sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Um país de espertalhões e deslumbrados

La Voz de Galicia, 28 de Outubro de 2014
Há cerca de duas semanas a imprensa espanhola noticiou a detenção de algumas dezenas de pessoas por envolvimento em esquemas de corrupção, nomeadamente alguns altos dirigentes partidários e alguns autarcas (La Voz de Galicia, 28 de Outubro). Naturalmente, pensei que esse fenómeno universal da corrupção, que estava a ser combatido em Espanha com tanta severidade e rigor, não acontecia em Portugal ou era coisa de importância marginal. No meio de tantas coisas desagradáveis que nos vão acontecendo, sobretudo na banca, fiquei aliviado por não haver aqui casos suspeitos de corrupção. 
Ontem, porém, a notícia caiu como uma bomba e a imprensa de hoje confirmou que parece haver corrupção em Portugal, o que aliás nem se notava, pois não há sinais exteriores de riqueza, nem favorecimento de amigos, nem evidência de promiscuidades entre política e negócios. Portanto, a leitura da imprensa de hoje foi um choque! O Jornal de Notícias titulava que “vistos dourados corrompem altas chefias do Estado, o Correio da Manha anunciava que “Luvas de milhões no topo do Estado” e o Público destacava “Duzentos polícias detêm altos quadros do Estado ligados aos vistos gold”. Afinal, parece que o assunto é sério e que está relacionado com os vistos gold, os tais a que alguns chamam investimento, mas que não passam de uma opção governamental para vender vistos a quem aparecer, independentemente da origem e da cor do seu dinheiro ou do seu currículo criminal. Ora isso é lamentável porque fere a dignidade do Estado, mas também porque abre a porta a alguns funcionários espertalhões, gananciosos e deslumbrados para quem o dinheiro é tudo e se deixam cair nessa maldita armadilha. Perante esta grave situação, o pai deste invento que noutras ocasiões disse que “as exportações estão a ser o porta-aviões da recuperação económica” e que o turismo é “a galinha dos ovos de ouro”, que irá dizer agora? Que errou na sua estratégia? ou simplesmente que “a ocasião faz o ladrão?”

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