sábado, 14 de dezembro de 2013

Uma gaiola dourada em Paris

Há menos de um mês realizou-se em Lisboa uma manifestação contra os cortes previstos no Orçamento do Estado para 2014 que, pela primeira vez, juntou todas as polícias e que se concentrou em frente das escadarias da Assembleia da República. Seriam cerca de 12 mil polícias de diferentes corporações e o ambiente era de alguma tensão como costuma acontecer nessas circunstâncias, com manifestantes a empurrarem as grades de segurança que acabariam por ser recuadas. Em determinada altura os polícias (em protesto) conseguiram furar o cordão dos polícias (em serviço) que os impediam de subir as escadarias da Assembleia da República. Subiram-nas e só pararam à porta do edifício. Foi uma atitude simbólica dos polícias (em protesto) e uma atitude sensata dos polícias (em serviço), mas rapidamente tudo serenou. O governo não esperava esta “grave afronta" ou esta "insubordinação” e decidiu demitir imediatamente o director geral da PSP, vindo a nomear para o cargo o comandante da força policial que, mal ou bem, não evitou que as escadarias fossem ocupadas pelos manifestantes. O assunto nunca foi claramente esclarecido, talvez para poupar a demissão do ministro, como seria normal que acontecesse. Porém, ele aí mostrou que tem pouca verticalidade. Passou menos de um mês e o governo, como salienta hoje o Diário de Notícias, decidiu nomear o antigo director da PSP para um lugar especialmente criado para ele: oficial de ligação do seu ministério na embaixada portuguesa em Paris, onde irá ganhar 12 mil euros por mês, isto é, o triplo do que auferia como diretor da PSP. Nunca esse cargo foi necessário e é uma autêntica e escandalosa gaiola dourada. Podia ser em Alcoutim ou em Penedono, mas teve que ser em Paris. Embrulhem! O homem até podia não aceitar e ficaria na história como um insubornável e incorruptível, mas aceitou. E o ministro podia não criar estes tachos neste tempo tão nebuloso, quando o seu governo abusa da austeridade e promove despedimentos, faz aumentar a pobreza e aumenta a desigualdade. Que vergonha é esta de termos o ministro Macedo a baixar ao nível dos seus pobres pares, ao arranjar tachos que vão ser pagos com os dinheiros das nossas pensões, salários e  impostos e, de uma forma geral, com os nossos sacrifícios, a demonstrar que a austeridade não é para todos! Que vulgar macedo.

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