sábado, 17 de maio de 2014

O Brasil e a sua tão preocupante agitação

O que está a acontecer nas cidades brasileiras com a população a protestar nas ruas e a assaltar lojas num quadro de pré-tumulto, como os canais televisivos nos têm mostrado e a edição de ontem do Correio Braziliense nos relata, é demasiado preocupante. Não se trata de uma preocupação resultante das eventuais perturbações que estes acontecimentos possam provocar na normalidade quotidiana do Brasil durante a realização da Copa 2014 que se aproxima ou até na imagem externa do país mas é, sobretudo, a preocupação por estes sinais de insatisfação popular, por esta reacção contra a desigualdade, por este grito de revolta contra a corrupção e por estes acentuados riscos de desagregação social.
Apesar de todos os esforços que o Brasil tem feito nos últimos anos para promover o progresso económico e social da população e para afirmar o país no panorama internacional, os resultados parecem não satisfazer largas camadas da população. O projecto de construção de um Brasil moderno, solidário e harmonioso está a revelar muitas fragilidades. Os sindicatos e os movimentos sociais protestam contra os sinais negativos da economia e da sociedade brasileiras que os custos com a Copa 2014 revelaram e que são observáveis no excesso de infraestruturas impostas pela FIFA e nos seus sobrecustos. A paixão pelo futebol e a alegria pela realização da Copa 2014 não escondem as necessidades reais de largas faixas da população, nem a insatisfação pela qualidade dos serviços públicos, nem as evidências de uma enorme corrupção que continua a minar o país. Por isso, o povo reage contra o despesismo e a submissão brasileira às exigências da FIFA.     
Provavelmente, os portugueses sentirão estes factos como ninguém, não só por razões culturais e afectivas, mas também porque conhecem por experiência própria as consequências dos excessos financeiros a que os grandes eventos obrigam e que muitas vezes não têm o retorno que se esperava.

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