sexta-feira, 28 de novembro de 2014

A corrupção espanhola e a imprensa lusa

A corrupção está a mobilizar o aparelho judicial e a dominar o debate político em Espanha. “Cerco a la corrupcion”, titula hoje o diário ABC. Actualmente, há quase dois milhares de espanhóis constituídos arguidos em diversos processos de corrupção, entre os quais se incluem antigos e actuais ministros, banqueiros, autarcas, o ex-presidente do FMI Rodrigo Rato, o filho do ex-presidente catalão Jordi Pujol e até a infanta Cristina, irmã do rei. Para os espanhóis, a corrupção é, depois do desemprego, o maior problema nacional e, só no passado mês de Outubro, enquanto decorriam mais de 1700 investigações judiciais dirigidas a cinco centenas de dirigentes políticos, foram constituídos mais 141 arguidos. Além de agentes políticos e de dirigentes da administração pública, as investigações em curso visam empresários, advogados, sindicalistas e outros cidadãos.
Em Março de 2009 a prestigiada revista The Economist publicou um artigo intitulado Why is Spain so corrupt? e o seu autor interrogava-se quanto às razões porque países como a Espanha, França, Itália ou Portugal tinham tão elevados níveis de corrupção,  afirmando que se tratava de um problema cultural do sul da Europa.
Portanto, a corrupção não é apenas um problema espanhol.
Em Portugal também há corrupção, mas o seu combate não tem tido a mesma intensidade do que acontece na vizinha Espanha, mas em contrapartida esse combate está muito mais influenciado pelo comportamento sensacionalista e irresponsável de alguma comunicação social. Enquanto em Espanha o segredo de justiça é respeitado, em Portugal reina a impunidade em relação às continuadas e criminosas violações do segredo de justiça e, mesmo quando apenas há suspeitas ou se está sob investigação, a generalidade dos media aposta na presunção de culpabilidade dos cidadãos e contribui para a sua condenação pela opinião pública, quando ainda nem sequer estão acusados. Ora isso não devia acontecer porque nos afasta da verdade e da justiça.
A título de curiosidade, no Corruption Perceptions Index 2013 divulgado pela Transparency International encontramos a França (22º), Portugal (33º), Espanha (40º), Itália (69º) e a Grécia (80º). Entre os 28 países membros da União Europeia, o nosso país ocupa a 13ª posição, o que significa que em termos de corrupção estamos melhor do que a média europeia, o que deve surpreender muitos dirigentes europeus.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

UNESCO classificou o cante alentejano

O cante alentejano acaba de ser inscrito pela UNESCO na Lista do Património Cultural Imaterial da Humanidade e esse facto não pode deixar de ser devidamente assinalado. A decisão foi tomada por unanimidade na 9ª sessão do Comité Intergovernamental da UNESCO para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial da Humanidade que se realizou hoje em Paris e, assim, o cante alentejano juntou-se ao fado que havia sido classificado em 2011. Assim, nas listas da UNESCO encontram-se agora 17 bens portugueses: 14 bens culturais, um bem natural e 2 bens imateriais.
O cante alentejano é um género musical tradicional do Alentejo, cantado em grupo, em que se alternam as vozes de um ponto e de um coro, com um andamento lento e com muitas pausas, sendo muito repetitivo, o que também o torna muito monótono. É, seguramente, um dos traços mais interessantes da cultura popular alentejana, preservada em muitos domínios como a gastronomia, o artesanato e a própria arquitectura. Esta classificação veio dar uma maior dimensão cultural ao Alentejo, que já estava representado nas listas da UNESCO através do Centro Histórico de Évora (desde 1986) e da Cidade-Quartel Fronteiriça de Elvas e as suas Fortificações (desde 2012), mas que naturalmente aspira a que venham a ser classificados outros bens culturais, como Mértola e a sua herança árabe, mas também Marvão e Monsaraz como símbolos de cidades fortificadas, ou bens imateriais como as famosas festas das ruas floridas em Campo Maior ou no Redondo. Nestas condições, pela sua história e geografia, paisagem natural, diversidade cultural, monumentalidade arquitectónica e tradição gastronómica, o Alentejo é cada vez mais uma região a percorrer. Que viva o Alentejo!

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Temos um país gravemente doente

As notícias dos últimos dias são demasiado tristes e deixam-nos incrédulos. Desde há  demasiado tempo que se via que o nosso regime estava doente e se sabia que não era dirigido pelos melhores, mas pelos mais afoitos e mais atrevidos. A crise que nos tem afectado desde 2008 acentuou os sintomas dessa doença e deixou a descoberto coisas que não imaginávamos. Pouco a pouco, tudo vamos perdendo. Perdemos muitos direitos em nome do equilíbrio financeiro, perdemos as grandes empresas, perdemos o bom nome e, de degrau em degrau, até a dignidade nacional quase está perdida, sem que haja uma estratégia nacional para a regeneração do país. Perdemos a confiança nos políticos e nas suas intervenções manipuladoras. Perdemos a confiança nas instituições. Não reagimos. Tudo aceitamos com um conformismo quase absoluto. Como se costuma dizer, o país parece estar sem rumo.
Nas últimas semanas acentuaram-se os sinais de esgotamento do nosso modelo de sociedade com a persistência da crise, a incerteza quanto ao futuro, a falência do BES ou do GES, a perda da PT, a anunciada venda da TAP, o caso dos vistos dourados, a demissão de um bom ministro e, agora, a detenção de um ex-primeiro ministro. São demasiados casos. Parece um naufrágio ou um terramoto. Neste conjunto de muitos casos e peripécias, há suspeitas muito graves para a Justiça apreciar, mas tem havido verdadeiros julgamentos mediáticos antecipados e, em vez da presunção de inocência, tem imperado a presunção de culpabilidade em nome do sensacionalismo. Isso também é muito grave. Neste quadro, é difícil encontrar sinais mais tristes e mais angustiantes para definir a realidade que atravessamos. Independentemente da verdade ou da mentira e da absolvição ou da condenação de toda esta gente, são casos de enorme gravidade a alertar para a decadência da nossa sociedade e para a perda dos valores que deveriam nortear o interesse nacional e o bem comum da nossa comunidade. O país está gravemente doente. Dizem que a Justiça está a funcionar.  Não sei...
Apenas sei que, como diz a canção nacional: Tudo isto existe. Tudo isto é triste. Tudo isto é fado.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Os deputados podem ser tão insensatos?

Ontem, dois deputados que andam nestas coisas da política há muito tempo mas que ignoram o povo que os elegeu, decidiram apresentar uma proposta para que fossem repostos os subsídios vitalícios de que beneficiavam os ex-políticos. Esses subsídios vitalícios foram extintos em 2005 por proposta do Governo Sócrates, mas essa decisão  não teve efeitos retroactivos. Assim, havia ainda cerca de três ou quatro centenas de ex-políticos que em 2005 recebiam esse subsídio, mas que no ano passado foram cortados. A proposta  agora apresentada visava repor esses subsídios. Numa altura em que há cerca de 400 mil portugueses que não têm emprego nem recebem qualquer tipo de subsídio, em que perduram cortes de salários e pensões, em que suportamos a mais elevada carga fiscal da Europa e em que  já ninguém ignora que há muita pobreza e muita fome em Portugal, esta proposta é insensata, lamentável, irresponsável e até provocatória para os mais desfavorecidos. Os deputados que a apresentaram não merecem estar na Assembleia da República e era bom que se demitissem. Não merecem estar sentados naquelas cadeiras. São deputados de elevada toxicidade que podem infectar os deputados sérios. Apesar disso, a proposta foi votada e aprovada pelos deputados do PS e do PSD e hoje esse facto é tema de capa do Jornal de Notícias. Aqueles que ontem votaram favoravelmente a proposta, devem ter ido para casa envergonhados, com um enorme peso na consciência e com remorsos pelo triste papel que desempenharam.
Hoje foi afirmado que regressou o bom senso e os deputados retiraram a proposta. Então ontem não tiveram bom senso. Foram insensatos. Aqueles que ontem votaram contra, hoje aplaudiram a reviravolta, o que mostra que estes deputados servem para tudo. É uma enorme tristeza!
Este lamentável episódio serviu para revelar alguns deputados coerentes e consequentes, caso da deputada Mortágua, mas também serviu para mostrar a força da sociedade civil e a "revolta da opinião pública". Nesse aspecto, o Forum TSF e o seu editor Manuel Acácio foram decisivos na sensibilização dos seus ouvintes (e até dos próprios deputados) para o problema e trouxeram para a luz do dia a lamentável proposta feita pelos dois deputados que visava o restabelecimento das subvenções vitalícias.

O Papa Francisco pode acordar a Europa?

No próximo dia 25 de Novembro o Papa Francisco vai visitar o Parlamento Europeu em Estrasburgo e falar aos 751 deputados eleitos nos 28 Estados-membros, por convite do respectivo presidente Martin Schulz. É a segunda vez que um Papa visita o Parlamento Europeu, depois de João Paulo II ter feito idêntica visita em Outubro de 1988. Na véspera, dia 24 de Novembro de 2013, perfaz-se um ano sobre a data em que o Papa divulgou uma exortação apostólica que intitulou Evangelli Gaudium, mas como é uma 2ª feira e esse dia é reservado ao regresso dos senhores deputados que estiveram ausentes durante o fim de semana, a visita papal passou para o dia 25. De qualquer forma, é simbólico que esta visita aconteça um ano depois da exortação apostólica de 2013.
A visita é um acontecimento relevante, pois não se trata apenas da visita do Chefe do Estado do Vaticano, nem do Chefe da Cristandade, mas de um Homem que no seu curto pontificado já se tornou uma voz mundialmente respeitada pelas posições coerentes que tem assumido em relação à paz e à defesa dos mais desfavorecidos, ao meio ambiente, à justiça social, à fome, à pobreza, aos abusos sexuais, ao celibato dos padres e à participação das mulheres na Igreja. Algumas das suas ideias tornaram-se marcantes - “esta economia mata” ou “o dinheiro deve servir e não dominar” – e serão certamente repetidas em Estrasburgo para acordar a Europa e para inspirar os seus dirigentes que, cada vez mais, são vassalos do seu interesse pessoal e não zelam pela coesão económica e social do velho continente. A  Europa adormeceu nas margens de um rio de prosperidade que já não corre como antes, mas continua sem reagir e sem acordar. Vive dominada pela ganância de políticos medíocres e sem visão, está escravizada pelas instâncias financeiras, perdeu os ideais da unidade e da solidariedade, passa por tempos muito difíceis e ameaça desagregar-se.
“Será que o Papa pode acordar a Europa”, foi o título escolhido pelo semanário católico La Vie, para analisar a visita papal a Estrasburgo e, de facto, essa visita poderá contribuir para que a Europa acorde.

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

A batalha por Kobani é dura e incerta

 
A edição de hoje do International New York Times destaca com texto e imagem na sua primeira página, a guerra que se desenrola na cidade síria de Kobani e informa que aquela batalha “é um teste para todos os lados”, isto é, para as unidades de protecção popular curdas (YPG), para as forças do Estado Islâmico (Islamic State of Iraq and Syria ou ISIS) e, também, para as forças internacionais.
A ofensiva do ISIS sobre Kobani iniciou-se em 16 de Setembro e tem sido caracterizada pela sua extrema violência. A cidade foi praticamente abandonada pelos seus 60 mil habitantes que se refugiaram na Turquia, enquanto os combatentes curdos que são apoiados pela aviação americana ocupam uma parte da cidade e os jihadistas do ISIS ocupam a outra parte.
As notícias sobre os avanços e os recuos das duas partes em confronto são contraditórias e a batalha por Kobani tornou-se emblemática para todos. Para os curdos, a defesa da cidade é apoiada e incentivada pela sua diáspora e representa a afirmação do ideal de independência e um passo necessário para  a criação do Estado do Curdistão. Para o ISIS, a batalha por Kobani é um teste para a sua imagem de invencibilidade e um instrumento para o reforço das suas hostes, pelo que o seu líder tratou de mandar o seu melhor comandante e “ministro da defesa” para coordenar o assalto à cidade. Para além disso, esta batalha também é um teste para a coligação internacional formada para travar a ameaça islâmica, baseada numa estratégia que combina o poder aéreo americano com a acção das forças locais no terreno e, segundo refere o jornal, os Estados Unidos e os seus aliados lançaram mais bombas sobre Kobani do que sobre qualquer outro local da Síria.
Porém, a edição do International New York Times tem outro destaque na primeira página. Trata-se de uma notícia sobre um vídeo de propaganda do ISIS com 7 minutos de duração, que foi divulgado em França, no qual se apela aos muçulmanos franceses para fazerem a "guerra santa" e para se juntarem à jihad. Entre outros, as autoridades francesas conseguiram identificar um dos jihadistas: Michael dos Santos, um jovem de 22 anos de idade, nascido nos arredores de Paris que é filho de pais portugueses.

 

A Espanha e o firme combate à corrupção

Há cerca de duas semanas a Guardia Civil espanhola deteve 51 pessoas suspeitas de corrupção durante uma operação realizada em vários municípios, por alegadas adjudicações públicas no montante de muitos milhões de euros que terão envolvido esquemas fraudulentos de comissões. Nesse grupo de detidos encontram-se figuras da política nacional e local, mas também alguns empresários ligados sobretudo a empresas de construção civil. A Espanha indignou-se com esta notícia e manifestou-se perante aquilo a que os jornais e alguns dirigentes partidários chamaram uma vergonha.
Talvez a forte repulsa popular tivesse acordado a justiça espanhola, porque a imprensa galega anuncia hoje que a juíza Maria Jesús García determinou a detenção de 23 pessoas por tráfico de influências e prática de subornos, as quais se juntam a outras sete que já estavam detidas na Galiza. O jornal Faro de Vigo destaca na sua primeira página a operação Zeta, para combate à fraude nas ajudas aos cursos de formação para desempregados, que levou àquelas detenções, em que se incluem cinco altos funcionários do governo galego. A notícia identifica os detidos e descreve com algum detalhe as situações fraudulentas em que estiveram envolvidos.  
Estas acções mostram como a justiça espanhola procura defender o Estado e a sociedade, actuando sobre a ilegalidade, a fraude e a corrupção. Naturalmente, nós que no nosso quotidiano “vemos, ouvimos e lemos”, como dizia Sophia, não podemos ignorar a forma distraida e permissiva, eventualmente cúmplice, como as autoridades responsáveis encaram o estado da nação, a degradação das instituições e não zelam pelo bem comum.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Os nossos preocupantes labirintos

Nos últimos dias tem-se falado muito de labirintos, não exactamente naqueles espaços em que se entra com facilidade mas em que é difícil encontrar a saída, mas nos outros labirintos, aqueles que existem na nossa sociedade, sobretudo no Estado, em que se instalaram e movimentam certos interesses que actuam em rede e minam a coesão social e a confiança dos cidadãos. Esses labirintos também estão disseminados na sociedade civil, especialmente no meio empresarial.
O nosso país está cheio de labirintos. A política é a grande inspiradora e a base de recrutamento daqueles que neles se movem e que neles alimentam as suas ambições e interesses pessoais. Entram nos esquemas labirínticos desde a sua tenra juventude e ocupam os espaços e os caminhos, sem outros ideais que não sejam o de se servirem. O seu sucesso é egoista e é sempre o insucesso do outro. Eles associam-se, articulam-se em redes e, sobretudo, vivem à margem do país real e em grande impunidade. Muitos deles, a coberto da sua militância partidária, chegam a deputados da nação numa idade em que seria mais recomendável que estudassem e trabalhassem. Alguns entram nas sociedades de advogados e em empresas e organizações já constituídas, mas outros criam as suas próprias empresas para apoio às suas negociatas, assessorias, consultorias e outras fantasias. São facilitadores de negócios e, em princípio, podem abrir todas as portas. Formalmente cumprem a lei, mas vivem no submundo do interesse pessoal ou de grupo, do favorzinho, da cunha, da comissão, da avença, da sabujice e da influência. Não têm vergonha nenhuma. Andam deslumbrados com o poder que acumularam e aparecem na televisão a falar de tudo, enquanto o país continua à deriva.
Alguns multiplicam os seus poderes e dispersam-se por interesses variados que também são um labirinto e, nesse aspecto, destacam-se os machetes e os vitorinos, os proenças de carvalho, os aguiares brancos e os lobos xavieres que, dotados não sei de que competências,  têm assento em inúmeras empresas de onde naturalmente comandam isto tudo.
Um dos labirintos da nossa sociedade parece estar agora em implosão. Não sabemos o que se passou, mas quando assistimos a que altas figuras do Estado sejam constituídas como arguidos no chamado processo dos vistos gold, por corrupção, peculato e tráfico de influências, não podemos deixar de ficar preocupados com a vulnerabilidade do Estado e com os labirintos de toda a espécie por aí circulam às claras. Disse o Papa Francisco que “este capitalismo mata”, mas por analogia podemos dizer que “estes labirintos matam”.

sábado, 15 de novembro de 2014

As jóias da expansão expostas em Lisboa

 
O Museu do Oriente inaugurou a exposição  ‘Jóias da Carreira da Índia’, que exibe cerca de duas centenas de peças, na sua maioria de ouro e prata, trabalhadas e enriquecidas com gemas, pérolas, marfins e esmaltes de cores exuberantes, que foram produzidas em diferentes lugares do Oriente e trazidas para o Reino a bordo das naus da Carreira da Índia. Esta carreira fazia a ligação anual entre Lisboa e Goa, embora por vezes também se dirigisse a outros destinos como Cochim, Baçaim ou mesmo Malaca, tendo entrado na História pelo seu pioneirismo náutico e pelo seu impacto no encontro cultural e económico entre o Ocidente e o Oriente. A viagem começou a ser estabelecida em finais do século XV e manteve-se ao longo dos tempos, até ao aparecimento da navegação a vapor e à abertura do canal do Suez. Cada uma destas viagens demorava cerca de 6 a 8 meses. Na viagem de ida, as naus levavam soldados, religiosos, mercadores e aventureiros, mas na viagem de regresso, ou torna-viagem, traziam a pimenta da costa do Malabar, a canela do Ceilão e o cravo das Molucas.
Porém, enquanto o negócio das especiarias era reservado em exclusivo ao rei de Portugal, muitas outras mercadorias e objectos raros como as peças de joalharia, “cabiam no bolso de qualquer viajante”. Essas preciosidades da joalharia oriental – colares, pendentes, pulseiras, adagas, taças, caixas e outros objectos – alimentavam a cobiça de muitos indivíduos que as adquiriam para fruição pessoal ou para serem vendidas em Portugal e na Europa.  
A exposição é uma bela lição de História da Expansão Portuguesa, sendo apoiada por um excelente catálogo. Pode ser vista até ao dia 26 de Abril de 2015 e constitui um documento de grande interesse histórico e estético que junta peças de diversas origens, muitas delas nunca antes expostas.  

Um grande quebra-cabeças para a França

A edição de hoje do jornal Le Télégramme que se publica em Lorient, na Bretanha, apresenta como tema de fundo o caso dos dois BPC da classe Mistral (Navio de Projecção e Comando) ou LHD (Landing Helicopter Dock, segundo a designação NATO), que foram encomendados pela Rússia aos estaleiros de Saint-Nazaire.
Estes navios têm um deslocamento de 21.300 toneladas, 199 metros de comprimento, 32 metros de largura, uma guarnição de 160 pessoas e podem transportar uma força de intervenção de 450 militares e 16 helicópteros. Podem acolher 650 refugiados e dispõem de um hospital. A Marinha francesa dispõe ou vai dispor de 4 unidades desta classe e, em face da sua capacidade operacional, em Junho de 2011 a Rússia fez uma encomenda de duas unidades, através de um contrato no valor de 1,2 mil milhões de euros. Embora os navios sejam entregues com todos os equipamentos de navegação, incluindo os sistemas de navegação de combate, todo o armamento será russo, inclusive rampas de lançamento de mísseis de cruzeiro e sistemas de defesa anti-míssil, anti-aérea e anti-submarina. A primeira unidade – o Vladivostok - está pronto para ser entregue e a segunda unidade - o Sébastopol - deverá estar pronto em 2015.
Porém, aconteceu a crise na Ucrânia e sucederam-se as sanções económicas à Rússia determinadas pela NATO e pela União Europeia. A entrega do Vladivostok foi suspensa e a construção do Sébastopol desacelerou, pelo que paira uma ameaça sobre os trabalhadores do estaleiro e sobre os seus inúmeros fornecedores e subcontratados. Trata-se de uma situação a lembrar-nos Viana do Castelo, os ENVC e o caso Atlântida, mas de muito maior dimensão.
As autoridades russas, que pagaram uma parte substancial do contrato por antecipação, estão a pressionar a França  e a fazer-lhe um quase ultimato para que cumpra os seus compromissos contratuais e faça a entrega dos navios, ameaçando-a com um pedido de indemnização de elevado montante, mas também existe a pressão dos falcões para que a França cumpra as sanções impostas à Rússia.  Assim, diz o jornal, uma quebra do compromisso francês será uma catástrofe financeira, mas também uma catástrofe para a imagem da indústria francesa do armamento. É um enorme quebra-cabeças (mais um) para François Holland.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Um país de espertalhões e deslumbrados

La Voz de Galicia, 28 de Outubro de 2014
Há cerca de duas semanas a imprensa espanhola noticiou a detenção de algumas dezenas de pessoas por envolvimento em esquemas de corrupção, nomeadamente alguns altos dirigentes partidários e alguns autarcas (La Voz de Galicia, 28 de Outubro). Naturalmente, pensei que esse fenómeno universal da corrupção, que estava a ser combatido em Espanha com tanta severidade e rigor, não acontecia em Portugal ou era coisa de importância marginal. No meio de tantas coisas desagradáveis que nos vão acontecendo, sobretudo na banca, fiquei aliviado por não haver aqui casos suspeitos de corrupção. 
Ontem, porém, a notícia caiu como uma bomba e a imprensa de hoje confirmou que parece haver corrupção em Portugal, o que aliás nem se notava, pois não há sinais exteriores de riqueza, nem favorecimento de amigos, nem evidência de promiscuidades entre política e negócios. Portanto, a leitura da imprensa de hoje foi um choque! O Jornal de Notícias titulava que “vistos dourados corrompem altas chefias do Estado, o Correio da Manha anunciava que “Luvas de milhões no topo do Estado” e o Público destacava “Duzentos polícias detêm altos quadros do Estado ligados aos vistos gold”. Afinal, parece que o assunto é sério e que está relacionado com os vistos gold, os tais a que alguns chamam investimento, mas que não passam de uma opção governamental para vender vistos a quem aparecer, independentemente da origem e da cor do seu dinheiro ou do seu currículo criminal. Ora isso é lamentável porque fere a dignidade do Estado, mas também porque abre a porta a alguns funcionários espertalhões, gananciosos e deslumbrados para quem o dinheiro é tudo e se deixam cair nessa maldita armadilha. Perante esta grave situação, o pai deste invento que noutras ocasiões disse que “as exportações estão a ser o porta-aviões da recuperação económica” e que o turismo é “a galinha dos ovos de ouro”, que irá dizer agora? Que errou na sua estratégia? ou simplesmente que “a ocasião faz o ladrão?”

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

O caso PT: são todos tão bons rapazes

Dia de Portugal: 10 de Junho de 2014
Aos poucos vamos sabendo mais a respeito de um país que anda à deriva e que, passo a passo, ou com a cumplicidade do Passos e do seu aliado Portas, vai perdendo tudo, desde a dignidade até ao seu património empresarial. Os escândalos da transferência de milhões de euros do BES para off-shores no estrangeiro e da transferência de outros milhões da PT para o BES, vieram dar uma dimensão a estes casos, que era absolutamente  impensável para o cidadão comum, aquele que alimenta tudo isto, desde o Estado à PT. O BES caiu e a PT está em vias de desaparecer do nosso universo empresarial, tal como aconteceu à CIMPOR, à EDP, à REN, à ANA, à FIDELIDADE e à HPP (os seguros e hospitais da CGD), que foram devorados por interesses estrangeiros. No caso da PT que agora é controlada por brasileiros, foi o actual primeiro-ministro que deixou cair a “golden share” que mantinha a empresa colada ao Estado e ao interesse público, o que o comentador Marcelo disse ter sido “imperdoável”. Assim se acelerou a perda de mais uma das jóias da coroa, numa linha de actuação lamentável que tem posto o país à venda, não por necessidades financeiras, mas apenas por obstinação ideológica. Por isso, é lamentável acusar outros ou assobiar para o lado.
No meio desta degradação da nossa vida empresarial, há 5 meses, apenas há 5 meses!, o engenheiro Zeinal Bava, presidente da PT, foi condecorado pelo Presidente da República com uma grã-cruz, pelos relevantes serviços prestados à Pátria. E para que não restassem dúvidas, o acto aconteceu no Dia de Portugal em cerimónia pública, na presença do nosso primeiro Passos que aplaudiu com entusiasmo, como todos pudemos ver na televisão. Agora que a “bomba” estoirou, ainda há quem se mostre surpreendido. É o caso do Presidente da República que, há poucos dias, perguntava: "O que é que andaram a fazer os accionistas e os gestores desta empresa?". Eu limito-me a perguntar como é possível ter tantos assessores e não terem visto esta trapalhada...

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

A Catalunha e a consulta que nada mudou

Realizou-se ontem na Catalunha uma consulta popular, designada pela imprensa como um “referendo alternativo” e que foi organizada pelo governo autónomo da Catalunha, apesar de ter sido proibida pelo governo espanhol e pelo Tribunal Supremo de Espanha. Essa proibição assentou no facto da Constituição espanhola não autorizar que as comunidades autónomas submetam a votação ou a referendo qualquer questão relacionada com a soberania nacional.
O universo eleitoral catalão é de 6.228.531 eleitores e, segundo os resultados já apurados, votaram 2.220.669 eleitores (participação de 35,6%), verificando-se que 80%  dos votantes, isto é, 1.776.535 eleitores, “querem que a Catalunha seja um Estado independente” e que 10% “querem que a Catalunha seja um Estado, mas não independente”.
As comparações com as últimas eleições realizadas na Catalunha são inevitáveis.
Nas últimas eleições legislativas realizadas em 2011, os partidos favoráveis à realização de um referendo vinculativo receberam 1,5 milhões de votos. Nas eleições autonómicas catalãs realizadas em 2012 os partidos favoráveis à realização de um referendo vinculativo receberam 2,15 milhões de votos. Nas eleições europeias de 2013 os partidos favoráveis à realização de um referendo vinculativo receberam 1,4 milhões de votos. Agora foram 1,77 milhões a votar pela independência catalã. Significa, conforme se tem observado nos últimos actos eleitorais, que nada mudou substancialmente e que se confirma que cerca de um terço do eleitorado catalão quer a independência.
Estes resultados tiveram todas as leituras na imprensa espanhola. Uns jornais falam de “farsa y desobediencia (ABC), outros falam de “pleno soberanista” (el Periodico), outros destacam a declaração de Artur Mas: “ahora el referéndum definitivo” (El País). Porém, o mais equilibrado parece ser o Expansión que escolhe como título: "Cataluña, la hora de buscar soluciones”.
O independentismo catalão assenta no princípio de que a Catalunha é uma nação e que não alcançará a sua plenitude cultural, social e económica enquanto fizer parte da Espanha. Luta por esse objectivo usando as armas da democracia e, pela via pacífica, deseja alcançar o direito à autodeterminação e à independência. Porém, a ambição territorial catalã não se fica pelo território da comunidade autónoma e reivindica a absorção de outras regiões espanholas e partes da França (Rossilhão) e de Itália (Sardenha). Assim, nem Bruxelas, nem Paris, nem Roma, entre muitas outras capitais, apoiam as aspirações catalãs, até porque há muitas catalunhas por essa Europa fora.

domingo, 9 de novembro de 2014

Uma entrevista que é uma tristeza

Quando ocorreu a crise política no Verão de 2013 a hipótese de eleições antecipadas foi muito discutida, inclusive no Conselho de Estado, órgão de consulta do Presidente da República. Viveu-se um período de grande tensão política e, nessa altura, o homem do leme defendeu um compromisso entre as principais forças políticas, que deveria estabelecer “o calendário mais adequado para a realização de eleições antecipadas” e que deveria coincidir com o fim do Programa de Assistência Financeira, em Junho de 2014. Porém, o irrevogável deu o dito por não dito e, aparentemente, a crise política foi ultrapassada.
Entretanto, a troika deixou o nosso país. Disseram-nos que foi uma saída limpa. Houve quem pensasse no resgate da nossa soberania e houve quem pensasse num novo ciclo da nossa vida colectiva, mas a situação económica e social não registou qualquer melhoria significativa e até registou alguns agravamentos. Quando se começou a pensar no futuro, surgiram vozes a sugerir que as eleições legislativas, constitucionalmente previstas para Setembro ou Outubro de 2015, fossem antecipadas para Abril ou Maio, de forma a que o novo governo pudesse preparar o Orçamento do Estado para 2016. Para além dos partidos da oposição, também os parceiros sociais subscreveram este ponto de vista. Porém, o líder do PSD veio de imediato recusar a antecipação das eleições e, dois ou três dias depois, também o líder do CDS expressou a mesma opinião e defendeu o respeito dos prazos constitucionais. Todos têm direito ter a sua opinião, embora a decisão seja uma competência exclusiva do Presidente da República. Numa situação destas ele deveria estar equidistante dos que querem e dos que não querem a antecipação das eleições, mas decidiu estar ao lado de uma das partes. O que é lamentável. O que é uma tristeza. Ele esqueceu-se, uma vez mais, que é o Presidente de todos os portugueses e decidiu juntar-se a Passos e a Portas, ignorando a oposição e os parceiros sociais. Assim, veio afastar o cenário de eleições antecipadas, salvo se se verificar uma crise política grave, afirmando ao Expresso que as eleições legislativas serão “na data fixada na lei eleitoral” e “ponto final”. As eleições serão naturalmente quando ele quiser, mas ao menos que esteja calado e não se coloque a reboque do governo!

sábado, 8 de novembro de 2014

Cristiano Ronaldo, o grande promotor

O suplemento de Economia do jornal Expresso noticiou hoje que na próxima semana vai arrancar uma campanha publicitária para atrair turistas chineses ao nosso país, que utiliza a imagem de Cristiano Ronaldo e o slogan “Portugal tem o melhor do mundo. Provavelmente, os técnicos de Publicidade e Marketing que conceberam a campanha tomaram os devidos cuidados para evitar que os fluxos turísticos chineses se encaminhem para Madrid para ver Cristiano Ronaldo no Estádio Santiago Bernabéu, em vez de se dirigirem para Lisboa. Aliás, nesse caso, os operadores turísticos até podem oferecer um bónus adicional e mostrar Rafael Nadal, Plácido Domingo, Júlio Iglésias, António Banderas ou Penélope Cruz, entre muitos mais espanhóis de primeiro plano mundial. É preciso cuidado com estas campanhas, pois não seria a primeira vez que a promoção do nosso país servia outros interesses que não os da nossa indústria turística.
A utilização da imagem de Cristiano Ronaldo nesta campanha é indiscutível, até porque não temos outra. Ele é uma figura mundial e, ainda hoje, o jornal turco Fanatik dedica toda a sua primeira página ao jogador português, embora eu não possa traduzir o que lá está escrito. Afinal, até na Turquia como na China e, certamente no mundo, Cristiano Ronaldo é cada vez mais o símbolo e o promotor de Portugal.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Uma inesperada violência em Bruxelas

 
As televisões mostraram e os jornais explicaram.
Ontem em Bruxelas, a cidade-capital da União Europeia, por onde circulam milhares de burocratas encostados a regimes de privilégio desajustados neste tempo de crise, realizou-se uma manifestação convocada pelas três maiores centrais sindicais belgas – democrata-cristã, socialista e liberal -  que juntou cerca de 100 mil pessoas para protestar contra as reformas económicas e sociais anunciadas pelo novo governo, isto é, contra as medidas de austeridade previstas no próximo orçamento plurianual, que incluem cortes na despesa pública e aumento da carga fiscal.
A receita belga é a do costume, que os portugueses conhecem bem. Tudo é feito para proteger os grandes interesses e para obrigar os contribuintes, os assalariados e os pensionistas – os tais que eles dizem viver acima das suas possibilidades - a pagar a profunda crise europeia, resultante da incompetência dos políticos, da ganância dos financeiros e de uma corrupção cada vez maior e mais atrevida. Os belgas reagiram e a manifestação degenerou em violência, com os manifestantes a incendiar automóveis, a partir montras e a apedrejar a polícia, enquanto esta usava canhões de água e gás lacrimogéneo para dispersar a multidão. Não se imaginava tanta cólera e tanta violência no coração da Europa.
As imagens que nos chegaram são muito preocupantes, porque podem gerar contágios. A reacção belga mostra que já não se trata de fazer imposições humilhantes, como as que foram feitas aos gregos, aos portugueses e aos seus governos gelatinosos, mas que a arrogância neo-liberal está a provocar o centro da Europa. Só que os belgas reagiram e a cólera saiu à rua, como a televisão mostrou e hoje escreveu o Le Soir. Bruxelas ficou sob uma tempestade inesperada e violenta que melhor seria se não alastrasse ao resto do país.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

A ideia de viragem é mera propaganda

Desde a campanha eleitoral que em 2011 levou ao poder a actual maioria que me habituei a ouvir algumas mentiras descaradas e, nesse campo, o nosso primeiro Passos é um verdadeiro campeão. Foi ele que prometeu que não haveria aumento de impostos, nem cortes de pensões. Foi ele que prometeu reduzir o défice público através do corte das gorduras do Estado. Foi ele que garantiu não haver despedimentos na função pública. Foi ele que disse estar preparado para governar com a troika e que sempre afirmou que iria para além das seus diktats. Foi ele e o seu governo que não fizeram a reforma do Estado, que aumentaram a dívida pública, que empurraram mais de 300 mil portugueses para a emigração, que aumentaram a pobreza e que minaram a sociedade portuguesa com o desânimo, a incerteza e a insegurança. Os portugueses temem cada vez mais o futuro, estão com índices de confiança muito baixos e não sabem o que os espera o amanhã.
A encenação mentirosa desta gente já cansa e há cada vez menos paciência para os ouvir, até porque as mentiras se repetem. Há dias um artigo publicado num jornal de referência (Público de 30/10/2014) veio chamar-me a atenção para uma faceta do nosso primeiro Passos que, por má interpretação da realidade portuguesa ou por alucinação, tem repetidamente anunciado viragens, que não são mais do que promessas irrealistas e não sustentadas de melhores tempos. Ainda mal tinha chegado a São Bento e já anunciava que 2012 era um ano de viragem económica para o país, mas poucos meses depois dizia que o ano da inversão ou da viragem seria 2013. Como não houve nada disso, passou a anunciar 2014 como o novo ano da viragem económica. Agora anunciou que “2015 é um momento de viragem na recuperação do rendimento dos portugueses”.
O homem sonha com viragens e toma a núvem por Juno. Tornou-se um sonhador que faz uma interpretação enviezada das estatísticas que lhe chegam às mãos. É que as estatísticas só têm sentido quando são confrontadas com a realidade. Servem para tudo e, também, para cada coisa e para o seu contrário. Provavelmente, também é mal aconselhado pelos seus boys e, certamente, não é capaz de articular um discurso sem se deixar enrolar pela marca da propaganda política. Eu não vejo sinais inequívocos de viragem e bem gostava de os ver.

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Há mais desporto para além do futebol

A maratona de Nova Iorque é uma das mais famosas provas atléticas que se disputam no mundo e teve ontem a sua 44ª edição com mais de 50 mil participantes e com os atletas quenianos a ocuparem os dois primeiros lugares à chegada, quer na prova masculina quer na prova feminina. Desde há muitos anos que este tipo de provas é dominado por atletas africanos, sobretudo quenianos e etíopes, o que significa que os nossos campeões olímpicos da maratona - Carlos Lopes (Los Angeles, 1984) e Rosa Mota (Seul, 1988) – foram casos muito singulares na afirmação do nosso desporto a nível mundial e não tenham tido verdadeiros seguidores entre nós.
No nosso panorama desportivo são muito poucos os que conseguem ocupar posições de destaque ao nível mundial e os nossos melhores atletas, em vez de serem estimulados pela comunicação social, são quase sempre ignorados, numa lógica de completa subordinação jornalística ao futebol. Assim sucede com os nossos atletas do ténis de mesa, da canoagem ou do remo, mas também com os voleibolistas e os andebolistas, entre outros praticantes desportivos, que têm conseguido boas prestações internacionais.
Ontem, na primeira vez que correu os míticos 42.195 metros da maratona, a atleta Sara Moreira concluiu a sua prova em terceiro lugar logo a seguir a duas atletas quenianas, o que constituiu um notável resultado desportivo, até porque a atleta fez a segunda melhor marca portuguesa de sempre. Quase todos os jornais mencionaram essa proeza num canto escondido da sua primeira página, mas foi o Diário de Notícias que teve a “ousadia” de trazer essa notícia para a sua primeira página com o devido destaque. Porém, os jornais ditos desportivos, em vez da proeza de Sara Moreira destacaram outras coisas, como as irrelevantes e desinteressantes entrevistas dos jogadores Talisca e Casemiro, asim como as declarações do treinador do Sporting a lamentar a falta de atitude dos seus jogadores. É a lógica de vender papel a qualquer preço o que, desportivamente, é muito triste. Parabéns à Sara!

domingo, 2 de novembro de 2014

Turista espacial? Não, obrigado.

Já havia cerca de oito centenas de celebridades e de milionários inscritos para as viagens de turismo espacial organizadas pela Virgin Galactic que se previa fossem iniciadas em 2015, mas durante um voo de teste realizado esta semana sobre o deserto de Mojave, na Califórnia, a nave espacial SpaceShip Two caiu por causas ainda não apuradas e ficou completamente destruida. Este acidente foi grave e foi, também, mais um duro golpe no projecto lançado em 2004 pelo empresário britânico Richard Branson, que já foi afectado por muitos revezes que têm adiado o projecto de levar turistas para o espaço, devido a avarias, acidentes e outros imponderáveis. Inicialmente previstas para ter início no ano de 2007, a nova data para iniciar as viagens comerciais no espaço está agora a ser reavaliada, até porque será necessário preparar um SpaceShip Three.
A ideia da realização de viagens turísticas espaciais tinha nascido como um projecto futurista e utópico, mas a realidade estava cada vez mais próxima de ultrapassar a ficção. O esquema operacional delineado para as viagens previa que, com dois pilotos e seis passageiros a bordo, o SpaceShip Two fosse transportado por outro veículo até aos 13.700 metros de altitude e que, depois, fosse libertado e subisse até aos 100 quilómetros de altitude, propulsionado por um motor próprio. Seria aí que os turistas espaciais poderiam observar a Terra a flutuar no espaço e em que estariam em gravidade zero durante alguns minutos. 
O desastre agora ocorrido teve larga repercussão nos media anglo-saxónicos, como é o caso do The Times, não significando apenas a perda de um piloto de ensaios e um astronómico prejuízo material, mas também mais um atraso na data de início das viagens turísticas espaciais. Além disso, este acidente vai gerar alguma intranquilidade e perda de entusiasmo nas centenas de pessoas que já pagaram 250 mil dólares para participarem nos primeiros voos comerciais e já há quem pense em desistir. Muitas dessas pessoas já terão repensado a aventura com que sonharam e em breve agitarão slogans: Turista espacial? Não, obrigado!

sábado, 1 de novembro de 2014

A Casa dos Estudantes do Império

Numa iniciativa da UCCLA - União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa, teve início um programa comemorativo para assinalar os 50 anos do encerramento da Casa dos Estudantes do Império (CEI), que inclui várias iniciativas e se prolongará até Maio de 2015.
A CEI foi criada em 1944 pelo governo de Salazar com o objectivo de apoiar os estudantes brancos, mestiços ou negros oriundos das colónias, mas também para os controlar através da PIDE. As suas funções eram sobretudo de âmbito social, incluindo refeitório e assistência médica, para além da promoção de actividades desportivas e culturais. No entanto, a ideia fundadora que parecia reflectir sentimentos de generosidade para com os estudantes das colónias que se encontravam em Portugal, tinha um acentuado cunho político e era um instrumento destinado a afirmar a dimensão imperial de Portugal, na linha do que sucedera com a Exposição do Mundo Português realizada em 1940.
Apesar de ser financiada pelo Estado português e de ter objectivos sociais, a CEI falhou nos seus propósitos e acabou por ter um papel fundamental nas lutas pela independência das colónias portuguesas, vindo a ser encerrada pelo governo  em 1965. A progressiva politização da elite cultural africana ligada à CEI tinha-se acentuado com as campanhas eleitorais da oposição democrática, com o exemplo das lutas de libertação em diversos países africanos e, por fim, com a intransigência salazarista relativamente à discussão das questões coloniais, pelo que muitos desses jovens estudantes que passaram pelas instalações da CEI em Lisboa e Coimbra, se tornaram líderes dos movimentos de libertação nacional nas colónias portuguesas. É o caso de personalidades como Agostinho Neto, Amílcar Cabral, Pedro Pires, Vasco Cabral, Mário Pinto de Andrade, Marcelino dos Santo, Luandino Vieira, Rui Mingas, Óscar Monteiro, João Craveirinha, Joaquim Chissano, Miguel Trovoada, Francisco Tenreiro, Pepetela e muitos outros intelectuais.
As celebrações começaram esta semana em Coimbra e alguns jornais de língua portuguesa noticiaram o seu início, mas o principal destaque do acontecimento foi dado pelo Mutamba, o suplemento da edição de ontem do semanário angolano Novo Jornal que, além de desenvolvida notícia, até reproduziu a fotografia do edifício onde esteve instalada a CEI no Bairro do Arco do Cego em Lisboa.

Tesouros dos Palácios Reais de Espanha

A Fundação Calouste Gulbenkian iniciou a sua temporada de exposições 2014-2015 com uma exposição intitulada “A História Partilhada. Tesouros dos Palácios Reais de Espanha”, em colaboração com o Património Nacional de Espanha, que é a entidade responsável pela preservação, salvaguarda e divulgação dos bens móveis e imóveis da Coroa Espanhola. No percurso expositivo são exibidas cerca de uma centena e meia de pinturas de grandes mestres como Velázquez, Goya, Caravaggio e El Greco, entre muitos outros pintores famosos, que pertencem ao património artístico acumulado pela Casa Real de Espanha ao longo de quase quatro séculos, sendo particularmente distinguidos os acontecimentos da história de Espanha que foram partilhados com Portugal, sobretudo em consequência de casamentos reais.
A apresentação de uma genealogia simplificada das pessoas reais retratadas na exposição, permite compreender alguns contextos culturais e ligações familiares entre as duas monarquias ibéricas, mesmo para os visitantes menos identificados com o processo histórico peninsular. Assim, a exposição destaca três infantas de Portugal que foram rainhas de Espanha:
- Isabel de Portugal (1503-1539), filha de D. Manuel I e neta dos Reis Católicos, que foi casada com Carlos V e foi mãe de Filipe II de Espanha (I de Portugal);
- Maria Bárbara de Bragança (1711-1758), filha de D. João V, que foi casada com Fernando VI;
- Isabel de Bragança (1797-1818), filha de D. João VI, que casou com Fernando VII e a quem se deve a criação do Museu do Prado.
A exposição estará patente ao público até ao dia 25 de Janeiro de 2015 e constitui uma oportunidade para apreciar algumas grandes obras da produção artística espanhola e europeia mas é, também, uma aula de História contada numa versão pedagógica e interessante.

O palácio dos mil quartos em Ancara

Alguns jornais de difusão internacional destacaram na corrente semana a notícia da inauguração do novo palácio presidencial em Ancara, com comentários mais ou menos escandalizados a respeito de tão gigantesco e polémico conjunto de edifícios, que dispõem de mil quartos. Hoje, a edição do The New York Times também tratou esse assunto e chamou-o à sua primeira página com uma fotografia a cinco colunas, com críticas explícitas à megalomania do Presidente turco Recep Tayyip Erdogan.
O novo palácio irá substituir o Palácio Presidencial de Çankaya, que serviu de residência presidencial desde 1923, quando Mustafa Kemal Atatürk fundou e passou a dirigir o moderno Estado Turco, democrático e secular. Ocupando uma área de 300 mil metros quadrados e com três blocos de edifícios, o novo palácio não só ultrapassa a dimensão das residências oficiais dos Chefes de Estado da França, Grã-Bretanha, Rússia e Estados Unidos, mas também o palácio do sultão de Brunei, registado no Guinness World Records como o de maior dimensão do mundo. Além disso, a descrição da sua sumptuosidade lembra-nos os relatos que foram feitos sobre os palácios da Saddam Hussein e de Muammar al-Kaddafi.
O novo palácio teve um custo estimado entre 300 milhões a 500 milhões de euros, que tem sido considerado exorbitante. A oposição turca tem criticado a desproporcionada dimensão do palácio e tem levantado muitas suspeitas da existência de corrupção ligada ao projecto, considerando o palácio como mais uma demonstração da megalomania e das tendências autoritárias e de islamização de Erdogan. Porém, as críticas também têm surgido de outros sectores sociais turcos, desde o sistema financeiro aos ecologistas. Entretanto, Erdogan já anunciou a intenção de construir o maior aeroporto do mundo em Istambul, além de outros megaprojetos que têm merecido críticas. Com a Turquia candidata a integrar a União Europeia e com a violência da guerra à vista das fronteiras turcas, é caso para perguntar: o que faz correr Erdogan?