quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Exportações, porta-aviões e... aldrabões

Nas últimas semanas o discurso da propaganda e do triunfalismo tem-se acentuado na política portuguesa e, por vezes, o nosso primeiro e o nosso vice-primeiro parecem disputar entre si o principal papel no elenco do optimismo lusitano, cada qual a tentar passar a ideia que foi mais importante do que o outro no andamento da nossa vida pública e da nossa economia. É uma questão entre o Pedro e o Paulo.
O caso do Paulo é, porventura, mais interessante. O Paulo é um jurista e não tem formação económica, nem estudou Econometria nem Finanças Públicas, mas teve um entusiasmo tardio pelas questões económicas e aprendeu que o investimento e as exportações são importantes, mas esqueceu-se que o consumo ainda é mais importante ou que as pessoas são o objecto da economia. O recente artigo do Financial Times ajudou-o com aquela história do “herói-surpresa da Zona Euro” e, com isso, ele foi buscar um acrescido entusiasmo para destacar o sucesso das exportações portuguesas nos últimos anos e o mérito das “nossas empresas”. Esta semana veio dizer-nos que "as exportações estão a ser o porta-aviões da recuperação do país".
- “Bela frase, Paulo”, terão dito os seus amigos do governo, do parlamento e das mil e muitas assessorias e tacharias.
O Paulo é o irrevogável, aquele que me enganou ao definir uma fronteira que não podia deixar passar... e deixou, ou aquele que não permitiria uma sociedade que descartasse os mais velhos... e permitiu. Que se esqueceu da reforma do Estado. Andava tão entretido “naquele engano de alma ledo e cego que a fortuna não deixa durar muito”, como dizia Camões, quando veio o FMI arrefecer-lhe os ânimos ao dar-lhe um tiro no porta-aviões e dizer-lhe que o milagre das exportações só existe na cabeça dele, pois resulta da nossa dependência face às refinarias da Galp e da anormal quebra das importações devido à crise doméstica, não sendo um sinal inequívoco de que a economia está a mudar para melhor em termos estruturais, gerando crescimento e emprego. Afinal, o Paulo ainda precisa de aprender muita coisa e não alinhar nesta aldrabice que é vender-nos a ideia de que as exportações tudo resolvem, quando o FMI vem dizer exactamente o contrário.

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