sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Cavaco e um discurso que nos envergonha

Ontem, o indivíduo que  exerce as funções de Presidente da República Portuguesa anunciou a indigitação do actual primeiro-ministro para formar governo, pois o seu partido foi o mais votado nas eleições de 4 de Outubro. Foi uma decisão esperada e legítima, apesar de haver muitas vozes a afirmar que “foi uma perda de tempo”. Poderia ter ficado por aí, mas o homem que veio de Boliqueime quis ir mais longe ao renunciar ao seu papel de árbitro e ao acrescentar à sua mensagem algumas verdadeiras barbaridades. Como se costuma dizer, em vez de pacificar a complexa situação que atravessamos, lançou muita gasolina para a fogueira da disputa partidária. Foi um péssimo e lamentável serviço ao país. Tirou a máscara da neutralidade e da imparcialidade e, nesta hora difícil, revelou estar ao serviço do seu partido e refém dos seus ódios, que aliás já revelara no seu famoso discurso de posse.
O que Cavaco disse revelou a pequenez de um homem e a sua definitiva incompreensão quanto ao papel de moderador que os portugueses lhe confiaram. Sem disfarçar a sua fúria, Cavaco espumou e fez afirmações de grande gravidade contra a esquerda portuguesa, que contabiliza agora 62% dos votos do eleitorado, quase lançando para a “clandestinidade” o PCP e o BE e, como escreveu um comentador, só faltando mandar avançar as canhoneiras contra a Soeiro Pereira Gomes e a Rua da Palma e, cercar o Largo do Rato para vergar o PS, acrescento eu. O indivíduo não se ficou por aí e desatou a mostrar a sua fúria contra o PS por não ter chegado a acordo com o PSD e a sua sanguessuga. No seu partido só esses génios da boçalidade que são Marco António Costa e Luís Montenegro tinham ido tão longe. Depois, de uma forma grosseira, antidemocrática e anticonstitucional, decidiu intervir com uma desapropriada pressão sobre o Parlamento no sentido de aliciar ou convencer alguns dos deputados do PS a aprovar o programa do do PSD e da sua sanguessuga e a votar contra o seu compromisso eleitoral.
Foi um discurso desapropriado e que nos envergonha. E ainda teremos Cavaco por mais 91 dias!

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