sábado, 24 de janeiro de 2015

Nada justifica a venda dos nossos anéis

A Assembleia Geral da PT SGPS decidiu vender a PT Portugal à Altice, um fundo de investimento com sede no Luxemburgo que é maioritariamente detido por franceses e que, aparentemente, se dedica a compras e vendas no sector das telecomunicações. A edição de ontem do Jornal de Negócios destaca essa notícia que se traduz na saída de Portugal de mais um centro de decisão.
O facto serve para nos avivar a memória do que tem sido a delapidação do nosso património empresarial, nuns casos pela sua incapacidade de sobrevivência num mercado internacional muito competitivo, noutros casos pela incompetência e leviandade com que foi gerido e noutros casos, ainda, apenas por decisão ideológica de privatizar as empresas estatais. Ainda há poucos anos os portugueses se orgulhavam de algumas empresas portuguesas com prestígio internacional e se estimulava o aparecimento de “campeões nacionais”, isto é, empresas que pelo seu impacto nos mercados interno e internacional podiam ser vistas como referenciais no desempenho económico, na qualidade da gestão, na investigação científica e tecnológica, na inovação e na reputação dos seus produtos ou serviços. Porém, os ventos começaram a soprar de outra direcção e não se pensou mais nos “campeões nacionais”. Por necessidade financeira ou por opção ideológica, o governo português entrou numa onda de privatizações e de abertura ao capital privado estrangeiro mais ou menos especulativo, assunto que nunca foi bem explicado e que tanto nos subalterniza. Um dia assistimos ao “desaparecimento” da Cimpor, que foi privatizada e se tornou brasileira; no outro vimos a “espanholização” do Banco Totta. A coisa não parou. Nos anos mais recentes instalou-se uma onda privatizadora em Portugal e lá se foi a EDP para os chineses da Three Gorges, a REN também para os chineses da State Grid of China e a ANA para os franceses da Vinci. Os CTT foram comprados por um sindicato internacional onde pontificam os americanos da Goldman Sachs e o Deustche Bank, enquanto a Caixa Seguros (Fidelidade) foi comprada pelos chineses da Fosun. É demais.
Não há nada que justifique esta delapidação do nosso património empresarial e a venda dos nossos anéis.  E se essa venda não é ilegal, é certamente ilegítima.

 

1 comentário:

  1. Concordando plenamente contigo, atrevo-me a acrescentar que para além da miopia contabilística e económica, é preponderante a ideologia ultra liberal, descrita nos livros mas nunca provada na prática a nível nacional.

    ResponderEliminar