segunda-feira, 31 de março de 2014

As reflexões de Alípio Dias

Tendo estado afastado das minhas rotinas durante alguns dias e de algumas das minhas fontes de informação habituais, só agora tive conhecimento da entrevista que Alípio Dias deu ao jornal i e que julgo ter sido publicada na edição do dia 22 de Março a propósito do 40º aniversário do 25 de Abril. O lead da notícia era um bocado enganador, pois a entrevista era muito mais substantiva: “Mandei fechar o Banco Borges às 10 da manhã. Já não tínhamos notas”.
Alípio Dias é uma personalidade relevante do nosso regime democrático: economista, docente universitário, deputado pelo PSD, Secretário de Estado das Finanças e do Orçamento em cinco governos constitucionais, vice-governador do Banco de Portugal, Presidente do Banco Totta & Açores e Administrador do BCP, entre outras funções desempenhadas. A sua entrevista é fluente, muito interessante e, sem comentários, dela destaco algumas passagens.
Sobre o serviço militar obrigatório: O governo ter acabado com o serviço militar obrigatório foi um erro gravíssimo. Não digo que durasse três anos e tal, mas 12 a 14 meses, sim […] porque se misturavam pessoas de norte a sul, gente que não tinha nada com gente que tinha tudo, havia uma miscigenação, uma amálgama, mas aproximava as pessoas, havia camaradagem. Digo-lhe uma coisa: se não fosse a Marinha, a minha vida tinha sido outra.
Sobre as negociações com a troika: Hoje há muita incompetência, é por isso que estamos na situação em que estamos. E é por isso que as negociações com a troika são o que são. Eu fiz as negociações com o FMI: havia coisas que eles não aceitavam, havia outras que não aceitávamos nós. Por isso digo que há incompetência e há desonestidade intelectual. Não é possível manter isto.
Sobre a geração que está hoje no poder: Falta-lhe ser educada. Education, no sentido inglês do termo. Esta geração não teve education, permitem-se fazer tudo, não respeitam constituições, não respeitam leis. Tenho muito respeito pelo Pedro, mas não pode ser. Ele não pode dizer o que disse ao Bloco de Esquerda na Assembleia da República, tem de responder. Mas sabem que estão a conduzir uma política errada […] Porque é que Vítor Gaspar saiu? Percebeu que esta política só nos conduzia à desgraça e não quis participar nisto, safou-se. […] Hoje há muita incompetência, é por isso que estamos na situação em que estamos. E é por isso que as negociações com a troika são o que são. 
É militante do PSD. Já explicou isso a Passos Coelho? Não posso não ser leal e tenho as quotas pagas até 2019. Enviei uma carta ao primeiro-ministro e ao Presidente da República. Acho que estamos no limite, mas o Pedro está convencido de que o divino Espírito Santo o iluminou. Eu acho que estão a abusar. Há uma coisa que vem na Constituição: Portugal reconhece o direito dos povos à autodeterminação e independência, ao desenvolvimento, bem como o direito de insurreição contra todas as formas de opressão... Estamos a chegar a esta parte. Escrevi para chamar a atenção e dizer, cuidado, podemos chegar aqui.

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