domingo, 1 de fevereiro de 2015

O monarca absoluto de Angola

Angola parece viver tempos de incerteza, depois de um período de grande expansão, havendo quem afirme que se está a caminhar para o “desastre político e social”. A situação economica e social tende a agravar-se devido à extrema dependência do país em relação ao petróleo, cujo preço está em queda e que em 2015 se espera represente uma quebra de 12 mil milhões de euros na receita petrolífera, mas também porque o país está viciado nas importações, nos gastos supérfluos com fundos públicos e com as muitas centenas de carros de luxo das elites.
O Presidente da República e titular do Poder Executivo que está no poder há 35 anos, é acusado pela oposição e até por alguns sectores do MPLA, de não ter apoiado a diversificação da economia, de ter pactuado com a corrupção e de ter imposto os seus amigos e correlegionários como parceiros a todos os estrangeiros que querem investir ou fazer negócios em Angola.
Poucos jornais denunciam esta situação. Um deles é o folha 8 que se publica em Luanda e que é independente do governo e tem uma linha editorial que é muito crítica do regime angolano, pelo que já foi ameaçado de ser suspenso por denunciar os seus excessos. Na sua edição de ontem, o jornal inclui uma entrevista com Marcelino Moco, jurista e doutorando na Universidade de Lisboa, ex-secretário geral do MPLA, ex-primeiro ministro e ex-secretário executivo da CPLP que, embora rejeite pertencer à oposição angolana, manifesta preocupação “quando se vive da distribuição de avultadas riquezas líquidas a familiares, a servidores pessoais e aos que se calam a algum preço, alto ou baixo” As críticas de Marcelino Moco vão mais longe, ao afirmar que “para proteger completamente os interesses pessoais do actual e longevo titular da Presidência da República, o Tribunal Constitucional (deve ler-se ‘tribunal presidencial eduardista’) concluiu a proclamação do actual Presidente da República em monarca absoluto, depois de ter proclamado o filho José Filomeno dos Santos seu príncipe herdeiro”. E Marcelino Moco faz uma promessa: “Se um dia eu voltar ao governo, que nunca será neste regime completamente amoral e atrapalhado com a ideia de acumulação de capital para parentes e servidores, saberei rodear-me de pessoal competente nessas áreas”.
É assim a vida em Angola, onde reina um monarca absoluto.

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