quarta-feira, 4 de junho de 2014

Caminhando com os passos trocados…

O governo veio dizer que o Tribunal Constitucional põe em causa a governação do país, por este ter chumbado três normas do Orçamento do Estado para 2014. Ao actuar por esta via de confronto, o governo mostra não perceber que tem que cumprir a Constituição e as leis da República e dá um mau exemplo ao país, pois destabiliza a sociedade e a economia, quando devia ser um factor de estabilidade de que o país tanto precisa.
Há três anos o primeiro-ministro Passos prometeu cumprir o programa acordado com a troika e admitiu mesmo “surpreender e ir mais além [das metas] do acordo”. Assim fez e, durante três anos, foi um obediente e submisso servo da troika, tornou-se um campeão das políticas de austeridade que empobreceram o país e fizeram com que a dívida pública não parasse de aumentar. A mentira e a propaganda tornaram-se práticas comuns e foram enormes os desvios entre o que foi prometido e aquilo que efectivamente foi feito. O modelo que adoptou para vencer a crise - aumento de impostos e corte em salários e pensões – foi um completo fracasso que empobreceu o país, criou muito desemprego e aumentou as desigualdades económicas e sociais. Havia alternativas, mas ele adoptou a arrogância, o auto-convencimento e a teimosia. Já na fase final do chamado ajustamento ainda tentou fazer o número da saída limpa, mas até esse foguetório foi uma completa farsa. Sintetizando, perante a humilhação que a troika nos impôs, o primeiro-ministro teve um comportamento subserviente, sem a dignidade e a firmeza que o seu cargo exigia e a que o obrigava o nosso passado como nação com nove séculos de história e com importantes contributos para o progresso da Humanidade. Passos escolheu caminhar com os passos trocados… e o eleitorado deu-lhe apenas 27,71% de votos nas recentes eleições europeias.
Agora, olha para o lado e em vez de reconhecer a sua abusiva tendência para governar à margem da lei, vem queixar-se do Tribunal Constitucional e ameaçar-nos com novos aumentos de impostos. O ajudante Portas e as cornetas de Marques Mendes e Marco António, não se calam. Realmente, esta gente passou-se! Anda tudo com os passos trocados.
Entretanto, ainda sobre a decisão do Tribunal Constitucional, o primeiro Passos não esclarece se a troika foi embora ou ainda anda a passear por aí, mas assiste, subserviente e sem reagir, às declarações insultuosas e aos diktacts de Barroso e de Olli Rehn, da malta do FMI e da Moody’s ou, ainda, do Arnaut, que é o mais recente servo da Goldman Sachs. Nesta estória, aquele que está em Belém e que jurou “cumprir e fazer cumprir a Constituição”, fica silencioso e embevecido a olhar para a camisola 12 da selecção que lhe foi oferecida.

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