quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Praça da Canção – o livro de uma geração

Em Janeiro de 1965 foi publicado um pequeno livro de poemas incluido na colecção do Cancioneiro Vértice, com o título de Praça da Canção. O autor era Manuel Alegre, um quase desconhecido que em 1962 tinha sido mobilizado para Angola por motivos políticos, onde veio a ser preso pela PIDE. De regresso à Metrópole, foi colocado em Coimbra com residência fixa, mas em 1964 decidiu passar à clandestinidade e exilar-se, tendo o livro sido editado pela sua família.
Apesar de proibido e apreendido pela Censura, o livro foi um sucesso para a jovem geração que nas universidades então contestava as políticas salazaristas e a guerra no Ultramar. O impacto da sua circulação limitada e clandestina, foi ultrapassado pelo facto de muitos dos seus poemas terem sido cantados e divulgados por José Afonso, Adriano Correia de Oliveira e Manuel Freire.
Em 1969 a Editora Ulisseia decidiu publicar a 2ª edição da Praça da Canção e eu tive oportunidade de adquirir um exemplar na Cooperativa Livrelco, que ainda conservo. No prefácio dessa edição, Mário Sacramento escreveu que “com Manuel Alegre nasceu o maior poeta do neo-realismo português”. De facto, o livro inclui poemas que revelam a opressiva realidade lusitana e expressam a solidariedade do poeta para com o sofrimento dos portugueses que emigravam, que partiam para a guerra ou que eram perseguidos pelo delito de opinião. A Trova do vento que passa, a Trova do amor lusíada, a Trova do emigrante, a Canção com lágrimas e sol, o Nambuagongo, meu amor ou o Canto peninsular, são apenas alguns dos poemas que são marcos da poesia portuguesa, nos quais o poeta recorre à nossa História para interrogar o presente e o futuro de Portugal, conseguindo aliar o lírico e o épico num grito contra a ditadura e a repressão em que os portugueses viviam nesse tempo.
Na edição que hoje foi posta a circular, o Jornal de Letras evoca Manuel Alegre e a Praça da Canção, um dos mais importantes livros da literatura portuguesa contemporânea e um marco de elevada estética literária no panorama da cultura portuguesa, por ocasião dos 50 anos da sua primeira publicação.

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