terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Vamos continuar a ouvir falar da Ucrânia

A situação ucraniana tem evoluido de forma muito rápida e, aparentemente, tende a entrar na normalidade, depois de três meses de grande contestação e de algumas dezenas de mortes resultantes dos violentos confrontos ocorridos em Kiev. As barricadas da Praça da Liberdade foram levantadas e deram lugar às homenagens aos mortos, enquanto o Presidente Viktor Yanukovych abandonou as suas sumptuosas residências e está desaparecido. Os grandes jornais internacionais têm acompanhado a situação, mostrando as barricadas, os incêndios e os feridos, ao mesmo tempo que anunciam “o fim da ditadura” e a “primavera ucraniana”. Da mesma forma, também os jornais ucranianos acompanham a situação, como acontece  com o Vecherniye Vesti (Вечерние Вести), um importante  jornal de língua russa que se publica em Kiev, que foi crítico em relação ao poder de Yanukovych e que se diz ser controlado pela antiga primeira-ministra Yulia Tymoshenko. A capa da sua última edição mostra a homenagem aos mortos com as flores e as lágrimas, mas também a polícia, uma estátua derrubada de Lenine e, naturalmente, as duas figuras mais mediáticas desta crise: Viktor Yanukovych e Yulia Tymoshenko.
O poder mudou de mãos em Kiev, mas a queda do ditador Yanukovych não foi o fim do autoritarismo nem da crise, porque a aliança das forças oposicionistas foi conjuntural e não é consistente. A Europa rejubila com a mudança, mas a Rússia ameaça não reconhecer a nova situação. Naturalmente, como sempre acontece nestas mudanças revolucionárias, nos próximos tempos haverá avanços e recuos. Os riscos de desintegração da Ucrânia continuam a ser muito elevados, não só pelas diferenças culturais e línguísticas entre a parte oriental pró-russa e a parte ocidental pró-europeia, mas também pela atitude da Crimeia, uma república autónoma que é maioritariamente russófona, onde se localiza a base de Sebastopol e a frota russa do Mar Negro. A guerra civil ou a desintegração não sairam da agenda das preocupações e, assim, vamos continuar a ouvir falar da Ucrânia.

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