco de Lacerda, presidente do Conselho de Administração dos CTT. Percebi que era o "coveiro de serviço" nos CTT, mas como não sabia quem era a personagem fui procurar e verifiquei que é um licenciado com 53 anos de idade que sempre esteve bem encaixado, nomeadamente no Millenium e na Cimpor. Talvez tivesse dado um contributo para o buraco que é hoje o Millenium e outro para a extinção da Cimpor, como uma das nossas jóias da coroa e, por isso, com este currículo ou com este cadastro, o licenciado Lacerda foi escolhido para fazer mais estragos, agora no património público através dos CTT.
Pois na carta que me enviou, o Lacerda faz-me um convite “para que continue a escrever connosco esta história de sucesso” que são os CTT. Então se é uma história de sucesso, eu pergunto para quê privatizá-los? E porque aceita ele ser o coveiro do nosso sucesso? Francamente, oh! Lacerda!
Os CTT são uma das poucas empresas estatais que são lucrativas e importa perceber claramente o que se pretende com a sua privatização, pois estamos fartos de assistir à privatização dos lucros e à nacionalização das perdas. Os CTT são uma garantia de coesão territorial porque são a única rede pública verdadeiramente disseminada por todo o país, que só uma gestão pública poderá assegurar. Não é por acaso que os serviços dos correios são públicos na maioria dos países da Europa ou até nos Estados Unidos. Diz-se que o Estado pode encaixar cerca de 600 milhões de euros com a venda em bolsa dos CTT, que servirão para amortizar a nossa dívida, mas isso nem dá para pagar seis meses de juros à troika. Que fanatismo o teu e o dos teus patrões, oh! Lacerda! Qualquer dia lembram-se de privatizar a Torre de Belém ou a ilha do Corvo.

Empobrecemos para engordar a troika

A maioria dos portugueses já viu que as políticas de austeridade impostas pela troika têm sido um desastre e que ao fim de 30 meses não se vê luz ao fundo túnel. Os meses passam e, de facto, estamos cada vez pior. A nossa vida vai-se degradando com mais impostos e menos rendimentos, mais insegurança e menos alegria. Só o fanatismo, a ignorância ou a má fé dos governantes e dos seus amigos não vê este continuado descalabro nacional e esta humilhação a que se (e nos) sujeitam. Esse grupo de jovens alucinados e impreparados que ocupou o poder tem conduzido o nosso país sem fazer a defesa dos portugueses como é o seu dever, mas apenas para agradar à troika e para alimentar os apetites dos seus burocratas apátridas. Durante este período já longo de muitos meses, o nosso país tem empobrecido e muitos milhares de pessoas emigraram, a dívida e o desemprego aumentaram, o ânimo e a confiança no futuro perderam-se. Vive-se numa situação de tipo revolucionário em que tudo o que funciona e se enquadra no Estado social é objecto de destruição, o que cria uma enorme instabilidade e um generalizado clima de desânimo e de decadência.
É neste ambiente de ansiedade que somos informados que, só neste ano, Portugal já pagou à troika em juros do empréstimo internacional mais de 1446 milhões de euros e que em 2012 já tínhamos pago 1171 milhões de euros. Hoje, o jornal i soma as duas parcelas e revela que só em juros a troika já nos levou 2,5 mil milhões de euros. Afinal a maior parte dos nossos sacrifícios são para engordar a troika. É isto o que nos fazem os nossos alucinados governantes – o empobrecimento, o sacrifício, a humilhação, a desesperança. Esta é, também, a solidariedade europeia!

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Cristiano Ronaldo é uma estrela global

A propósito do jogo de futebol disputado na passada terça-feira em Estocolmo entre as selecções de Portugal e da Suécia, foi verdadeiramentre surpreendente o destaque que a imprensa mundial deu ao acontecimento e, em especial, à exibição e aos golos de Cristiano Ronaldo. Tal e qual fez a generalidade dos jornais portugueses, algumas dezenas de jornais internacionais publicaram a fotografia do futebolista português como destaque de primeira página, sobretudo em Espanha e Itália, mas também em mais de uma dezena de países latino-americanos. O assunto dominou muitos espaços noticiosos na imprensa e na televisão internacionais, tendo desencadeado uma onda de comentários e opiniões sobre quem é o melhor futebolista do mundo, sendo de notar que nesse coro em favor de Cristiano Ronaldo também participou o primeiro ministro espanhol Mariano Rajoy. Ele é realmente uma estrela global e um motivo de orgulho para os portugueses. Porém, uma das coisas que mais me surpreendeu foi o facto de um jornal da Índia, o país do cricket e onde o futebol não tem qualquer expressão de notoriedade, também dedicar a sua primeira página a Cristiano Ronaldo. De facto, assim fez o diário Anandabazar Patrika (আনন্দবাজার পত্রিকা) que se publica na cidade de Calcutta em bengali, uma língua que é falada por 270 milhões de pessoas.
Goste-se ou não de futebol, não há dúvida que Cristiano Ronaldo se tornou o primeiro português a ser conhecido à escala global.

Constituição, Estado social e Democracia

Hoje realiza-se na Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa a conferência promovida por Mário Soares intitulada "Em defesa da Constituição, do Estado social e da Democracia", na qual vão estar presentes muitas personalidades da nossa vida pública e muitos democratas anónimos.
É um acontecimento muito oportuno e necessário numa altura em que a alucinação tomou conta dos nossos governantes que nas instâncias internacionais se comportam com uma absoluta submissão e que, internamente, exibem cada vez mais uma desenfreada arrogância, fanatismo e desprezo pelas pessoas, pela lei, pelas instituições e pelas regras democráticas.  A situação social e económica que atravessamos começa a ser dramática – ao contrário do que nos vão fazendo crer – e é o resultado de cegueira política, absurdas políticas de austeridade, de muitas mentiras e de uma absoluta incompetência. A sua alucinada campanha para destruir o Estado social chegou a limites insuportáveis pelos cidadãos e, por isso, o protesto está na rua.
Porém, esta conferência também tem o objectivo de criticar e de alertar o Presidente da República que jurou cumprir e fazer cumprir a Constituição, pela passividade ou cumplicidade com que assiste à repetida violação das normas constitucionais pelo governo, às suas pressões sobre o Tribunal Constitucional, à indignidade do seu comportamento nas instâncias internacionais e aos resultados medíocres das suas políticas.
Mário Soares tem razão e com a sua coragem dá um exemplo ao país. É preciso despertar as consciências e reagir. É necessário que, através de uma intervenção cívica activa, os democratas façam ouvir a sua voz e que esse coro de protesto e de indignação chegue a Belém. Rapidamente!

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

O futebol, o Ronaldo e a alegria do povo

Ontem em Estocolmo, a selecção portuguesa de futebol bateu de forma concludente a sua homónima sueca e assegurou a sua presença no próximo Campeonato do Mundo de Futebol que, no Verão de 2014, será disputado no Brasil. O jogo foi emocionante e, durante muito tempo, prevaleceu a incerteza quanto ao resultado final e, também, quanto à selecção que asseguraria o lugar em disputa para passar ao Mundial do Brasil. Porém, na segunda parte surgiu o imparável Cristiano Ronaldo, a estrela que com o seu talento marcou os três golos que garantiram a vitória portuguesa. Todos os jornais destacaram "o herói da noite" e a selecção nacional de futebol vai estar no Brasil. Bem precisavamos de uma coisa destas para nos animar!
O futebol é hoje, provavelmente, o fenómeno cultural mais mobilizador em todo o mundo e é um privilégio para a selecção portuguesa de futebol poder contar com um atleta de elevada competência futebolística como é Cristiano Ronaldo que, com os seus remates e os seus golos, tanto entusiasma os portugueses e que, além disso, é o mais famoso de todos os nossos compatriotas. É um caso único de popularidade no mundo do futebol internacional e é um verdadeiro ídolo do povo português a quem tem dado tantas alegrias.
Entretanto, a presença da equipa portuguesa no Brasil vai animar os portugueses e, como foi dito no Brasil, seria decepcionante se a equipa portuguesa não marcasse presença nesse grande evento desportivo internacional que será disputado em terras brasileiras. Numa época em que muitos portugueses sofrem os efeitos da austeridade, da recessão, do desemprego e da pobreza, o jogo de futebol que ontem se realizou em Estocolmo foi uma grande e bem merecida alegria para todos os portugueses e, em especial, um prémio para aqueles que estão a passar por  mais dificuldades.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Voltar a Goa em peregrinação cultural

Os portugueses sempre tiveram uma acentuada vocação para sair do país em busca de locais mais ou menos exóticos para viver ou para trabalhar e, por isso, a diáspora lusitana encontra-se espalhada um pouco por todo o planeta. É uma característica marcante da identidade portuguesa e que terá começado no século XVI com a partida de marinheiros, soldados, mercadores e missionários que atravessaram os mares desconhecidos em direcção ao Oriente e ao Brasil, em busca de fortuna e de aventura. Essa marca cultural manteve-se ao longo do tempo, chegou aos nossos dias e, como ainda recentemente foi revelado numa série de programas da RTP, hoje há portugueses por todo o mundo, desde a Argentina ao Japão ou de Moçambique à Islândia. Partem por razões muito diversas e geralmente desenvolvem actividades muito diversificadas. São gestores, quadros superiores, técnicos especialistas, professores, trabalhadores indiferenciados ou, simplesmente, aventureiros. Integram-se muito bem nas sociedades locais e conquistam reputação social. Muitos fixam-se definitivamente nas terras de acolhimento, mas outros regressam, muitas vezes mais carregados de saudade do que de fortuna.
Porém, muitos dos que regressam continuam ligados às terras por onde passaram e viveram e, sempre que podem, regressam em “romagem de saudade” para rever amigos, revisitar locais, reviver paisagens e recuperar memórias. Neste sentido, para quem teve o privilégio de trabalhar em Goa, um regresso é uma prova emocional e uma peregrinação cultural muito estimulante. É isso que o JML vai agora fazer durante várias semanas. Que tudo lhe corra bem e que desfrute das estimulantes singularidades culturais de Goa, das peculiaridades da sua vida social e das suas vistas sobre o mar Arábico.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

José Barroso ou o regresso do cherne

A última edição do semanário Sol informa que Durão Barroso, o cidadão português que desde 2004 preside à Comissão Europeia, prepara o seu regresso a casa e que “optará entre uma candidatura a Belém e uma nova saída para outro cargo internacional”. Em tempos ainda se pensava que se poderia recandidatar para mais um mandato, mas essa ideia foi ultrapassada pelo próprio, ao reconhecer a forma pouco brilhante como exerceu um cargo em que sempre se deixou entalar pelo eixo franco-alemão. O homem teve alguma lucidez e, recentemente, até afirmou: “Dez anos já chega. Dez anos é muito tempo”. Tem toda a razão.
José Barroso vai, portanto, regressar à nossa terra, onde será sempre lembrado por ter lambido as botas a George Bush na cimeira das Lajes de 16 de Março de 2003, associando o nome de Portugal à mentira das armas de destruição maciça e à invasão do Iraque, que se iniciou quatro dias depois. O futuro ex-comissário Barroso será lembrado, também, por ter estado em Bruxelas a servir os interesses dos grandes grupos e dos grandes especuladores financeiros, por ter pactuado com as políticas de austeridade, por ter aprofundado uma crise económica e social que tem afundado a Europa e por ter apoiado as políticas que tanto têm humilhado a Europa do Sul. Ele é um dos homens poderosos da troika de má memória, que tanto nos tem tramado.
Vai voltar e vem rico. Ainda bem para ele. Eu sugiro que se reforme, que descanse e que abdique de receber pensões em Portugal. Se desejar estar activo e quiser um cargo internacional não vai ter problemas, porque os seus amigos rapidamente lhe arranjarão um. Dos bons. O cherne está de volta, mas ao contrário do que escreveu Alexandre O’Neill, não sigamos o cherne!

sábado, 16 de novembro de 2013

A Espanha e a coragem de dizer NÃO!

Na sua edição de hoje o diário El País destaca em primeira página que Bruxelas exige que a Espanha proceda a cortes adicionais de 35 mil milhões de euros nos seus próximos orçamentos, mas o governo responde que não são necessários. Assim, para 2014 o corte recomendado ou sugerido pela Comissão Europeia oscila entre mil e cinco mil milhões de euros, enquanto para 2015 e 2016 os cortes recomendados rondam os 35 mil milhões de euros. Estes cortes visam prevenir o risco de incumprimento do défice público espanhol que, segundo o vice-presidente Olli Rehn, foi de 10,6% em 2012, será este ano de 6,8% e baixará para 5,9% em 2014. Esta preocupação de Bruxelas com o défice público dos países está relacionada com o desejável equilíbrio entre as autonomias orçamentais de cada um deles e a estabilidade da moeda única, um problema que está afectar a Espanha, mas também a Itália, a Finlândia e Malta.
Estas recomendações (ou ameaças) acontecem porque a Comissão Europeia criou um mecanismo de controlo prévio dos orçamentos nacionais para analisar as propostas orçamentais dos vários países antes da sua aprovação pelos parlamentos nacionais o que, para muitos observadores, é uma revolução e uma intromissão na vida soberana dos Estados-membros. Porém, o governo espanhol reagiu a essa ameaça e sustenta que não é necessário nenhuma alteração ao que está planeado, reafirmando que está comprometido com o objectivo do défice público, pelo que rejeita as recomendações da Comissão. É a coragem de dizer "não" aos burocratas de Bruxelas, o que aqui nunca fazemos, como algumas vezes temos visto em directo pela televisão.

O controlo de gestão previne o abuso

O Jornal de Notícias revelou hoje um caso insólito relativamente a um funcionário da Segurança Social de Lisboa que provocou um prejuízo de mais de 500 mil euros ao Estado. De acordo com a notícia, durante cerca de um ano o referido funcionário efectuou milhares de telefonemas para linhas de valor acrescentado através do telefone fixo do serviço em que trabalhava e lhe estava atribuído. A maioria das chamadas terá sido feita para linhas que dão acesso a sorteio de prémios em dinheiro e outros bens.
Este caso, que não é invulgar, só acontece quando a gestão é incompetente. De facto, estes casos de utilização de bens públicos para fins privados, podem acontecer devido a comportamentos abusivos e são potenciadas em situações em que existem muitas linhas telefónicas e muitos utilizadores, mas também em relação a muitos outros bens, desde o uso de viaturas até ao uso de fotocopiadoras. Para prevenir essas situações, existe o controlo de gestão, isto é, os responsáveis pela gestão têm que analisar regularmente a estrutura de custos da sua organização, ou os respectivos balancetes mensais, para detectar as rubricas que revelem ou possam vir a revelar situações anómalas ou desvios orçamentais. Não é um caso de perseguição pidesca de funcionários, mas um simples caso de prevenção e defesa do erário público. Por isso, no caso reportado pelo Jornal de Notícias não podemos deixar de também apontar o dedo aos responsáveis pela gestão que, por incompetência ou omissão, não viram e deixaram que durante um ano acontecesse o que aconteceu.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

O caso Prestige: um crime sem castigo

No dia 13 de Novembro de 2002, durante uma tempestade ao largo da costa da Galiza, abriu-se um dos tanques do navio petroleiro Prestige devido a problemas de corrosão, de que resultou o derrame de cerca de cinco milhares de toneladas de fuel-oil. As autoridades espanholas não terão avaliado correctamente o problema e decidiram que o navio fosse rebocado para longe da costa espanhola. Porém, na manhã do dia 19, o navio partiu-se em dois e verteu 22 mil toneladas de fuel numa profundidade de cerca de quatro mil metros, tendo o resto da carga de 50 mil toneladas de combustível pesado sido derramado e contaminado milhares de quilómetros da costa do litoral espanhol, mas também francês e português. A tragédia emocionou o mundo e provocou uma mobilização de mais de 300 mil voluntários, vindos de toda Europa que participaram nas operações de limpeza das praias e das rochas empestadas pela maré negra nas costas da Galiza. Foi uma catástrofe ambiental de enormes proporções, tendo havido grandes prejuízos para a pesca artesanal e para a aquacultura galegas, para além de terem sido afectadas 25 reservas protegidas e morrido muitas dezenas de milhar de aves. Em termos financeiros, foi calculado um prejuízo de quatro mil milhões de euros.
Dez anos depois começou o julgamento para se saber quem foi o responsável pela maré negra provocada pelo naufrágio do Prestige: o armador que tinha um navio liberiano com pavilhão das Bahamas sem as condições de segurança apropriadas, ou o comandante grego que não resguardou o navio da tormenta ou as autoridades espanholas que exigiram que o navio se afastasse da costa quando o deveriam ter socorrido imediatamente para evitar que naufragasse e derramasse a sua carga. As investigaçőes judiciais e o julgamento realizado na Corunha que agora terminou, não chegaram a apurar um responsável directo por este acidente, pelo que foram ilibados todos os que estavam acusados pela maior catástrofe ambiental acontecida em Espanha. Naturalmente, houve reacções de protesto em Espanha e até mesmo em França.

Um crescimento económico muito ilusório

Foi uma boa notícia em que se anuncia que no 3º trimestre do ano o produto cresceu 0,2% e que, em dois trimestres consecutivos, a economia nacional tivera crescimento e saíra da recessão. Este crescimento do produto junta-se à diminuição da taxa de desemprego, ao aumento do índice de produção industrial, à descida das taxas de juro da dívida soberana e à continuação do crescimento das exportações, para fundamentar esperanças em dias melhores. Foi, portanto, uma notícia animadora mas que não justifica alguns discursos de euforia que já foram produzidos pelas cassettes do costume. Como referiu uma antiga ministra das Finanças, tínhamos 40 graus de febre e agora passamos a ter 39.8 graus, ou seja, não saimos da crise e continuamos doentes. A análise deste crescimento da economia há-de mostrar que estes resultados se devem ao aumento das exportações e, em especial, ao bom comportamento do turismo, mas também a alguma recuperação da procura interna. Por isso, estamos sob o efeito de uma sazonalidade positiva, mas o que aí vem é muito preocupante. O investimento continua sem recuperar e a nova onda de austeridade e de cortes no rendimento disponível das famílias que está anunciada para o próximo ano, é muito severa. A oposição não foi escutada e até os deputados do maior partido da maioria que ainda quiseram que fossem aplicadas taxas sobre as PPP e sobre alguns sectores como as telecomunicações e a grande distribuição para atenuar os efeitos económicos recessivos, não foram ouvidos. Se houvesse dúvidas quanto à forma como os nossos governantes se deixam humilhar e obedecem aos diktats e à cegueira da troika, ficaram desfeitas nas últimas horas. Por tudo isso, um crescimento de 0,2% do PIB não passa de uma ilusão. Infelizmente.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Um mercado da arte que surpreende

A leiloeira Christie’s vendeu em Nova Iorque, após cerca de seis minutos de intensa licitação, ou “feroz licitação” como se lhe referiu a BBC, um tríptico do pintor britânico Francis Bacon que foi arrematado por 142,4 milhões de dólares (106 milhões de euros), transformando-se na obra de arte mais cara do mundo. O preço pago pela obra intitulada "Três estudos de Lucian Freud" supera o preço pago pelo quadro "O Grito", do artista norueguês Edvard Munch, que atingiu 119,9 milhões de dólares (89,1 milhões de euros), num leilão organizado pela Sotheby’s em Maio de 2012. Como é habitual nestes casos, o nome do comprador permanece em segredo. Este leilão constituiu um caso surpreendente de dinamismo do mercado internacional da arte e, por isso, diversos jornais espanhóis e franceses destacaram essa notícia.
Apesar da crise mundial, o mercado da arte continua a revelar-se muito atractivo para os coleccionadores e para os investidores, sobretudo em relação à arte do século XX que tem dominado o mercado e registado os preços mais elevados, designadamente nos domínios do impressionismo, da arte moderna e da arte do período pós-guerra. No que respeita aos compradores, que até há pouco tempo eram americanos e europeus, o mercado regista agora a chegada de chineses, russos e indianos, o que também tem contribuido para o seu dinamismo. Assim, calcula-se que o mercado internacional da arte movimente anualmente cerca de 43 mil milhões de euros, o que representa cerca de 25% do PIB português. Por cá, embora tenhamos uma escala completamente diferente e haver quem se esteja a "desfazer dos anéis", o mercado da arte está como o resto, isto é, sem andamento que se veja.

Haja quem mande calar o Barroso e o FMI

Na sua imensa sabedoria o povo diz que “quem muito se abaixa mostra o rabo” e na realidade, muito do que de catastrófico nos está a ser imposto resulta de uma excessiva passividade das nossas autoridades face às exigências dos credores, dos alemães e da troika. As recentes palavras de Barroso e os recados do FMI vão nesse sentido e demonstram o nível de submissão a que nos deixamos chegar. Ouvimos e calamos. Sem reacção. Com cobardia. Ao fim de 30 meses de austeridade e de acentuada degradação da situação económica e social, está à vista o monumental falhanço das políticas impostas pela troika que servilmente têm sido por cá adoptadas, ao mesmo tempo que se acentua a pressão com que nos humilham e que fere a nossa dignidade nacional. Nem a Espanha, nem a Itália, nem a Grécia ou a Irlanda, alguma vez aceitaram este tipo de humilhante relação que nos envergonha e que os nossos dirigentes aceitam sem pestanejar. As contínuas pressões de Merkel, Lagarde ou de Barroso são inaceitáveis e são intromissões intoleráveis na nossa soberania, mesmo que esta esteja diminuida. É preciso dizer-lhes para se calarem. Que queremos ser respeitados no quadro do projecto de solidariedade europeia. A nossa história tem altos e baixos, mas poucas vezes foi tão maltratada. É preciso ser muito claro: o Primeiro-Ministro e o Presidente da República são os maiores responsáveis pela humilhante situação por que passamos, ao alinharem na política do bom aluno que aplica uma austeridade desproporcionada e que, em vez de protegerem os portugueses como é seu dever em resultado do voto que receberam, têm contribuido para o empobrecimento do nosso país, para a destruição do tecido económico, para a degradação da vida social e para a destruição da esperança em dias melhores. Já lá vão 30 meses desde que nos disseram que nada disto nos aconteceria. Vejam o que sucedeu e tomem as devidas consequências. A bem da Nação.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Veterans Day 2013

Ontem, dia 11 de Novembro, comemorou-se em todo o território dos Estados Unidos o Dia dos Veteranos de Guerra ou Veterans Day, um feriado nacional em que se homenageiam aqueles que serviram nas Forças Armadas Americanas. É um grande dia de exaltação patriótica e de unidade para os americanos. Por isso, todos os jornais que se publicaram hoje no país, dedicaram alargadas reportagens às comemorações e quase todos com destaques de primeira página e muitas fotografias alusivas ao acontecimento. O Veterans Day começou a ser celebrado nos Estados Unidos em 1947 e com as suas paradas, discursos, romagens e sessões solenes, enquadradas por marchas militares, bandeiras, uniformes e medalhas, faz parte da cultura dominante da América.
Aqui em Portugal não temos essa tradição por razões diversas e complexas, apesar de termos provavelmente mais de um milhão de antigos combatentes e de já ter havido algumas tentativas para haver um dia que lhes fosse dedicado e em que os portugueses os pudessem homenagear, mas essa iniciativa ainda não faz parte da cultura dominante portuguesa. Assim, já que não temos o nosso Veterans Day e que não há condições para homenagear aqueles que serviram as Forças Armadas, que ao menos houvesse algum respeito por elas. Não é isso que faz o governo e a sua rapaziada, em especial, o ministro branco que, ignorante dessas coisas militares e arrogante por natureza, as afronta repetidamente com um autoritarismo serôdio, para além de desconhecer os seus valores, a sua ética e a sua dignidade. É uma triste personagem que não tem estatuto intelectual nem político para dirigir as nossas Forças Armadas que, no quadro da NATO, são com toda a justiça respeitadas pela sua competência.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

O rei vai nu

Ao fim de cerca de 30 meses de governação, começa a ser altura de dizer que o rei vai nu e que, no nosso país, tudo ou quase tudo está muito pior do que estava em Maio de 2011, porque o desemprego aumentou, o défice não diminuiu, a dívida agravou-se, as famílias empobreceram, os jovens estão a emigrar, o pequeno comércio faliu e não há investimento. Vivemos bem pior, embora o número de multimilionários tenha aumentado mais de 10% num só ano, mas isso nem sequer envergonha quem nos governa. Os nossos governantes – o “bando de meninos”, como lhes chamou António Lobo Antunes – deixaram-se humilhar pelos diktats da troika, levados pela sua impreparação, incompetência, ignorância, deslumbramento, irresponsabilidade e fanatismo ideológico. Isso tem sido a nossa desgraça, que o novo-riquismo de Barroso e Constâncio, que são a projecção internacional deste tipo de gente, tanto têm apoiado. O ataque ao Estado social é permanente e a nossa sociedade está decadente e vive amedrontada, pois não se vê uma estratégia nem um rumo para sair deste atoleiro. Eles não previram a recessão, nem são capazes de sair dela. Em vez de atacarem as causas do excesso da despesa que são as PPP, os juros especulativos que nos impõem, as rendas excessivas do sector da energia ou a proliferação de institutos públicos e empresas municipais, atiram-se aos pensionistas e aos funcionários públicos, com medidas socialmente inaceitáveis. Não toleram o Tribunal Constitucional nem quem lhes modere os apetites. Mentem descaradamente e têm medo de andar na rua. Esperava-se que os nossos eleitos defendessem os portugueses, mas revelam uma insensibilidade gritante e ofendem os seus legítimos direitos. Estão ao lado dos especuladores e não são capazes de mobilizar o país. E, no meio desta quase tragédia que tem sido esta governação Passos-Portas ou Portas-Passos, ainda há quem diga que “vamos no bom caminho”, ao mesmo tempo que se ouvem os aplausos ou os silêncios do palácio de Belém...

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

A catástrofe que passou pelas Filipinas

O tufão Haiyan passou pelas Filipinas provocando uma catástrofe traduzida num número estimado de dez mil mortos e num brutal rasto de destruição material, embora o balanço final ainda esteja por fazer. Baptizado localmente como Yolanda, o tufão parece ter sido a maior tempestade tropical alguma vez gerada no nosso planeta, pelo menos desde que há registos, tendo os ventos atingido velocidades superiores a 370 km por hora e as ondas superado os 15 metros de altura. As chuvas torrenciais e os ventos ciclónicos geraram o caos nas províncias do sul do país. Milhares de casas foram destruidas e muitas aldeias foram literalmente varridas. A electricidade e as comunicações foram cortadas. Segundo relata a edição do Manila Standard Today, a cidade de Tacloban, na província de Leyte, “foi totalmente destruida” e há centenas de cadáveres espalhados pelas ruas, verificando-se muitas acções de pilhagem nos supermercados e nos centros comerciais desta cidade de 200 mil habitantes, em busca de comida, arroz, leite e outros bens alimentares. Embora o arquipélago das Filipinas seja uma região em que frequentemente ocorrem vários tipos de calamidades naturais, incluindo terramotos, tsunamis e tufões, nenhuma delas foi tão grave quanto o tufão Haiyan.
Nestas emergências é habitual mobilizar-se a ajuda e a solidariedade internacionais e, por isso, há diversos países e organizações humanitárias que estão a caminho das Filipinas, pois estima-se que haja 3 ou 4 milhões de desalojados, muitos deles isolados e desesperados, sem assistência médica nem comida, nem electricidade nem nada. Uma calamidade.

domingo, 10 de novembro de 2013

A Venezuela é uma fábrica de "misses"

A Venezuela está a enfrentar uma grave crise económica e social, com uma inflação que já vai nos 48% e com a falta de muitos produtos básicos nos seus circuitos comerciais, daí resultando a progressiva deterioração do seu tecido social e da tranquilidade pública. O controverso Presidente Nicolás Maduro, que há poucos meses sucedeu a Hugo Chávez, tem procurado travar a degradação da qualidade de vida dos venezuelanos, não só através da importação de bens alimentares e de higiene, mas também pela adopção de medidas políticas de características emocionais. Há dias decretou o dia 1 de Novembro como o dia da chegada do Natal para que a felicidade chegue ao povo mais cedo e para que seja criado um ambiente de festa que pacifique o país e que derrote a amargura. Nesse sentido, até criou a Secretaria de Estado da Suprema Felicidade Social, encarregada da gestão de todas as actividades relativas aos projectos sociais desenvolvidos pelo governo.
Até que ontem, no Crocus City Hall em Moscovo, a venezuelana Maria Gabriela Isler foi consagrada como Miss Universo e, de repente, o país passou da amargura à euforia, até porque na Venezuela os concursos de beleza são um motivo de orgulho nacional e foi a sétima vez que uma representante venezuelana venceu o concurso. Por isso, o país é considerado uma "fábrica de misses", porque em 62 anos de história deste concurso, só os Estados Unidos conseguiram mais vitórias (oito).  Nicolás Maduro já congratulou a vencedora e o país entrou em verdadeira euforia, com todos os jornais venezuelanos a apresentar a fotografia de Maria Gabriela Isler e a destacar a notícia. Eis, assim, como uma só miss pode animar tanta gente!

 

Espanha também é vítima do aparelhismo

Na generalidade dos países democráticos, os vencedores das eleições instalam-se no aparelho de Estado por direito próprio, mas criaram o hábito de levar consigo uma multidão de correlegionários e de amigos para ocupar os chamados lugares de confiança. É que existem lugares para todos, desde que pertençam ao partido. É um prémio de militância. Um emprego dos bons.
Em Portugal tem sido assim e os gabinetes ministeriais e as direcções gerais enchem-se de assessores e de técnicos, as empresas públicas renovam-se de administradores e directores, as autarquias e as empresas municipais dão emprego a quem faz parte ou apoiou o partido e, quando necessário, criam-se comissões, institutos e fundações. Esta gente gasta rios de dinheiro. Sempre que se altera o ciclo político é um fartote indiscritível de tacharia que, em elevado grau, também tem sido responsável pelo descalabro das nossas finanças públicas. Em Espanha passa-se o mesmo fenómeno e talvez em grau mais absurdo, pois segundo revela hoje a edição do El Mundo, os partidos políticos dão emprego directo ou indirecto a 145 mil espanhóis. É um número espantoso. São verdadeiras “fábricas de emprego” que vivem dos dinheiros públicos, refere o jornal. Pagam salários a muita gente, onde se incluem os membros do governo, os deputados das 19 câmaras representativas existentes e os 8116 autarcas, muitos deles isentos de obrigações fiscais. Desde que começou a crise, esse número passou de 27.600 para 39.500, a mostrar que os sacrifícios não são para os políticos. Porém, a estes números há que juntar mais 20 mil assessores contratados a dedo como pessoal de confiança (sendo que a sua maior parte são “familiares dos políticos” e membros dos partidos), para além de muitas outras ocupações que o El Mundo destaca e que totalizam 145 mil empregos! Eu julgava que éramos vítimas do nosso aparelhismo que faz deputados, assessores, técnicos especialistas e até secretários de Estado com 20 anos de idade, mas afinal em Espanha ainda parece ser pior.

sábado, 9 de novembro de 2013

Um caso raro de prestígio reconhecido

Exceptuando as gentes do mundo do futebol e, em especial, os casos de Cristiano Ronaldo e José Mourinho, só em raríssimos casos a imprensa internacional tem destacado acontecimentos ou personalidades portuguesas nas suas primeiras páginas. Ontem, aconteceu isso, quando o novo Presidente da Câmara Municipal do Porto foi notícia na primeira página da edição internacional do diário norte-americano The New York Times, que é um dos mais influentes jornais mundiais. É um caso absolutamente raro, provavelmente único nos últimos anos. O jornal destaca a vitória de Rui Moreira nas eleições autárquicas de 29 de Setembro, a que se apresentou como candidato independente e sem o apoio de máquinas partidárias, tendo conseguido um resultado praticamente sem precedentes em Portugal e em quase toda a Europa ocidental: ser eleito Presidente da Câmara de uma grande cidade, sem pertencer a um partido político e a criticar o aparelhismo dos partidos políticos.
O jornal aponta Rui Moreira como um factor de esperança democrática em Portugal e até no espaço político europeu, onde os partidos políticos tradicionais estão a ser vistos com cada vez mais indiferença pelos eleitores que os associam à corrupção, ao desemprego e às políticas de austeridade, salientando a sua posição sobre a crise económica e a crise de liderança e de ideais que se vive na Europa, onde os partidos populistas ou fascisantes tendem a afirmar-se na Grécia, na Itália, na França e na Grã-Bretanha. Além disso, o jornal salienta que Rui Moreira rejeita os vícios do aparelhismo e defende que o nosso país precisava de um programa de ajustamento, mas considera que "o que aconteceu em Portugal foi uma overdose" de austeridade. Este homem é diferente e pode ser uma janela de oportunidade neste lusitano imbróglio. Foi isso que o The New York Times percebeu e destacou.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Ele vive abaixo das suas possibilidades

Chama-se São Pedro do Rio Seco o local onde veio ao mundo quando a segunda guerra mundial já tinha terminado há alguns meses e eram altas as expectativas quanto aos tempos de paz que se aproximavam. O rapaz cresceu e estudou. Foi um aluno de excepção na Faculdade de Ciências e cumpriu o serviço militar na Marinha. Homem discreto, atento e inteligente, decidiu-se por uma carreira empresarial que teve muito sucesso, mas porque é solidário e generoso, não esqueceu as suas origens e tem dado o seu contributo para a valorização do seu torrão natal.
Atento observador do mundo e verdadeiro filósofo da sociedade contemporânea, juntou as suas regulares crónicas da blogosfera e publicou-as como “O Mundo em transição – Reflexões sobre crescimento, população, poluição e recursos naturais”. É um livro notável, escrito por um homem que sabe e que pensa, o que começa a ser raro no panorama editorial português.
A propósito dessa iniciativa, ontem juntou muitos amigos, figuras da cultura e da comunicação social, conterrâneos e colegas, jornalistas e companheiros de armas. Foi um notável acontecimento social e cultural, proporcionado por um homem notável que tem sabido viver “abaixo das suas possibilidades”. Foi na rua Ivens, ali ao Chiado, nas instalações do Grémio Literário, o clube criado em 1846 e que teve Alexandre Herculano como seu sócio nº 1. Tive o grato prazer de estar com o L.Q., que conheço e admiro desde há 45 anos.
 

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

O insulto afasta o desejável consenso

Nas últimas semanas têm sido produzidas algumas afirmações de precipitado optimismo, com base em dois indicadores que registaram uma evolução positiva: o produto cresceu 1,1% no segundo trimestre de 2013 face ao trimestre anterior e, em Setembro, a taxa de desemprego situou-se nos 16,3%, ligeiramente abaixo dos 16,5% registados em Agosto. Estes indicadores trouxeram algum ânimo aos nossos dirigentes. Assim, há um mês atrás, numa entrevista concedida a um jornal sueco, o Presidente da República afirmou que “Portugal já saiu da recessão e apresenta o maior crescimento da Europa”. Depois, o ministro Portas passou a falar em “sinais positivos”, dizendo que “a economia começa a dar sinais de recuperação”, que "é possível que Portugal esteja a poucas semanas de saber oficialmente que saiu de uma recessão técnica” e que “em Junho de 2014 podemos viver uma espécie de 1640 financeiro”. O ministro Lima, apesar de ser mais comedido e mais conhecedor do que o seu pupilo, foi na onda e falou em “milagre económico”. Infelizmente a realidade é outra e só a sazonalidade e a maciça emigração sustentaram aqueles sinais. Poucos acreditam que, com este tipo de austeridade, os desejos de retoma se transformem em realidade, com excepção dos que se sentam na primeira fila das bancadas parlamentares dos partidos da maioria, eventualmente à espera de uma qualquer promoção. Esses aplaudem em delírio. E é esta rapaziada que, perante o ultimato da troika a exigir um compromisso político com a oposição, adopta um intolerável discurso – agressivo, provocatório e insultuoso – que nos chega a casa através das emissões em directo do canal Parlamento. Não é de agora, mas nos últimos tempos o insulto quase tem feito parte da ordem de trabalhos. Assim, nunca haverá consenso, nem o desejável compromisso de que o país carece. Assim, só novas eleições (e outros deputados mais maduros e menos panfletários) poderão resolver este imbróglio.
 

terça-feira, 5 de novembro de 2013

O farol da Barra: património e memória

A edição de hoje do jornal Correio que se publica na cidade de Salvador, a capital do Estado da Bahia, dedica a sua primeira página ao arranjo paisagístico que vai enquadrar o forte e o farol da Barra, que se localizam à entrada do porto de Salvador, na Bahia de Todos-os-Santos. Este farol foi o primeiro farol do Brasil e, também, de todo o continente americano.
Em finais do século XVII aquela baía era um dos mais frequentados portos do Brasil colonial e, quando em 1696 se iniciou a reedificação do forte de Santo António da Barra, que fica à entrada do porto, foi instalado no seu interior um farol constituído por um torreão quadrangular encimado por uma lanterna de bronze, envidraçada e alimentada a óleo de baleia. Essa instalação começou a funcionar em 1698, passando a ser chamada como Vigia da Barra ou farol da Barra. O farol da Barra é, portanto, o pioneiro dos faróis do continente americano, até porque o mais antigo farol dos Estados Unidos só foi construído em 1716 em Little Brewster Island, à entrada do porto de Boston.
O arranjo paisagístico que enquadra o farol é um bom serviço prestado à preservação do património histórico brasileiro, mas é também uma boa memória do passado português do Brasil.

Um rapazote convencido e deslumbrado

Na sua itinerância por tudo o que lhe cheire a mordomia, influência e poder, mas também na sua ânsia de tocar todos os instrumentos e de ao mesmo tempo dirigir a orquestra, a personagem deslumbra-se. É um atrevido. Andou pela Defesa e para além de ter fotocopiado tudo, deslumbrou-se com generais e almirantes a prestarem-lhe vassalagem; passou pelos Negócios Estrangeiros e para além de não ter parado em passeatas pelo mundo inteiro, espumou de felicidade com a subserviência dos diplomatas. Depois, no passado mês de Julho protagonizou um verdadeiro golpe de Estado que nos custou milhões com a subida de juros que provocou, mas viu o seu protagonismo e o seu poder aumentarem na hierarquia do Estado. Numa demonstração de grande carácter, em poucas horas deixou de ser irrevogável. O outro vergou-se e este sucesso subiu-lhe à cabeça. Certamente, deve ter exclamado: “Mãe, sou um estadista, olha-me o talento”. Então, a personagem passou a estar em todas e a apresentar-se como um poderoso e como um deslumbrado – na relação com troika, na coordenação do orçamento, no guião para a reforma do Estado e na promoção do investimento e das exportações. Assim, lá foi para mais uma viagem até ao Oriente. Vendeu fruta. Que fruta? Vendeu arroz. Que arroz? Que pouca vergonha!
A edição de hoje do jornal Macau hoje conta como numa recepção à comunidade portuguesa de Macau chegou com duas horas de atraso, pelo que metade dos convidados já se tinha ido embora. E nem sequer pediu desculpa. “Inenarrável”, diz o jornal. Acham que é com espertalhões destes que sairemos deste buraco em que nos afundamos dia após dia?

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

A França começa a rejeitar a austeridade

A crise económica está a alastrar do sul da Europa para o norte e chegou à Bretanha. A Bretanha é uma das 22 regiões administrativas e fica situada no noroeste da França, com a sua capital em Rennes e cerca de 3 milhões de habitantes, tendo por base económica a agricultura e a indústria agro-alimentar. Desde 2011 que a situação económica bretã se tem deteriorado muito devido ao agravamento dos custos de produção agrícola, à redução do poder aquisitivo das famílias e à política de preços imposta pela Grande Distribuição que adquire cerca de 75% da produção local, o que tende a arruinar as empresas agrícolas e agro-alimentares e a gerar o desemprego. Assim, esta situação tem dado origem a um número crescente de falências e daí que em 2011 tenham sido perdidos 3900 postos de trabalho e se estime, para o corrente ano, a perda de mais 5 mil empregos. Foi neste quadro de crise que o governo de François Hollande decidiu aumentar a austeridade e a carga fiscal, ao criar um imposto de circulação sobre os veículos pesados que circulam nas estradas francesas – a que chamaram eco-taxa –, a aplicar a partir do próximo dia 1 de Janeiro, não só para diminuir a poluição atmosférica, mas também para aumentar as receitas fiscais.
Foi a gota de água que fez entornar o copo! Os agricultores bretões reagiram com violência. Enfiaram o seu gorro vermelho, um símbolo histórico do protesto bretão e, segundo descreveram muitos jornais franceses, fizeram uma verdadeira maré vermelha de protesto e violência, a que se seguiram confrontações com a polícia e a destruição de valioso património. A França está assustada e teme que esta agitação se estenda pelas outras regiões do país.

 

A Espanha recupera e nós ficamos a ver

Embora as notícias da recuperação económica espanhola já tenham surgido desde há algumas semanas na imprensa, poucas terão sido tão esclarecedoras quanto foi aquela que o diário Heraldo de Aragon, que se publica em Saragoça, destacou na passada sexta-feira: “a Espanha recupera confiança no exterior e recebe 36.700 milhões de euros de investimento em oito meses”. Só na indústria automóvel foram investidos 5 mil milhões de euros e foram criados 2400 empregos e, no mês de Outubro, as vendas de automóveis subiram 34,4%. Hoje, a OCDE revelou que "está a sair mais investimento estrangeiro de Portugal do que a entrar e que o valor do investimento directo estrangeiro em Portugal no 2º trimestre de 2013 foi negativo em 1,4 mil milhões de dólares". Uma lusitana desgraça.
Estas notícias obrigam-nos a pensar no caminho que estamos a seguir para ultrapassar a nossa crise ou, por outras palavras, a perguntar como é possível o que está a acontecer aos nossos vizinhos e o que nos acontece aqui, onde estamos condenados a marcar passo ou a andar para trás. O actual chefe da propaganda e criador do guião, ou seja, o  irrevogável ministro Portas, gosta de dizer que o fim da recessão está a chegar. Nós que andamos pelas ruas e viajamos de autocarro vemos que não é verdade. Além disso, a pretexto de captar investimento e promover as exportações, o irrevogável ministro que é, provavelmente, o mais viajado ministro português desde que D. Afonso Henriques se revoltou contra a mãe, não apresenta quaisquer resultados das suas dispendiosas viagens, para além da sua promoção pessoal, sempre a olhar para o seu umbigo e a pensar no seu futuro, mas à custa de todos nós. Inaugurou ginásios na Índia e agora quer vender arroz na China. Hoje em Macau, tivemo-lo a regozijar-se porque o programa de vistos gold concluiu que já foram investidos em Portugal mais de 200 milhões de euros e que 80% desse investimento teve lugar no imobiliário. Então onde havia de ser? Precisávamos de ter janelas que nos dessem claridade e perspectivas de futuro, mas temos portas destas. É uma tristeza. É mesmo uma tristeza!

Os tubarões da assessoria jurídica

Quando se realizaram as eleições legislativas de 2011, criticava-se muito o governo  de então pela excessiva despesa que era feita com escritórios de advogados, aos quais eram adjudicados serviços de assessoria e consultoria jurídica e encomendados estudos, pareceres, arbitragens, representação em processos judiciais e condução de negócios. Essa despesa era encarada pelos arautos da teoria das gorduras do Estado como um exemplo de despesismo e da promiscuidade entre o interesse público e o interesse privado, pelo que a sua eliminação figurava sempre como uma das medidas necessárias para a redução do défice. Provavelmente tinham razão e, por isso, esperava-se uma inversão de rumo e um travão aos desenfreados apetites dos tubarões da assessoria jurídica. Porém, o jornal i veio hoje noticiar que o “governo bate recorde em gastos com escritórios de advogados”, pois as despesas não só não estão a diminuir como até têm vindo a aumentar. De facto, nos primeiros dez meses do corrente ano, já foram contratualizados 12 milhões de euros em 302 contratos com escritórios de advogados, o que representa um aumento de 17,6% em relação ao total que foi gasto em 2012. O maior tubarão deste negócio, segundo o jornal i, é a Sérvulo Correia & Associados que, só à sua conta, já assinou este ano 58 contratos por um valor de 3,1 milhões de euros. Escandalosamente, os grandes escritórios de advocacia ganham cada vez mais dinheiro à conta das encomendas feitas pelo Estado, que são pagas com o dinheiro dos contribuintes e com os meus impostos. E o que faz quem manda? Nada!