terça-feira, 4 de março de 2014

As incertezas do imbróglio ucraniano

A Europa e, de certo modo, o mundo têm acompanhado com muita apreensão o que está a acontecer na Ucrânia. Aparentemente, o que se passou em Kiev foi uma espécie de 25 de Abril, em que uma coligação alargada de interesses derrubou um poder autocrático e muito corrupto, personalizado na figura do Presidente Viktor Yanukovich.
Um sentimento de libertação alastrou por todo o território, revelando que há duas matrizes culturais, duas concepções políticas, dois tipos de aliança preferencial ou, simplesmente, duas ucrânias, cada qual com a sua língua – o ucraniano e o russo. É uma situação muito preocupante, porque há inúmeros factores de conflitualidade presentes no terreno, embora a situação se enquadre no conceito de “Europa das Pátrias”, isto é, um continente de múltiplas identidades e culturas, a fazer lembrar os recentes desmembramentos da Checoslováquia e da Jugoslávia.
A Ucrânia nasceu há vinte anos como resultado do desmoronamento da União Soviética e nunca se libertou da sua relação umbilical com a Rússia. Tem uma superfície superior a 600 mil km2 e é o maior país da Europa, tendo cerca de 45 milhões de habitantes. O seu território tem fronteiras com 7 países e inclui a Crimeia, uma península com 26 mil km2 que é uma república autónoma da Ucrânia, situada na costa setentrional do Mar Negro e que alberga a frota russa na cidade portuária de Sebastopol.
A Ucrânia e, em especial a Crimeia, são estrategicamente importantes para a Rússia, existindo receios de desagregação do país e de separatismo imediato da Crimeia que, demograficamente, é de maioria russa. Nesse quadro, Vladimir Putin não perdeu tempo, “passou ao ataque” e “ocupou” a Crimeia, sem quaisquer hesitações quanto à protecção dos seus interesses vitais ou das suas fronteiras naturais. O Ocidente reagiu a esta prova de força e a crise está a subir de tom. A imprensa internacional dá grande relevo aos acontecimentos e, muitos jornais, reproduzem hoje a imagem de Putin numa visita a um campo militar russo, enquanto a imprensa portuguesa se dedica a assuntos menores e parece ignorar o que se passa.
O imbróglio ucraniano é uma situação muito complexa e de muita incerteza. É preocupante e está para durar, porque estas mudanças revolucionárias são como as marés, isto é, têm fluxos e refluxos. Tal como se faz no totobola nos jogos de grande dificuldade, é melhor utilizar uma resposta tripla: 1x2.

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