domingo, 27 de julho de 2014

Ainda há alguns jornalistas em Portugal

Li ontem a edição do semanário Expresso a procurar informar-me sobre o que está a acontecer relativamente ao GES, ao BES e ao homem que pagou 3 milhões de euros de caução para não ficar detido. Perante a indiferença, o sensacionalismo e o vira-casaquismo dominantes na imprensa portuguesa, não posso deixar de elogiar dois jornalistas, ambos Directores-Adjuntos daquele jornal, pelo que escreveram.
Escreveu Nicolau Santos: “A esta actuação aliava uma outra: o convite a jornalistas para irem a conferências de uma semana em estâncias de neve na Suiça ou em França, onde de manhã se ministravam cursos de esqui na neve e à tarde se ouviam especialistas na área económica e financeira. E no Verão repetia-se a dose: uma semana num barco algures no Mediterrâneo, acompanhando a Regata do Rei, até que num dos dias se subia a bordo do veleiro (ou será iate?) onde estava Ricardo Salgado para uma conversa descontraída sobre o banco”.
Escreveu João Vieira Pereira: “Por mais que agora venham dizer que sempre avisaram, é mentira. Ninguém teve coragem de o fazer. Ninguém com o poder de acabar com a vergonha. A vergonha de haver um poder económico que não trouxe prosperidade. E que ajuda a explicar por que razão continuamos na cauda da Europa. O valor criado era apropriado por alguns, os eleitos. E foram muitos os que ganharam no jogo”.
Era assim que eram tratados os jornalistas e era desta forrma que silenciavam o que deveriam ter denunciado, preferindo alinhar com os poderosos sem qualquer pudor e ampliando a teoria de que temos vivido acima das nossas possibilidades, não deixando de ser muito curioso que sejam os próprios jornalistas a denunciar esta vergonhosa promiscuidade de muitos deles com o poder, com todo e qualquer tipo de poder.
Assim, também podemos compreender algumas das formas usadas pelo maior banco privado português para construir uma poderosa rede de influências que, naturalmente, também incluia políticos e governantes, como atesta o facto de ter havido 34 Ministros e Secretários de Estado que em 16 dos 19  governos constitucionais se cruzaram com os destinos e os interesses do BES.
E você, ainda confia em todos os nossos jornalistas?

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