domingo, 9 de novembro de 2014

Uma entrevista que é uma tristeza

Quando ocorreu a crise política no Verão de 2013 a hipótese de eleições antecipadas foi muito discutida, inclusive no Conselho de Estado, órgão de consulta do Presidente da República. Viveu-se um período de grande tensão política e, nessa altura, o homem do leme defendeu um compromisso entre as principais forças políticas, que deveria estabelecer “o calendário mais adequado para a realização de eleições antecipadas” e que deveria coincidir com o fim do Programa de Assistência Financeira, em Junho de 2014. Porém, o irrevogável deu o dito por não dito e, aparentemente, a crise política foi ultrapassada.
Entretanto, a troika deixou o nosso país. Disseram-nos que foi uma saída limpa. Houve quem pensasse no resgate da nossa soberania e houve quem pensasse num novo ciclo da nossa vida colectiva, mas a situação económica e social não registou qualquer melhoria significativa e até registou alguns agravamentos. Quando se começou a pensar no futuro, surgiram vozes a sugerir que as eleições legislativas, constitucionalmente previstas para Setembro ou Outubro de 2015, fossem antecipadas para Abril ou Maio, de forma a que o novo governo pudesse preparar o Orçamento do Estado para 2016. Para além dos partidos da oposição, também os parceiros sociais subscreveram este ponto de vista. Porém, o líder do PSD veio de imediato recusar a antecipação das eleições e, dois ou três dias depois, também o líder do CDS expressou a mesma opinião e defendeu o respeito dos prazos constitucionais. Todos têm direito ter a sua opinião, embora a decisão seja uma competência exclusiva do Presidente da República. Numa situação destas ele deveria estar equidistante dos que querem e dos que não querem a antecipação das eleições, mas decidiu estar ao lado de uma das partes. O que é lamentável. O que é uma tristeza. Ele esqueceu-se, uma vez mais, que é o Presidente de todos os portugueses e decidiu juntar-se a Passos e a Portas, ignorando a oposição e os parceiros sociais. Assim, veio afastar o cenário de eleições antecipadas, salvo se se verificar uma crise política grave, afirmando ao Expresso que as eleições legislativas serão “na data fixada na lei eleitoral” e “ponto final”. As eleições serão naturalmente quando ele quiser, mas ao menos que esteja calado e não se coloque a reboque do governo!

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