sábado, 1 de novembro de 2014

A Casa dos Estudantes do Império

Numa iniciativa da UCCLA - União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa, teve início um programa comemorativo para assinalar os 50 anos do encerramento da Casa dos Estudantes do Império (CEI), que inclui várias iniciativas e se prolongará até Maio de 2015.
A CEI foi criada em 1944 pelo governo de Salazar com o objectivo de apoiar os estudantes brancos, mestiços ou negros oriundos das colónias, mas também para os controlar através da PIDE. As suas funções eram sobretudo de âmbito social, incluindo refeitório e assistência médica, para além da promoção de actividades desportivas e culturais. No entanto, a ideia fundadora que parecia reflectir sentimentos de generosidade para com os estudantes das colónias que se encontravam em Portugal, tinha um acentuado cunho político e era um instrumento destinado a afirmar a dimensão imperial de Portugal, na linha do que sucedera com a Exposição do Mundo Português realizada em 1940.
Apesar de ser financiada pelo Estado português e de ter objectivos sociais, a CEI falhou nos seus propósitos e acabou por ter um papel fundamental nas lutas pela independência das colónias portuguesas, vindo a ser encerrada pelo governo  em 1965. A progressiva politização da elite cultural africana ligada à CEI tinha-se acentuado com as campanhas eleitorais da oposição democrática, com o exemplo das lutas de libertação em diversos países africanos e, por fim, com a intransigência salazarista relativamente à discussão das questões coloniais, pelo que muitos desses jovens estudantes que passaram pelas instalações da CEI em Lisboa e Coimbra, se tornaram líderes dos movimentos de libertação nacional nas colónias portuguesas. É o caso de personalidades como Agostinho Neto, Amílcar Cabral, Pedro Pires, Vasco Cabral, Mário Pinto de Andrade, Marcelino dos Santo, Luandino Vieira, Rui Mingas, Óscar Monteiro, João Craveirinha, Joaquim Chissano, Miguel Trovoada, Francisco Tenreiro, Pepetela e muitos outros intelectuais.
As celebrações começaram esta semana em Coimbra e alguns jornais de língua portuguesa noticiaram o seu início, mas o principal destaque do acontecimento foi dado pelo Mutamba, o suplemento da edição de ontem do semanário angolano Novo Jornal que, além de desenvolvida notícia, até reproduziu a fotografia do edifício onde esteve instalada a CEI no Bairro do Arco do Cego em Lisboa.

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