quarta-feira, 7 de maio de 2014

A saída limpa e a submissão nacional

No passado domingo o primeiro-ministro anunciou a saída do programa de assistência financeira (PAEF) sem “recorrer a qualquer programa cautelar” e garantindo que essa solução tinha o apoio dos parceiros europeus, exactamente os mesmos que durante três anos alinharam numa continuada humilhação aos portugueses e não revelaram qualquer tipo de solidariedade. A saída limpa do PAEF foi tão boa, quanto a entrada no mesmo PAEF tinha sido má. Quer na entrada, quer na saída estiveram exactamente os mesmos protagonistas. Valeu a pena?, perguntaria Fernando Pessoa.
O governo alinhou-se em pose apropriada para ouvir o nosso primeiro. O foguetório das hostes governamentais foi enorme. A independência nacional foi recuperada. O 1640 de Portas concretizou-se. Por essa Europa fora toda a gente fez declarações – o amigo Barroso e o Olli Rehn, a Madame Lagarde, os mercados, o Jeroen Dijsselbloem, o candidato Martin Schulz, o reformado Jean-Claude Trichet, vários comissários europeus, o homem da OCDE e muito mais gente. Até o homem de Belém se esqueceu que há um mês defendia outra solução e entrou nestes verdadeiros jogos florais. É que temos eleições à porta e, por isso, até o descontrolado Rangel rejubilou. Porém, há gente mais comedida e, sabe-se agora através do Expresso, que o BCE resistiu à saída limpa pois tem muitas dúvidas sobre a situação de Portugal, afirmando que ela foi motivada por razões políticas. Também a OCDE  veio avisar que a escolha do governo por uma saída sem recurso a um programa cautelar é arriscada. A imprensa europeia não deu importância ao tema, salvo o Financial Times que, na sua primeira página, lhe dedicou uma breve referência de 25 palavras com o título “Portugal’s clean exit”.
No meio de todo este foguetório de propaganda, durante a inauguração de um museu dedicado aos Descobrimentos, o nosso primeiro veio dizer que Portugal “vai mostrar ao mundo que não precisa de tutela externa”. Ora aí está! Uma descoberta, no Museu das Descobertas, a revelar que quase chegamos ao grau zero da submissão.

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