quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Mandar es servir

Na primeira mensagem que dirigiu às Forças Armadas de Espanha nas celebrações da Páscoa Militar, o Rei Filipe VI recordou várias vezes que acompanha a vida militar desde há cerca de 30 anos quando “tive o privilégio de começar a minha formação castrense junto a muitos de vós” e lembrou a sua frequências das academias do Exército (Saragoça), da Marinha (Marin) e da Força Aérea (San Javier).
Nesse discurso, o Rei afirmou que “mandar é servir e não haverá dia em que deixe de recordar este princípio”. Todos os grandes jornais espanhóis destacaram esta mesma frase dirigida aos militares, embora ela também seja dirigida a todos os servidores do Estado e à sociedade civil. Com esta simples frase, o Rei deu uma enorme lição aos aparelhistas que tomam conta das estruturas do Estado, não para o servirem, mas para se servirem.
Aqui em Portugal temos uma república e, portanto, não temos um Rei. Talvez por isso, também temos outro tipo de mensagens e a ideia de servir que é característica da ética republicana raramente é mencionada. Aqui, a noção de serviço público e de devoção à causa pública estão em vias de extinção. Os dirigentes do Estado que servem a causa pública vão sendo cada vez menos e a ideia de servir está a desaparecer da ética pública. Sabemos como os grandes partidos políticos dividem entre si os lugares do Estado ou dele dependentes, que são distribuidos por gestores, administradores e directores identificados com o centro político e sem que, muitas vezes, tenham os requisitos mínimos para ocupar essas funções e também sabemos como essa gente arranja emprego para os amigos como assessores e consultores. Essa gente depois de instalada não pensa em servir o Estado, mas tão só em assegurar os seus próprios interesses ou do seu grupo.
“Mandar es servir” bem podia ser uma frase a colocar sobre as mesas de trabalho de muitos dirigentes portugueses.

Sem comentários:

Enviar um comentário