quarta-feira, 19 de março de 2014

Melilla simboliza a distracção europeia

Todos os jornais espanhóis escolheram os acontecimentos verificados ontem na cidade autónoma espanhola de Melilla para ilustrar fotograficamente as suas primeiras páginas e para destacar a notícia da entrada de uma verdadeira avalancha humana que tomou de assalto a fronteira, numa das maiores ações do género dos últimos anos. Até agora, o maior "salto" deste tipo tinha acontecido em Outubro de 2005, quando 350 pessoas conseguiram alcançar o território espanhol. Ontem, terão sido cerca de mil imigrantes provenientes sobretudo do Mali e do Senegal, que tentaram entrar no enclave de Melilla, embora metade não tivesse conseguido devido à acção da polícia dos dois lados da fronteira. As cinco centenas de imigrantes foram recolhidas no Centro de Estância Temporária de Imigrantes (CETI) de Melilla que, neste momento, alberga mais de 1300 pessoas, apesar de ter uma lotação apenas para 480. Entre os imigrantes encontravam-se algumas dezenas de feridos que apresentavam cortes nas mãos e nos pés por causa do arame farpado da vedação fronteiriça. Entretanto, as autoridades espanholas estimam que possam estar em Marrocos, à espera de poder entrar em Melilla e Ceuta, mais de 80 mil imigrantes. Embora seja altamente preocupante o caso das cidades autónomas de Ceuta e Melilla, o problema ainda não tem a dimensão da que se verifica na ilha de Lampedusa e no sul da Itália, sobre os quais até o Papa se interessou e onde nos últimos meses as autoridades italianas resgataram mais de dez mil pessoas que tentavam alcançar o seu território. Esta pressão migratória que se verifica na margem sul da Europa e, em especial na Espanha e na Itália, constitui um grave problema a que a União Europeia não tem dado a devida resposta, ou seja, os dirigentes europeus, entre os quais se encontra o Presidente da Comissão Europeia, não têm dado a devida atenção aos problemas humanitários e às questões da solidariedade a que a Europa se devia obrigar por razões históricas e humanitárias, preferindo dedicar-se à protecção dos grandes interesses económicos e financeiros.

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