sábado, 3 de janeiro de 2015

A economia a crescer? Eu não sabia...

Nos discursos de Natal e de Fim do Ano ouvimos os nossos dirigentes máximos algo preocupados com as eleições que se avizinham e com um alerta para que não deitemos “tudo a perder” ou o aviso de que o país “não pode regredir”. Ouvimos um a dizer que “a economia está a crescer, a competitividade melhorou, o investimento iniciou uma trajectória de recuperação e o desemprego diminuiu”, enquanto o outro nos disse que “entramos numa nova fase, uma fase de crescimento, de aumento do emprego”, com a economia a registar “um crescimento moderado, mas sustentado”. Dizem a mesma coisa, a lembrar-nos o Dupond e o Dupont, aquelas figuras gémeas que Hergé criou para enriquecer as aventuras de Tintim.
A generalidade da população não vê nada disso. Pelo contrário, vê pobreza, desemprego, emigração e desesperança. Por isso, ao consultar as estatísticas é preciso ter muito cuidado, porque quando são mal lidas, são muito mentirosas.
No entanto, um dos indicadores percursores da actividade económica é a evolução do mercado automóvel e o facto é que as vendas de veículos ligeiros e pesados em Portugal aumentaram 36,1% em 2014, segundo revelou a Associação Automóvel de Portugal (ACAP) e este facto parece dar alguma razão aos nossos dirigentes que tão optimistas se mostraram na análise do estado da nossa economia. Assim, em 2014 foram vendidas 172.390 viaturas novas em Portugal e o ranking das vendas de veículos ligeiros foi o seguinte: Renault (21.670), Peugeot (16.893), Volkswagen (16.014), Mercedes (11.385), Citroën (11.212), BMW (10.344) e Opel (10.344). Além disso, a Porsche vendeu 395 unidades (mais 45% do que em 2013) e a Ferrari vendeu 15 unidades (mais 66% do que em 2013), para além de terem sido vendidos 13 Maserati, 8 Aston Martin e 4 Bentley. Ora aqui está a prova provada de que “entramos numa nova fase” e que afinal “a economia está a crescer”, embora à custa do consumo interno e não das exportações como seria desejável. Então é caso para perguntar quantos pares de sapatos será necessário exportar para pagar aqueles 15 Ferraris e 13 Maseratis?

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