segunda-feira, 29 de setembro de 2014

O ténis de mesa é que nos dá alegrias

Neste domingo disputou-se a final do Campeonato da Europa de ténis de mesa por equipas e a selecção portuguesa venceu a selecção alemã por 3-1, conquistando pela primeira vez o título.
O funchalense Marcos Freitas começou a brilhar ao vencer Steffen Mengel no primeiro jogo por 3-0, mas João Pedro Monteiro perdeu com Timo Boll e o encontro ficou empatado em 1-1. Seguiu-se Tiago Apolónia que venceu Dimitrij Ovtcharov por 3-1 e colocou o resultado em 2-1. O embate final entre Marcos Freitas e Timo Boll, respectivamente o nº 5 e o nº 2  do ranking europeu, foi espectacular e a inesperada vitória portuguesa fez explodir de alegria o pavilhão do Parque das Nações e os jogadores. Não era para menos, porque a selecção alemã não é apenas a nº 1 do ranking europeu, mas tinha sido campeã europeia ininterruptamente desde 2007 e é, actualmente, a equipa vice-campeã do mundo.
É muito raro que os nossos atletas sejam campeões europeus de qualquer coisa e, no corrente ano, parece-me que só o remador Pedro Fraga tinha conseguido esse título, para além daquele singular caso que é a canoagem, em que este ano foram obtidas 18 medalhas em Europeus e Mundiais. Por isso, num ano de má memória desportiva, com fracassos no Mundial de Futebol e apenas alguns bons resultados internacionais na canoagem, no remo e no ciclismo, este resultado no ténis de mesa é digno de aplauso, pois significa muito talento e muito trabalho.

Sopra vento de esperança e de mudança

Realizaram-se ontem as eleições primárias do PS cuja campanha animou os últimos meses e, como hoje dizia o editorial do Diário de Notícias, “nem sempre quem ganha é o mais preparado e o melhor. Mas aconteceu...”
António Costa ganhou com cerca de 65% dos votos e, com este resultado esmagador abre-se um novo ciclo político, porque a maioria está cansada e exausta, mentiu demasiadas vezes aos portugueses, empobreceu o país, dirigiu uma cruzada contra funcionários públicos e pensionistas, afundou-se em casos complicados e não resolveu (antes agravou) os nossos principais problemas, como a dívida, o défice, o desemprego, a coesão social e a confiança dos portugueses, para além de se ter deixado humilhar perante os nossos parceiros internacionais. A vitória de António Costa é um sinal de esperança mas não resulta apenas da confiança que suscita nos portugueses, pois também tem de ser interpretada como uma evidente vontade de afastar do poder a actual maioria e muitos dos seus protagonistas inexperientes, ambiciosos, incompetentes e arrogantes. Por isso, esta vitória tem que ser vista como um sinal de esperança e de mudança, mas também da criação de novas condições de diálogo com todas as forças políticas parlamentares e do fim da expressão “arco da governação”, que tanto tem servido a Portas e à sua corte para se instalarem.
António Costa tem pela frente um desafio complexo, em que o primeiro passo deverá ser a mobilização dos portugueses para que recuperem a confiança no seu país, depois dos tempos bem difíceis em que têm vivido. Além disso, espera-se que este homem tenha uma proposta e nos ofereça uma alternativa de mudança, com uma política que apoie o crescimento e o emprego, que ataque a dívida com soluções realistas, que reforce o Estado social e que reforme o sistema político e a administração pública. O mais difícil para António Costa será demarcar-se de práticas políticas já gastas, do aparelhismo a que está ligado e da sua capacidade para resistir aos jobs for the boys (como o seu amigo Guterres não resistiu), mas também de se deixar transformar numa espécie de François Hollande, que tendo devolvido a esperança aos franceses, os desiludiu depois. Porém e para já, sopra um vento de esperança.

domingo, 28 de setembro de 2014

A tradição naval ainda é o que era

Nas sociedades organizadas existe sempre um acentuado culto comemorativista das pessoas, mas também das instituições. Comemorar é um exercício emocional libertador que estimula o reencontro com as melhores memórias e os princípios orientadores da actividade dos homens ou das instituições. É por isso que as pessoas comemoram os seus aniversários, os baptizados e os casamentos, os êxitos académicos, as vitórias desportivas e outros acontecimentos relevantes das suas vidas, enquanto as instituições utilizam as datas comemorativas para evocar grandes realizações e estimular o fortalecimento de sentimentos positivos.
Pela sua especificidade, a instituição militar e em especial a corporação da Marinha, cultiva muitos símbolos, muitas tradições e muitas datas comemorativas que contribuem para o reforço da coesão da corporação e para alimentar a cultura naval. Assim, é habitual que os chamados “filhos da escola” comemorem as datas das suas incorporações e do seu final de curso, assim como outras datas relacionadas com a sua vida naval, sobretudo quando são celebrados 25, 40 ou 50 anos dessas efemérides. É por isso que, por exemplo, a Escola Naval cumpre uma tradição e todos os anos recebe nas suas instalações do Alfeite muitos dos seus antigos alunos, por vezes com as suas famílias, que ali vão evocar os tempos da sua formação militar-naval.
Em Espanha acontece a mesma coisa e a Escuela Naval Militar, localizada em Marin (Pontevedra), recebeu os seus alunos que terminaram o curso em 1989 e que ali foram celebrar os 25 anos da sua promoção a guardas-marinhas. Entre eles encontrava-se o Rei Filipe VI e o Diário de Pontevedra assinalou o facto com uma fotografia na primeira página da edição de ontem.
Lá como cá, a tradição naval ainda é o que era.

A Bretanha e a sua identidade cultural

Nos últimos anos, a crise económica, a generalizada má governação e a inexistência de verdadeiros líderes europeus, têm ampliado a insatisfação dos cidadãos, um pouco por todo o continente, estando os sinais dessa insatisfação a revelar-se por diferentes formas, sobretudo de ordem política e cultural.  
Ontem na cidade francesa de Nantes, a principal cidade do Departamento de Loire-Atlantique, cerca de quatro dezenas de milhar de cidadãos com os seus tradicionais gorros vermelhos e com bandeiras da Bretanha, manifestaram-se e reivindicaram que o seu Departamento fosse integrado na região administrativa da Bretanha, de que fazem parte os Departamentos de Finistère (Brest), Côte d’Armor (St. Brieuc), Ile et Vilaine (Rennes) e Morbihan (Lorient).
A edição de hoje do Ouest-France, mas também outros jornais franceses, destacaram a importância histórica da marcha ontem realizada por uma Bretanha reunificada. Esta reivindicação tem um carácter histórico e cultural, pois “o Loire inferior faz parte da Bretanha desde há mais de mil anos e a Bretanha a quatro, não é a Bretanha”. A mobilização pela “reunificação da Bretanha com 5 Departamentos” e pela defesa da sua língua, tem-se acentuado nos últimos anos e, segundo as sondagens conhecidas, a maioria dos bretões quer esta reunificação.
O curioso é que, embora com objectivos distintos, a manifestação ontem realizada em Nantes acontece depois do referendo escocês e numa altura em que a Catalunha se radicaliza, significando que para além deste sentimento reunificador, também haverá um sentimento autonomista entre os bretões, historicamente ligados ao mar e ao Atlântico como nenhuns outros franceses.

sábado, 27 de setembro de 2014

Uma maioria, um governo, um Presidente

A Assembleia da República ouviu ontem as explicações do primeiro-ministro sobre alegados recebimentos que terá auferido no tempo em que exercia funções de deputado em regime de exclusividade.
A maioria gostou e aplaudiu de pé, enquanto a oposição não aceitou as explicações e prometeu que este caso não estava encerrado, devido às suas implicações políticas e éticas. Aquilo a que assistimos no debate parlamentar quinzenal foi um exercício de malabarismo, ensaiado para agradar à sua própria claque parlamentar, com demagógicas referências à subvenção vitalícia que não requereu, à sua vida remediada e às poupanças que não tem. Como toda a gente sabe, era comum e talvez ainda o seja em muitas empresas e até organismos estatais, usar “sacos azuis” e “pagamentos por debaixo da mesa” para reduzir a carga fiscal de quem paga e de quem recebe. Ignorar isso é a mesma coisa que ignorar que a Terra é redonda. Na panóplia destes instrumentos de retribuição à margem do fisco estão, por exemplo, o uso de despesas de representação, o pagamento de quilómetros fictícios em viatura própria, o cartão de crédito para despesas pessoais, as senhas de gasolina e de refeição, a atribuição de viatura, o pagamento de viagens, os PPR, os seguros e tantas outras impensáveis benesses.
O ex-deputado Passos Coelho estava em regime de exclusividade, mas viajou para Bruxelas e para Cabo Verde em trabalho para uma organização como facilitador de negócios, declarando que trabalhou sem remuneração e que apenas recebeu ajudas de custo e reembolsos de despesas, mas não se recorda quanto. A dúvida persiste. Eu não fiquei nada esclarecido com esta explicação. Porém, o Presidente da República, que ainda não falou sobre o pandemónio em que vivemos na Justiça e na Educação, apressou-se a dizer que foi informado que “o senhor primeiro-ministro prestou todos os esclarecimentos sobre a sua relação profissional com a Tecnoforma e que o fez no local próprio”.
Que tristeza!  Face ao malabarismo do ex-deputado, o governo apoia, os deputados aplaudem e o presidente diz que está tudo bem. Foi por isso que sempre foi desejada “uma maioria, um governo, um Presidente”?
 
 
 

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

À mulher de César não basta ser honesta…

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Há mais de dois mil anos o imperador Júlio César decidiu divorciar-se da sua esposa Pompéia, não porque ela lhe tivesse sido infiel, mas apenas porque esse rumor correu em Roma. Foi no contexto desse divórcio que Júlio César disse que “à mulher de César não basta ser honesta, tem de parecer honesta”. Passaram-se séculos e aquela frase e o seu significado chegaram até aos nossos dias, sendo utilizada em situações muito diversas, sobretudo de ordem política.
Vem esta evocação a propósito da dúvida agora surgida a respeito do jovem deputado Pedro Passos Coelho (PPC) que em tempos se esqueceu dos seus deveres parlamentares e terá recebido importâncias a que não tinha direito. A questão é simples: ou PPC tinha regime de exclusividade e não podia ter recebido quantias da ordem dos 150 mil euros por actividades exteriores ao Parlamento que não declarou ao fisco, ou PPC não tinha regime de exclusividade e, nesse caso, não tinha direito ao subsídio de reintegração de cerca de 30 mil euros que requereu à Assembleia da República e lhe foi concedido.
Estes factos terão ocorrido entre 1995 e 1999 e, a ter acontecido qualquer ilicitude de natureza criminal, já terá prescrito. Porém, o deputado PPC chegou a primeiro-ministro e, nessa função, a ausência de responsabilidade criminal não elimina a responsabilidade política. A ser verdade o que a imprensa vem revelando, não podemos deixar de condenar quem tem actuado como uma espécie de justiceiro e tem dirigido uma política de cortes cegos contra funcionários públicos e pensionistas e, afinal, tem tantos telhados de vidro. Lamentavelmente, em vez de procurar esclarecer o que se passou, refugia-se em frases vazias e na falta de memória, ameaçando bater com a porta. Assim, aumenta o nosso interesse em saber a verdade, até porque em política não vale tudo. À mulher de César não basta ser honesta, tem de parecer honesta.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

O ‘não’ escocês e as aspirações catalãs

O resultado do referendo escocês que reafirmou a unidade do Reino Unido e rejeitou a independência da Escócia foi um acontecimento importante que descansou o nervosismo de muita gente nas ilhas Britânicas, que não sabia o que fazer se o resultado fosse outro. Entretanto, houve muita gente, quer no Reino Unido, quer na União Europeia, que decidiu descansar sobre o resultado do referendo escocês, pensando que tinham arrefecido as tendências separatistas, independentistas ou descentralizadoras que se têm manifestado em vários países europeus mas, provavelmente, para esses movimentos aconteceu que o resultado da Escócia correspondeu apenas a uma batalha perdida e que “a guerra não está perdida”.
A Catalunha é um exemplo da vontade que se reforçou depois do referendo escocês, com a exigência da realização de um referendo semelhante que se realizou no passado dia 18 de Setembro. Assim, será uma enorme ingenuidade pensar que as aspirações autonomistas catalãs, tal como as de outras regiões, vão desaparecer por causa da Escócia, até porque o actual ambiente de recessão e de austeridade europeia muito contribui para as causas separatistas.
Por isso, o atraente grafismo da capa do diário madrileno ABC induz nos seus leitores a ideia que o processo catalão está em perda e que a consulta popular que milhares de pessoas reivindicam nas ruas, se diluiu com o resultado escocês. Porém, essa é apenas uma opinião do jornal, pois a realidade parece ser outra. De resto, o diário ABC que é um dos maiores jornais espanhóis e que é conhecido pela sua qualidade jornalística, mas também pelas suas tendências conservadoras, apoio à monarquia e defesa da unidade da Espanha, não está a fazer outra coisa que não seja o cumprimento da sua cartilha ideológica e a procurar formar em vez de informar os seus leitores.

domingo, 21 de setembro de 2014

O perdão não existe na vida política

A actividade política é (ou deve ser) uma causa nobre de serviço à comunidade, em que os melhores de todos nós exercem funções governativas para administrar o país de acordo com as regras constitucionais, também escolhidas por todos nós, as quais estão  expressas na Constituição. Governar é, portanto, um serviço que alguns cidadãos prestam à comunidade durante um período limitado, embora se verifiquem sempre alguns casos de pessoas que em vez de servirem a comunidade, se aproveitam da circunstância e se servem dessa mesma comunidade. Quem exerce funções governativas deve estar acima de todas as suspeitas e de todos os erros e, por isso, a nossa história política mostra-nos inúmeros exemplos de homens e mulheres de grande dignidade, que se demitiram da sua função governativa apenas porque sobre eles recairam suspeitas de comportamentos incorrectos ou porque erraram nas suas decisões. Não pode ser de outra maneira. Tem que ser assim.
Esta semana aconteceram dois casos lamentáveis a juntar a tantos outros que perturbam o nosso quotidiano e deixam muitos portugueses desorientados e desmotivados, mas também com cada vez menos confiança nos políticos que nos governam: o programa Citius não funcionou e a Justiça bloqueou, ao mesmo tempo que a fórmula de colocação dos professores estava errada e a Educação também bloqueou. Eram duas acções importantes e ambas falharam. Como disse o comentador Marcelo foi "a bagunça na Educação e na Justiça". Os ministros Crato e Teixeira da Cruz não foram competentes. Falharam gravemente e não tiveram a dignidade de se demitirem. Não tiveram coragem para assumir responsabilidades. Mostraram ser muito pequeninos. Escolheram ficar agarrados aos seus lugares como se nada de grave tivesse acontecido. E vieram pedir desculpa publicamente, como se o perdão existisse na vida política. Na política os erros pagam-se. E eles, tal como os caloteiros, esquivaram-se ao pagamento. Que tristeza de gente esta.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

A Escócia rejeitou a sua independência

A Escócia decidiu. Apesar das paixões que despertou, o referendo decorreu com normalidade, tendo votado cerca de 86% dos quase 4,3 milhões de eleitores inscritos que, com 55,3% dos votos, deram a vitória ao não à independência. A derrota dos que queriam a independência da Escócia foi expressiva e o sim ganhou apenas em 4 das 32 circunscrições eleitorais, embora tivesse ganho nas grandes cidades de Glasgow e Dundee. O líder independentista e primeiro-ministro escocês Alex Salmond deu uma notável lição de democracia ao reconhecer de imediato a sua derrota e ao anunciar que deixaria o seu cargo brevemente. O Reino Unido e a União Europeia respiraram de alívio, pois nem Londres nem Bruxelas estavam preparadas para a independência da Escócia, nem para os problemas que esse divórcio ia levantar.
Porém, o referendo escocês interessou muito especialmente outras regiões europeias onde se manifestam movimentos nacionalistas ou separatistas, como sucede na Catalunha, País Basco, Córsega, Bretanha, Flandres, Valónia, Padânia e outras regiões europeias. Ao contrário do que se possa pensar, o exemplo escocês não irá arrefecer esses movimentos, antes os vai incitar a redefinir estratégias de actuação. De facto, cada um desses movimentos tem características diferentes e não será o insucesso do caso escocês que os vai enfraquecer ou fazer desistir dos seus objectivos.
Entre nós, houve meia dúzia de figurões que, com o desbocado cacique madeirense à cabeça, se entusiasmaram com o processo escocês e, para disfarçar os seus fracassos políticos e os seus complexos culturais, voltaram a agitar o fantasma da independência das ilhas.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Mau tempo no canal

O canal no dia 11 de Setembro de 2014
Não se trata de um exercício de literatura, nem de uma evocação de Vitorino Nemésio. Este meu “mau tempo no canal” é apenas uma realidade meteorológica sobre o estado do mar no canal do Faial e da sua desproporcionada fúria nestes dias do mês de Setembro, antes do equinócio e, portanto, ainda no Verão. Não é habitual nesta época do ano, mas acontece, impressiona e impõe respeito.
De resto, entre os mais característicos e belos aspectos da ilha do Pico, para além da imponência da montanha, das pequenas baias orladas de rocha de lava, dos seus vinhedos brotando da lava que a UNESCO classificou como património mundial, da sua singular arquitectura rural, das verdejantes pastagens e das suas múltiplas manifestações culturais religiosas e profanas, estão sempre “a ilha em frente” e o mar envolvente. A ilha em frente, seja o Faial ou São Jorge, dá um enquadramento paisagístico singular à ilha do Pico que já Raúl Brandão anotou há quase um século, mas é o mar e os seus mistérios que conferem identidade à ilha. 
Nestes dias de Setembro o mar enfureceu-se a lembrar aos turistas estivais a beleza do mar em fúria, mas a lembrar também a dureza da vida daqueles que dele dependem. A serenidade do mar é sempre desejável para quem dele vive ou desfruta, mas sem estes temporais a ilha do Pico não seria a mesma coisa.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

A hora da decisão na Escócia

O referendo sobre a independência da Escócia realiza-se na próxima 5ª feira e a revista The Economist escolheu uma sugestiva imagem para ilustrar a capa da sua última edição, sugerindo que a escolha dos escoceses pode ditar a independência da Escócia e o fim do Reino Unido. Se a escolha for a independência, será aberta uma série de problemas políticos, monetários, económicos, culturais e até militares, não só nas Ilhas Britânicas, mas também, embora em menor escala, na União Europeia e no mundo. As campanhas a favor do Sim e a favor do Não foram longas e terão permitido que os escoceses se tivessem preparado para fazer as suas opções. Avaliaram. Ponderaram. Mediram os prós e os contras da sua decisão. O resultado interessa não só aos escoceses, mas também a todos os que se habituaram a ver a Union Jack como um símbolo de poder no mundo. Além disso, o resultado que se verificar na Escócia interessa sobremaneira a diversas regiões europeias que aspiram a um estatuto de independência, podendo refrear ou incentivar essas suas aspirações. Porém, as independências já não são o que eram e é curioso verificar como muitos escoceses não querem a tutela de Londres e desejam a tutela de Bruxelas e dos seus burocratas, exactamente como muitos catalães aspiram à tutela de Bruxelas em vez da obediência a Madrid. O que acontecer na próxima 5ª feira na Escócia, vai ser seguido atentamente em diversas regiões da Espanha, da Itália, da Bélgica, da França e até da Ucrânia. É um momento importante da construção (ou da desconstrução) europeia.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

A ciência europeia nas mãos de Moedas

Foi anunciado que o próximo Comissário Europeu da Investigação, Ciência e Inovação será Carlos Moedas e eu fiquei eufórico com esta notícia. Antes, eu já ficara entusiasmado com a escolha feita pelo primeiro Passsos quando decidiu oferecer a cadeira dourada de comissário europeu a um homem que o ajudou a subir na política e que, com coragem e sabedoria, fez frente à troika. Foi um justo prémio ao amiguismo e a crítica que por vezes é feita à sua falta de peso político não tem fundamento. Moedas é um político de peso que toda a Europa e o mundo conhecem. Moedas é a esperança para um futuro melhor dos europeus.
Agora, com esta escolha, o meu entusiasmo transformou-se em euforia, ao saber da excelente decisão de Jean-Claude Junker, que ficou rendido, não só ao currículo académico e científico de Moedas, mas também à sua apetência e sensibilidade pela inovação. De resto, Moedas preparou-se especialmente para este posto e é um exemplo de dedicação à ciência e à inovação, duas áreas em que tem desenvolvido teorias e aplicado modelos inovadores sobre a forma como empobrecer um país, primeiro no Goldman Sachs e, depois, no governo português.
A comunidade científica europeia, em especial as universidades, estão em festa, pois terão em Moedas um comissário sabedor que, certamente, vai inspirar o aparecimento de muitos cientistas e de muitos Prémios Nobel, para além de potenciar um inovador ciclo de desenvolvimento europeu que vai fazer tremer os Estados Unidos e a Ásia Oriental. Não tardará que a Europa se renda ao fulgor científico do filho do Zé Moedas, que o seu pequeno corpo fique coberto de comendas e que tenha uma estátua em Beja. Bruxelas e Paris terão o seu Boulevard Carlos Moedas, Londres terá a Moedas Street e em Roma não faltará a Via Moedas!

terça-feira, 9 de setembro de 2014

As más consciências e os guarda-costas

A edição de ontem do Diário de Notícias destacou na sua primeira página que mais 63 polícias iam reforçar o Corpo de Segurança Pessoal da PSP, isto é, os actuais 380 guarda-costas desse corpo já não chegavam para proteger os nossos políticos e juízes. 
O número impressiona e este aumento de 16,5% também surpreende, numa altura em que somos os campeões mundiais no pagamento de impostos e em que, cada vez mais, o Estado nos obriga a pagar os serviços que nos presta sob a forma de portagens, taxas moderadoras, proprinas e licenças para isto e para aquilo. Acontece que este reforço de guarda-costas, dos quais 36 já se destinam em permanência a Cavaco, Passos e Portas, custam ao erário público 54 mil euros por mês para além das ajudas de custo, viagens, alojamento, refeições, viaturas, combustíveis e subsídios para tudo e para mais alguma coisa. Estes e os outros dignitários que usam e abusam de guarda-costas pagos pelos contribuintes, decerto que não estão de bem com a sua consciência e temem o povo e o seu direito à indignação. Se orientassem a sua actividade política e governativa, tal como para isso foram mandatados pelo voto, para contribuirem para o progresso económico e social do país, seriam aplaudidos e ovacionados pela população. Porém, porque não é isso que fazem e não estão de boa consciência, escondem-se atrás de guarda-costas, até na praia. Afinal eles têm medo de quê ou de quem? Não, definitivamente digo não, a este espectáculo de multidões de guarda-costas a proteger gente de má consciência.

sábado, 6 de setembro de 2014

Viva o Tribunal de Aveiro!

O processo Face Oculta que agora chegou ao fim com a leitura do respectivo acordão, começou a ser julgado há quase três anos e está relacionado com uma rede de corrupção que teria como objetivo o favorecimento de um grupo empresarial da região de Aveiro, nos negócios com empresas do sector empresarial do Estado e com empresas privadas.
O acordão foi considerado histórico porque a sentença do Tribunal de Aveiro condenou os 36 arguidos por centenas de crimes de associação criminosa, corrupção, tráfico de influência, furto qualificado, branqueamento de capitais, falsificação e perturbação de arrematação pública, com penas de muitos anos de prisão efectiva para muitos deles. Era uma autêntica rede de associação criminosa e entre os condenados encontram-se figuras bem conhecidas da opinião pública e até alguns antigos governantes, pelo que esta decisão é singular e inesperada. Cumpriu-se a lei e talvez até se tivesse ido para além do razoável.
Desde há muitos anos que a corrupção é um grave problema em Portugal e é sabido como há demasiadas relações de promiscuidade entre a política e os negócios. São tantas as evidências de casos de enriquecimento ilícito e de tráfico de influências que até tendem a parecer normais, pois florescem perante a crescente indiferença dos cidadãos que deixaram de confiar na justiça e da passividade de uma imprensa que se acomodou. Por isso, a sentença do Tribunal de Aveiro pode marcar um novo ciclo do primado da lei e do fim da impunidade daqueles que, desonestamente e sem pudor, minam os alicerces da nossa sociedade. Porém, o nosso aplauso pela corajosa decisão do colectivo do Tribunal de Aveiro, ainda não é definitivo. Os famosos recursos irão aparecer e esta decisão parece ser apenas um bom começo de uma caminhada em que ninguém tem a certeza de haver igual coragem por parte das outras instância judiciais que virão a analisar o processo. Porém, até lá, que viva o Tribunal de Aveiro!

Há gente para tudo!

Numa interessantíssima e esclarecedora entrevista ao jornal i, um antigo administrador do antigo BES veio mostrar a verdadeira face dos serventuários do poder, isto é, daqueles que não têm espinal medula e tudo aceitam a troco de um punhado de lentilhas e que, até no plano ético, se limitam a esconder-se atrás do mais forte e não atrás das suas ideias e dos seus ideais. Para este tipo de gente, a palavra carácter não existe, nem tão pouco a palavra coragem, nem a palavra pudor e nem sequer dignidade. Não têm vergonha nenhuma.
Referindo-se ao BES, o entrevistado veio dizer-nos que “os administradores não executivos são verdadeiros verbos de encher” e que, em seis anos, entrou “mudo e saiu calado”, o mesmo acontecendo com todos os administradores. Eu fiquei estupefacto, não porque o homem entrasse mudo e saísse calado, mas tão só porque aceitou esse papel durante seis anos sem pestanejar, sem indignar e sem se demitir, apenas porque isso lhe dava algum rendimento e influência. É preciso não ter coluna vertebral!
Ao ler isto e outras declarações bombásticas, como aquela referência ao transporte de uma mala com dinheiro para um partido político, ficamos com a verdadeira estatura do figurão e a conhecer o tipo de serviços a que já se prestara e que, certamente, também poderia prestar no BES. De resto, é lamentável a forma como se encosta a toda a classe política dominante e como engraxa e se humilha perante aqueles que têm poder em Portugal, desde Cavaco a Costa, passando por Marcelo e Gaspar, que são tão diferentes. É mesmo de quem não tem coluna vertebral. O figurão de apelido Matos é, por isso, um travesti político pronto para fazer todos os papéis desde que lhe paguem. Infelizmente para nós, parece que o país está cheio de Matos destes… Há, realmente, gente para tudo!

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Ceuta conserva a boa memória lusitana

A cidade autónoma de Ceuta comemorou ontem o Dia de Ceuta com uma cerimónia institucional que foi o ponto alto de um programa que se estendeu por vários dias. Nessa cerimónia realizada no Teatro Auditório del Revellin, foram distribuidas as Medalhas da Autonomia que, em cada ano, distinguem as associações e as personalidades que mais se distinguiram na valorização ou na promoção da cidade.
A cscolha desta data é uma curiosidade da História. Quando no dia 21 de Agosto de 1415 o Rei D. João I de Portugal desembarcou na cidade e rapidamente a tomou pela força dos homens e das armas, alguns capitães pretenderam ser escolhidos para governar a cidade, mas o rei escolheu D. Pedro de Menezes, 1º conde de Vila Real, para seu primeiro governador e capitão-geral, apenas porque se apresentou com um pau e disse que “aquele pau lhe bastaria para defender a cidade de todos os seus inimigos”. A nomeação de D. Pedro de Menezes aconteceu no dia 2 de Setembro e esse pau ainda hoje se encontra no santuário de Nossa Senhora de África, tendo passado de mão em mão por todos os governadores que comandaram a praça de Ceuta e juraram defender a cidade.
Durante o período da União Ibérica (1580-1640), a cidade manteve a administração portuguesa, mas em 1640 não aclamou o novo Rei D. João IV, optando por ficar sob domínio espanhol. No entanto, a cidade decidiu manter a sua bandeira de gomos brancos e pretos como a bandeira da cidade de Lisboa e o escudo português, que é o seu verdadeiro ex-libris.
No próximo ano celebra-se o 6º centenário da tomada de Ceuta que, habitualmente, é considerada como o facto que marca o início da expansão portuguesa pelo mundo. Estamos cá para ver como será e por quem será evocada essa data.

terça-feira, 2 de setembro de 2014

O enorme prestígio de Cristiano Ronaldo

No mundo do futebol fechou ontem o chamado mercado das transferências, isto é, terminou o período em que as equipas de futebol podem comprar ou vender jogadores, facto que confirma estar em curso a transformação das equipas de futebol em empresas comerciais, em que cada vez faz menos sentido falar do “amor à camisola” dos jogadores ou da “clubite” dos adeptos. No ranking dos chamados investimentos em futebolistas, os mais gastadores nesta estação foram o Manchester United (193 milhões de euros), o Barcelona (157), o Liverpool (151), o Real Madrid (122) e o Atletico de Madrid (111). Hoje os grandes jornais desportivos tratam este assunto com grande destaque e as primeiras páginas dos jornais ingleses foram ocupadas com a transferência do colombiano Radamel Falcao para o Manchester United, onde vai ganhar 350 mil libras por semana! Sobre o mesmo assunto, na escala mais modesta do futebol português, o destaque não foi para a compra de jogadores mas, sobretudo, para a não venda de alguns daqueles que mais cobiçados eram por clubes estrangeiros.
Porém, os dois principais jornais desportivos espanhóis escapam a esta regra e não destacam as aquisições dos seus três principais clubes, nem os êxitos espanhóis no Mundial de basquetebol que se está a realizar em Sevilha, nem os seus triunfos mundiais no triatlo ou no badminton. Eles destacam... Ronaldo e o que ele disse numa entrevista, ilustrando as suas primeiras páginas com a fotografia do futebolista português.
No caso do diário Marca cuja versão electrónica é lida por mais de 5 milhões e meio de leitores, o jornal até dá mais importância à palavra do que aos golos de Cristiano Ronaldo. Isto é que é prestígio!

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Há muita abelha no enxame da vergonha

Há em Portugal um terrível vício que corrói a Sociedade e o Estado, que destrói a Democracia, que atrofia o Estado de Direito e que a todos envergonha. É um vício corporizado por um verdadeiro enxame de abelhinhas nascidas nas juventudes dos partidos políticos, que vivem embrulhadas na vaidade e na ambição e que tudo fazem para satisfazer os seus apetites de dinheiro, de influência e de poder. Para essa gente não existe o interesse público nem o bem comum, pois tudo subordinam ao seu interesse pessoal ou do seu grupo. Esse terrível vício que abala a confiança nacional e desmoraliza a população é a promiscuidade entre a Política e os Negócios, em que muita gente actua numa descarada ou mesmo criminosa confusão de interesses entre o que é Público e o que é Privado. São milhões, muitos milhões que são apropriados em ruinosos contratos.
Há três anos um corajoso autarca afirmou que “o centro da corrupção em Portugal tem sido a Assembleia da República pela presença de deputados que são simultaneamente administradores de empresas”, dizendo ainda que o Parlamento "parece mais um verdadeiro escritório de representações, com membros da comissão de obras públicas que trabalham para construtores e da comissão de saúde que trabalham para laboratórios médicos”.
Com a crise que nos entrou em casa e com a apertada vigilância que os nossos credores internacionais nos fizeram, era de esperar uma moralização nas práticas corruptas ou ilegais em que muitos agentes políticos estiveram ou estão envolvidos. Que se acabasse com esse enxame de abelhas. De resto, esse foi o discurso moralizador que levou Passos e os seus amigos ao poder. Mas parece que foi só conversa, pois muitos deputados, secretários de Estado e outros lobos que por aí vegetam, continuam envolvidos em negociatas com a maior impunidade do mundo, como hoje denuncia o jornal i.

O espectáculo ímpar dos Tall Ships

A Sail Training International leva a efeito todos os anos, durante os meses de Verão, várias iniciativas destinadas a promover o gosto pelo mar e pela aventura, sendo particularmente apreciadas as regatas que envolvem os Tall Ships.
A Tall Ships Race 2014 decorreu entre os dias 3 de Julho e 5 de Agosto, tendo visitado portos holandeses, dinamarqueses e noruegueses. Porém, no seu programa de actividades para 2014 a Sail Training International também incluiu a 2014 Falmouth-Royal Greenwich Tall Ships Regatta, um programa que está a decorrer no sul da Inglaterra desde o dia 28 de Agosto, a partir do porto de Falmouth, na Cornualha, e que terminará em Greenwich no dia 9 de Setembro, embora a corrida entre Falmouth e Greenwich ocupe apenas três dias do programa. Toda a costa sul da Inglaterra está, portanto, em festa.
Hoje, os diários The Times e também o The Guardian ilustraram as suas primeiras páginas com a fotografia dos veleiros a desfilar no porto de Falmouth, em direcção à linha de partida da regata que os levará até Greenwich, levando a bordo voluntários de todas as idades. A principal característica deste tipo de programas não é o aspecto desportivo nem sequer a regata mas é, sobretudo, o convívio com o mar e com a vida a bordo, sendo reconhecidamente considerado como um factor de ligação às heranças culturais dos participantes e uma actividade que reforça o seu sentimento de identidade. Por isso, mas também pela beleza das imagens que proporcionam, os Tall Ships são sempre assunto de primeira página.