sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Outros valores mais altos se alevantam

No passado dia 26 de Outubro o Parlamento da Catalunha elegeu Carme Forcadell para a sua presidência e, no seu discurso de posse, a nova Presidente declarou que “encerramos a etapa autonómica” e, sem nunca ter utilizado a palavra independência, fez a apologia dos seus valores e terminou o seu discurso com “Viva la democracia, viva el pueblo soberano y viva la república catalana”. Naturalmente, as suas palavras geraram o aplauso apoteótico de uma parte do Parlamento e um enorme silêncio da outra parte, significando que os independentistas não desistiram, antes acentuaram a luta pela independência da Catalunha e a sua separação da Espanha.
Uma vez mais, o orgulho espanhol e as instituições tremeram face à determinação dos deputados catalães e dos seus líderes, temendo pela unidade da Espanha. Por isso, houve reacções, designadamente dos líderes dos dois maiores partidos espanhóis que imediatamente se reuniram num almoço no Palácio de la Moncloa. Apesar de se irem confrontar nas eleições gerais espanholas já marcadas para o dia 20 de Dezembro, Mariano Rajoy (PP) e Pedro Sánchez (PSOE) deram público testemunho do seu acordo quanto à unidade da Espanha e quanto à rejeição do processo independentista catalão porque, como escreveu Camões em 1572 n'Os Lusíadas', “outros valores mais altos se alevantam”.
Este acto é exemplar e mostra que, mesmo em situação de acesa luta política e de disputa eleitoral, os espanhóis encontram espaço para acordos em questões estratégicas, como é a sua comum rejeição da aspiração independentista catalã. Lamentavelmente em Portugal, ao longo dos anos, não tem havido espaço para acordos de regime entre os dois maiores partidos portugueses e, provavelmente, esse será um dos grandes problemas do país. 

A Turquia já está ameaçada pela guerra

A instabilidade parece ser a característica principal da situação na Europa e nas suas vizinhanças e, como se já não houvesse tantos focos de justificada preocupação, os observadores internacionais estão agora a chamar a atenção para a Turquia e, como faz o Courrier International, pergunta se não estaremos perante uma nova Síria.
Durante muitos anos o Presidente Erdogan e o seu partido islamo-nacionalista AKP, adoptaram um modelo de democracia conservadora, aliando um capitalismo liberal com um islamismo moderado, fazendo crescer a economia e apostando na entrada na União Europeia. Porém, o que se tem passado nas suas vizinhanças e no próprio país alterou aquele quadro que aparentava estabilidade e progresso.
No próximo domingo, pela segunda vez este ano, os turcos vão às urnas para escolher o seu novo Parlamento numa altura em que o país está muito dividido e atravessa uma grave crise política e social, mas em que também está muito isolado no plano internacional por causa dos dossiers curdo e sírio. Muitos observadores não hesitam em classificar a situação de pré-guerra civil, com o Presidente Erdogan a reforçar o seu autoritarismo devido à sua obcessão com a questão curda e à perspectiva da criação de um Estado curdo nas suas fronteiras, mas também pela estagnação da economia, pelo peso dos refugiados e pelas graves dissensões internas do seu regime.
Além disso, as operações militares que tem desenvolvido contra o Estado Islâmico e contra os curdos, as manifestações da oposição ao seu regime e os violentos atentados que têm ocorrido, contribuem para um clima de grande tensão no país. Abandonada por americanos e russos, a Turquia parece à beira da implosão e o Courrier International pergunta se a Turquia não será a próxima Síria. Depois da Líbia, do Iémen, do Iraque e da Síria, iremos assistir ao colapso do Estado turco? Estaremos em vias de uma sirianização?

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

O futuro tão incerto dos portugueses

Há quem afirme que o maior problema português da actualidade é a Demografia e, na minha opinião, essas pessoas têm toda a razão. Na verdade, antes da Economia e das Finanças, da dívida pública e do défice orçamental, o grande desafio nacional está no nosso envelhecimento, na quebra brutal da natalidade, na emigração forçada de cerca de 400 mil jovens entre 2011 e 2014 e na incerteza do que espera cada português nos dias do futuro. Nos últimos anos, a intervenção da troika obrigou à revisão das leis laborais e os nossos governantes, obcecados com a ideia de serem bons alunos e de receberem alguns elogios do exterior, trataram de tudo aceitar, incluindo a liberalização quase total dos despedimentos e a crescente precaridade do trabalho, em nome da eficiência económica. Apesar do auto-elogio repetido até à exaustão durante a campanha eleitoral pelos seguidores do governo, o país não está melhor. A tentativa de resolver o problema estrutural das nossas finanças públicas foi inconsequente e a dívida aumentou algumas dezenas de milhar de milhões de euros. No aspecto social, a situação também é muito precária e a pobreza tem aumentado para níveis que até há bem pouco tempo eram impensáveis, como se vê nas ruas, nos autocarros e à porta dos supermercados.
Hoje o retrato social (e económico) do nosso país quase atinge algum dramatismo. Como se já não fosse grave a existência de cerca de 770 mil desempregados, o Jornal de Notícias veio revelar que há mais 700 mil trabalhadores com contratos a prazo e, ainda, 128 mil trabalhadores sem vínculo laboral, que são pagos com recibos verdes. Como é que toda esta gente tem condições para fazer uma vida digna, segura, estável e com condições para procriar? Os portugueses têm um futuro muito incerto, mas os governantes ignoram-no ou nada fazem para o resolver.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

A triste herança europeia de Barroso

A Volkswagen foi acusada pelas autoridades americanas de manipular os testes relativos às emissões de óxido de azoto em vários dos seus modelos a gasóleo, uma vez que os testes escondiam que os veículos poluem entre 10 a 40 vezes mais do que os limites permitidos pela lei americana. A marca alemã admitiu esse facto e lamentou profundamente que a marca tivesse forjado os resultados desses testes, que afectam a credibilidade da marca e já se preparam para recolher 11 milhões de viaturas no início de 2016, das quais 8,5 milhões circulam na Europa. 
O escândalo rebentou em finais de Setembro, mas adquiriu agora novos contornos na sequência de uma investigação feita pelo jornal britânico  Financial Times, que é talvez o mais importante jornal económico mundial. Na sua edição de ontem, o jornal anunciou em primeira página que Bruxelas, isto é, a Comissão Europeia então presidida por Durão Barroso, foi alertada em 2013 para as “car emissions tests discrepancies”.
Segundo a investigação levada a efeito pelo jornal, o problema do confronto entre a indústria automóvel e os grupos ambientalistas não é novo e a informação revelada pelo jornal mostra que a Comissão Europeia tinha conhecimento de que as emissões verificadas nos testes em laboratório não correspondiam às emissões verificadas nos testes de estrada e que tal assunto era objecto de debate interno. Numa carta escrita em Fevereiro de 2013, o então comissário europeu do Ambiente, Janez Potocnik, informou o então comissário da Indústria, Antonio Tajani, que haveria “discrepâncias significativas” entre as emissões verificadas nos testes e as registadas em condução real. Porque não deram ouvidos a Janez Potocnik? Porque se calou Antonio Tajani? O que soube ou não soube disto o presidente da Comissão Europeia? Este caso levanta muitas suspeitas. Numa Europa desacreditada e em crise, aqui está mais um exemplo da má memória que foi a Presidência Barroso, que atirou a União Europeia para a crise, para a desorientação, para a desagregação e para o salve-se quem puder.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

O perdão de Blair e o silêncio de Barroso

O antigo primeiro-ministro britânico Tony Blair foi entrevistado pela CNN e, apesar dessa entrevista ainda não ter ido para o ar, muitos jornais internacionais como o londrino Daily Mirror já estão a revelar alguns dos seus conteúdos mais surpreendentes e mais escandalosos. De facto, Tony Blair veio pedir desculpa pelo seu papel na guerra do Iraque, argumentando que utilizou informação errada, que não foi previsto o caos que se seguiria à queda de Sadam Hussein e que esse caos contribuiu para o aparecimento e consolidação do Estado Islâmico. A decisão da guerra contra o Iraque e Sadam Hussein foi tomada no dia 16 de Março de 2003, quando George W. Bush, Tony Blair, José Maria Aznar e Durão Barroso se reuniram numa cimeira na Base das Lajes da qual resultou, quatro dias depois, o início da intervenção militar que conduziu à sua ocupação do Iraque e ao derrube do regime de Saddam Hussein, que viria a ser capturado, julgado e condenado à morte por enforcamento por um tribunal iraquiano.
Nesse dia, George W. Bush disse que “ou o Iraque se desarma ou é desarmado pela força", com base numa informação nunca provada de que o Iraque dispunha de armas de destruição maciça, nomeadamente químicas. Foi uma teimosia e uma obcessão americana a que aderiu com muitos sorrisos e aplausos o primeiro-ministro português Durão Barroso que, como prémio da sua indignidade e subserviência, chegou rapidamente a presidente da Comissão Europeia, onde aliás enriqueceu mas fez uma triste figura.
Na sua entrevista, Tony Blair declara-se preparado para “enfrentar o juizo da História” e destaca que outras intervenções internacionais posteriores também não deram resultados, referindo não só a intervenção com tropas no Iraque, mas também a intervenção sem tropas na Líbia e a não intervenção militar directa mas com um forte apoio à mudança de regime na Síria, concluindo que “se a nossa política não funcionou, as que se seguiram não foram melhores”.
Dez anos depois, Tony Blair pede perdão e reconhece os erros, mas o calculista Barroso guarda o silêncio e continua sem perceber o quanto nos envergonhou. Há dias, a televisão mostrou-o no congresso do PPE, a rir à gargalhada. Que tristeza! 

domingo, 25 de outubro de 2015

Os boys invadem o aparelho do Estado

O Jornal de Notícias anuncia hoje que o governo de Passos Coelho, que está em funções de gestão corrente, tratou esta semana de nomear uma centena de boys para cargos intermédios da administração pública, daqueles que não têm de passar pela Comissão de Recrutamento e Selecção para a Administração Pública (CReSAP), designadamente cargos de director de serviço, chefe de divisão ou secretário-geral. Infelizmente, este tipo de comportamento desonesto não é um fenómeno novo porque, em maior ou menor grau, todos os governos procuraram sempre proteger os seus boys. Neste caso, a surpresa deriva destas nomeações ocorrerem já depois de conhecidos os resultados eleitorais e de se saber que o governo perdeu a maioria que o apoiava e que, provavelmente, vai para casa com o valente cartão vermelho que lhe foi mostrado pelo eleitorado. Além disso, na campanha difamatória que tem sido conduzida contra a alternativa governativa que se desenha, tem sido acentuada a credibilidade e a seriedade da dupla Passos & Portas, omitindo-se todas as suas mentiras, as ilegalidades e as práticas anti-constitucionais, a insensibilidade social e os resultados negativos da sua governação, que tanto tem afundado o país e empobrecido os portugueses. Daí que tivessem perdido quase um milhão de votos, mais de 12% dos seus eleitores e vissem os seus efectivos de deputados passar de 132 para 107, mas que pareça ainda não terem compreendido esta realidade.
Segundo revela o jornal, o Ministério da Defesa é o campeão das nomeações, o que confirma o perfil do tracinho Branco como traficante de interesses, seguindo-se o Ministério da Economia. Tudo isto é mesmo uma grande tristeza e só não dá para rir porque é tudo muito grave.

sábado, 24 de outubro de 2015

Ao qu’isto chegou!!!

Realizou-se em Madrid o congresso do Partido Popular Europeu (PPE), que reuniu os grandes líderes conservadores europeus e no qual estiveram cerca de três mil participantes, incluindo 14 chefes de Estado e de Governo. A análise dos discursos revela que houve uma troca geral de elogios e que a dois meses das eleições espanholas, este congresso foi uma ajuda de que Mariano Rajoy muito precisava para encarar as próximas eleições. As imagens televisivas mostraram algumas personalidades como o valente Nicolas Sarkozy que atacou a Líbia de Kadaffi, o estafado Silvio Berlusconi que se afogou em escândalos e o nosso José Barroso cuja incompetência deixou marcas em Bruxelas.
Angela Merkel esteve lá e, para além de pedir o voto em Mariano nas próximas eleições, exigiu que os portugueses tivessem menos férias e menos licenciados, dizendo ainda esperar que o “companheiro Pedro” possa formar governo. Mariano Rajoy foi mais longe e veio afirmar que “uma coligação de esquerda em Portugal seria negativa para os interesses de todos” e “não respeitaria” a vontade dos portugueses”, acrescentando que “seria a primeira vez na história – desde que a democracia regressou a Portugal – que não governaria o partido que ganhou as eleições”. O diário La Razón deu larga reportagem ao congresso conservador e destacou esses dois líderes em fotografia de primeira página. 
Acontece que todos se deviam preocupar mais com a desagregação da Europa, com a estagnação económica, com o desemprego, com a pobreza e a desigualdade social, com a ascensão das forças anti-democráticas, com os refugiados e a guerra na Síria, com o quadro de terror que se instalou na Líbia e com tantos outros graves problemas que afectam o nosso continente. Isso ficou em segundo plano. Angela Merkel preocupou-se com Portugal quando se devia preocupar com a Volkswagen e Mariano Rajoy preocupou-se com Portugal quando se devia preocupar com a Catalunha.
Aqui, só Manuel Alegre reagiu contra a inadmissível ingerência desta gente na nossa vida interna.
Ao qu’isto chegou!

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Os jornais, os jornalistas e a propaganda

Nas últimas semanas, uma enorme quantidade de jornalistas e de comentadores, uns assalariados e outros contratados, vestiram a farda de caceteiros e atiraram-se ao PS e ao seu secretário-geral, papagueando insultos e insinuações. 
Durante a campanha eleitoral essa gente nunca questionou o Passos nem o Portas, nem as desgraças económicas e sociais a que conduziram o país, que com eles se tornou mais pobre e mais dependente. Obcecados, só lhes interessou confrontar o Costa com o seu programa, com os seus objectivos e com as suas intenções. Todos os dias, essa gente repetia os mesmos argumentos, as mesmas perguntas, as mesmas palavras e fazia as mesmas insinuações. Espalharam o medo e a incerteza no eleitorado. Alguns deles, acantonados nas televisões, no Observador, no Sol e em outros pasquins semelhantes, encheram páginas de artigos cirúrgicos contra o Costa e contra a mudança.
Vieram as eleições e os resultados retiraram a maioria a quem nos governava. Assim, era exigível que tendo perdido a maioria, eles procurassem um compromisso para se manterem no poder, assumindo com humildade a sua nova condição. As partes não chegaram a acordo porque quem tinha que ceder não cedeu, mas o ambiente foi uma vez mais perturbado pelos mesmos jornalistas e comentadores que se voltaram a mobilizar para criar uma onda de dúvida e de temor na opinião pública e para continuar a difamar o PS e o seu secretário-geral. E tantas vezes repetem as mesmas mentiras, as mesmas inverdades ou as suas maliciosas opiniões, que toda essa manipulação passa a ser uma verdade quase absoluta para a opinião pública cansada e anestesiada. Tudo isto é feito de uma forma perversa, porque essa gente aprendeu que uma mentira mil vezes repetida se torna numa verdade inquestionável, como lhes ensinou Joseph Goebbels. É isto que se passa, com esta miserável gente a perder toda a honorabilidade e sujeitar-se a este papel de caluniadores sem escrúpulos. A política não pode ser assim. E agora temos o paradoxo de ver quem esteve na Alameda em 1975, ser considerado como um perigoso esquerdista e a pôr em causa os nossos compromissos internacionais. Força António Costa!

Cavaco e um discurso que nos envergonha

Ontem, o indivíduo que  exerce as funções de Presidente da República Portuguesa anunciou a indigitação do actual primeiro-ministro para formar governo, pois o seu partido foi o mais votado nas eleições de 4 de Outubro. Foi uma decisão esperada e legítima, apesar de haver muitas vozes a afirmar que “foi uma perda de tempo”. Poderia ter ficado por aí, mas o homem que veio de Boliqueime quis ir mais longe ao renunciar ao seu papel de árbitro e ao acrescentar à sua mensagem algumas verdadeiras barbaridades. Como se costuma dizer, em vez de pacificar a complexa situação que atravessamos, lançou muita gasolina para a fogueira da disputa partidária. Foi um péssimo e lamentável serviço ao país. Tirou a máscara da neutralidade e da imparcialidade e, nesta hora difícil, revelou estar ao serviço do seu partido e refém dos seus ódios, que aliás já revelara no seu famoso discurso de posse.
O que Cavaco disse revelou a pequenez de um homem e a sua definitiva incompreensão quanto ao papel de moderador que os portugueses lhe confiaram. Sem disfarçar a sua fúria, Cavaco espumou e fez afirmações de grande gravidade contra a esquerda portuguesa, que contabiliza agora 62% dos votos do eleitorado, quase lançando para a “clandestinidade” o PCP e o BE e, como escreveu um comentador, só faltando mandar avançar as canhoneiras contra a Soeiro Pereira Gomes e a Rua da Palma e, cercar o Largo do Rato para vergar o PS, acrescento eu. O indivíduo não se ficou por aí e desatou a mostrar a sua fúria contra o PS por não ter chegado a acordo com o PSD e a sua sanguessuga. No seu partido só esses génios da boçalidade que são Marco António Costa e Luís Montenegro tinham ido tão longe. Depois, de uma forma grosseira, antidemocrática e anticonstitucional, decidiu intervir com uma desapropriada pressão sobre o Parlamento no sentido de aliciar ou convencer alguns dos deputados do PS a aprovar o programa do do PSD e da sua sanguessuga e a votar contra o seu compromisso eleitoral.
Foi um discurso desapropriado e que nos envergonha. E ainda teremos Cavaco por mais 91 dias!

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

A verdade do Eurostat e a propaganda

O Eurostat divulgou hoje o seu NewsRelease 186/2015 e a informação que nos dá é absolutamente preocupante e alarmante, sobretudo numa altura em que estamos rodeados de incertezas e perante um provável quadro de crise política. Ao longo dos últimos meses a desenfreada propaganda governamental e dos seus aliados da comunicação social garantia que estávamos no bom caminho, que tudo corria bem, que os cofres estavam cheios e até avisavam os eleitores para que tivessem cuidado para não se deitar a perder tudo aquilo que fora conquistado com o sacrifício dos portugueses. O governo até teve a ousadia e o atrevimento de defender que, em pouco tempo, estaríamos entre as dez economias mais competitivas do mundo. Muitas ilusões se venderam e muitas manipulações foram feitas para anestesiar e cativar o voto do eleitorado.
Hoje, o Eurostat veio dizer-nos a verdade e tirar-nos uma parte dessa anestesia com que o governo nos manipulou: a dívida pública e o défice público, que eram as bandeiras do governo e que se dizia tinham assegurado a retoma da credibilidade externa portuguesa, estão ao nível do pior que acontece na Europa. Mais de quatro anos de governação só agravaram estes problemas. A dívida pública portuguesa em finais de 2014 continuava a aumentar e aproximava-se dos 230 mil milhões de euros, o que significa que representa 130,2% do PIB e que só é ultrapassada pela Itália (132,3%) e pela Grécia (178,6%). Relativamente ao nosso défice público de 2014 que se fixou nos 7,2%, a situação também é muito grave, pois só o Chipre está pior do que nós (8,9%). Significa que, depois dos tais sacrifícios que os portugueses fizeram, estamos na mesma ou talvez pior. Dá que pensar.
Não sabemos o que vai acontecer politicamente nos próximos dias, mas é evidente que o resultado hoje anunciado pelo Eurostat recomenda que alguma ou muita coisa mude. 

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Brasília sofre com o aquecimento global

No tempo do Presidente Juscelino Kubitschek, que entre 1956-1961 foi o 21º Presidente do Brasil e ficou conhecido por JK, iniciou-se a construção da nova capital federal brasileira que concretizava uma ideia antiga de promover o desenvolvimento do interior e a integração territorial e económica do país. JK convidou o urbanista Lúcio Costa e o arquitecto Oscar Niemeyer para projectarem a nova cidade e os seus principais edifícios públicos numa perspectiva moderna. Eles fizeram-no de uma forma inovadora que impressionou pela sua ousadia e o facto é que, em 1987, a cidade foi classificada como Património Cultural da Humanidade pela UNESCO. Actualmente, a cidade é considerada um monumento a céu aberto e na sua área metropolitana concentram-se cerca de três milhões de pessoas. JK e a nova capital federal ficaram associados a um período de notável desenvolvimento do Brasil, de grande estabilidade política, de enorme dinamismo cultural e de acentuada aquisição de prestígio internacional, sobretudo pela construção de Brasília e pela conquista da sua primeira Copa do Mundo em futebol.
Porém, nem tudo são rosas na grande cidade, um pouco por culpa da meteorologia e das alterações climáticas. Segundo os dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), as temperaturas máximas na cidade ocorrem em Outubro e a temperatura máxima absoluta historicamente registada em Brasília foi de 35,8 ºC e verificou-se no dia 28 de Outubro de 2008, seguido pelos 35,0 ºC registados no dia 15 de Outubro de 2014.
Ontem o Correio Brasiliense informava que a temperatura atingiu 36,4 ºC e acrescentava que “foi o dia em que Brasília ferveu”. Em nome do aquecimento global, o dia 18 de Outubro de 2015 entrou na história da cidade. Que os meus amigos brasilienses aguentem o melhor possível!

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Rugby World Cup: o sul derrota o norte

A Rugby World Cup 2015 está a decorrer desde o passado dia 18 de Setembro em onze cidades inglesas e em Cardiff (Gales), com a presença de vinte selecções nacionais distribuidas por quatro grupos.
No fim da fase preliminar ficaram apuradas oito equipas e a grande surpresa foi a eliminação da equipa da Inglaterra, o país organizador. Depois, as oito equipas apuradas encontraram-se nos quartos de final e a Austrália, a Argentina, a Nova Zelândia e a África do Sul ficaram apuradas para as meias finais por terem eliminado, respectivamente, a Escócia, a Irlanda, a França e o País de Gales. Aconteceu, portanto, o inesperado: as equipas do sul do planeta eliminaram todas as potências do rugby europeu, aquelas que disputam o famoso Torneio das Cinco Nações.
Alguns escreveram que no rugby, tal como em muitas outras coisas, a Europa está em decadência, mas foi com os franceses que a situação foi mais dramática. A selecção da França perdeu com a Nova Zelândia por 62-13 e, a avaliar pela reacção da imprensa francesa, o país ficou em estado de choque, pois ontem os media não hesitaram na escolha dos títulos dos seus jornais – “L’humiliation” ou “La marée noire” ou “Le désastre” ou “Humiliés” ou “Comment rebâtir le XV de France?”. Não é caso para tanta mágoa dos franceses, porque uma derrota num jogo de rugby com a Nova Zelândia não é tragédia nenhuma, embora tenha havido e continue a haver outras tragédias por aí, sem que a imprensa francesa as tenha denunciado claramente.
No próximo fim de semana haverá o Argentina-Austrália e o África do Sul-Nova Zelândia, para escolher aqueles que, no dia 31 de Outubro, jogarão a final do Rugby World Cup 2015.

domingo, 18 de outubro de 2015

A guerra na Síria é um grande imbróglio

Na sua edição de ontem, o diário libanês L’Orient – Le Jour apresenta uma desenvolvida reportagem intitulada “Qui combat qui, et où, en Syrie”, na qual procurou recolher informação directa das partes sobre um conflito que desde 2011 já fez 250 mil mortos. E, sobre a guerra, o jornal pergunta: É uma revolta popular contra um regime autoritário? É uma guerra por procuração entre potências regionais? É uma luta contra o jihadismo internacional? É uma nova guerra fria entre as grandes potências? É uma guerra, se não mundial, pelo menos internacional com combatentes de diferentes nacionalidades no terreno? O jornal diz que, certamente, é um pouco de tudo isto, o torna muito complexa a compreensão do que se passa no terrreno. O último exemplo desta confusão são os raids aéreos russos que Moscovo afirma serem dirigidos contra o Estado Islâmico, enquanto os Ocidentais defendem que eles são dirigidos contra as forças da oposição ao regime de Bashar el-Assad.
Para clarificar a situação, o L’Orient – Le Jour fez um estudo com a identificação de quem combate quem e onde, com a informação tão detalhada quanto possível das forças pro e anti-regime de Bashar el-Assad actualmente presentes no território sírio. Essa lista “das principais forças presentes no terreno”, confirma a real complexidade da situação pois não há apenas dois campos que se combatem, havendo muitos outros que se combatem entre si.
Do lado do regime estão as Forças de Defesa Nacional Síria (100 mil soldados), o Hezbollah (8 mil combatentes), as forças pasdaran ou guardas da revolução iraniana (7 mil combatentes) e as milícias iraquianas xiitas (25 mil combatentes). Contra o regime de Assad estão a Frente al-Nosra, que é o ramo sírio da el-Qaëda (10 mil combatentes), o ISIS ou Estado Islâmico (50 mil), o Jaich el-Fateh (30 mil), o Ahrar el-Cham (15 mil), o Jaich el-Islam (10 mil), a Frente Sul (30 mil), a Saraya ahl el-Cham (efectivos não declarados ao jornal). Além destas, existem as forças do PYD (Partido da União Democrática Curda) com 35 a 60 mil combatentes, dos quais 40% são mulheres, que defendem a criação de um Estado Curdo e que, para isso, tanto combatem o ISIS (como aconteceu em Kobani), como o regime de Assad.
A guerra na Síria é realmente um imbróglio e a solução passa pelo entendimento, primeiro entre os Estados Unidos e a Rússia e, depois, entre, o Irão, a Turquia, a Arábia Saudita e o Qatar, entre outros.

sábado, 17 de outubro de 2015

A corrupção também existe na Alemanha

Todos temos presente a forma arrogante como a Alemanha trata e humilha os seus parceiros do Sul, sobretudo os gregos e os portugueses. As atitudes e os discursos alemães denotam um evidente preconceito de superioridade que julgávamos ultrapassado desde há muitos anos. Porém, em algumas ocasiões pudemos ver directamente através da televisão não só a agressividade dos seus principais dirigentes, mas também as atitudes subservientes de Vítor Gaspar e de Maria Luís Albuquerque perante o todo poderoso ministro Wolfgang Schäuble.
Há bem pouco tempo fomos surpreendidos pela grosseira batota da Volkswagen que demonstrou a todo o mundo que os alemães não têm qualquer superioridade moral sobre os seus parceiros europeus, designadamente sobre os países do Sul. Sabemos também que, enquanto maior fabricante mundial de submarinos e seu fornecedor a dezenas de países, incluindo a Grécia e Portugal, recaem as maiores suspeitas sobre a indústria alemã quanto à forma pouco transparente como decorrem esses negócios. A notícia agora divulgada pelo diário catalão La Vanguardia e por outros jornais mundiais é mesmo demolidora: a Alemanha subornou a FIFA para assegurar a realização do Mundial de Futebol de 2006. Este caso até nem admira porque Joseph Blatter, o homem que preside à FIFA desde 1998, parece estar envolvido em enormes esquemas de corrupção e até foi suspenso pelo Comité de Ética daquela organização. O que não se imaginava é que a Alemanha fosse tão longe na sua ambição e na sua ganância ou que lá houvesse tanta corrupção.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Códices medievais na Memória do Mundo

A UNESCO acaba de inscrever no Registo da Memória do Mundo o conjunto de manuscritos medievais dos Comentários do Apocalipse do Beato de Liébana existentes na Península Ibérica, em resultado de uma candidatura conjunta de Portugal e Espanha, apresentada em 2014 e intitulada Manuscritos do Comentário do Apocalipse (Beatus de Liébana) na Tradição Ibérica. O conjunto inclui onze manuscritos,  nove existentes em Espanha e dois que se encontram em Portugal, um dos quais é o códice conhecido como o Apocalipse de Lorvão, datado do séc. XII que pertence ao Arquivo Nacional da Torre do Tombo e, o outro, é o códice conhecido como o Apocalipse de Alcobaça, existente na Biblioteca Nacional, que foi produzido no Mosteiro de Alcobaça no início do séc. XIII.
A história remonta ao séc. VIII quando as Astúrias foram o reduto da resistência ibérica contra a invasão muçulmana. Aí, no ano de 786, o padre Beato de Liébana escreveu o Comentário do Apocalipse como uma interpretação do último livro do Novo Testamento para que os cristãos comuns conseguissem entender a linguagem simbólica do seu texto. No século XII o monge Egas, no Mosteiro do Lorvão, fez uma cópia do texto do Beato de Liébana que ficou conhecida como Apocalipse de Lorvão, ilustrando-a com 66 iluminuras e incluindo comentários pessoais. Como o original do século VIII se perdeu, no século XIII foi feita no Mosteiro de Alcobaça uma cópia a partir do Apocalipse do Lorvão do monge Egas, a que se chamou Comentário ao Apocalipse do Beato de Liébana ou Apocalipse de Alcobaça. Únicos no seu género, estes códices são considerados uma expressão cultural e artística de grande relevância produzida na Península Ibérica e com grande disseminação no resto da Europa medieval. No seu site, a UNESCO diz que aqueles manuscritos são “considerados os mais bonitos e originais produzidos pela civilização medieval ocidental”. Com esta classificação a Memória do Mundo da UNESCO passa a ter oito inscrições portuguesas.

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Um patrão português do futebol mundial

A edição de hoje do diário francês Libération destaca na sua primeira página a fotografia de um homem de fato azul e o título “Le vrai patron du foot mondial”, dedicando-lhe uma desenvolvida reportagem nas páginas interiores. Esse homem chama-se Nélio Lucas, tem 36 anos de idade, é português e é originário de famílias humildes da região de Coimbra. Estudou Comunicação e Marketing nos Estados Unidos, fala fluentemente cinco línguas (português, espanhol, inglês, francês e italiano) e, há menos de uma dezena de anos, entrou com grande sucesso no mundo do futebol. O jornal considera-o “o símbolo do liberalismo mais absoluto no futebol moderno” e afirma que ele domina a opacidade do negócio do futebol.
Nélio Lucas dirige a Doyen Sports, um fundo de investimento que está presente no universo do futebol e, segundo o jornal, é ele que “desenha o mapa do futebol” e é tudo naquela organização: investidor, banqueiro, empresário, agente de imagem, olheiro e recrutador.
A reportagem permite-nos imaginar o ambiente que caracteriza este negócio da compra e venda de jogadores de futebol e das margens de lucro que envolve, através do relato dos encontros havidos entre empresários e dirigentes no Hotel Sheraton da Avenida da Boavista no Porto, antes do recente jogo entre o FC Porto e o Chelsea. A velha ideia do amor à camisola já tinha morrido, mas agora consolida-se a ideia de que cada equipa de futebol é uma unidade de negócio que existe para ser rentabilizada financeiramente.
Neste negócio sempre ouvi falar em Jorge Mendes, mas graças ao Libération ficamos a saber que também há o Nélio Lucas e, provavelmente, haverá outros todo-poderosos neste mundo do futebol. Assim, são cada vez mais ridículos aqueles indivíduos que passam horas a discutir futebol na televisão por causa de um penalti ou de um golo anulado. 

A escolha do próximo Primeiro-Ministro

As eleições legislativas realizaram-se no dia 4 de Outubro mas continuamos sem saber quem será o futuro Primeiro-Ministro. Porém, ao contrário do que dizem alguns protagonistas que andam por aí, por agora isso não é um problema, até porque os dias continuam a ter 24 horas, os rios continuam a correr para o mar e a lei de Lavoisier continua viva, isto é, na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. Estes dias de incerteza e de curiosidade quanto ao nome do próximo Primeiro-Ministro têm servido para que na televisão, na rádio e nos jornais, tenham aparecido centenas de cidadãos a expressarem a sua fundamentada opinião e a mostrar que há saídas constitucionais para todos os gostos, ou seja, Sua Excelência - que já pensou em todos cenários - vai ouvir os partidos representados na Assembleia da República e, tendo em conta os resultados eleitorais, vai nomear um Primeiro-Ministro, cujo programa essa mesma Assembleia da República irá aceitar ou rejeitar. Depois se verá...
No meio desta silenciosa algazarra que nos envolve, já há algumas coisas que se devem salientar. A primeira é que a maioria absoluta acabou e que a estabilidade e a governabilidade exigem humildade e compromisso a quem aceitar a incumbência de formar governo.  A segunda é que são os portugueses, através dos seus deputados, que aprovam ou reprovam o programa do governo, o que significa que essa tarefa não cabe aos comentadores. A terceira é que aquela ideia do arco da governação é uma treta inventada pelo portismo e que caiu por terra, pois os governos dependem do Parlamento e para apoiar um governo não há deputados de primeira e deputados de segunda.
Para além destas realidades, há uma novidade na política portuguesa que nunca se vira antes com tal intensidade, a lembrar os tempos sombrios do Diário da Manhã e da União Nacional. Trata-se da intervenção de alguns indivíduos que, disfarçados de jornalistas ou de comentadores, dão um triste espectáculo de servilismo e de preconceito à mudança, que difamam, que insultam e que nos envergonham a todos. O que eles fazem não é jornalismo. É uma repugnante propaganda. É a arruaça. Moram nas televisões, mas também no Observador e no Correio da Manha, entre outros locais que lhes dão abrigo e lhes pagam. Esse Fernandes e essa Bonifácio...

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Cristiano Ronaldo ou o grande ganhador

Há muito poucos portugueses que brilham além-fronteiras, mas Cristiano Ronaldo é um deles. Nem Saramago, nem Paula Rego, nem Guterres e muito menos Barroso, atingiram a sua notoriedade e fama. Ele é o mais famoso futebolista português de sempre e recebeu ontem a sua quarta Bota de Ouro. Nunca nenhum outro jogador de futebol tinha vencido aquele troféu tantas vezes e, por isso, o tema foi destacado na imprensa desportiva internacional, assim sucedendo hoje, por exemplo, com o diário espanhol MARCA que o classifica com o título El Único. A Bota de Ouro é um prémio atribuido pelo European Sports Media para distinguir o futebolista que tenha marcado mais golos nos diferentes campeonatos europeus. Criado em 1967 pela revista francesa L’Équipe, o prémio já foi conquistado por três futebolistas portugueses, a mostrar que em matéria futebolística somos um país muito competitivo. Assim sucedeu com Eusébio (1967-68 e 1972-73), com Fernando Gomes (1982-83 e 1984-85) e, mais recentemente, com Cristiano Ronaldo (2007-08, 2010-11, 2013-14 e 2014-15).
Em 47 anos que já tem de existência, o prémio veio para Portugal oito vezes, o que significa que 17% dos premiados foram portugueses. É um caso surpreendente. O prémio já foi conquistado por argentinos, holandeses e romenos (4 vezes cada), por brasileiros, uruguaios e búlgaros (3 vezes cada), por alemães, jugoslavos, austríacos, franceses, italianos, galeses e escoceses (2 vezes cada) e, curiosamente, nunca foi ganho por espanhóis. Com oito troféus conquistados os portugueses destacam-se nas artes futebolísticas e Cristiano Ronaldo mostra que é realmente um caso único no futebol europeu.

domingo, 11 de outubro de 2015

A crueldade do mar é a mesma de sempre!

O cargueiro americano El Faro de 224 metros de comprimento, navegava de Jacksonville na Florida para San Juan de Porto Rico com 33 tripulantes a bordo, tendo desaparecido no mar das Bahamas durante a passagem do furacão Joaquin. Esta dramática ocorrência aconteceu há dez dias e, apesar das intensas buscas que têm sido efectuadas, apenas foram recuperados um bote salva-vidas sem ninguém a bordo e outros destroços menores. Embora ainda não se saiba exactamente o que se passou, terá havido 28 americanos e cinco polacos que perderam a vida, quando o navio desapareceu no meio de uma violenta tempestade, com ondulação muito forte, mar agitado e ventos estimados da ordem dos 215 quilómetros por hora.  O navio era do tipo Ro/Ro, especialmente destinado ao transporte de veículos, estando ao serviço desde 1975. Era, portanto, um navio velho que nesta viagem transportava centenas de contentores e veículos automóveis, mas terá sofrido avarias devido ao mau tempo e perdido capacidade de propulsão, acabando por ser “engolido” pelo mar. A edição de hoje do Miami Herald evoca a última viagem do El Faro com uma ilustração na sua primeira página que reconstitui, ou pelo menos ajuda a compreender, o que se terá passado com o navio.
A National Transportation Safety Board (NTSB) em cooperação com a Tote Maritime, a empresa proprietária do navio, estão a investigar as razões porque o navio deixou Jacksonville e, aparentemente, se dirigiu directamente para o olho do furacão Joaquin, apesar de dispor de todas as informações meteorológicas necessárias e de se tratar de uma situação bem conhecida das gentes do mar e sem qualquer imprevisibilidade. Em tempos de tanta tecnologia, como é possível que aconteçam estes casos de desafios ao mar cruel, em que se perdem tantas vidas?

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

A situação na Síria vai de mal a pior

Há uma teoria segundo a qual a 3ª Guerra Mundial já começou e o Papa Francisco foi uma das primeiras pessoas que avançou com essa ideia, quando há mais de um ano falou dos crimes, massacres e destruições que se verificam na Síria e no Iraque e apelou à paz e ao fim da “loucura bélica”. Outras personalidades têm referido que já se vive um clima de 3ª Guerra Mundial, não só pelo agravamento da situação militar, mas também pela situação humanitária que gerou milhões de refugiados. A última edição do semanário francês L’OBS, o antigo e famoso Le Nouvel Observateur, trata deste grave problema.
No passado dia 30 de Setembro de 2015 a Rússia decidiu intervir directamente na Síria e logo apareceram vozes a dizer que esse dia marcava o início da 3ª Guerra Mundial, tal como o dia 28 de Junho de 1914 marcou o início da 1ª Guerra Mundial, quando aconteceu o atentado de Serajevo.
Os Estados Unidos, a França e o Reino Unido condenaram imediatamente a intervenção russa por ter atacado opositores ditos moderados de Bashar-al-Assad que são financiados pelos americanos, mas ignoram o ataque ao hospital afegão dos Médicos sem Fronteiras em Kunduz, que causou a morte a pelo menos duas dúzias de doentes, médicos e pessoal civil.
A Síria de Bashar-al-Assad será uma caricatura de democracia, mas tem um regime laico e todas as confissões religiosas são toleradas. Ao contrário de Sadam Hussein e de Kadaffi, Assad resistiu à intervenção militar externa, mas enfrenta o jihadismo do EI e da Al-Qaeda, mas também outras forças financiadas pela Arábia Saudita, pela Turquia e até pelos Estados Unidos, que apoiam tudo e o seu contrário. É o que acontece com a Arábia Saudita que é apoiada pelos Estados Unidos e pela França, mas que oprime e reprime mais de metade da população, que não permite que as mulheres se desloquem sozinhas, nem que conduzam, nem que sejam médicas, nem que vão ao cinema, que semanalmente executa presos, que não permite a um cristão ir a uma igreja e que condena à morte um muçulmano que pretenda deixar de o ser.
A Síria é hoje um laboratório no mundo multipolar, no meio de uma extensa região que ameaça desintegrar-se. Os turcos preferem o EI a qualquer autonomia curda; os sauditas preferem o EI à minoria alauita; o Irão quer a minoria alauita no poder. Os EUA, tal como a França e o Reino Unido, não sabem o que querem.
Assad terá lançado uma grande ofensiva no terreno com o apoio do Hezbollah libanês, das forças especiais iranianas e da aviação russa. Os russos estarão em vias de intervir no terreno a pedido de Assad, enquanto se anuncia que a China já tem um porta-aviões nas águas sírias e mil fuzileiros no terreno. A NATO foi surpreendida e diz-se pronta a enviar tropas e aviões para a Turquia. Há muitos aviões a voar sobre a Síria, uns russos, outros do regime sírio, outros da coligação liderada pelos americanos. Não sei se a 3ª Guerra Mundial já começou, mas sei que isto vai de mal a pior.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Timor evoca a chegada dos portugueses

O jornal semanal timorense Matadalan que se publica em tétum na cidade de Dili, anuncia na sua última edição hoje divulgada, que o Estado timorense vai comemorar os 500 anos da chegada dos portugueses à ilha de Timor. De facto, desde Julho de 2015 que está constituída uma comissão organizadora presidida por Dionísio Babo Soares, que tem por missão a organização das Comemorações dos 500 Anos da Afirmação da Nova Identidade Timorense, devendo as cerimónias oficiais decorrer na Região Administrativa Especial de Oe-Cusse Ambeno no dia 28 de Novembro de 2015, que é o dia da proclamação da independência nacional em 1975.
É no enclave do Oe-Cusse que se situa a povoação de Lifau, que foi o ponto onde os portugueses terão desembarcado pela primeira vez no dia 18 de Agosto de 1515, conforme está assinalado num obelisco que existe em Lifau e resistiu aos 25 anos de ocupação indonésia, que o jornal Matadalan reproduziu na sua primeira página. As autoridades timorenses pretendem assinalar a longa caminhada histórica de Timor-Leste na construção da sua identidade nacional, marcada pelo primeiro contacto com os portugueses há 500 anos e, ao mesmo tempo, promover um sentimento de unidade nacional num território repartido por muitos reinos, muitos grupos etno-linguísticos e muitas mestiçagens culturais, sendo de salientar que a memória da chegada dos portugueses a Timor, seja um contributo tão importante para a afirmação da unidade nacional do país.

Um enorme bando de papagaios escribas

O resultado das eleições de 4 de Outubro traduziu-se numa meia vitória do governo, porque embora tivesse obtido o maior número de votos, perdeu a maioria absoluta. Agora, se quiser governar, a ex-maioria constituida por PSD+CDS tem que perder a sua arrogância, negociar, ceder e, provavelmente, até tem que pedir desculpas pelos repetidos insultos que fez ao líder do PS, especialmente esse tal Portas, um valentão que se destacou pela sua demagogia, populismo e agressividade verbal. Ontem, os dois parceiros da ex-maioria foram a correr assinar um acordo político de governo, que não é mais do que uma bóia de salvação para esse grupúsculo de pequenos políticos chamado CDS, que se tornou numa lapa ou numa sanguessuga para o PSD.
Durante a campanha eleitoral, com a descarada cumplicidade de muitos jornalistas, o PS teve que explicar o seu programa, sem que o governo fosse denunciado pelos resultados desastrosos das suas políticas, nem pelo facto de não ter sequer apresentado um programa eleitoral. Agora que a ex-maioria precisa totalmente do PS, os mesmos jornalistas voltam a pressionar o PS para se acomodar aos diktats da ex-maioria, sem perceberem que é a ex-maioria que tem de se acomodar ao programa do PS. É o jornalismo que temos, feito por autênticos papagaios sem ética nem deontologia profissional, muitos deles com assento na televisão, que se repetem, repetem, repetem!
Porém, não será o homem de Boliqueime nem os jornalistas que escolherão a solução de governo para o nosso país. Essa tarefa caberá aos partidos com assento parlamentar e aos deputados eleitos. Acontece que, como tem sido repetidamente dito, os votos dos portugueses expressaram outras hipóteses de maioria, tendo havido 62% de eleitores que rejeitaram a aliança PSD+CDS. Por isso, como não há deputados de primeira e deputados de segunda, há várias maiorias possíveis resultantes da vontade dos deputados portugueses, que foram escolhidos por eleitores portugueses. Por isso, já temos o PCP a anunciar a sua disposição para dar expressão institucional à "vontade de mudança" manifestada pelos portugueses nas últimas eleições e o BE a reclamar uma aliança de governo à esquerda. É realmente uma grande embrulhada como salienta hoje a revista Visão, mas que certamente vai ser resolvida com a ponderação que as circunstâncias aconselham. A Democracia vencerá. Abaixo os papagaios que escrevem e falam.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Semearam ventos, vão colher tempestades

Ainda estão gravadas nos nossos ouvidos as repetidas afirmações da propaganda do governo de que tudo estava a correr bem, que as exportações batiam recordes, que os turistas inundavam o nosso país, que a economia tinha começado a crescer, que os cofres estavam cheios. Da mesma forma, ainda nos lembramos do optimismo reinante, das atoardas contra os adversários, dos inúmeros avisos para que não voltássemos para trás. Agora, passada a fase do vale tudo e da propaganda anestesiante, começam a aparecer as facturas para pagar e, logo no dia seguinte, essas sinistras figuras do Schäuble e do Dijsselbloem, já se permitiam exigir que lhes fosse enviado o nosso orçamento até ao próximo dia 15 e até as agências de rating se permitiram mandar avisos. Afinal, quando ainda estão por apurar os resultados do círculo eleitoral da emigração, já se pode verificar que o governo levou uma boa tareia e perdeu cerca de 800 mil votos e cerca de 25 deputados. O Portas e o seu partido deixaram de ser precisos ao PSD e, mais dia menos dia... Como é que se pode falar em vitória e como é que se pode ter tanto optimismo, quando a situação que temos pela frente é bem grave?
Ontem, quando ainda faltam 107 dias para deixar Belém, tivemos mais uma prova da mediocridade política e da completa ausência de neutralidade do homem que veio de Boliqueime. Antes de ter “ouvido os partidos políticos” como manda a Constituição que jurou cumprir, o homem que faltou às comemorações do 5 de Outubro resolveu encarregar o chefe do seu partido de “desenvolver diligências” para conseguir uma solução com “estabilidade política e governabilidade”, ao mesmo tempo que ignorava a existência dos outros partidos com representação parlamentar. Que habilidoso! Que chico-esperto! Então o homem esqueceu-se de que há mais partidos no Parlamento, os  quais se afirmaram contra a política que tem sido seguida e até representam cerca de 62% do eleitorado? Porém, o PS que tão insultado foi durante a campanha eleitoral e passou de 73 para 85 deputados (mais 16%), já veio dizer que rejeita essa ideia do “arco da governação” e que vai negociar com todos os partidos com expressão parlamentar. Faz muito bem. Eles semearam ventos, vão colher  tempestades.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Eleições: continuidade venceu a mudança

O resultado das eleições de ontem foi inequívoco e os eleitores escolheram a continuidade em vez da mudança, embora o caminho agora seja bem mais estreito do que aquele que o governo tinha percorrido desde 2011. O governo levou um cartão amarelo, quando se esperava que levasse um cartão vermelho, bem merecido pelas suas malfeitorias e manipulações dos últimos quatro anos. Acabou-se o tempo da arrogância da maioria e do desprezo pela oposição. A partir de agora, a cultura da negociação e do compromisso tem que ser a norma. No entanto, alguns símbolos desse tempo de treva que disseram ser de luz, como o Ministro..., o Secretário de Estado... e o Deputado... vão continuar a atravessar-se no nosso caminho e a incomodar o nosso quotidiano.
Os portugueses são um povo bonzinho que se deixou levar, mas que depois não se pode queixar. A sua vontade democrática surpreendeu, mas a vida é assim e o povo é quem mais ordena. A austeridade não passou por cá. Nem as mentiras, o brutal aumento de impostos, o enorme desemprego, a emigração em massa, o corte nas pensões, o aumento da dívida, o corte nos salários, a submissão à Europa, o engano sobre a solidez do BES, as privatizações ideológicas, o aumento colossal da pobreza, os atrasos nas escolas, a confusão nos hospitais, a desmoralização nas polícias, a triste memória do Relvas ou o irrevogável que se vendeu por um cargo e não foi capaz de fazer a reforma do Estado. Os portugueses parece terem perdoado quase tudo a esta gente.
Embora o melhor resultado tivesse sido uma votação que permitisse a escolha de um governo de maioria absoluta que garantisse a estabilidade política necessária para enfrentar a carga de trabalhos que aí vem, os portugueses escolheram outra solução e o resultado são várias maiorias e minorias que se cruzam, ou não cruzam. Vêm aí tempos politicamente muito difíceis e, qualquer dia, lá teremos novas eleições, porque a história que nos venderam de que estamos no bom caminho é uma treta. Isto não está nada bem. A nossa dívida aumentou muito nos últimos quatro anos, não houve investimento, nem há uma efectiva criação de emprego. Agora que acabaram a campanha eleitoral e a propaganda, acordemos para o estado da nação. Enfrentemos pois a difícil realidade que 38% dos portugueses escolheram, num Portugal mergulhado numa Europa sem rumo.

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Há um cavaco que vai ficar na história

Aníbal Cavaco Silva, natural de Boliqueime, ex-funcionário do Banco de Portugal e doutor em Economia, continua a surpreender-nos quando faltam 112 dias para que abandone o Palácio de Belém e para nos vermos livres dele. Ainda falta muito tempo, a paciência está a esgotar-se,  mas temos que aguentar.
As sondagens mostram há muito tempo que nunca um Presidente da República Portuguesa teve tão baixos níveis de popularidade, resultantes da sua mediocridade cultural, mas também da sua falta de isenção política e da forma como se desculpa das coisas e como se envolveu ou falou do BPN e do BES.
Um dia destes, exibindo um desapropriado ar novo-riquista, afirmou que sabia muito bem aquilo que irei fazer e todos sabem que sou totalmente insensível a quaisquer pressões, venham elas de onde vierem”, mas no dia seguinte avisou que não iria comparecer às comemorações oficiais da implantação da República “porque tem de se concentrar na reflexão sobre as decisões que terá de tomar nos próximos dias". Em que ficamos? Então sabe muito bem (porque estudou todos os cenários) ou precisa de se concentrar (porque anda desconcentrado)?
Para uns é uma desculpa qualquer, para outros é uma falta de respeito, para outros é, simplesmente, o medo dos jornalistas e, sobretudo, o medo de monumentais e justas assobiadelas. Quando o Presidente da República decide não comparecer à cerimónia da Implantação da República, dá um mau exemplo de cidadania e, a 112 dias do fim da sua comissão presidencial, reafirma uma vez mais que quer ficar na História como o maior fiasco que tivemos no século XXI. Isto é um abcesso! Muita razão tinha a minha prima quando disse que "o rapaz deixou Boliqueime, mas Boliqueime nunca deixou o rapaz".

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Os ratos travestidos de comentadores

Hoje termina a campanha eleitoral em que fomos bombardeados por muitos jornais, muitíssimos jornalistas e alguns comentadores, cujo alinhamento politico-partidário envergonha os códigos éticos do jornalismo – rigor, objectividade, imparcialidade, verdade, independência. Muitas dessas tristes personagens, revelaram não ter qualquer ponta de dignidade e prestaram-se a papéis de uma confrangedora mediocridade.
Assistimos à publicação e à divulgação televisiva de demasiada “matéria encomendada”, muitas vezes para pagar os favores recebidos durante quatro anos e, asssistimos, também, a uma completa demissão do papel fiscalizador dos jornalistas – o quarto poder – pois aliaram-se ao governo e repetiram exaustivamente as suas mentiras, ignorando o tratamento dos temas sociais que tanto nos empobreceram. Essa postura é altamente reprovável e revela que a liberdade de imprensa e o direito a ser informado com rigor e objectividade já conheceu melhores dias entre nós. Porém, se essa atitude pode ser compreendida nos estagiários e nos jovens jornalistas que procuram assegurar o seu precário emprego, já o mesmo se não pode dizer dos pseudo-comentadores televisivos que, desde há muito tempo, aproveitaram a sua condição para fazer campanha partidária da forma mais grosseira e atrevida que lhes foi possível. Repetidamente, pouparam qualquer crítica substantiva ao passos e à sua dama de companhia portas e, repetidamente e durante longos tempos de antena televisivos, criticaram o candidato do maior partido da oposição. Cinicamente. Depois, ainda andaram na rua e nos comícios de bandeirinha na mão a repetir as suas atoardas contra o costa. Que triste figura! Que bandalheira! Que vulgaridade! Assim a política é uma vigarice. Afinal, eles não passam de uns pobres ratos do regime que se travestiram de comentadores. Há gente para tudo!