sábado, 12 de julho de 2014

Viver acima das suas possibilidades

Os portugueses têm andado desde há três anos a ouvir repetidos discursos sobre as necessidades e as virtudes de um ajustamento que deveria corrigir o despesismo e os erros da má governação do passado, mas também o discurso laudatório da acção da troika, do programa bem sucedido e da saída limpa.
Tudo foi feito para combater aqueles que se dizia estarem a viver “acima das suas possibilidades”, aumentando-lhe os impostos e reduzindo-lhe os salários e as pensões. Os efeitos do regime de austeridade que o governo quis que fosse “para além da troika” estão a ser devastadores e, para a maioria da população, aumentou a pobreza e a desigualdade, enquanto “os ricos estão cada vez mais ricos”.
Porém, as notícias dos últimos dias a respeito do Grupo Espírito Santo deixaram-nos perplexos. Era gente séria, competente, profissional e sem ponta de pecado. Enriqueceram por mérito. Afinal, sabemos agora que eles é que viveram “acima das suas possibilidades”, muito encostados ao Estado e aos seus negócios, gozando de favores, acumulando prejuízos de vários milhares de milhões de euros e utilizando dinheiros para créditos que não controlam. A gravidade da situação  que irresponsavelmente criaram, alarmou o mundo financeiro e a imprensa financeira mundial colocou Portugal nas suas primeiras páginas por muito más razões.
Ninguém suspeitou daquele respeitável grupo e a regulação esteve, mais uma vez, desatenta. É sabido que nos círculos do poder, onde os políticos e a finança vivem em promiscuidade, tudo continuou na mesma – a mesma gente, a mesma ganância, as mesmas habilidades e as mesmas práticas fraudulentas, em nome da confiança entre amigos que trocam favores e alternam cargos. Ninguém reparou neste novo caso BPN e ninguém aprendeu as lições da crise do sistema financeiro global e dos desmandos da generalidade dos seus gestores que, por todo o lado, se revelam são gente sem escrúpulos e com enorme avidez pela acumulação rápida de fortuna a qualquer preço.  Está muito dinheiro a voar e por mais discurso de confiança que se produza, já ninguém está sossegado. Até aquele que nos governa veio dizer que "os depositantes têm razões para ter toda a confiança quanto à segurança que o Banco Espirito Santo oferece às suas poupanças”. Haverá alguém que, depois de tanta mentira desse governante, confie nesta declaração?  

1 comentário:

  1. Resumes excelentemente os procedimentos desta gentalha "impoluta e competente", tanto políticos como (ditos)gestores, a quem, por respeito a este blogue, não dirijo por escrito os adjectivos que em pensamento lhes aplico.

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