domingo, 19 de outubro de 2014

A ignorância marítima dos governantes

O título da edição de hoje do Jornal de Notícias é curioso mas muito perturbador, sobretudo porque aparece num país de marinheiros, que deu novos mundos ao mundo e que tantos poetas portugueses têm cantado. Recordo Fernando Pessoa (Mar Português e Ode Marítima), António Gedeão (Poema da malta das naus), Manuel Alegre (Trova do amor lusíada), Sophia de Melo Breyner (Marinheiro Real) ou António Nobre (Lusitânia no Bairro Latino) e tantos outros poetas e poemas que agora não me ocorrem. O mar faz parte da identidade portuguesa e devia ser um capítulo importante de um conceito estratégico nacional que continua por definir. Foi o mar que nos levou a terras distantes e nos projectou no mundo. Cantamos os “Heróis do mar” deste “Nobre povo” e desta “Nação valente, imortal”.
Porém, aquele título do jornal é um valente soco no estômago, pois revela que o mar, que é um dos nossos mais importantes e promissores recursos, tem sido sistematicamente descurado e, naturalmente, como tem sido secundarizado o interesse pelas profissões marítimas. O mar e a economia do mar têm sido apenas um pretexto para propaganda em seminários e conferências. Os nossos governantes não têm interesse nem conhecimento e, portanto, não há motivação nem investimento. O Jornal de Notícias refere que actualmente só a Escola Superior Náutica Infante D. Henrique, que se localiza em Paço de Arcos, está apta a formar marinheiros, mas que está com muitas vagas por preencher. Este paradoxo acontece quando as profissões marítimas têm um elevado grau de empregabilidade, designadamente na Marinha Mercante, nos navios de cruzeiro e nas pescas, o que revela a enorme ignorância marítima de quantos nos têm dirigido desde há muitos anos.

Sem comentários:

Enviar um comentário