domingo, 31 de janeiro de 2016

Por onde já anda a nossa pobre soberania

As relações de Portugal com a União Europeia evoluiram num sentido que é lamentável, pois a humilhação e a perda de soberania já envergonham um país com nove séculos de história.
Os portugueses votaram no dia 4 de Outubro e fizeram uma escolha política que vai em sentido diferente da receita única de austeridade que vigorou desde o início da crise do euro e tão maus resultados teve, não só em Portugal, mas também nos outros países do Sul da Europa. Como é natural, em função das suas promessas eleitorais e dos acordos parlamentares realizados, não era de esperar que o novo governo preparasse um Orçamento do Estado de mera continuidade em relação ao anterior. Porém, quando o governo enviou para Bruxelas o esboço desse mesmo Orçamento, de imediato apareceram muitas críticas, quase todas no mesmo sentido. O Orçamento ficou sob "fogo cerrado" como titulou o Diário Económico. A Comissão Europeia veio dizer que o esboço não cumpria alguns critérios obrigatórios e, depois, foi o Conselho de Finanças Públicas, a UTAO e algumas agências de rating a deixar ameaças. Alguns partidos políticos que ainda não engoliram a sua derrota parlamentar e muitos comentadores rejubilaram com esta situação porque, dominados por uma cegueira ideológica, ainda não perceberam que não podemos estar de cócoras perante os mercados, as agências de rating e os burocratas de Bruxelas, que ninguém elegeu e ninguém sabe quem são. Tenhamos vergonha! Tenhamos dignidade!
Até à sua aprovação pela Assembleia da República o Orçamento é um documento aberto e susceptível de alterações. Não é aí que está o problema e não são os números, nem o carácter das previsões mais ou menos optimistas que estão em causa. O que está em causa é uma prática cada vez mais arrogante da Comissão Europeia e dos seus aliados internos, que se mostra incapaz de resolver os gravíssimos problemas que estão a ameaçar a coesão económica e social europeia, que se cala perante os comportamentos orçamentais franceses e italianos e que se atira a Portugal, entre outras coisas ridículas porque prevê um crescimento de 2,1%, quando aceitara um crescimento de 2,0% do anterior governo.
O caminho seguido nos últimos anos empobreceu o país, aumentou a dívida e desertificou o território. Votamos noutra coisa. O governo garante que os compromissos eleitorais e os acordos parlamentares são para cumprir, ao mesmo tempo que negoceia com a Comissão Europeia o esboço de Orçamento para 2016.  Esperemos que António Costa chegue a bom porto.

sábado, 30 de janeiro de 2016

Um novo mundo para a aviação comercial

A recente encomenda de 118 aviões feita pelo Irão ao consórcio Airbus, na mesma semana em que uma companhia japonesa encomendou três novos A380, veio animar a indústria aeronáutica francesa, mas veio lembrar também as previsões para o sector aeronáutico para os próximos vinte anos: duplicação do tráfego aéreo e duplicação da frota de aviões.
De acordo com as previsões dos grandes construtores (Airbus e Boeing) e da própria IATA, o crescimento anual de passageiros será de 5% nos próximos vinte anos, esperando-se que duplique até 2032 e se aproxime dos sete mil milhões. Para absorver toda esta procura e de acordo com essas previsões, a frota mundial deverá também duplicar e atingir 40 mil aviões em 2032.
É um enorme desafio para a indústria aeronáutica, para o sector aeroportuário, para a gestão do tráfego aéreo, mas também para a formação de pilotos e de outros profissionais da aviação.
Um sinal desse futuro foi a recente entrada ao serviço de novos aviões da Airbus e da Boeing, mas também de outros construtores incluindo a Bombardier e a Embraer, enquanto os construtores russos e chineses também se posicionam nesta autêntica competição comercial. Estima-se que serão necessários 37.700 novos aviões para aumento e renovação das actuais frotas, dos quais 2500 aviões regionais (70 a 100 passageiros), 26.700 aviões de médio curso (100 a 200 passageiros) e 8500 aviões de longo curso (até 550 passageiros).
O mercado asiático e em especial o mercado interno chinês, assim como as classes médias emergentes da Índia e da América do Sul estão na primeira linha deste crescimento da procura mundial de transporte aéreo. Como hoje refere o jornal Ouest France, todos querem a sua parte neste negócio de grandes proporções e, por isso, quer os construtores, quer as companhias aéreas, vão estar muito activos nos próximos anos.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

O desastre do Challenger 30 anos depois

No dia 28 de Janeiro de 1986, cerca de 73 segundos depois do seu lançamento no Centro Espacial John F. Kennedy, na Florida, o vaivém espacial Challenger explodiu com sete tripulantes a bordo e desintegrou-se sobre o oceano Atlântico.
O mundo que assistia a este acontecimento pela televisão, tal como cerca de 50 milhões de cidadãos americanos, comoveu-se com a brutalidade das imagens a que assistia em directo. Além dos seus seis tripulantes astronautas, participava naquela missão uma mulher chamada Christa McAuliffe, que era professora e não tinha formação específica como astronauta, estando previsto que desse aulas a partir do espaço para interessar a juventude no projecto espacial.
A circunstância de pela primeira vez participar nesse voo uma mulher como voluntária, tinha despertado a curiosidade dos americanos e contribuiu para acentuar o efeito emocional da tragédia. Como consequência deste desastre, foi nomeada uma comissão especial para o investigar e o programa espacial americano esteve suspenso durante 32 meses.
Provavelmente, a América e o orgulho americano nunca recuperaram deste choque!
Trinta anos depois, muitos jornais americanos evocaram nas suas edições de hoje a tragédia do Challenger, designadamente o diário The Denver Post, publicado na cidade de Denver no estado do Colorado.

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Vêm aí os Estados Unidos da Austrália

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Não há provas inequívocas sobre quem foram os primeiros europeus que chegaram à Austrália, isto é, se foram os portugueses como defende o investigador australiano Kenneth Gordon McIntyre no seu livro “A descoberta secreta da Austrália”, ou se foram os holandeses que em 1606 deram áquelas terras o nome de Nova Holanda. O facto é que os ingleses se estabeleceram na parte oriental da ilha e aí criaram uma colónia penal em 1778, que deu origem à cidade de Sydney. Ao longo do século XIX estabeleceram-se outras colónias no território australiano governadas autonomamente, até que em 1901 as seis colónias existentes formaram uma federação, adoptaram o sistema político democrático e assumiram-se como um reino da Commonwealth, com capital em Camberra. Hoje a Austrália é formada por seis estados e dois territórios e as suas principais cidades são Sydney, Melbourne, Brisbane, Perth, Adelaide e Darwin. O processo histórico transformou a Austrália numa sociedade multicultural e a ligação tutelar e afectiva à Coroa britânica faz cada vez menos sentido, tal como o facto do chefe do Estado australiano ser a Rainha de Inglaterra. Por isso, de vez em quando a opinião pública australiana é confrontada com este paradoxo e, inclusive, os australianos já decidiram num referendo realizado em 1999, não adoptarem de imediato o regime republicano. Agora foram os governadores de cinco estados e dos dois territórios australianos que assinaram uma declaração conjunta para expressar a sua vontade no sentido do país adoptar o regime republicano e o chefe do Estado ser um cidadão australiano, como destacou em Sydney o The Daily Telegraph. Porém, tal como aconteceu de outras vezes em que o tema foi discutido, todos parecem concordar que a mudança de regime só deverá feita depois da morte de Isabel II, que é muito popular na Austrália. Depois, provavelmente, teremos os Estados Unidos da Austrália com a Nova Gales do Sul, o Queensland, a Austrália do Sul, entre outros estados.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Uma tempestade como há muito não se via

Nos últimos dias a costa leste dos Estados Unidos esteve sob uma grande tempestade de neve como há muito não se via, com ventos quase ciclónicos e nevoeiros intensos que paralisaram as principais cidades, como Nova Iorque, Washington, Filadélfia e Baltimore. Mais de uma dezena de estados declararam o estado de emergência e, de acordo com o Serviço Meteorológico Nacional, tratou-se da segunda maior tempestade de neve desde que há registo, isto é, desde 1869. Em muitas regiões, as autoridades apelaram à população para que não saisse de casa, proibiram o trânsito de veículos e fecharam pontes e túneis, enquantos os aeroportos foram encerrados. Apesar dessas precauções, milhões de cidadãos foram afectados nas suas vidas e permaneceram nas suas casas durante dois dias, em algumas regiões sem electricidade. No sentido de rapidamente ser desbloqueada a situação e ultrapassar aquela emergência, os serviços de protecção civil e os carros limpa neves trabalharam em todas as cidades, partilhando os trabalhos de limpeza das ruas e das estradas com os moradores, para que a normalidade da vida pudesse ser rapidamente recuperada. Naturalmente, a notícia dominante da imprensa americana foi a tempestade de neve e os jornais tiveram uma singular oportunidade para ilustrar as suas edições com imagens das ruas e dos automóveis soterrados, embora o New York Post tivesse preferido usar a imagem de uma voluntária que, indiferente ao frio, deu uma ajuda na remoção da neve nas ruas de Nova Iorque, onde atingiu 68 centímetros de altura. Na América é assim: qualquer pretexto serve para que as pessoas apareçam e se promovam, neste caso através de um trajo muito insólito para aquelas temperaturas.

MRS é o novo Presidente da República

As eleições presidenciais ontem realizadas deram a vitória ao candidato Marcelo Rebelo de Sousa com 52% dos votos e, por isso, ele tomará posse como Presidente da República Portuguesa no próximo dia 9 de Março. Não votei nele mas, tal como disse Sampaio da Nóvoa, “a partir de hoje, Marcelo é o meu Presidente”.
Marcelo teve 2.403.874 votos e não precisou de campanha, nem de comícios, nem de cartazes. As suas características pessoais eram bem conhecidas dos portugueses, porque durante muitos anos apareceu semanalmente na televisão e, esse facto, foi determinante para adquirir uma expressiva notoriedade que tanto contribuiu para esta vitória. Marcelo é, sobretudo, um produto da televisão, a tal “caixa que mudou o mundo” e que, como alguém disse, tanto vende sabonetes como Presidentes da República. Durante muitos anos, o comentador Marcelo falou de tudo e disse tudo, mas também o seu contrário. Foi um fala-barato, um catavento e um entertainer. O povo gostou da sua imagem televisiva, mas muitos dirigentes da sua área política não o queriam, porque nunca gostaram da sua irreverência, nem da sua insubmissão. A essa gente, Marcelo deu uma grande lição.
Porém, Marcelo na Presidência da República é uma incógnita, embora vá levar consigo o cosmopolitismo, os valores culturais e a sensibilidade social que estiveram ausentes de Belém nos últimos dez anos. Esse facto é muito animador. A sua inteligência, a sua experiência e a sua perspicácia vão ser essenciais para moderar e pacificar a sociedade portuguesa, os partidos políticos e a sociedade civil. Por isso ele falou da unidade nacional e da coesão social, em vez de ameaçar com os mercados e de vomitar banalidades macroeconómicas como sempre fez o seu antecessor. Como disse e bem no seu discurso de ontem, “o povo é quem mais ordena” e essa citação de José Afonso ficou-lhe bem. Que tenha um bom mandato e que possa unir os portugueses!

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Há uma crise, mas o Brasil não vai parar

O ano de 2015 foi muito duro para os brasileiros, mas todos os especialistas afirmam que o ano de 2016 não vai ser melhor. A imprensa brasileira diz que os sinais de deterioração da situação económica e social são evidentes e que esses sinais são percepcionados pelo homem comum, além de serem ampliados por uma situação política com alguma instabilidade e pelos muitos escândalos de corrupção que se vão conhecendo. Na sua edição de hoje o Correio Braziliense diz que a crise está a empurrar o Brasil para os anos 90 – um retrocesso de 20 anos – e que a hipótese de uma convulsão social em larga escala é uma real possibilidade, devido ao agravamento da situação económica, à quebra do produto nacional e do investimento estrangeiro, ao aumento da inflação e do custo de vida. O desemprego tem aumentado, tal como o número de famílias endividades e daí deriva uma enorme instabilidade social. A recessão brasileira tem situações semelhantes na Argentina e na Venezuela, que revelam a existência de uma crise mais geral, que a América Latina não conhecia desde os anos 80 e da qual é mais difícil sair.
Porém, o Brasil não vai parar, nem os brasileiros se vão deixar dominar pelo desânimo. Os ventos hão-de soprar de feição e, a seguir a esta tempestade, virá a bonança. No próximo Verão, entre os dias 5 e 21 de Agosto, a cidade do Rio de Janeiro vai receber o maior evento desportivo do mundo que pela primeira vez na sua história se realiza na América do Sul. A preparação dos Jogos Olímpicos vai ajudar a melhorar a auto-estima dos brasileiros e vai ajudar na recuperação da sua economia. É o que se deseja aconteça desde já.

As eleições presidenciais em Portugal - II

Hoje foram publicadas diversas sondagens relativas às eleições presidenciais do próximo domingo e todas elas apresentam previsões muito semelhantes que apontam para a vitória do candidato da Direita logo à primeira volta, com cerca de 52% dos votos, enquanto os outros votos dos portugueses se distribuem pelos diversos candidatos da Esquerda, destacando-se entre eles o candidato Sampaio da Nóvoa que recolhe 22% das intenções de voto.
As sondagens são recolhas de opiniões – espontâneas ou induzidas – com maior ou menor credibilidade técnica, que quantificam variáveis sociais e não são coisas do domínio das ciências exactas, apresentando intervalos de confiança bastante largos. Por isso, os 52% de intenções de voto que as sondagens atribuem ao televisivo Marcelo, consagrado como o Catavento, ainda não são “favas contadas”. É exactamente isso que dizem as sondagens, apesar dos jornalistas e comentadores do costume aproveitarem esse número para manipular a realidade a favor do seu “colega da televisão”. Porém, serão os votos e não as sondagens que, no domingo, vão determinar se teremos um presidente que não deixará de estar alinhado com o seu companheiro de partido que veio de Boliqueime, com o “cherne” Barroso e com a dupla P&P ou se, alternativamente, teremos uma segunda volta para apurar qual dos dois professores catedráticos da Universidade de Lisboa será o melhor presidente para Portugal.
Obviamente, eu voto António Sampaio da Nóvoa!

As eleições presidenciais em Portugal - I

As eleições presidenciais portuguesas realizam-se no próximo domingo e parece que não estão a interessar os eleitores que revelam alguma indiferença, talvez porque há vários candidatos de grande credibilidade para a função. Não tem havido crispações nem ânimos exaltados. Não tem havido ataques pessoais. A democracia está a funcionar. Assim, cada português pode escolher com tranquilidade o candidato que melhor se ajuste aos seus desejos, porque sabe que o seu futuro presidente vai ser melhor do que aquele que esteve em Belém nos últimos dez anos.
Essa realidade é básica e muito animadora, isto é, estamos em vias de nos vermos livres de alguém que nunca percebeu o que era a função presidencial e cujo estilo boliqueimístico enervava muita gente. Naturalmente que ninguém no mundo se interessa pelas eleições presidenciais portuguesas, até porque há muitos outros assuntos bem mais preocupantes um pouco por todo o lado. Por isso, é bem curioso o que faz hoje o jornal moçambicano O País ao destacar as eleições portuguesas na sua primeira página, com a fotografia dos principais candidatos.  Não se trata apenas de valorizar editorialmente um acontecimento político no quadro da Lusofonia, mas também de revelar interesse pelo que se passa em Portugal, que tão fortes afinidades históricas e culturais tem com Moçambique.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

R.I.P. David Bowie

David Bowie faleceu no passado dia 10 de Janeiro em Manhattan, Nova Iorque, com 69 anos de idade e muitos jornais de todo o mundo encheram as suas primeiras páginas com a fotografia do cantor inglês, que também foi compositor, actor e produtor musical.
Como a música, a excentricidade e a personalidade de David Bowie nunca me interessaram especialmente, não percebi a verdadeira dimensão dessa figura que, ao longo da sua carreira, vendeu o astronómico número de 136 milhões de álbuns e que, só no Reino Unido e nos Estados Unidos, ganhou 14 discos de platina, 18 de ouro e 8 de prata.
Porém, verifico agora que David Bowie foi realmente uma figura importantíssima no panorama musical contemporâneo, tendo influenciado o meio artístico, o comportamento e os gostos dos seus próprios públicos, sobretudo as novas gerações, com a sua criatividade e a sua capacidade de inovação. Durante cinco decénios foi um dos mais populares músicos mundiais, tendo recebido dois Grammy e dois Brit Awards, foi condecorado por alguns governos e recebeu doutoramentos honoris-causa. Numa pesquisa organizada em 2002 pela BBC para identificar “os 100 maiores britânicos de sempre”, David Bowie ficou em 29º lugar, enquanto outra pesquisa realizada em 2004 pela revista Rolling Stones lhe atribuiu a 23ª posição na lista dos melhores cantores de todos os tempos.
A importância de David Bowie como figura importante da cultura mediática dominante do nosso tempo, também foi reconhecida na mais recente edição da revista TIME que também se associou às homenagens que lhe têm sido tributadas e a que, embora tardiamente, também nos associamos.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Um festival sem complexos coloniais

Está a decorrer na cidade colombiana de Cartagena o 10º Festival Internacional de Música, na qual as autoridades culturais da cidade têm apostado para conseguir afirmar a cidade e o seu festival como referência cultural da América do Sul. O festival tem sido realizado todos os anos na “bella ciudad amurallada” que, dessa forma, adquire um reconhecimento internacional cada vez forte junto da comunidade da música e do público em geral. Desde o dia 8 e até ao dia 16 de Janeiro, em diferentes espaços da cidade, o festival vem apresentando um vasto repertório de diferentes géneros musicais para interessar os seus diferentes públicos, com destaque para a música antiga. No vasto e diversificado programa do festival destacam-se alguns importantes intérpretes internacionais, assim com os sete concertos apresentados pelo famoso agrupamento de música antiga Hespèrion XXI, dirigido pelo maestro e músico catalão Jordi Savall.
A imprensa colombiana tem dado o devido destaque ao Festival Internacional de Música, como mostra a edição de ontem do diário El Tiempo, que se publica na cidade de Bogotá.  Na sua primeira página, o jornal exibe uma fotografia dos molhes do porto de Cartagena que serviram de cenário a um dos maiores concertos que reuniu músicos de diversos agrupamentos e que teve como título “El mar de los deseos de Sevilla a Veracruz”, numa clara evocação do passado colonial da cidade. O festival não tem quaisquer complexos coloniais e, para melhor recordar a ligação da cidade ao mar e à sua herança colonial, o cenário foi embelezado com a presença do navio-escola Glória, o navio-insignia da Marinha colombiana.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

No golfo Pérsico venceu a diplomacia

Duas vedetas rápidas que integram as forças navais americanas estacionadas no golfo Pérsico entraram em águas territoriais iranianas perto da ilha de Farsi, tendo sido detidas pelas forças da Islamic Revolution Guards Corps (IRGC). Segundo informaram as autoridades iranianas, na sequência da entrada ilegal e ilícita daqueles navios nas suas águas territoriais, as unidades navais iranianas presentes na área deram ordens de paragem às vedetas americanas. Estas obedeceram prontamente, os seus dez tripulantes foram detidos e as embarcações foram sujeitas a uma inspecção, mas concluiu-se que a violação das águas iranianas foi involuntária e não intencional. Depois de um pedido de desculpas americano feito ao mais alto nível, as vedetas e os seus tripulantes foram libertados e escoltados até águas internacionais. De acordo com um comunicado das IRGC divulgado no jornal Tehran Times, os porta-aviões americano Harry S. Truman e francês Charles De Gaulle encontravam-se dentro do alcance dos mísseis iranianos, o que poderia ter desencadeado eventuais acções mais precipitadas e de maior gravidade. Porém, quer as vedetas americanas, quer os guardas da Revolução agiram com prudência e com perspicácia, cumprindo as normas habituais de bom senso nestas situações.  
Assim, as partes congratularam-se pela forma rápida e pacífica como a diplomacia resolveu esta questão que, podendo ter sido muito grave, acabou por ser resolvida com muita simplicidade.

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Praias vermelhas no outro lado do mundo

Algumas praias da Nova Zelândia foram invadidas por grandes quantidades de krill que foram arrastadas pela maré e cobriram os areais, que ficaram coalhados por uma enorme mancha vermelha. Além disso, há muitas áreas cobertas de krill a flutuar e que ameaçam chegar às praias, o que proporciona um espectáculo de cor vermelha que só muito raras vezes aconteceu naquela região. Vários jornais neozelandeses, como sucedeu em Wellington com o The Press, publicaram fotografias do insólito acontecimento.
O krill é um nome de origem norueguesa sem tradução em português, designando um conjunto de pequenos animais invertebrados semelhantes ao camarão, que constituem o alimento de muitas espécies marinhas.
Entretanto, as praias invadidas pelo krill neozelandês foram interditadas ao público, mas o mais curioso é que foi criada uma oportunidade de negócio com a organização de visitas turísticas.
 

Messi ganhou, mas Ronaldo está na élite

Sem surpresa, o futebolista argentino Leonel Messi recebeu ontem a sua quinta Bola de Ouro da FIFA, numa cerimónia realizada em Zurique e a que não assistiu Joseph Blatter, o presidente da FIFA que aos 80 anos de idade está suspenso das suas funções por oito anos.
Messi foi o mais votado por jornalistas, treinadores e capitães das selecções nacionais de todo o mundo, tendo recebido 41,33% dos votos, enquanto Cristiano Ronaldo ficou em segundo lugar com 26,76% dos votos e o brasileiro Neymar da Silva em terceiro com 7,86%. Messi ganhou o troféu em 2009, 2010, 2011, 2012 e 2015, enquanto Cristiano Ronaldo ganhou em 2008, 2013 e 2014, mas esta repartição do prémio entre os dois começa a parecer demasiado estranha, como se não houvesse mais futebolistas no planeta.
Contudo, os comentadores de serviço foram unânimes quanto ao resultado, isto é, ao longo do ano de 2015 aqueles dois futebolistas foram os melhores do mundo, mas o jogador do Barcelona foi melhor do que o jogador do Real Madrid e, embora marcasse menos golos, ganhou todas as provas nacionais e internacionais em que participou, enquanto a equipa de Ronaldo não ganhou prova nenhuma. Messi fartou-se de ganhar e Ronaldo perdeu demasiadas vezes. Porém, é motivo de satisfação ter um português que desde há quase uma dezena de anos está entre os melhores do futebol mundial e que até fala inglês, mas também ter um brasileiro no pódio.

domingo, 10 de janeiro de 2016

Vamos pôr o Sequeira no lugar certo

“A Adoração dos Magos” (Domingos Sequeira, 1828)
Nos tempos modernos, em que a satisfação das necessidades públicas e as funções sociais exigem um enorme esforço dos contribuintes, torna-se mais evidente e mais compreensível a frase “os recursos são escassos e as necessidades ilimitadas”.
Nesse contexto, em que os poderes públicos não podem satisfazer todas as necessidades, a cultura é muitas vezes colocada em plano secundário, sendo preterida em relação às funções saúde, educação, segurança e outras. Torna-se imperativo, por isso, recorrer à imaginação para mobilizar os recursos privados necessários para o investimento cultural, designadamente através do financiamento de acções de preservação e restauro do património, enquadráveis na lei do mecenato cultural. Assim se têm recuperado ruinas históricas, monumentos, equipamentos culturais e acervos museológicos, um pouco por todo o mundo.
Esta situação também se verifica em Portugal onde as acções de mecenato têm financiado inúmeras acções de salvaguarda do património cultural, imóvel e móvel. Porém, há uma iniciativa que é inovadora em Portugal e que está em curso pela primeira vez. Trata-se de  uma campanha nacional de angariação de fundos que foi designada com o título “Vamos pôr o Sequeira no Lugar Certo”. Esta campanha visa angariar os 600 mil euros necessários para adquirir “A Adoração dos Magos”, uma pintura fundamental de Domingos Sequeira, datada de 1828, que desejavelmente deverá integrar o acervo do Museu Nacional de Arte Antiga. É uma oportunidade para, na medida das posses de cada um, se poder participar numa tão louvável iniciativa cultural, até porque pode abrir precedentes a iniciativas semelhantes e, dessa forma, evitar a saída para o estrangeiro de obras de referência do nosso património. Já basta a venda a pataco das nossas empresas que a agência P & P fizeram! 

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Porque razão se arma a Coreia do Norte?

A Coreia do Norte anunciou que tinha detonado a sua primeira bomba de hidrogénio (bomba H) e que esse teste tinha sido um sucesso completo. O mundo reagiu para condenar esta iniciativa coreana, mas mostrou muita surpresa porque a bomba H ou bomba termonuclear se fundamenta num processo de reacção química muito avançado de que resulta uma versão bem mais poderosa da bomba nuclear.
Pensava-se que o regime norte-coreano estava ainda muito longe de possuir a tecnologia necessária para produzir aquela bomba, que também é mais sofisticada do que a bomba nuclear, mas este anúncio veio revelar que a estratégia nuclear adoptada por Kim Jong-un é mais agressiva do que a de seu pai que, nos seus últimos anos de governo, aceitou restrições internacionais aos programas nuclear e de balística a troco de ajudas externas.
Os Estados Unidos, a China, o Japão e a Coreia do Sul reagiram de imediato perante esta ameaça que consideraram “uma provocação inaceitável” e pretendem “uma resposta global firme”, embora ainda subsistam dúvidas quanto ao que realmente se passou e sobre a origem de um sismo artificial de 5,1 pontos na escala de Richter, ocorrido perto de uma conhecida zona de testes nucleares norte-coreanos. A imprensa mundial deu largo destaque a esta notícia. O Correio Brazilense optou por ilustrar a primeira página da sua edição de hoje com uma sugestiva ilustração, apresentando a figura de Kim Jong-un em cuja cabeça rebentou uma bomba H que exibe um enorme cogumelo, mas o jornal pergunta se é verdade ou se é apenas o blefe de um ditador. Porém, a pergunta terá que ser outra: porque se arma o ditador e porque desafia o mundo?

O mercado automóvel português recupera

As estatísticas são essenciais para se perceber a situação económica e a sua evolução, assim como para fazer previsões, sobretudo através dos chamados indicadores percursores que são, por exemplo, o consumo de energia, a venda de cimento ou as vendas de veículos ligeiros e pesados. Nessa matéria, a ACAP – Associação Automóvel de Portugal bem merece o elogio de quem gosta de perceber a realidade económica que o rodeia, pela rapidez com que apresenta, mês a mês, as estatísticas das vendas de automóveis ligeiros e pesados. Assim, nesta data já sabemos que o aumento global das vendas automóveis em Portugal no ano de 2015 foi de 25% em todos os segmentos. Foram vendidos um total de 213.645 veículos ligeiros e pesados, dos quais 178.496 eram veículos ligeiros de passageiros, o que significa que o sector recuperou depois de quatro anos consecutivos de perdas. Da mesma forma, aumentaram as vendas de comerciais ligeiros, de comerciais pesados e de pesados de mercadorias, o que é um sinal positivo para a actividade económica, embora signifique aumento do endividamento. As marcas dominantes do mercado português em 2015 foram a Renault (20.447 veículos), a Volkswagen (16.900 veículos), a Peugeot (16.566 veículos), a Mercedes-Benz (13.525 veículos) e a BMW (12.889 veículos). Seguiram-se a Nissan, a Opel, a Audi, a Citroën e a Ford.
Entretanto, alguns portugueses continuam a revelar o gosto e a ter o dinheiro necessário para adquirir marcas de topo, pois neste ano de 2015 foram vendidos em Portugal veículos das marcas Jaguar (310), Porsche (115), Maserati (30), Ferrari (19), Bentley (8) e Aston Martin (6). Exceptuando a Porsche que surpreendentemente perdeu 70% nas suas vendas ao passar de 395 para 115 unidades vendidas, todos aumentaram as vendas. Sem comentários.

Já se contam espingardas no golfo Pérsico

As autoridades da Arábia Saudita procederam no passado sábado, dia 2 de Janeiro, à execução de 47 pessoas que tinham sido condenadas por terem adoptado ideologias radicais. O mundo reagiu com repúdio e com dureza à decisão saudita, com declarações condenatórias e protestos, mas foi a morte do líder religioso xiita Nimr al-Nimr que provocou os mais violentos protestos, sobretudo no Irão, onde a embaixada saudita em Teerão foi atacada e parcialmente queimada. O corte de relações entre o Irão (maioritariamente xiita) e a Arábia Saudita (maioritariamente sunita), foi a primeira consequência daquelas brutais execuções, a que se seguiram algumas ameaças. Vários países da região já se solidarizaram com cada uma das partes e, para muitos observadores, a hipótese de uma confrontação directa é elevadíssima, pois que indirectamente já se confrontam na Síria desde há alguns anos. Embora os dois países não tenham fronteiras terrestres comuns, os seus territórios situam-se nas margens do golfo Pérsico, frente a frente e separados apenas por cerca de três centenas de quilómetros. Nessas margens também se situam o Kuwait, o Iraque, o Qatar, o Bahrein e os Emirados e, sobretudo, as maiores reservas petrolíferas do mundo. É mesmo um barril de pólvora e, aparentemente, já todos contam espingardas.
Ontem, o The New York Times analisa detalhadamente a situação e utiliza vários mapas para explicar a questão geopolítica e religiosa que tanto ameaça o mundo, destacando esse tema na sua primeira página. A possibilidade de confrontação directa é muito elevada, até porque ambos estão bem armados, sendo preocupante saber-se que as populações sunitas e xiitas vivem dispersas por vários países da região, numa relação média de cinco sunitas por cada três xiitas. Por isso, cada país tem uma maioria e uma minoria, o que pode (e costuma) funcionar como rastilho neste tipo de escaladas. O que não há dúvida é que em Riade e em Teerão, e não só, já se contam espingardas.

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Língua portuguesa motiva a Extremadura

O jornal Hoy, que é o principal diário da Comunidade Autónoma da Extremadura e se publica em Cáceres e Badajoz, apresenta hoje na capa das suas edições um anúncio em que se destaca uma ilustração com a bandeira portuguesa que publicita um curso audiovisual de aprendizagem do português.
Quando se estimulam as jovens populações da Extremadura a aprenderem o português, a principal motivação será de ordem prática e natureza económica, prenunciando possivelmente a expectativa de uma mais intensa relação entre a Extremadura e Portugal nas trocas económicas, no turismo e noutros sectores. Esse estímulo à aprendizagem do português também resulta da semelhança entre o português e a língua castelhana o que facilita a aprendizagem, pois ambas derivam da língua nativa da Lusitânia e da influência causada pela sua longa ocupação pelos Romanos.
Além disso, a província romana da Lusitânia ocupou um espaço territorial que hoje se reparte pelo território português a sul do rio Douro e pela Extremadura, sendo evidente em muitas povoações de ambos os lados da fronteira as afinidades culturais e linguísticas.
Depois de tantos anos de rivalidade e de costas voltadas entre os governos de Lisboa e Madrid, são as realidades regionais que estão a dar sinais de aproximação, como parece demonstrar o anúncio publicado nas edições do Hoy.

A modernização da cidade de Lisboa

A Segunda Circular (2ª Circular) é uma via rápida urbana que liga a parte oriental à parte ocidental da cidade de Lisboa, mais concretamente o Prior Velho (fim da A1) e a Buraca (início do IC19), numa extensão aproximada de dez quilómetros, constituindo um eixo rodoviário que agrega três avenidas em sequência: Avenida Marechal Craveiro Lopes, Avenida General Norton de Matos e Avenida Eusébio da Silva Ferreira. É considerada uma das nossas estradas com mais tráfego e com um alto índice de sinistralidade, que funciona como via de atravessamento urbano e que é utilizada por milhares de pessoas para chegar ou partir do Norte, para aceder ao aeroporto ou para se dirigir para os maiores estádios de futebol da cidade.
A gestão da 2ª Circular está a cargo da Câmara Municipal de Lisboa que decidiu intervir no sentido de resolver alguns dos seus problemas e os vários “pontos negros” no seu percurso. A sua proposta, que é hoje revelada pelo Diário de Notícias, está em discussão pública até ao próximo dia 15 de Janeiro, inclui a repavimentação em toda  a sua extensão o que permitirá diminuir o ruído automóvel em 50%, a reabilitação do sistema de drenagem, a renovação da sinalização para se tornar mais compreensível e a instalação de um novo sistema de iluminação que permitirá poupar até 60% no consumo de energia. Porém, o mais interessante do projecto, cujas obras se estimam durar 11 meses, é a instalação de um separador arborizado com 3,5 metros de largura em toda a extensão da via. Essa ideia parece-me genial e muito valorizadora da paisagem urbana.
A intervenção visa aumentar a segurança, a fluidez e a qualidade ambiental da via, mas também transformar as suas actuais características de auto-estrada numa via de carácter urbano, mas não convence alguns, nomeadamente o Automóvel Clube de Portugal. Eu, que não sou especialista, estou convencido e até entusiasmado.

domingo, 3 de janeiro de 2016

O ritual do primeiro banho de Ano Novo

Em muitos locais das mais diversas latitudes existe a tradição de começar o Ano Novo com um banho de mar. No caso do Hemisfério Norte esse exercício é de uma grande exigência física porque a temperatura da água do mar é baixa e, em algumas regiões, aproxima-se mesmo dos zero graus, mas ainda assim atrai sempre muitos entusiastas. Nesse aspecto, a costa portuguesa é menos agressiva pois nesta época do ano as temperaturas da água do mar variam entre os 16 e os 18 graus. Por disso, há muitas pessoas corajosas que participam no ritual do primeiro banho do ano e que resistem ao frio, ao vento e à agitação marítima. O mais famoso destes encontros realiza-se na praia de Carcavelos, mas há outros locais onde esse ritual já se instalou, como Vila do Conde, Matosinhos, Ilhavo, Ferragudo e, certamente outras praias, que atraem muitos banhistas que aspiram por desafios incomuns, ou que neles participam por superstição ou, ainda, porque esse banho lhes renova as energias e lhes purifica o corpo.
Porém, nas regiões do Hemisfério Sul a ida à praia é uma rotina própria da época do ano e, em princípio, não se inscreve em qualquer ritual. É, simplesmente, o tempo do calor e da praia, que atrai muitos milhares de pessoas e proporciona verdadeiras enchentes que ocupam e congestionam os areais. A edição de hoje do Sunday Times de Joanesburgo exibe uma impressionante fotografia da praia de Durban no primeiro dia do ano de 2016, com uma multidão a ocupar o areal e a banhar-se numa água com uns apetecíveis 25 graus de temperatura. A fotografia mostra que, provavelmente, não há lugar para mais ninguém naquele areal.

sábado, 2 de janeiro de 2016

Bye, bye Cavaco! Viva a nova esperança!

Faltam apenas 22 dias para iniciarmos o processo de escolha do novo Presidente da República Portuguesa. O leque de candidatos é diversificado quanto ao seu pensamento e quanto à sua experiência política, pelo que os eleitores têm diferentes alternativas de voto, embora haja uma evidência: o eleito nunca será pior do que o seu antecessor. Esta eleição representa o fim de um sonho mau que durou dez anos e um alívio para a nossa comunidade! Por isso, é preciso deixar que os portugueses exerçam a sua cidadania e escolham o seu Presidente, não sendo admissível que alguns jornalistas e comentadores encartados pelo anterior governo, insistam nessa vigarice de criar vencedores antecipados. Não é tolerável que aqueles que têm o dever de informar com independência, rigor e isenção, estejam ao serviço de uma qualquer candidatura e que usem as suas canetas, a sua voz ou o seu rosto para manipular o eleitorado.
Com o futuro Presidente virá uma nova esperança para os portugueses. Terminarão dez longos anos de uma presidência divisionista, desagregadora e sectária, que os portugueses já condenaram através dos mais baixos índices de popularidade que alguma vez um dirigente político teve em Portugal. Ontem tivemos mais uma prova disso com a última comunicação ao país de Cavaco Silva que, naquela voz robótica a que nem o teleponto dá alma, falou de si e das suas viagens, dos seus discursos e dos seus roteiros. Foi mais uma das suas ladainhas sem sentido que não deixam saudades nenhumas. Felizmente, faltam apenas 22 dias para o início de um novo tempo.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Um grande incêndio na passagem do ano

A passagem de ano desperta muitos entusiasmos quase sempre desproporcionados, como mostram as imagens televisivas que sossegadamente vejo em casa. Gosto do fogo de artifício e da alegria popular, mas não me agradam as festanças nos hotéis. Ao longo do ano disponho de tantas oportunidades para celebrar acontecimentos pessoais, dos meus amigos ou da minha comunidade, cuja carga emocional ultrapassa largamente aquele simbólico momento em que o calendário muda de ano e em que as pessoas saltam, gritam, cantam, bebem, dançam e se divertem em cenários tão artificialmente encenados. Por outro lado, quando sabemos que muitos portugueses vivem com dificuldades, que têm empregos precários ou não têm emprego, que os seus rendimentos têm sido engolidos por um sistema bancário ganancioso e criminoso e que uma boa parte da população vive no limiar da pobreza, confrange-me observar o quanto se gasta sem qualquer sentido nesta noite. É certo que todos estes exageros são um escape natural às agruras e aos contratempos acumulados durante um ano e que são, também, um apelo ou um desejo para que o futuro traga melhores dias, mas nada disso me retira o sossego de uma noite caseira.  
Ontem, porém, para além das suas repetitivas e desinteressantes reportagens em Lisboa, Porto, Funchal, Coimbra e Albufeira e das mesmas imagens de sempre da passagem do ano em Sydney, as televisões mostraram em directo o incêndio que consumiu o hotel Downtown Adress, no Dubai.
Foi um caso impressionante ou um inferno, a lembrar o que aconteceu em Nova York em 2001. O edifício tem 300 metros de altura, 63 andares e é o 36º edifício mais alto do mundo, situando-se junto da torre Burj Khalifa, que é o arranha-céus mais alto do mundo com quase 830 metros de altura e 160 pisos. As gigantescas línguas de fogo, que o londrino The Daily Telegraph apresenta na capa da sua edição de hoje, faziam prever o pior dos cenários, mas foi possível evacuar o edifício sem quaisquer mortes a lamentar. O incêndio terá começado num espaço exterior do 20º piso, mas o sistema corta-fogo funcionou e impediu a propagação imediata das chamas para o interior do hotel. Podia ter sido uma grande tragédia, mas não foi...
Pouco depois, chegou o ano de 2016.