sexta-feira, 25 de setembro de 2015

O Brasil e a desvalorização do real

A última edição da revista Veja mostra na sua primeira página um crocodilo de boca aberta pronto para abocanhar o Estado brasileiro, aproveitando a mandímbula superior para desenhar os gastos do governo (ascendentes) e a mandíbula inferior para desenhar o crescimento do PIB (descendente). Na sua simplicidade, o problema está bem apresentado, isto é, a despesa crescente do Estado não pode ser suportada por economia em recessão.
Acontece que nas sociedades modernas o Estado é chamado a cumprir as funções de soberania, mas também outras funções económicas e sociais, estando presente em todos os sectores da sociedade desde a segurança à defesa, passando pela justiça, saúde, educação, obras públicas, economia, solidariedade e segurança social, cultura, entre muitas outras. Para fazer face a todas estas funções o Estado faz muita despesa e, porque as necessidades tendem a aumentar, a despesa também tende a aumentar. É portanto necessário que a economia crie mais riqueza, para poder proporcionar ao Estado o recebimentro de mais impostos directos e indirectos.
Porém, o Brasil atravessa um período de recessão e, por isso, o PIB diminui em vez de aumentar. Vem a receita do costume: reduzir despesas e aumentar impostas e taxas. Além disso,  vem também a desvalorização da moeda, para que as importações sejam mais caras e as exportações sejam mais baratas. Assim está a ser feito. Há um ano o dólar valia R$ 2,39 e, conforme titulam os jornais de 23 de Setembro, agora o dólar ultrapassa os R$ 4,00: “Dólar atinge R$4,05, a maior cotação da história do Real (Estado de S. Paulo), “Dólar bate recorde e cai a R$ 3,99” (O Globo) ou “Dólar é vendido até R$ 4,56 na capital baiana” (A Tarde). Uma desvalorização de 67% em relação ao dólar, apenas num ano! Cerca de 5% ao mês.
Esta situação não pode deixar de causar apreensão aos portugueses pelas suas ligações familiares e emocionais ao Brasil, mas também obriga muita gente deste lado do Atlântico a pensar nas vantagens/desvantagens de estarmos integrados na Zona Euro e não podermos usar o mecanismo da desvalorização da moeda.

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