quinta-feira, 30 de julho de 2015

A morte do leão que indignou o mundo

A imprensa internacional, sobretudo nos Estados Unidos e no Reino Unido, tem divulgado o enorme escândalo que foi a notícia da morte do leão Cecil, que vivia no Parque Nacional de Hwange e era o mais famoso leão do Zimbabué, o qual foi abatido por um caçador. Esse caçador foi identificado como Walter Palmer, um dentista americano de 50 anos de idade, residente em Mineápolis, no estado do Minnesota, que tem como hobby a caça de leões, ursos, morsas, rinocerontes ou renas, entre outros animais selvagens, utilizando o arco e a flecha como arma, tendo também o hábito de divulgar na internet as fotografias dos seus troféus de caça. Assim se soube deste caso, a que o diário nova-iorquino Daily News se referiu como um “assassinio cobarde” que despoletou a “ira do mundo” e que tornou Walter Palmer “o mais odiado”.
Desta vez Palmer viajou para o Zimbabué para caçar no Parque Nacional de Hwange. Uma noite avistou o leão Cecil na área do parque e atingiu-o com uma flecha, mas apenas o feriu ligeiramente. Como se encontrava dentro do parque natural, ele e os seus dois guias-caçadores, ataram um animal morto ao jipe em que se deslocavam e arrastaram-no durante cerca de meio quilómetro. O objetivo era untar o terreno com o cheiro do animal de modo a atrair o leão. A armadilha resultou e, cerca de 40 horas depois, Cecil apareceu. Foi morto, cortaram-lhe a cabeça e tiraram-lhe a pele. Palmer recolhera mais um troféu e fez-se fotografar com ele. O  escândalo rebentou. Palmer disse que tinha confiado nos seus dois guias locais para tratarem da legalidade da caçada, que não sabia que aquele leão tinha nome e que, assim, não tinha violado a lei do Zimbabué.
Este caso não é invugar. A caça tem muitos adeptos e, por todo o mundo, existem grandes fazendas ou coutadas onde os animais nascem e crescem para serem abatidos por caçadores que, para seu gozo, pagam 14 mil dólares para abater um búfalo ou 50 mil dólares para abater um leão, que parece ter sido o montante que Walter Palmer pagou para esse seu destemido e corajoso acto de matar um leão com uma flecha, embora com dois guias-caçadores profissionais ao seu lado para prevenir qualquer eventualidade... Eu critico fortemente estes inimigos dos animais, mas também critico os amigos dos animais que são responsáveis pelo atentado à saúde pública urbana que é a inundação de dejectos caninos na via pública.

quarta-feira, 29 de julho de 2015

A cidade de Ceuta e a memória lusitana

A edição de ontem de El Pueblo de Ceuta está ilustrada com uma fotografia de um político local em que se destaca o brasão português do século XV, que faz parte integrante da bandeira da cidade autónoma de Ceuta.
Essa imagem é um bom pretexto para aqui evocarmos o dia 28 de Julho de 1415, data em que o rei D. João I anunciou o destino, até então era secreto, das mais de duzentas embarcações com cerca de 20 mil cavaleiros e soldados que tinham saido de Lisboa e que estavam fundeadas na baía de Lagos. Segundo a Crónica da Tomada de Ceuta de Gomes Eanes de Zurara, no dia anterior “foi a frota toda juntamente ancorar na baía de Lagos” e, nesse dia 28 de Julho, “saiu el-Rei em terra e teve logo ali seu conselho, no qual foi determinado que se divulgasse, claramente, toda a verdadeira informação daquele movimento, porém foi mandado ao Mestre Frei João Xira que pregasse, porque todo o povo pudesse verdadeiramente saber qual era a intenção, por que se el-Rei movera a fazer aquele ajuntamento”.
Menos de um mês depois, na manhã de 22 de Agosto de 1415, estava concretizada a tomada de Ceuta e foi então que “João Vaz de Almada foi pôr a bandeira da cidade de Lisboa sobre as torres do castelo”. Significa que, simbolicamente, a bandeira de Lisboa gironada de oito peças de negro e branco e o brasão de armas português do século XV, estão desde há quase 600 anos na Sempre Nobre, Leal e Fidelíssima Cidade de Ceuta.
Não deixa de ser uma curiosidade interessante da expansão portuguesa. Apenas isso, porque depois de 1640 os ceitis não reconheceram D. João IV e escolheram a soberania espanhola.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Estamos quase aliviados dele!

Ontem à noite, quando navegava pela internet para melhor me informar sobre o estado da nação, deparei-me com um blogue muito interessante onde, sob o título “Estamos quase aliviados dele”, nos era apresentado um contador automático que indicava o número de dias, horas, minutos e segundos que faltavam para ficarmos “livres de Cavaco”. Achei essa informação muito interessante e oportuna. Aníbal Cavaco Silva, um economista natural de Boliqueime, venceu as eleições presidenciais que se realizaram no dia 23 de Janeiro de 2011. Estavam inscritos 9 milhões e meio de eleitores, mas houve 53,56% que se abstiveram. O candidato vencedor obteve 53,1% dos votos expressos, embora os 2 209 227 votos que recebeu tenham correspondido apenas a 23% dos eleitores inscritos. Para uma reeleição, foi uma vitória pouco expressiva. Pouco tempo depois realizaram-se eleições legislativas e, pela primeira vez na nossa história democrática, concretizou-se o sonho de Sá Carneiro: uma Maioria, um Governo, um Presidente. O resultado foi o unanimismo e isso foi muito mau.
Era um tempo difícil, com o país humilhado perante a troika e sujeito a um duro programa de assistência económica e financeira, com um governo a ir mais longe do que a própria troika. Os portugueses pagaram um preço bem elevado. Aumentaram-lhes os impostos. Cortaram-lhes os salários e as pensões. Mudaram-lhes as leis laborais para facilitar os despedimentos. Dificultaram-lhes o acesso à saúde, à educação e à justiça. A mentira e a manipulação estatística tornaram-se prática corrente de uma governação baseada na propaganda e na mentira. Desemprego. Emigração. Falências. Despejos. Pobreza. O desespero tomou conta de muitos portugueses.
Nesse quadro, era necessário que em Belém estivesse um provedor dos cidadãos ou um árbitro das disputas político-partidárias, mas isso não aconteceu. Aquele que um dia se intitulou “o homem do leme”, acomodou-se às suas vaidades e mordomias, tornando-se um delegado subalterno do governo. Viajou pelo mundo com alargadas comitivas como se o país fosse rico e rodeou-se de pelotões de assessores. Seguiu à risca a fórmula “uma Maioria, um Governo, um Presidente“, não teve vontade própria e adaptou-se a uma agenda ideológica imposta pelas circunstâncias. Esqueceu-se que devia ser “o presidente de todos os portugueses” e não ser apenas o presidente de uma maioria política e não sociológica. O seu compromisso para defender a soberania e a independência nacional foi ultrapassado por um seguidismo por vezes bajulador e contabilístico. Nunca a popularidade presidencial foi tão baixa.
Eu nunca esqueci aquela pobreza cultural de não saber quantos cantos têm Os Lusíadas, nem o vazio cultural dos seus improvisos perante as câmaras da televisão. As suas declarações públicas são muitas vezes despropositadas e algumas vezes são mesmo lamentáveis, como nos casos do BES, da crise grega ou da privatização da TAP. Este homem foi o nosso “azar dos Távoras”, como disse Carlos do Carmo. Alguém sugeriu recentemente que “ajudemos Cavaco a acabar o seu mandato com dignidade”. Não sei se ainda é possível. O seu mandato termina no dia 23 de Janeiro de 2016. Faltam pouco menos de 180 dias. Então, ficaremos aliviados desta pesadelo. Já não regressará a Boliqueime. Os seus amigos esperam-no na Aldeia da Coelha.

domingo, 26 de julho de 2015

Nora Tyson, uma almirante bem poderosa

Na passada sexta-feira em San Diego, a bordo do USS Ronald Reagan, a Vice-Almirante Nora Tyson assumiu o cargo de comandante da 3ª Esquadra Americana, que agrega as forças navais americanas do Pacífico Ocidental desde a costa oeste dos Estados Unidos até à linha internacional de mudança de data. O jornal The San Diego Union-Tribune salientou esta “historic change for Navy” e referiu que se trata da primeira mulher a comandar uma Naval Fleet.
Nora Tyson é natural de Memphis, Tennessee, alistou-se na Marinha em 1979 e foi recentemente promovida aa posto de Vice-Almirante. No seu currículo naval constam muitas comissões de carácter operacional, com destaque para o comando do USS Bataan (LDH-5), um Landing Helicopter Dock ou navio de assalto anfíbio da classe Wasp, mas também a participação em operações no golfo Pérsico e o comando de forças navais.
A Marinha dos Estados Unidos tem ao seu serviço cerca de 45 mil mulheres que representam cerca de 16% do seu efectivo total, das quais cerca de 8 mil são oficiais. Nessas circunstâncias é normal que uma mulher atinja tão elevado cargo na estrutura operacional da Marinha Americana. A US Third Fleet que a Vice-Admiral Nora Tyson agora comanda é responsável por uma área de grande importância estratégica para os Estados Unidos, cobrindo a área do norte e do ocidente do oceano Pacífico, incluindo o Alaska, o estreito de Bering, as Aleútas e o sector do Ártico. É uma das seis esquadras permanentes americanas e o seu dispositivo dispõe de 4 porta-aviões (USS Nimitz, USS Carl Vinson, USS Ronald Reagan e USS John C. Stennis), mas também alguns cruzadores, muitas fragatas, submarinos, aviões, helicópteros e muitos soldados. É caso para perguntar: quem é a mulher mais poderosa do planeta?

Tour de France 2015: espectáculo único

A 102ª edição da Volta à França em bicicleta termina hoje em Paris depois de terem sido percorridos 3.360 quilómetros por estradas holandesas, belgas e francesas. Durante 22 dias, um pelotão de 198 ciclistas repartidos por 22 equipas proporcionou um espectáculo desportivo de alto nível e de grande adesão popular. Através da televisão tivemos a possibilidade de acompanhar a prova com transmissões de alta qualidade técnica devidamente comentadas, que nos permitiram “estar” realmente dentro do pelotão, acompanhando os ciclistas, as suas lutas e as suas fraquezas. Essas reportagens também permitiram acompanhar o inigualável entusiasmo de milhões de franceses pelo Tour de France que, nas bermas das estradas ou no alto das montanhas dos Pirinéus e dos Alpes, aplaudiram os seus ídolos, mas essas imagens também permitiram apreciar as paisagens deslumbrantes e um notável património histórico e cultural disseminado por todo o território francês. Provavelmente, nenhum outro evento desportivo como o Tour de France contribui tanto para a promoção de um país, através da beleza das imagens que transmite para todo o mundo durante muitas dezenas de horas. Esta 102ª edição, que hoje termina, caracterizou-se pelo seu percurso de grande dificuldade, com muitas etapas de alta montanha e muitas quedas. Não foi apenas uma prova desportiva, pois foi um espectáculo único. O ciclista português Rui Costa foi, para nosso desapontamento, uma das vítimas dessas quedas, enquanto os verdadeiros campeões se impuseram na subida das altas montanhas. Para a história vão ficar sobretudo os nomes dos espanhóis Contador e Valverde, do italiano Nibali e do colombiano Quintana mas, principalmente, o inglês Christopher Froome que repetirá hoje em Paris a sua vitória de 2013. E hoje em Paris, haverá três portugueses entre os 160 ciclistas que vão terminar o Tour.

sábado, 25 de julho de 2015

A intervenção turca no conflito sírio

Na complexa situação que se vive na Síria, resultante de uma desastrada intervenção ocidental que decidiu apoiar todas as forças que lutam contra o presidente Bashar el Assad, aconteceram nos últimos dias alguns acontecimentos relevantes. A Turquia que até agora mantivera uma atitude de hostilidade para com o regime sírio e de tolerância ou mesmo apoio ao Estado Islâmico (ISIS ou Daesh), parece ter alterado a sua posição.
No início da semana um homem-bomba fez-se explodir no meio de uma manifestação de estudantes curdos em Suruç, próximo da fronteira turca, matando 32 pessoas. As autoridades turcas de imediato acusaram o Daesh. Dias depois, um grupo de elementos do Daesh atacou um posto fronteiriço turco, provocando a morte de um oficial e alguns feridos. O governo turco reagiu a estas provocações jihadistas e decidiu impor a sua autoridade na fronteira, onde vinha “fechando os olhos” às actividades do grupo extremista no seu território. O seu envolvimento no conflito, depois de cinco anos de não intervenção directa, é a resposta aos receios de que o jihadismo do Daesh entre pelos seus 900 quilómetros de fronteira. Assim, o governo turco tomou a decisão de autorizar a coligação liderada pelos Estados Unidos a utilizar a base aérea de Incirlik no sul do país e, ao mesmo tempo, as forças armadas turcas atacaram o Daesh. Três aviões de combate F–16 turcos atacaram as suas posições em Kilis, junto à fronteira com a Síria, tendo sido anunciada a morte de 35 militantes jihadistas. Foi a primeira operação do género lançada pelo governo de Ancara e a imprensa turca, caso do diário Milliyet, deu-lhe grande destaque a mostrar que a Turquia começa a estar preocupada com o que se passa junto das suas fronteiras e passou a ter um papel mais activo nesta guerra.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

A unidade da Espanha e a ambição catalã

No próximo dia 27 de Setembro vão realizar-se eleições regionais antecipadas na Catalunha e a grande novidade é a apresentação de uma lista unitária independentista, conforme revela El Periódico de Barcelona. Esta lista agrega os dois principais partidos nacionalistas catalães, isto é, a Convergência e União (CiU) que está no poder e que é presidida por Artur Mas e a Esquerda Republicana Catalã (ERC) dirigida por Oriol Junqueras, mas integra também outros pequenos partidos.
Estas forças apresentar-se-ão ao eleitorado catalão sob o lema “Junts pel Si” e, de facto, pretendem transformar as eleições regionais num plebiscito independentista. O acordo celebrado junta pela primeira vez as forças políticas independentistas catalãs e visa proclamar a independência da Catalunha, já incluindo um pacote de medidas calendarizadas que se destinam a preparar a independência catalã num período de entre seis a oito meses depois das eleições. Este anúncio deixou a Espanha inquieta.
Dois dias depois, a recém-eleita presidente do Município de Barcelona Ada Colau, militante do Podemos mas que não é assumidamente independentista, decidiu retirar o busto do Rei João Carlos da sala de plenários municipais, porque a lei apenas obriga à presença de um busto ou fotografia do rei actual e não do rei anterior, o que foi considerado um acto inamistoso para com a Casa Real e originou uma "guerra" municipal. No dia seguinte, o rei Filipe VI visitou Barcelona para presidir à entrega de diplomas a 35 novos juízes e, perante as autoridades catalãs, afirmou que o respeito pela lei não pode ser uma formalidade nem uma alternativa, o que foi entendido como um aviso aos que actuam contra a unidade da Espanha. Estes acontecimentos mostram que há uma grande preocupação em Espanha pelo que possa acontecer na Catalunha nos próximos tempos.

terça-feira, 21 de julho de 2015

Uma nova era para 11 milhões de cubanos

Depois de 54 anos de total ausência de relações, de muita tensão e de algumas provocações, as diplomacias americana e cubana conseguiram chegar a uma base de entendimento que teve ontem o seu momento mais simbólico em Washington, quando foi hasteada a bandeira cubana na nova Embaixada de Cuba nos Estados Unidos. Esse acto foi protagonizado perante mais de cinco centenas de convidados pelo ministro Bruno Parrilla, o primeiro governante cubano a entrar nos Estados Unidos em mais de 50 anos.
A história de Cuba é demasiado rica de grandes acontecimentos, neles se incluindo a sua luta pela independência contra o poder colonial espanhol que culminou em 1898, o movimento guerrilheiro de Fidel de Castro e dos seus companheiros que a partir da Sierra Maestra tomaram o poder em 1959 e a controvérsia que a revolução cubana e os seus ícones sempre despertaram. Cuba desafiou e afrontou os Estados Unidos e o imperialismo económico-militar dos tempos modernos, aliou-se ao sovietismo e alimentou conflitos um pouco por todo o mundo. Isolou-se do mundo e, como contrapartida, os onze milhões de cubanos ficaram mais afastados da comunidade internacional.
Agora, os dois milhões de cubanos que vivem nos Estados Unidos, sobretudo na Florida, estão a passar por um tempo de confiança e de orgulho nacional, conforme revela o Miami Herald. Porém, o processo de normalização das relações entre os dois países vai ser longo e lento, pois há muitas forças, quer em Cuba quer nos Estados Unidos, que não esquecem as tensões do passado e não aceitam os passos que estão a ser dados por Barack Obama e por Raul Castro. Uns prometem não terminar com o embargo económico que vigora desde 1962, enquanto outros reclamam o fim do regime fidelista. Por isso, durante a cerimónia em Washington alguns manifestantes gritaram “Cuba si, Fidel no”, enquanto outros preferiram gritar “Cuba si, embargo no”, mas seguramente que está aberta uma nova era para os 11 milhões de cubanos que vivem na ilha.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Como eles nos afundam e nos mentem

Um jornal de Lisboa bem conhecido pelos seus títulos sensacionalistas e por algumas campanhas que alimenta, escolheu hoje a dívida pública portuguesa como tema da sua primeira página. A notícia não é nova, mas porque é apresentada a toda a largura da primeira página tem um impacto maior e serve para alertar os mais distraídos.
É sabido que, em plena crise financeira que atravessou o Atlântico e se instalou na Europa, a dívida pública portuguesa passou de 71,0% do PIB (em 2008), para 83,7% (em 2009) e 94,0% (em 2010). Segundo a Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública - IGCP, em 31 de Maio de 2011 a dívida atingia 164.348 mil milhões de euros, correspondentes a cerca de 100% do PIB.
Passados 4 anos, com a intervenção da troika e com um governo submisso que “quis ir mais longe do que a troika”, a dívida pública portuguesa atingiu 224.155 milhões de euros no dia 31 de Maio de 2015, correspondendo a cerca de 130% do PIB. Aumentou 59,8 mil milhões de euros em quatro anos!
Significa que com a troika, o governo nos endividou em cerca de 60 mil milhões de euros, isto é, aumentou a dívida em cerca de 36%, para além de ter aumentado o desemprego, a pobreza e a emigração dos mais jovens e de ter criado graves problemas na educação, na justiça, na saúde e na defesa nacional. A economia e a sociedade estão doentes, mas não faltam lugares para os amigos. No plano europeu tornámo-nos seguidistas sem dignidade e é lamentável termos abdicado da solidariedade para com os nossos parceiros e ouvir o presidente do Conselho Europeu desmentir o primeiro-ministro português. Uma tristeza!
Para quem anda sempre a acusar os outros, a fazer propaganda, a auto-elogiar-se e a afirmar que os cofres estão cheios, esta verdade é demolidora e cobre de ridículo aqueles que têm dito que "é preciso proteger" o que foi feito e "não voltar a cometer os mesmos erros". É que esta gente não só é mentirosa, como também é ousada e atrevida na forma como mente. 

O que nos vale é o futebol… de praia

O ano de 2015 não tem corrido muito bem ao desporto português no plano internacional, porque apesar de ter averbado alguns sucessos muito meritórios, por exemplo no ténis de mesa, na canoagem, no judo e no atletismo, também teve algumas derrotas que muito desapontaram os nossos desportistas.
No Mundial de hóquei em patins disputado em La Roche Sur Yon, a equipa portuguesa perdeu com a Argentina nas meias-finais. No Mundial de Futebol de Sub-20 disputado na Nova Zelândia (FIFA U-20 World Cup) os portugueses perderam nos quartos-de-final com o Brasil na marcação de grandes penalidades. No Europeu de Futebol de Sub-21 disputado na República Checa (UEFA European Under-21 Championship) a selecção perdeu a final com a Suécia também na marcação de grandes penalidades. Na Liga Mundial de voleibol (FIVB Volleyball World League 2015) a equipa nacional foi despromovida ao Grupo 3 depois de ter perdido com a Bélgica, a Holanda e a Finlândia. Até na Volta à França tivemos a desistência de Rui Costa, o ex-campeão do Mundo em que tantas esperanças eram depositadas. Já andamos na alta roda desportiva, mas têm sido demasiados baldes de água fria.
Porém, ontem em Espinho, depois de ter ultrapassado as selecções do Japão, Argentina, Senegal, Suiça e Rússia, a equipa portuguesa derrotou a equipa do Tahiti e tornou-se campeã mundial de futebol de praia (FIFA Beach Soccer World Cup Portugal 2015). Há que felicitar aqueles verdadeiros artistas do futebol de praia, mas também há que salientar que a vitória foi um prémio merecido para os muitos entusiastas portugueses que encheram o estádio, que incitaram os jogadores e que vibraram com a vitória. Foi uma alegria e, no meio das muitas incertezas que nos rodeiam, precisamos destas alegrias. Até o jornal A Bola esqueceu por um dia o Jesus, o Benfica, o Casillas e as transferências de futebolistas para homenagear os campeões do mundo!

domingo, 19 de julho de 2015

Duas boas exposições em Torres Vedras

Na incaracterística cidade de Torres Vedras, a par de um notável património militar e religioso e de muitas memórias históricas, existe o Museu Municipal Leonel Trindade instalado no antigo convento da Graça, em cuja exposição permanente se evocam as Linhas de Torres que, entre Outubro de 1810 e Março de 1811, travaram o avanço das tropas francesas do marechal André Masséna na sua caminhada para Lisboa e acabaram por provocar a sua retirada de Portugal.
Nesse museu estão actualmente em exibição duas interessantes exposições temporárias de elevado cunho didáctico, que foram inauguradas no dia 15 de Maio e que, por diferentes vias, evocam a expansão ultramarina portuguesa. Uma dessas exzposições intitula-se “Torres Vedras no caminho de Ceuta. 600 anos – Do Conselho Régio de Torres Vedras… à conquista de Ceuta (1414-1415)” e evoca o Conselho Régio que reuniu em Torres Vedras em 1414 e  que decidiu pela tomada de Ceuta e pelos preparativos para a mesma. A outra exposição intitula-se “Sarmento Rodrigues – Viagem ao Oriente Português” e recorda a viagem que o Ministro do Ultramar Almirante Sarmento Rodrigues realizou em 1952 aos territórios ultramarinos da Índia Portuguesa, Timor e Macau, com passagens por Malaca e Singapura, como contributo para a ideia então dominante de unidade de uma nação pluricontinental. Essa longa viagem, em que pela primeira vez aqueles territórios foram visitados por um membro do governo português, constituiu um acontecimento político relevante para a época e entusiasmou as elites locais que ofereceram ao ministro português várias peças ilustrativas da riqueza cultural dos territórios visitados. Essas peças de elevado valor artístico e simbólico que o Almirante Sarmento Rodrigues doou ao Museu Nacional de Etnologia integram a exposição e, só por si, justificam uma visita. A exposições manter-se-ão em exibição até ao dia 10 de Outubro.

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Uma belíssima exposição fotográfica!

Sebastião Salgado é um brasileiro com 70 anos de idade, natural de Minas Gerais e é, também, um dos mais famosos fotógrafos ou fotojornalistas do mundo, com trabalhos reconhecidos internacionalmente. Tem acumulado prémios e distinções e a UNESCO distingiu-o com Embaixador da Boa Vontade, pelo seu contributo para a preservação do nosso planeta. Desde o dia 10 de Abril que Sebastião Salgado apresenta em Lisboa a sua exposição “Génesis”, constituída por cerca de 250 imagens a preto e branco de grande formato, dedicadas aos povos isolados,  aos animais, à natureza e às suas paisagens grandiosas, que foram recolhidas sobretudo em lugares ainda não explorados ou não flagelado pelo homem. Trata-se de um trabalho desenvolvido durante quase uma década pelas regiões mais inóspitas do planeta, desde a Antártida à Nova Guiné e à Amazónia, que serviu de base à magnífica e muito didáctica exposição itinerante que é “uma jornada de busca do planeta como ele existiu desde a sua formação e na sua evolução”.
Iniciada no Brasil, a exposição já passou por Londres e vai ficar em Lisboa, no Torreão Nascente da Cordoaria Nacional,  até ao próximo dia 2 de Agosto. Descuidei-me e só quase no fim da mostra, a visitei. Havia muita gente interessada e muitas crianças em visita escolar. O que eu ia perdendo! Para os que, como eu se distrairam, ainda há duas semanas para poderem ver esta belíssima exposição.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Uma grande vitória da diplomacia

Após mais de uma dezena de anos de tensão à volta do programa nuclear iraniano, as negociações entre o Irão e o grupo 5+1 (Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido e Alemanha) foram concluidas com sucesso. O acordo foi alcançado em Viena após 21 meses de difíceis negociações e no 18º dia da última etapa de conversações. Segundo foi divulgado, o acordo limita num longo prazo a capacidade iraniana para produzir armas nucleares e não se baseia na confiança entre as partes, mas sobretudo no facto do Irão aceitar inspecções periódicas às suas instalações militares. O acordo implica o levantamento imediato de muitas sanções impostas pelos Estados Unidos, pela União Europeia e pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Os presidentes Barack Obama e Hassan Rouhani manifestaram a sua satisfação pelo acordo e a sua esperança numa relação renovada entre os dois países. A imprensa internacional destacou esta notícia com euforia, embora o acordo tenha provocado fartos protestos, por diferentes razões, nos dois maiores adversários regionais do Irão, respectivamente Israel e a Arábia Saudita. Durante anos a suspeita e a desconfiança dominaram a relação do Irão com algumas grandes potências e destas com o Irão, tendo sido traçados cenários para um ataque contra as instalações militares do Irão. Chegou-se mesmo a imaginar a aviação israelita a actuar como testa de ferro do poder americano ou uma grande batalha naval no golfo Pérsico mas, por agora, a diplomacia acabou por vencer. Seria excelente que esta diplomacia tão dinâmica e tão eficaz se estendesse na região e levasse rapidamente a paz à Síria, ao Iraque e ao Iémen.

terça-feira, 14 de julho de 2015

O triste fim da solidariedade europeia

Depois de muitas semanas de encontros e desencontros, surgiu uma hipótese de acordo quanto ao futuro da Grécia depois de uma maratona de muitas horas de negociações, mas poucos podem acreditar na sua viabilidade. O jornal espanhol ABC retrata hoje a Grécia representada por um frágil barquinho de papel que se afundará com a mais ligeira brisa. A Grécia foi derrotada pelos abutres, humilhada pelos falcões e vai continuar sujeita à mesma austeridade que a tem destruído social e economicamente.
A solidariedade europeia acabou e, lentamente, a Grécia vai apagar-se, mas vai levar consigo o projecto europeu. O fanatismo e a ignorância dos negociadores foi longe demais. Usaram a Contabilidade em vez da História e da Geopolítica. Não ouviram Joseph Stiglitz nem Paul Krugman, ambos distinguidos com o prémio Nobel da Economia. Tiveram uma visão contabilística em vez de uma visão política e cultural. Uma pré-tragédia.
Sabemos que a situação era muito complexa e que o passado despesista do país e as irrealistas promessas eleitorais dos governantes gregos não ajudavam a boas soluções, mas faltou coragem política para encontrar uma outra resposta. O acordo a que se chegou (graças ao valioso contributo lusitano saído do cérebro do nosso Passos!!!), nada resolve e é muito perigoso. Os gregos vão reagir e a instabilidade vai instalar-se naquela área geoestratégica, onde convergem interesses dos mais diversos. Tal como no futebol, tudo pode acontecer a partir da confusão que se vai instalar devido ao desespero de milhões de gregos. Ali bem perto estão acantonados os fundamentalismos e, do outro lado do mar, há muitos milhares de refugiados àvidos de fazer a travessia. É caso para perguntar como foi possível que se chegasse a esta situação e saber quem são os responsáveis por ela. Talvez o ex-comissário Barroso nos possa explicar... Agora, perante o cenário catastrófico que se avizinha, em vez de serem ressarcidos dos créditos concedidos à Grécia para beneficiar cadeias de intermediários corruptos, é bem possível que os credores venham a suportar ventos tempestuosos vindos do Mediterrâneo Oriental mas, então, nem Wolfgang Schäuble, nem Dijsselbloem, nem Lagarde, estarão nos lugares de onde dirigiram esta sinistra operação. E no meio disto tudo, temos o Peter Kazimír, vice-primeiro-ministro e ministro das Finanças da Eslováquia, a  afirmar que “a Grécia teve de ser punida devido à primavera grega”. Palavras para quê?
 

sábado, 11 de julho de 2015

Tomar e a sua grande festa popular

A Festa dos Tabuleiros ou do Divino Espírito Santo que se realiza de quatro em quatro anos na cidade de Tomar é uma das mais exuberantes romarias portuguesas e é uma interessante expressão de criatividade popular que é conhecida pelo menos desde o século XV.
Apesar da festa incluir inúmeras realizações e atracções musicais, desportivas, tauromáquicas, gastronómicas e outras ao gosto popular, o seu ponto mais simbólico é o imponente Cortejo dos Tabuleiros em que sobressaem os tabuleiros artisticamente decorados e a brancura das vestes das raparigas que os transportam à cabeça ao longo das ruas da cidade, engalanadas com colchas pendentes nas janelas e sob uma chuva de pétalas lançadas sobre o cortejo, a que depois se segue a benção do pão e das coroas do Espírito Santo. Os tabuleiros que se incorporam no cortejo ou desfile representam as 16 freguesias do concelho de Tomar e o seu número é variável, embora habitualmente ultrapasse as cinco centenas.
O Cortejo dos Tabuleiros realiza-se amanhã, a partir das 16:00 horas e é o ponto mais alto da Festa dos Tabuleiros e, só por si, atrai centenas de milhar de visitantes. Não é fácil chegar lá mas, seguramente, é uma grande tradição que se preserva e fortalece e é, também, um grande espectáculo da cultura popular portuguesa.

O exercício assegura a eficiência militar

O matutino Northern Territory News (NT News) que se publica na cidade australiana de Darwin, a capital do Território do Norte, destaca na sua edição de hoje a realização do Exercise Talisman Saber 2015, com uma desenvolvida reportagem. Trata-se de um exercício militar combinado que se realizou pela primeira vez em 2005 com a participação das Australian Defense Forces e das Forças Armadas dos Estados Unidos e que, desde então, se tem realizado de dois em dois anos, sendo o maior exercício militar realizado pelos australianos. O exercício decorrerá nas regiões norte e centro do território australiano, no mar territorial e na sua zona económica exclusiva que se desenvolve no mar de Timor, mas com maior incidência nas regiões a oeste de Darwin, em que as amplitudes de maré atingem 9 metros e abundam “man-eating crocodiles and even nesting turtles”.
Este ano o exercício tem a sua sexta edição e desenvolve-se a partir de meados de Julho durante vinte dias, envolvendo mais de 30 mil tropas americanas e australianas, além de muitos e diversificados meios navais e aéreos. Pela primeira vez participarão no exercício forças neo-zelandesas (500 efectivos) e forças japonesas (40 efectivos). Os exercícios destinam-se a assegurar o treino que garante a eficiência militar e a fortalecer as capacidades de resposta a situações de crise e de contingência, sobretudo em relação à guerra ao terrorismo, envolvendo todo o tipo de acções terrestres e marítimas. É assim em todo o lado e em todas as actividades. Até no futebol. Porém, a dimensão deste exercício não deixa de ser uma manifestação de poder face ao maior país islâmico do mundo que se situa nas vizinhanças, mas também um sinal para a própria China e para a sua vontade de se tornar a potência dominante na região.

sexta-feira, 10 de julho de 2015

O “comício eleitoral” do estado da Nação

Ontem  decorreu o debate parlamentar sobre o estado da Nação e, como é natural, a troca de argumentos foi viva, mas não convenceu ninguém. O debate com aqueles protagonistas não esclareceu e pouco serviu para avaliar o estado da Nação. Foi um verdadeiro comício parlamentar ou mesmo um comício eleitoral. Como o jornal Público escreveu, foi um debate entre “o país pobre e o país que cresce”, isto é, por um lado aqueles que criticam a excessiva austeridade que nos afectou e a nossa subserviência perante a troika, com graves consequências na pobreza, no desemprego e numa dívida pública que é a terceira mais alta da União Europeia e, por outro, aqueles que afirmam ter feito o melhor para o país, que seguiram a estratégia acertada, que não falharam e que vão levar agora o país para um ciclo de crescimento e prosperidade.
Independentemente da opinião de cada um, a situação portuguesa é muito complexa. O governo vive de um auto-elogio ridículo e com a mentira a tornar-se um factor de acção política e um instrumento de propaganda, mas a esquecer-se que as novas tecnologias são hoje um verdadeiro detector de mentiras. A nação vive um estado de enorme degradação da vida económica e social que as estatísticas não mostram claramente, com a pobreza a aumentar, sem investimento produtivo, sem criação de emprego e, sobretudo, sem esperança no futuro. As estruturas do Estado estão depauperadas e foram desprestigiadas pelo poder político que não foi capaz de fazer a sua necessária reforma. É sabido que as coisas não vão bem na Educação, na Justiça, nas Forças Armadas, nas Polícias, na Economia, na Diplomacia e, ao contrário do que nos foi dito, os nossos cofres não estão cheios e a nossa dívida continua a subir, com encargos absolutamente insuportáveis e insustentáveis.
A Grécia esteve presente no debate e a maioria insiste no discurso da intolerância e da inflexibilidade, indiferente à tragédia que se abateu sobre a sociedade grega devido à ganância da especulação financeira, sem cuidar de nos prevenir de um eventual efeito boomerang que, amanhã, se pode virar contra nós.
Em síntese, o governo faz o seu auto-elogio, distorce estatísticas, utiliza mentiras, diz meias verdades e faz propaganda, mas desconhece o verdadeiro estado da Nação.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

R.I.P. Maria Barroso

Com 90 anos de idade faleceu Maria de Jesus Barroso, a mulher que durante 66 anos foi casada com o antigo Presidente Mário Soares. Era uma mulher notável que os portugueses bem conheciam pela sua longa presença na nossa esfera pública e que conseguiu gerar uma unânime onda de simpatia e de respeito à sua volta, pelo seu excepcional percurso de vida nos planos familiar, artístico, profissional, político e cívico.
Diplomou-se em Arte Dramática na Escola de Teatro do Conservatório Nacional, foi actriz na companhia de teatro Rey Colaço-Robles Monteiro, sediada no Teatro Nacional D. Maria II e participou em filmes de Paulo Rocha e Manoel de Oliveira. Licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e foi professora e directora do Colégio Moderno. Em 1969 foi candidata a deputada pela Oposição Democrática e em 1973 participou no Congresso da Oposição Democrática em Aveiro, tendo sido a única mulher a intervir na sessão de abertura e, no mesmo ano, esteve em Bad Munstereifel na reunião fundadora do Partido Socialista.
Depois do 25 de Abril foi eleita deputada à Assembleia da República em várias legislaturas e, entre 1986 e 1996, foi a primeira-dama de Portugal. Depois presidiu à Cruz Vermelha Portuguesa e não desistiu de intervir na defesa activa de grandes causas sociais e humanitárias. Hoje, todos, desde as personalidades políticas de todos os quadrantes até aos mais simples moradores da vizinhança da Família Soares, repetiram elogios ao talento, à energia, ao carácter, à cultura e à simplicidade de Maria Barroso. No seu discurso de despedida, António Costa disse que “em todos os socialistas fica hoje um vazio”.
Uma só vez estive com Maria Barroso, quando há 20 anos ouvi falar português no hall de um hotel a dez mil quilómetros de Lisboa e lhe dirigi a palavra. Nunca mais esqueci aqueles 15 minutos de tão inesperada e agradável conversa.

As grandes “sanfermines” de Pamplona

Começaram anteontem em Pamplona as Festas de San Fermin, o santo natural da cidade que é o padroeiro da diocese de Navarra. As sanfermines, nome por que são localmente conhecidas as festas, acontecem todos os anos entre os dias 6 e 14 de Julho. Segundo rezam as informações oficiais, as programações religiosa e profana convivem muito bem, mas “San Fermin es la fiesta en la calle y el encierro”, um quase carnaval colectivo que é animado por muita música, “por la generosa absorción de bebidas con muchos grados” e, naturalmente, por muitos excessos. Milhares de pessoas usam a pamplonica, isto é, vestem camisas e calças ou saias brancas, com um lenço e uma faixa vermelha na cintura.
Porém são os encierros ou largadas de touros que tornaram as festas internacionalmente conhecidas. o escritor americano Ernest Hemingway dedicou-lhe um romance que foi traduzido em Portugal com o título "O Sol nasce sempre (Fiesta)". Em cada encierro, que se inicia às 8 horas da manhã, são largados seis touros bravos e seis cabrestos numa distância de 875 metros pelas ruas da cidade velha até à Praça de Touros de Pamplona. Isto acontece todos os dias desde o dia 7 ao dia 14 de Julho, isto é, as festas incluem oito encierros. O site oficial das festas – www.sanfermin.com – apresenta vasta informação sobre o evento e, para cada encierro, informa a origem dos touros e regista a performance diária comparando-a com os encierros dos anos anteriores, quanto à sua duração, número de corneados, traumatismos registados, temperatura, etc. Como é sabido, tem havido algumas mortes nos encierros das Festas de San Fermin, pelo que são divulgadas instruções para prevenir os que decidem enfrentar os touros nas ruas de Pamplona. As televisões transmitem sempre imagens das colhidas, mais ou menos graves, mais ou menos espectaculares. É o que também faz hoje El Diario Vasco na sua primeira página.
Se eu penso ir às festas a Pamplona? Não, obrigado. 

segunda-feira, 6 de julho de 2015

O referendo na Grécia: a luta continua

Η Εφημερίδα των Συντακτών - edição de 6 de Julho de 2015
O resultado do referendo que ontem se realizou na Grécia foi expressivo e deu uma legitimidade reforçada ao governo grego, mas não parece ter alterado as relações de força nas negociações em curso. O confronto entre os dois radicalismos mantém-se. Nenhuma das partes quer ceder. Uns porque não querem perder o dinheiro com que alimentaram as negociatas na Grécia, outros porque não querem a mesma austeridade que lhes trouxe desemprego, recessão, pobreza, cortes de salários e de pensões e a noção de que vai ser assim por longos anos.
A figura do acordo de credores que é tão usada no domínio empresarial para enfrentar e resolver situações financeiras complexas, parece não ser do conhecimento dos burocratas das chamadas instituições. Querem tudo. Diz-se que “quem tudo quer, tudo perde” e, ao tudo quererem, as Lagardes e os Dijsselbloems arriscam-se a tudo perder e a inundar a Europa de instabilidade.
Porém, o referendo grego já teve resultados. Os gregos recuperaram, ao menos por uma noite, a sua alegria e a sua dignidade. Cantaram e dançaram numa onda de orgulho nacional. E já souberam tirar algumas conclusões para levar à mesa das negociações. A demissão de Varoufakis só pode ser entendida como uma atitude de bom senso, mas do outro lado da mesa ninguém se demitiu e, certamente, vão insistir nas mesmas receitas humilhantes e ineficazes.
Os grandes jornais europeus reflectem hoje a incerteza, a imprevisibilidade e a preocupação sobre o que se vai passar nos próximos dias. Consoante o seu alinhamento, os seus títulos são, por exemplo, “Maintenant, respectez le non du peuple grec” (L’Humanité), “Greek voters defy Europe” (The Guardian), "Hora de la verdad en Europa tras el rotundo ‘no’ de Grecia” (El Pais) ou “Il ‘no’ greco spaventa l’Europa” (Corriere de la Sera).
Hoje é cada vez mais evidente que nada vai ser como dantes na Grécia e na Europa. Há razões para estarmos preocupados nesta “ocidental praia lusitana”. Os nossos cofres não estão cheios, a nossa dívida aumentou mais de 30% nos últimos quatro anos, muitos dos nossos compatriotas emigraram, estamos quase todos mais pobres e muito, muito desmoralizados. Contrariamente ao que por aí dizem alguns economistas de segundo plano, a eventual queda da Grécia poderá arrastar outras grécias. A aritmética dos [19 – 1 = 18] está errada e é perigosa.

domingo, 5 de julho de 2015

Copa América: a grande vitória do Chile

Pela primeira vez no seu historial a selecção de futebol do Chile ganhou a Copa América, que é a mais antiga competição que se realiza no mundo entre selecções de futebol, pois foi disputada pela primeira vez em 1910. Nesta sua 44ª edição, o torneio organizado pela Confederação Sul-Americana de Futebol realizou-se no Chile, mas os favoritos não eram os anfitriões mas as selecções do costume que, à sua conta, já tinham vencido em 37 vezes as 43 edições da prova antes realizadas. Além do Uruguai (15 vitórias), Argentina (14) e Brasil (8), só o Paraguai e o Peru (2 vezes cada um) e a Colômbia e a Bolívia (uma vez cada um) tinham vencido a desejada Copa América.
O Chile disputava a sua quinta final e não era favorito, pois defrontava a temível equipa argentina de Leonel Messi e de outros famosos jogadores. Porém, entusiasmados pelo seu público no Estádio Nacional de Santiago, os jogadores chilenos superaram-se e não deixaram que os argentinos ganhassem. Foram, então, para a decisão por grandes penalidades e os chilenos foram felizes, competentes e ganharam a Copa América pela primeira vez. Foi o delírio!
Os 18 milhões de chilenos vibraram com a vitória e, de entre todos, destacou-se a presidente Michelle Bachelet, que assistiu aos jogos da selecção chilena devidamente equipada e que, após a vitória, se apressou a felicitar pessoalmente os jogadores, além de os ir receber brevemente no Palácio de La Moneda, a sua residência oficial. Toda a imprensa chilena dedicou a sua primeira página a esta vitória e ao novo “campéon de América”, a evidenciar a importância que o futebol adquiriu nos últimos tempos em todo o mundo como instrumento de unidade, coesão e mobilização nacional.

sábado, 4 de julho de 2015

Cabo Verde: 40 anos de independência

Amanhã a República de Cabo Verde completa 40 anos como país soberano. Foi no dia 5 de Julho de 1975 que foi lida a histórica proclamação da independência na cidade da Praia, na ilha de Santiago. A festa vai ser grande, nas ilhas e na diáspora. Em Portugal estão anunciadas muitas iniciativas para celebrar a data.
As aspirações independentistas do arquipélago de Cabo Verde nunca tinham passado pela luta armada no seu território, embora o fundador e muitos quadros do PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde) fossem cabo-verdianos e tivessem participado activamente na guerra de libertação nacional que ocorreu na Guiné entre 1962 e 1974. Esse facto, associado a uma evidente proximidade cultural entre os portugueses e os cabo-verdianos e até circunstâncias de relacionamento pessoal entre muitos dirigentes das duas partes, facilitou e tornou “exemplar” o processo de transferência de soberania portuguesa para o novo Estado. Por isso, as delegações do governo português e do PAIGC assinaram no dia 19 de Dezembro de 1974, em Lisboa, um documento que abriu caminho para a independência do arquipélago.
Nesse documento de oito páginas foi aprovada a transferência de poderes e foi criado um governo de transição composto por três ministros portugueses e três cabo-verdianos, liderado por um Alto-Comissário português, cargo que foi desempenhado pelo almirante Vicente Almeida d'Eça, como representante da soberania portuguesa. O governo de transição teve por principal missão "conduzir as operações conducentes à eleição por sufrágio directo e universal, em 30 de Junho de 1975, de uma assembleia representativa do Povo de Cabo Verde". Nesse dia foram eleitos os primeiros 56 deputados cabo-verdianos, que se reuniram no dia 4 de Julho de 1975 nas instalações da Câmara Municipal da Praia, para constituírem a primeira Assembleia Nacional Popular. Nessa sessão foi aprovada a solene proclamação que foi lida no dia seguinte por Abílio Duarte, o primeiro presidente do parlamento cabo-verdiano, no estádio da Várzea:
“Povo de Cabo Verde, hoje, 5 de Julho de 1975, em teu nome, a Assembleia Nacional de Cabo Verde proclama solenemente a República de Cabo Verde como Nação Independente e Soberana”.
Passados 40 anos, a República de Cabo Verde é um respeitado membro da comunidade internacional, um dos símbolos da paz e da democracia em África e uma terra de gente fascinante, desde Amílcar Cabral e Pedro Pires, até Cesária Évora e Germano Almeida.  É um país de músicos e de futebolistas, de gente de trabalho e de sofrimento, mas é também o país da morabeza e da cachupa, da morna, da coladera e da kolá san jon. Uma grande comunidade e um grande país!

Arrancou o 7º Festival ao Largo

Devagar, devagarinho, o Festival ao Largo vai-se impondo no panorama cultural da cidade de Lisboa, com uma programação que inclui música coral e sinfónica, ópera e. dança, que são apresentados no largo fronteiro ao Teatro Nacional de São Carlos. Este ano o festival cumpre a sua 7ª edição e iniciou-se ontem com um repertório muito atractivo, em que actuaram a Orquestra Sinfónica Portuguesa, o Coro do Teatro Nacional de São Carlos e a solista Sofia Escobar, sob a direcção da maestrina Joana Carneiro, tendo interpretado um programa intitulado “Broadway e Novo Mundo”. Com espectáculos a apresentar quase todos os dias, o festival decorre até ao dia 25 de Julho. Espera-se que, tal como sempre tem acontecido nos anos anteriores, que o festival atraia muito público àvido de espectáculos de boa qualidade, em cenários de grande apelo estético e, além disso, gratuitos. As noites quentes de Julho ajudam a completar o agradável ambiente, embora a escassez do espaço do Largo de São Carlos e as dificuldades de acesso ao local em transporte público ou privado, sejam uma contrariedade.
Este ano e pela primeira vez, o programa do primeiro dia foi transmitido em directo pela RTP2 para o largo Visconde Serra do Pilar, em Santarém, e para a praça do Sertório, em Évora. Uma ideia que se aplaude. Da mesma forma, merece aplauso o patrocínio do Banco Millenium que percebe que "as artes performativas são um dilema económico" e precisam de patrocinadores, como concluiu o economista William Baumol nos seus apreciados estudos sobre este tema.

A festa do Tour de France começa hoje

Inicia-se hoje em Utrecht, na Holanda, a 102ª edição do Tour de France 2015, uma das mais importantes provas desportivas mundiais. A França e os franceses vão entrar em festa com um espectáculo ímpar, que lhes permitirá ver as imagens dos monumentos, povoações e paisagens por onde passarão os ciclistas e a sua monumental caravana de apoio. Milhares de pessoas deslocar-se-ão para as montanhas, nos Alpes e nos Pirinéus, para participar na festa, vibrar com o espectáculo e incitar os seus ídolos. "Ce sera grandiose", titula hoje o jornal L'Équipe.
Até ao dia 26 de Julho e ao longo de 3344 quilómetros distribuidos por 21 etapas, os melhores ciclistas mundiais vão procurar inscrever o seu nome na galeria dos mais notáveis e, desde já, os favoritos são Vicenzo Nibali (Itália), Chris Froome (Inglaterra), Alberto Contador (Espanha) e Nairo Quintana (Colômbia). Como sempre acontece, a montanha vai ter um papel decisivo na definição do vencedor, havendo a salientar-se este ano o regresso da famosa subida do Alpe D’Huez, que será feita na 20ª e penúltima etapa da prova, na véspera da chegada aos Campos Elíseos. Uma grande prova desportiva em perspectiva!
A RTP2 vai proporcionar o acompanhamento desta prova aos portugueses, ao transmitir diariamente e em directo, todas as etapas da competição, devendo salientar-se a elevada qualidade das transmissões televisivas que, desde há alguns anos, têm sido proporcionadas pela organização da prova. Como eles costumam dizer, é um espectáculo televisivo a não perder.
Haverá três portugueses no pelotão: Rui Costa e Nelson Oliveira (Lampre-Mérida), Tiago Machado (Team Katusha) e José Mendes (Bora-Argon 18). Naturalmente que Rui Costa, que foi campeão do Mundo em 2013, vai estar ao lado dos favoritos, esperando-se que possa dar algumas alegrias aos portugueses.

quinta-feira, 2 de julho de 2015

O nosso melhor embaixador é um navio

Os americanos têm um enorme envolvimento emocional e cultural com o 4th July, o seu Dia da Independência, que evoca o dia do ano de 1776 em que as treze colónias rebeldes subscreveram a Declaração de Independência e declararam a separação formal do Império Britânico.
Por razões históricas esse envolvimento acontece sobretudo na costa leste dos Estados Unidos e, em especial, nas cidades costeiras dos estados de Nova Iorque, Maryland, Virginia, Pensilvânia, Massachusetts e Connecticut. Nas cidades de vocação marítima realizam-se grandes festivais náuticos para celebrar a independência americana e, neste ano de 2015, a costa leste está a receber a visita dos veleiros que participam na Tall Ships Challenge Atlantic Coast 2015, que durante os meses de Junho e Julho escalam uma dezena de portos, designadamente Yorktown, Baltimore, Filadélfia, Nova Iorque, Newport e Boston. Esta ano, talvez por razões orçamentais, a participação europeia limita-se às réplicas da fragata francesa L’Hermione e do galeão espanhol Andalucia, mas também da barca portuguesa Sagres. O nosso navio-escola já visitou Filadélfia, onde a sua presença foi muito destacada nas redes sociais da comunidade portuguesa, navegou depois para Nova Iorque onde estará no dia 4 de Julho, seguindo-se New Bedford e Boston.
A edição de hoje do semanário Suffolk Times que se publica em Mattituck – New York, dedica a sua primeira página ao 2015 Greenport Tall Ships Challenge Festival e, entre outros veleiros, apresenta a imagem da Sagres.
A presença da Sagres nestes portos vai ser, como sempre acontece, uma grande festa e um motivo de grande orgulho para a comunidade portuguesa e, por isso, esta viagem merece o nosso aplauso. Ou não fosse o navio-escola Sagres o nosso melhor embaixador.

O caso BES ainda vai mexer no meu bolso

Foram anunciados os nomes dos candidatos à compra do Novo Banco e, de acordo com o que foi noticiado, as ofertas vinculativas dos três candidatos - Anbang, Fosun e Apollo - dificilmente atingirão os 2,5 milhões de euros, o que significa que apenas será recuperado metade do montante de 4,9 milhões de euros que foi injectado pelo Fundo de Resolução, uma entidade recentemente criada e que por falta de fundos foi financiada pelo Estado. O tema faz hoje manchete no Jornal de Notícias e, naturalmente, é muito preocupante porque revela que o caso BES tem sido tratado com muita incompetência, alguma desfaçatez e muita mentira. É grave que os nossos dirigentes tratem os cidadãos dessa maneira.
Nos primeiros dias de Agosto do ano passado, depois do BES ter apresentado prejuízos históricos de 3,6 milhões de euros, o Banco de Portugal anunciou uma injecção de capital de 4,9 milhões de euros e a criação de um "banco mau" e de um "banco bom", que passou a chamar-se Novo Banco. A solução de financiamento encontrada foi um empréstimo do Estado ao Fundo de Resolução, a ser reembolsado pela venda do novo banco e pelo sistema bancário, onde se inclui a CGD. Muitas vozes se levantaram então contra o facto de, previsivelmente, os contribuintes portugueses virem a suportar uma boa parte dos custos do financiamento do BES, tal como já acontecera no caso do BPN. Lembremo-nos que duas semanas antes, de passeio pela Coreia, o Presidente da República tinha dito que “os portugueses podem confiar no BES”. Afinal não era verdade e aconteceu a intervenção. A Ministra das Finanças garantiu então que "os contribuintes não terão de suportar os custos relacionados com a decisão tomada hoje”, enquanto o Presidente da República veio considerar “totalmente errado” o que tem sido dito nos últimos dias sobre o BES e rejeitou que eventuais prejuízos na CGD, por causa do seu envolvimento no resgate, viessem a resultar num custo para os contribuintes. Agora, quando se sabe que apenas vai ser recuperado metade do dinheiro aplicado no BES, temos que perguntar ao Presidente da República e à Ministra das Finanças quem vai pagar o resto, isto é, ou não perceberam nada do que estava a acontecer ou quiseram enganar-nos. É que eles foram peremptórios a afirmar que os contribuintes não suportariam esses custos.

O nosso futebol morre ao chegar à praia

Na passada terça-feira à noite jogou-se em Praga a final do UEFA Under-21 Championship organizado pela UEFA, em que se defrontaram as selecções de Portugal e da Suécia. A partida terminou empatada mesmo depois do prolongamento, pelo que se recorreu à marcação de grandes penalidades para apurar a equipa campeã europeia de futebol para jovens com menos de 21 anos de idade. Ganhou a equipa sueca, pois marcou quatro vezes, enquanto os portugueses só marcaram três vezes. Como tantas vezes nos acontece no desporto, “morremos ao chegar à praia”. A selecção portuguesa tinha brilhado e era a única que não tinha perdido nenhum jogo, era a equipa que mais golos tinha marcado e a que menos golos sofrera. Deixara pelo caminho a Inglaterra, a Itália e a Alemanha. Praticava um futebol artístico, maduro e consequente que entusiasmava. As expectativas eram muito altas e a fome de êxitos futebolísticos era grande em Portugal. Parecia ser a grande oportunidade, mas não correu bem. O adversário não foi melhor, mas foi mais feliz. Tudo correu bem, menos os pontapés de grande penalidade.
Há duas semanas tinha acontecido o mesmo no FIFA U-20 World Cup New Zealand 2015, quando as grandes penalidades brasileiras nos afastaram das meias finais. Habituado a este tipo de situações também no hóquei em patins e no futebol de praia, o nosso público aceitou estes resultados com resignação. Com base na prestação dos futebolistas no UEFA Under-21 Championship, uma equipa de observadores técnicos da UEFA escolheu a formação ideal do campeonato: um alemão, um inglês, um dinamarquês, três suecos e cinco portugueses e, além disso, escolheu um português como o melhor jogador do torneio. Uma pequena consolação. A Suécia delirou e os jogadores foram recebidos numa apoteose nunca vista naquelas terras. Todos os principais jornais suecos destacaram a vitória da sua equipa como a grande notícia do dia, ilustrando-a com fotografias a seis colunas nas suas primeiras páginas. Um deles foi o Kvällsposten, que se publica em Malmö. Imaginemos que o resultado tinha sido diferente e imaginemos o que fariam os nossos jornais.