terça-feira, 31 de março de 2015

L’homme qui a réveillé la maison Peugeot

 
O diário económico francês Les Echos, destaca na primeira página da sua edição de hoje uma reportagem sobre o homem que “acordou a casa Peugeot” através de uma gestão a que chamou o “electrochoc Tavares”. Trata-se do engenheiro Carlos Tavares, presidente-executivo do grupo Peugeot-Citroën (PSA) desde há cerca de um ano. A reportagem recolheu diversos depoimentos que parecem convergir num ponto: como consequência das reestruturações efectuadas pelo seu CEO, o grupo PSA já atingiu os seus objectivos de cash flow com dois anos de avanço, enquanto as vendas melhoraram no mercado europeu e o grupo está a conquistar mercado na China.
Carlos Tavares é português, nasceu em Lisboa e costuma alimentar a sua paixão pelas corridas de automóveis pilotando um Peugeot RCZ, usando o nome de Carlos Antunes e um capacete com as cores da bandeira portuguesa. Admira a nossa história e diz: “A história deste pequeno país, capaz de tais descobertas marítimas, é fascinante”.
O seu lema de vida é o trabalho e todos os seus colaboradores reconhecem as suas capacidades técnicas e de liderança. Não se preocupa com a sua imagem pessoal e é um adepto da cultura e da avaliação de resultados. Por isso não perde tempo e as reuniões a que preside não excedem uma hora, as intervenções não atingem os 15 minutos e os power points não podem ter mais que cinco diapositivos. A leitura desta reportagem é estimulante, embora nos deixe muito inquietos por não termos gestores destes em Portugal.

domingo, 29 de março de 2015

O avião faz parte das nossas vidas

La Razon: edição de 25 de Março de 2015
Foi há cinco dias, exactamente na manhã do dia 24 de Março, que um Airbus A320 da companhia aérea Germanwings que voava de Barcelona para Dusseldorf, se despenhou nos Alpes franceses com 144 passageiros e 6 tripulantes.
O trágico acontecimento encheu os noticiários televisivos, ocupou as manchetes dos jornais e consternou o mundo, porque as suas circunstâncias também foram trágicas.
Porém, em pouco tempo, como resultado de uma rápida intervenção no terreno e de um competente trabalho de investigação, foi possível saber o que aconteceu ao voo 4U9525, concluir que se tratou de uma situação absolutamente excepcional  e de recolher ensinamentos para que situações destas não voltem a acontecer.
A confiança do público foi rapidamente restabelecida, pela ponderação das declarações das autoridades aeronáuticas, mas também pela solidariedade dos líderes dos países mais directamente envolvidos. No mundo em que vivemos, em que estamos cada vez mais confrontados com as mais diversas e inesperadas ameaças, o transporte aéreo e o avião fazem parte do modo de vida de muitos milhões de pessoas. Há que confiar no serviço prestado pelas companhias de aviação, mas estas não podem pensar apenas no seu desempenho económico e nos seus lucros. Não pode ser de outra maneira.

sábado, 28 de março de 2015

Honoris causa porquê? Alguém sabe?

Fonte: Kyoto University of Foreign Studies
Andava eu muito crítico quanto às constantes viagens de descarada promoção pessoal do nosso vice-primeiro ministro, quando me chegou a notícia de que o nosso primeiro Passos entrou em disputa com ele e se deslocara ao Japão levando consigo uma delegação com 26% do seu ministério, para além de secretários, assessores, ajudantes e os inevitáveis jornalistas para relatarem o sucesso da viagem, como se isso interessasse aos leitores ou aos telespectadores. O cidadão comum observa este corrupio de viagens e de despesas e fica indignado por lhe cobrarem tantos impostos, por lhe cortarem as pensões, por lhe prestarem cuidados de saúde insatisfatórios e por obrigarem tanta gente a emigrar. Nesta melancolia de vida que levamos e em que somos obrigados a viver, há tão poucas alegrias que qualquer coisinha positiva que nos chega de fora ajuda a descongelar a nossa auto-estima. E foi o que aconteceu esta semana quando vimos na televisão o nosso primeiro Passos a receber um doutoramento honoris causa pela Kyoto University of Foreign Studies. Tive que “meter a viola no saco” pois foi um momento de grande alegria ver um nosso concidadão, que se licenciou aos 37 anos numa universidade lisboeta menos reputada, ser reconhecido academicamente por uma universidade do Império do Sol Nascente. Nem Luis de Almeida, nem Luis Fróis, nem João Rodrigues, nem Wenceslau de Moraes, atingiram este patamar académico! Mas porquê?
Segundo se leu, esta atribuição distingue “o apoio dado por Portugal à CPLP” e aí começa o meu desapontamento. Afinal o nosso primeiro Passos não foi reconhecido pelos seus méritos, mas apenas pelo apoio que Portugal deu à CPLP, ficando nós sem saber se esse apoio tem a ver com a polémica admissão da Guiné Equatorial, em que o nosso país se comportou como um subalterno.
Porém, o desapontamento ainda foi maior quando verifiquei que a Kyoto University of Foreign Studies figura na 157ª posição (!) no ranking das universidades japonesas e, nessas circunstâncias, a distinção conferida é mesmo de importância menor. Será que o primeiro Passos merecia mais?

terça-feira, 24 de março de 2015

Os governantes passa culpas

O nosso processo educativo percorre um longo caminho que vai da casa paterna, passa por várias escolas e que depois se confronta com o mundo.
Neste caminho os jovens adquirem saberes e valores, aprendem a cultivar a verdade, a praticar a humildade e a assumir a responsabilidade, mas também a relacionar-se com os outros através da solidariedade e da amizade. Muitos desses jovens, quando entram na vida profissional são conduzidos para circunstâncias muito especiais de direcção ou de comando de outros homens, em que a tomada de decisão é muitas vezes um processo solitário, em que se acerta ou se erra, mas em que a responsabilidade é assumida por inteiro. É essa atitude que assegura a autoridade, a efectiva liderança e, consequentemente, a boa gestão.
Toda essa vivência faz com que assista estupefacto ao triste espectáculo que nos é oferecido por alguns governantes que, em vez de nos darem bons exemplos, se comportam como verdadeiros passa culpas, sem qualquer sentido de responsabilidade.
Tudo começou com o nosso primeiro Passos que depois de ter dito que tinha estudado tudo e que não haveria aumento de impostos, tratou de ignorar as suas promessas e veio dizer que a culpa era do governo anterior. Depois foi mais longe do que a troika e, uma vez mais, por culpa do governo anterior. Não tinha pago à Segurança Social, não sabia que tinha de pagar e não foi notificado, mas a culpa foi dos funcionários. O ministro Mota veio em auxílio do seu chefe a confirmar que a culpa foi dos funcionários.
Antes, a ministra Albuquerque não tinha cumprido o défice em 2014 e tratou de atirar a culpa para o Tribunal Constitucional, enquanto a ministra Cruz informou que o desastre do arranque do Citius foi culpa de dois funcionários que terão feito sabotagem informática. O secretário Núncio, aquele que o comentador Marcelo veio dizer que em autoridade política valia zero, negou a existência de uma lista de contribuintes VIP que, se existisse, só podia ser por culpa dos funcionários.
Aqui estão alguns casos que justificam a designação de governantes passa culpas. Na realidade, estes casos mostram como esta gente sacode a água do capote e não é capaz de assumir responsabilidades. A culpa é sempre dos outros. Nestas circunstâncias, Jorge Coelho e Miguel Macedo são dois exemplos recentes e raros de pessoas que sabem assumir responsabilidades.

segunda-feira, 23 de março de 2015

Angola evoca a batalha de Cuito Cuanavale

As autoridades angolanas assinalam hoje com grandes cerimónias o 27º aniversário da sua vitória sobre as forças do antigo regime sul-africano do apartheid em Cuito Canavale, na província do Cuando Cubango, naquela que é considerada a maior batalha que aconteceu na África ao sul do Sahara. Foi, também, o maior confronto da guerra civil angolana e o Jornal de Angola afirma hoje que "Cuito Cuanavale mudou a História". De facto, assim foi.
De um lado estavam as forças governamentais das FAPLA e os seus aliados cubanos e, do outro, as forças do regime do apartheid sul-africano e as tropas da UNITA. Essa batalha que se desenrolou no chamado Triângulo do Tumpo, culminou com a derrota das tropas sul-africanas e da UNITA, mas os angolanos de ambos os lados pagaram um elevado preço pois perderam milhares de combatentes, muitos deles enterrados no calor da guerra e cujos restos mortais ainda lá permanecem. Porém, com este resultado foi aberto o caminho que levou a grandes transformações políticas na África Austral, nomeadamente a libertação de Nelson Mandela, a independência da Namíbia e o fim do apartheid na África do Sul.
A batalha de Cuito Cuanavale é um dos maiores símbolos da independência de Angola,  pois traduziu-se numa expressiva vitória sobre os invasores sul-africanos, que eram considerados invencíveis. Desde há vários meses que os sul-africanos e os seus aliados da UNITA procuravam entrar em Angola e para isso mobilizaram importantes meios, incluindo vinte super-tanques “Oliphant”, de grande mobilidade e poder de artilharia. No dia 23 de Março de 1988, apesar das condições atmosféricas adversas, os sul-africanos iniciaram uma derradeira tentativa de entrar no Triângulo do Tumpo e avançaram. Porém, atolaram-se nas chanas inundadas, entraram em terrenos minados e a sua acção ficou limitada e à mercê da artilharia angolana. Um tanque “Oliphant” foi capturado, dois detonaram minas e outros foram atingidos. A meio da tarde desse dia houve melhoria do tempo e a aviação angolana entrou em acção com os seus Mig 23, tendo atacado as forças sul-africanas que retiraram. Dos 20 super-tanques “Oliphant” que trouxeram para Angola só 13 conseguiram regressar e com sérias avarias. No terreno, os sul-africanos deixaram muito material de guerra e, pelo menos, um avião Mirage abatido pelas forças angolanas. A partir de então, tudo passou a ser diferente, inclusive no reconhecimento internacional de Angola.
A dureza da batalha de Cuito Cuanavale expressa-se pelo facto de, até Janeiro de 2015, terem sido identificados 37 campos de minas no Triângulo do Tumpo, havendo milhares delas que foram identificadas e neutralizadas.

quarta-feira, 18 de março de 2015

De todos os mares só este me lava por dentro

O Pico no dia 17 de Março de 2015
Nesta época do ano, em que a Primavera se anuncia no hemisfério setentrional, tudo se renova no panorama que a natureza nos oferece, mas também no comportamento das pessoas. Aqui, nas ilhas açorianas do meio do Atlântico, o tempo agreste das invernias e dos temporais parece ter cedido o seu lugar aos dias solarengos que iluminam as paisagens verdejantes e o azul de um mar bonançoso e sereno. Aqui nas encostas da ilha do Pico e no recorte da sua orla costeira, tudo nos revela um novo ciclo de vida em terra e no mar. Assim, uma visita ocasional que encontra este ambiente é, naturalmente, bem sucedida e, como escreveu um poeta que se dedica às temáticas destas ilhas açorianas, “de todos os mares só este me lava por dentro”.
Porém, com os seus 2351 metros de altitude, a imponente montanha do Pico que é a terceira mais elevada de todo o Atlântico, permanece como sentinela desta e das outras ilhas vizinhas, como se fosse um farol ou uma sentinela vigilante. Coberto de neve, quando tudo em volta rejuvenesce, o Pico parece querer dizer-nos que o tempo primaveril ainda está para vir e que estes dias de Março são apenas um tempo de excepção ou um interlúdio a outros dias de temporal e de chuva atlântica que hão-de vir. 

terça-feira, 17 de março de 2015

O Brasil em protesto contra a corrupção

No passado domingo aconteceram grandes manifestações em dezenas de cidades brasileiras, nas quais participaram milhões de cidadãos, tendo as televisões de todo o mundo mostrado as imagens de um protesto de uma dimensão inesperada. Este tipo de manifestações acontecem habitualmente em contextos políticos e sociais de crise e de dificuldade económica, mas os milhares de pessoas que nelas participam e protestam, têm sempre motivações muito diversas, embora tenham um denominador comum que é o protesto ou a indignação contra qualquer coisa, que pode ser o governo e as suas políticas, ou a falta de emprego, ou a deficiência do serviço de saúde, ou o custo de vida, entre muitas outras motivações. No caso das históricas manifestações que aconteceram no Brasil as motivações dos manifestantes terão sido em primeiro lugar o protesto contra a corrupção, mas também o protesto contra a Presidente do Brasil e a exigência da sua destituição (impeachment), o protesto contra o Partido dos Trabalhadores (PT) e o protesto “contra os políticos”. Embora se estime que uma larga maioria dos manifestantes tivesse votado nas últimas eleições presidenciais de 2014 em Aécio Neves e no seu Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), a dimensão das manifestações revelou um enorme e geral desagrado com a situação política que se vive no Brasil e com alguns escândalos que minam a confiança das pessoas e desacreditam as instituições. A Presidente Dilma Rousseff reagiu e congratulou-se por ter visto centenas de milhares de cidadãos a manifestarem-se, pois isso era um sinal da liberdade dos brasileiros por que ela própria lutara e, relativamente à corrupção que corrói a sociedade brasileira, avisou que ela “é uma senhora idosa”.
Hoje o Correio Braziliense pergunta “que país é esse”, que assiste à prisão de altos quadros da Petrobras, que pede a destituição da Presidente, que enfrenta uma surpreendente crise económica e que parece ter deixado de acreditar nas suas potencialidades, nas suas energias criativas e no seu futuro.
Vista do outro lado do Atlântico, a situação brasileira é preocupante, pois é transversal à sociedade e tem contornos políticos, sociais e económicos. No entanto, trata-se de um ciclo menos favorável, que se sucede a um outro mais favorável, que os brasileiros saberão ultrapassar.

sábado, 14 de março de 2015

As eleições americanas já arrancaram

A escolha do Presidente dos Estados Unidos assenta num processo eleitoral estabilizado e previsível, em que os dois grandes partidos nacionais escolhem os seus candidatos através de eleições primárias. Acontecendo que, nos termos constitucionais, o actual Presidente Barack Obama é inelegível para um terceiro mandato presidencial, a escolha do seu sucessor começa a mobilizar alguns potenciais candidatos e os interesses dos grupos de pressão. Assim, tudo o que agora se passa na vida política americana já faz parte de um processo de pré-apresentação de candidatos, embora ainda faltem cerca de nove meses para o início das eleições primárias e as eleições presidenciais só se realizem no dia 8 de Novembro de 2016, isto é, daqui a cerca de 20 meses. Quer os Democratas, quer os Republicanos, já começaram a trabalhar. Há muitas dezenas de nomes presidenciáveis em ambos os partidos e muitos deles já começaram a angariar fundos, a testar a sua popularidade e a aliciar doadores e outros apoios, porque se trata de uma corrida longa e muito dispendiosa. É neste contexto eleitoralista que a revista TIME dedica a primeira página da sua nova edição a Hillary Clinton, a ex-senadora, ex-primeira dama e ex-Secretária de Estado, que é apontada como a mais provável candidata democrata às eleições de 2016. Segundo revelam as sondagens, Hillary Clinton tem a preferência de 65% dos eleitores do Partido Democrata, tem o apoio da máquina do partido e de muitos comités locais que já trabalham para a sua eleição e, além disso, beneficia da grande notoriedade e popularidade nacional de que goza o ex-presidente Bill Clinton, o seu marido.
Seria a primeira mulher a presidir à mais rica nação do mundo. Porém, não são "favas contadas" e ainda falta muito tempo, como se vê na capa da TIME, em que por casualidade ou por maquiavélica estratégia editorial, a revista colocou a fotografia de Hillary Clinton sobre o M do título, de que resultam uns cornichos de diabo, o que pode ter múltiplas interpretações, sobretudo numa revista que alinha sempre ao lado dos conservadores e do Partido Republicano.

quarta-feira, 11 de março de 2015

Os interesses tomaram conta dos jornais

A comunicação foi sempre o suporte da vida em sociedade ao permitir a circulação das ideias e das notícias, mas esse processo tem sido sempre evolutivo. Desde a comunicação interpessoal de base oral das sociedades primitivas foi percorrido um longo percurso que, em meados do século XX, chegou à comunicação de massas em que a informação se expande instantaneamente e à escala global. Os meios de comunicação de massas adaptaram-se às realidades e definiram os seus territórios, isto é, “a Rádio anuncia, a Televisão mostra e a Imprensa explica e comenta”. Porém, nos últimos tempos o mundo mudou, sobretudo devido ao aparecimento da internet, dos jornais digitais e das redes sociais. Os meios de comunicação tradicionais entraram em situação de dificuldade económica, sem leitores, sem anunciantes e sem jornalistas qualificados.
Foi então que, em maior ou menor grau, os interesses dos grupos económicos e dos agentes políticos tomaram conta dos meios de comunicação, que passaram a prestar-se a toda a espécie de manipulação dos ouvintes, dos telespectadores e dos leitores, que também são eleitores e consumidores. Os escândalos e o sensacionalismo passaram a encher os noticiários televisivos e as primeiras páginas dos jornais, moldando a percepção que os leitores ou os telespectadores têm da realidade, dizendo ou omitindo o que querem e manipulando a verdade em nome dos seus interesses. As verdadeiras notícias tendem a misturar-se com os discursos ideológicos, as mensagens publicitárias e a acção política, sobretudo o ataque aos adversários políticos. São os chamados pasquins mas, para nosso sossego, ainda havia os jornais de referência...
Estas considerações resultam do facto dos principais jornais portugueses terem aparecido hoje nas bancas com um visual diferente do habitual, que quase confundia os leitores. Todos eles adoptaram o vermelho nas suas primeiras páginas e utilizaram a frase publicitária “A Fibra de Última Geração Vodafone está a mudar o país”, como se fosse uma notícia. Chamando a atenção e suscitando o interesse.
Significa que, por motivos de ordem económica os jornais se prestaram a esse serviço publicitário à marca Vodafone, quase se confundindo com os folhetos publicitários do Pingo Doce, do Continente ou do Lidl. É caso para perguntar a que outros serviços se prestam e a quem os prestam.

terça-feira, 10 de março de 2015

Impulse II: o sonho e a aventura

Pode parecer um sonho ou apenas uma excentricidade, mas a ideia de construir um avião para dar a volta ao mundo sem carburante fóssil e que usa apenas a energia solar, embora pretenda sensibilizar os dirigentes políticos mundiais para a necessidade de se apostar mais nas energias renováveis em detrimento das energias fósseis, é também um ambicioso desafio tecnológico que poderá estar a abrir caminho para uma nova era e uma nova economia dos transportes.
O avião de propulsão solar Impulse II pretende dar a volta ao mundo e percorrer 35 mil quilómetros a uma velocidade média entre 50 e 100 km por hora, numa viagem que constará de 12 etapas e demorará cinco meses. O avião tem uma silhueta muito peculiar, com umas enormes asas de 72 metros de envergadura, maiores do que as asas de um Boeing 747 Jumbo que medem 68,5 metros, estando coberto por uma fina capa de carbono que aloja 17.248 células solares, que lhe asseguram autonomia durante cinco dias e cinco noites. A sua velocidade máxima será de 90 km por hora ao nível do mar e de 140 km por hora à altitude máxima de 8.500 metros.
O sonho e a aventura começaram ontem e o jornal Le Télégramme que se publica em Lorient, foi um dos periódicos que destacou esse acontecimento. Tripulado pelos pilotos suíços Bertrand Piccard e André Borschberg, o Impulse II partiu do aeroporto de Al Batin no Abu Dhabi e aterrou em Mascate, capital do sultanato de Oman, cerca de 12 horas depois, terminando com sucesso a primeira etapa da sua volta ao mundo.
Hoje, o avião partiu para a sua segunda etapa com destino a Ahmedabad, a capital do estado indiano do Guzerate, onde chegará depois de 16 horas de voo. Depois voará para Myanmar e para a China, seguindo-se a maior de todas as etapas entre Nanking e Hawai, que se estima demore cinco dias. Os progressos da Humanidade começam sempre com estes sonhos, estas aventuras ou estas extravagâncias. Chamem-lhe o que quiserem mas o voo do Impulse II parece um sonho e, como disse António Gedeão, “o sonho comanda a vida”.

segunda-feira, 9 de março de 2015

Um investimento realmente exemplar

Foi hoje anunciado que a Fábrica de Cerâmica de Valadares retomou a sua produção, depois ter estado encerrada durante mais de dois anos em consequência da declaração da sua insolvência e de ter entrado em processo de liquidação. Nessa altura, em Setembro de 2012, a empresa de Vila Nova de Gaia acumulava dívidas de 96 milhões de euros e cerca de 300 trabalhadores perderam o seu emprego. Nos termos da lei foi então designado um administrador de insolvência para resolver o processo de falência da empresa, onde convergiam muitas variáveis, incluindo os interesses e os direitos dos bancos credores, das Finanças, da Segurança Social, dos antigos trabalhadores da empresa cujos créditos ascendiam a mais de dez milhões de euros e, naturalmente, de muitos fornecedores. Estes processos são sempre demorados e complexos, com ou sem intervenções judiciais e com ou sem acordos de credores. Porém, em Setembro de 2014 surgiu uma solução para a Cerâmica de Valadares, resultante do bom senso e da inteligência de muita gente, especialmente do administrador de insolvência, do presidente da autarquia gaiense e dos credores: a empresa continua na posse dos credores que arrendam as suas amplas instalações, para já a uma nova sociedade denominada ARCH, constituída por ex-quadros da antiga empresa e novos investidores, mas também a outros .interessados como sucede com a têxtil italiana La Perla.
A ARCH iniciou hoje a sua laboração para relançar a marca Valadares, tendo contratado 45 antigos trabalhadores que agora regressaram à fábrica e espera, nos próximos meses, que regressem mais de uma centena de ex-trabalhadores. Este caso é exemplar do ponto de vista económico e social e é um verdadeiro case study, porque a solução teve o acordo de todas as partes envolvidas, recupera uma grande empresa quase centenária, cria emprego, contribui para as nossas exportações e incorpora tecnologia e recursos nacionais. Isto é que é um investimento exemplar, sem portas e sem vistos gold!

domingo, 8 de março de 2015

Nélson Évora: uma vitória que se saúda

É um acontecimento pouco vulgar quando um desportista português conquista títulos europeus ou mundiais, sobretudo nas modalidades de primeiro plano. Assim aconteceu ontem com Nélson Évora ao vencer a prova do triplo salto nos Campeonatos Europeus de Atletismo em pista coberta, que se disputaram em Praga, na República Checa. Ao contrário do que fizeram os outros jornais desportivos, o jornal A Bola destacou a vitória de Nélson Évora que “voltou a voar”, o que não é habitual num jornalismo que vive obcecado com o futebol e só com o futebol. Tal como Nélson Évora, também o jornal A Bola está de parabéns.
Nélson Évora é um dos nossos maiores atletas de todos os tempos, tendo sido campeão do mundo do triplo salto em 2007 e medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Pequim em 2008, mas veio a ser afectado por lesões de alguma gravidade que o afastaram das competições durante muito tempo. Muitos julgaram-no perdido para o atletismo, mas o salto de 17,21 metros e a vitória em Praga vieram mostrar que a persistência do atleta e do seu treinador produziu resultados. Quando o seu nome já parecia estar arredado das pistas, esta vitória veio recolocá-lo no grupo de atletas de quem se esperam bons resultados nas Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016.

Às vezes era melhor que estivesse calado

Nos últimos dias o problema das relações do primeiro-ministro com a Segurança Social e com o Fisco tem sido a questão dominante da vida política portuguesa. Aquele que tem conduzido a política de austeridade, que afirmou querer ir mais longe que a troika, que afirmou que não cortaria salários nem pensões e que atacou aqueles que não pagavam impostos, afinal não declarou, ou não pagou, ou não sabia que tinha que pagar, ou não tinha dinheiro para pagar, ou simplesmente distraiu-se e, durante cinco anos, não pagou à Segurança Social. Porém, teve a ousadia de ter comandado a perseguição fiscal aos portugueses e o confisco cego dos seus bens. Apenas há uma ano defendia que “há muitos que deviam pagar os seus impostos e não pagam […] porque não declaram as suas actividades”, mas afinal deu este mau exemplo cívico e político. Perante esta trapalhada, muitas vozes se têm levantado, inclusive no seu próprio partido, porque à mulher de César não basta ser séria: é preciso que pareça. E como não parece e os rendimentos auferidos e a vida contributiva do primeiro-ministro estão por esclarecer, o coro de críticas generalizou-se e até surgiram abaixo-assinados a exigir a sua demissão.
No seu papel de salva-vidas do governo, veio então o supremo magistrado da nação que deveria assumir uma posição de equidistância em relação a este problema, fazer a triste e lamentável figura de declarar que “o primeiro-ministro lhe deu as explicações que entendia dever dar” e que entende que “deve deixar aos partidos as suas controvérsias politico-partidárias, que já cheiram a campanha eleitoral”. Então ele acha que a evasão fiscal e contributiva é uma questão de luta político-partidária? Então ele acha que um primeiro-ministro não deve dar todas as explicações sobre este caso? Ele podia estar calado, mas gosta de falar para mostrar que existe, apesar de já ninguém lhe dar ouvidos. A minha avó, se ainda cá estivesse, diria para que eu aguentasse pois já falta pouco para ele se ir embora. Até o insuspeito comentador LMM reagiu, perante esta pobreza de espírito e esta pequenez intelectual.

sexta-feira, 6 de março de 2015

O biscate e o chico-espertismo lusitanos

O caso da dívida à Segurança Social do cidadão PPC complicou-se e aquilo que parecia ser um assunto marginal, está a tornar-se num assunto central, porque revela que em Portugal há uma tribo de privilegiados e que existem dois pesos e duas medidas nas relações do Estado com os cidadãos, isto é, que há uma fúria perseguidora contra a generalidade dos contribuintes e em especial contra os pensionistas e os funcionários públicos e, ao mesmo tempo, vive-se uma lamentável permissividade a favorecer uma pequena minoria. Neste grupo parecem encontrar-se os chamados VIP do regime, isto é, os profissionais da política que nunca fizeram outra coisa na vida que não fosse viver à sombra dos privilégios que a política lhes oferece. Não é gente de um só partido, mas gente que milita nos vários partidos que têm ocupado o poder, que confunde política com negócios e que age como facilitadora. Há muita gente dessa por aí, que tem vivido sempre na orla da política e que sobrevive em esquemas do verdadeiro biscate e de chico-espertismo, quer os seus amigos estejam no governo, quer estejam na oposição. É gente que em geral é bem falante e que vive desafogadamente, mas os seus currículos são confrangedores, apesar de alguns até terem licenciaturas, por vezes sem que se saiba onde e em que condições foram obtidas. Alguns são melhores ou mais afortunados que outros e conseguem subir na vida, mas o vírus do biscate e de chico-espertismo não lhes sai do corpo. Vivem deslumbrados com um poder com que nunca tinham sonhado. Viajam muito. Deslocam-se em bons carros. Usam gravatas caras. Passam por nós nas auto-estradas a alta velocidade, em absoluta impunidade mas, sempre, a bem da nação. Fazem-se acompanhar de seguranças que os protegem do povo. Dominam territórios de interesses onde se acantonam assessores, consultores, administradores e facilitadores que se protegem mutuamente. Recebem facilidades e avenças, cartões de crédito e senhas de presença, mas nem sempre prestam as contas que exigem aos outros. Há muitos por aí e não são apenas os Relvas, os Varas e os Loureiros.

quarta-feira, 4 de março de 2015

O drama humanitário da imigração ilegal

Embora o drama humanitário da imigração ilegal que atravessa o Mediterrâneo venha sendo muito divulgado pelos meios de comunicação, poucas fotografias serão tão expressivas como aquela que é hoje publicada na edição do diário Le Figaro, que ilustra bem o que tem sido essa aventura das pessoas que procuram um futuro melhor na Europa. De entre as várias rotas que conduzem ao espaço europeu, a mais utilizada está a ser a Rota do Mediterrâneo Central, cuja porta de entrada é o sul da Itália e que, só no passado ano de 2014, terá sido utilizada por mais de 200 mil imigrantes ilegais que tentaram chegar à Europa em pequenas embarcações, sem quaisquer condições de segurança e à mercê de traficantes sem escrúpulos, vindo a traduzir-se em pelo menos 3419 mortes.
Ao longo do milenar processo histórico que moldou a nossa civilização, o Mediterrâneo desempenhou sempre um papel determinante, tendo sido uma área privilegiada de contactos culturais e relações comerciais, mas também de confrontos de natureza diversa. Nas suas margens floresceram muitas das antigas civilizações, nomeadamente a egípcia, a fenícia, a grega e a cartaginesa, mas sobretudo a civilização romana que lhe chamou o mare nostrum. Até aos nossos dias, o Mediterrâneo continuou a ser um ponto de confluência de muitos interesses e um quase centro do mundo, mas nos últimos anos é a sua utilização pelos fluxos migratórios ilegais que mais tem chamado a atenção. Esse fluxo está associado às recentes perturbações políticas da margem sul e oriental do Mediterrâneo e às suas regiões vizinhas, tendo-se acentuado depois das “primaveras árabes” e, mais recentemente, com a grave situação que se vive na Síria e na Líbia. Por razões humanitárias a Itália empenhou-se na operação Mare Nostrum que desde Outubro de 2013 salvou mais de 100 mil pessoas, mas em Novembro de 2014 iniciou-se a operação Tritão, vocacionada para o policiamento, com financiamento europeu e coordenação do Frontex, a agência europeia de gestão da cooperação operacional nas fronteiras comunitárias, na qual estão envolvidos diversos países, entre os quais Portugal. De qualquer forma, esta imigração está  a ser um drama humanitário que continua sem respostas apropriadas.

terça-feira, 3 de março de 2015

Quem nos governa tem que ser exemplar

Na vida política portuguesa acontecem trapalhadas com demasiada frequência e, nesse aspecto, não há grandes diferenças entre as esquerdas e as direitas que têm passado pelo poder porque, como dizia um certo deputado, é tudo farinha do mesmo saco. Apesar disso, há quem pretenda mostrar uma imagem de seriedade que afinal não tem, como sucede com o caso revelado há três dias pelo jornal Público a respeito do nosso primeiro-ministro e pelos desenvolvimentos que o caso teve.
Noticiou o jornal que “Passos esteve 5 anos sem pagar contribuições à Segurança Social”. Esse facto é muito grave porque não acontece com um cidadão comum, mas com alguém que é primeiro-ministro e que devia dar o exemplo na direcção de um Estado insaciável a penhorar salários, a cortar pensões e a perseguir contribuintes. De resto, ainda há bem pouco tempo, também houve trapalhada no caso da sua alegada violação do estatuto de deputado em regime de exclusividade e da sua eventual fuga ao fisco, a mostrar que o primeiro Passos não tem ou não teve uma boa relação com as obrigações fiscais. Apesar da gravidade deste comportamento, a sua corte veio de imediato desculpabilizar a falta, com o seu ajudante Mota Soares à cabeça a dizer que a culpa era dos serviços administrativos que não tinham notificado o faltoso. Depois, veio a malta do costume, isto é, os Montenegros, os Melos, os Marcos e os Telmos, mais os Abreusamorins, os Piresdelima e os Lealcoelhos a desculparem o seu chefe e a mostrarem-se confortados com as suas explicações. Porém, o “caso Passos”, como hoje lhe chama o Diário Económico, não está nem pode estar arrumado.
Entretanto, o faltoso veio dizer que “não tinha consciência que essa obrigação era devida”, o que significa que enquanto deputado desconhecia uma lei de 1982.
Por fim, e apesar de não ter sido contabilizada toda a dívida, o que mostra que houve um tratamento especial para este caso, o faltoso foi a correr pagar quando o escândalo rebentou. Embora a dívida já tivesse prescrito, o professor Marcelo perguntou “como é que se paga voluntariamente uma dívida prescrita”. Tudo isto é, realmente, demasiado mau e um caso de pouca vergonha. Uma trapalhada. Mais uma...

domingo, 1 de março de 2015

Rio de Janeiro celebra 450 anos

Como hoje salienta O Globo e de uma forma geral a imprensa brasileira, a cidade do Rio de Janeiro celebra hoje o 450º aniversário da sua fundação, mas a sua história é tão grandiosa e tão rica que não cabe num pequeno texto evocativo como este. O nome do local onde foi fundada a cidade derivou do facto de no dia 1 de Janeiro de 1502 os navegadores portugueses terem avistado a baía de Guanabara e terem pensado que se tratava da foz de um grande rio a que chamaram Rio de Janeiro. Aquela baía veio a ser ambicionada pelos franceses, pelo que o capitão-mor português Estácio de Sá desembarcou no dia 1 de Março de 1565 num istmo entre o Morro Cara de Cão e o Pão de Açucar, na entrada ocidental da Baía da Guanabara, ali erguendo algumas palhotas e uma paliçada de protecção, aproximadamente no local onde hoje se situa a Fortaleza de São João. Assim nasceu a povoação de São Sebastião do Rio de Janeiro, em homenagem ao Rei de Portugal D. Sebastião, tendo sido a partir dela que foram afastadas as pretensões territoriais estrangeiras, sobretudo francesas.
Porém, o crescimento da povoação foi lento, pois era no Nordeste do Brasil que se concentrava o interesse português. Com a invasão holandesa, a produção de açucar deslocou-se para sul e a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro tornou-se a cidade mais populosa do Brasil e o centro da expansão colonial portuguesa. Seguiu-se no século XVIII a descoberta e exploração das jazidas de ouro em Minas Gerais o que deu mais importância à cidade. Em 1763 e por iniciativa do Marquês de Pombal, o Primeiro-Ministro de Portugal, a cidade tornou-se a capital da colónia do Brasil, que foi transferida de Salvador para o Rio de Janeiro. Em 1808 acolheu a Família Real Portuguesa e daí resultou um surto de progresso e de modernidade sem paralelo na América do Sul. Entre 1808 e 1815 o Rio de Janeiro foi a capital do Reino Unido de Portugal e dos Algarves e de 1815 a 1821 foi a capital do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Após a independência brasileira em 1822, a cidade continuou sendo a capital do país. Foi aí que até 1960 viveu e faleceu o meu avô paterno. Nesse mesmo ano a capital federal foi transferida para Brasília e o Rio de Janeiro tornou-se a capital do Estado da Guanabara. Hoje celebra 450 anos e em 2016 vai acolher os Jogos Olímpicos.