domingo, 23 de março de 2014

As portas que o Paulo abriu

A notícia apareceu na maioria dos jornais portugueses e o Jornal de Notícias destacou-a ontem na sua primeira página: “um burlão chinês com visto dourado”. Trata-se de um caso realmente interessante, mas que não é surpreendente nem inesperado, pois era evidente que o visto gold - um programa lançado no início do ano passado com grande entusiasmo e muita propaganda pelo irrevogável ministro Portas que, dessa maneira, esperava atrair investimento estrangeiro - poderia ter aspectos positivos, mas também ia ser um cavalo de Tróia onde se iriam esconder actividades criminosas de ordem diversa. Agora, quando a Polícia Judiciária deteve um indivíduo chinês que era procurado no seu país e tinha um mandado de detenção internacional por burla, a face obscura do problema surgiu com mais clareza pois o burlão tinha obtido recentemente uma autorização de residência em Portugal ao abrigo dos vistos gold.
Até ao final de 2013 o Estado atribuiu 417 vistos gold que, segundo foi divulgado, representaram um “investimento” total de 316 milhões de euros, dos quais 90% se referiam à aquisição de imóveis. Para quem estudou muitos anos na Rua do Quelhas, o conceito de investimento não é exactamente a aquisição de imóveis com dinheiro que não se sabe de onde vem, mas o conceito foi apropriado e desvirtuado por quem não tem habilitação académica nessa matéria, mas até chegou a ministro. Nessa ganância governamental por dinheiro, até a nacionalidade passou a ter preço!
Por cá foram poucas as vozes que têm mostrado preocupação peloo descrédito que é a venda da nacionalidade, mas o mesmo não aconteceu no Parlamento Europeu, onde foi vivamente criticada a atribuição dos vistos gold por poderem permitir a permanência e a circulação pelo espaço Schengen a todo o tipo de gente. Este caso vem provar que, na sua ânsia de protagonismo, o irrevogável abriu portas a quem não devia. Afinal, como era de esperar, deu mais um tiro no pé.

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