domingo, 28 de fevereiro de 2016

Preservar faróis para guardar memórias

Ao longo de muitos anos os faróis foram a luz humanitária e fraterna que apoiou os navegantes a encontrar abrigo da tormenta e porto seguro. No século XIX, com o incremento do comércio marítimo, a descoberta da navegação a vapor e a utilização da electricidade como fonte luminosa, os faróis tornaram-se elementos indispensáveis na paisagem marítima. Porém, enquanto marca que pode facilmente ser observada do mar, de dia ou de noite, os faróis perderam na actualidade a importância que tiveram no passado, porque os sistemas electrónicos de posicionamento, designadamente o radar e o GPS, os tornaram simples testemunhos de uma outra era. Assim, os faróis já não exibem aquele "olhar humanitário na distância da noite muito escura", de que falou Fernando Pessoa. Porém, embora tenham perdido uma parte da sua utilidade prática, o seu significado simbólico acentuou-se e, um pouco por todo o mundo, há um movimento generalizado, sobretudo nas nações marítimas, no sentido de preservar essas memórias históricas que são os faróis.
Um desses países é a França, onde existe a SNPB – Société pour le Patrimoine des Phares et Balises, que dinamiza os movimentos de preservação dos faróis e a sua adaptação a novas funções, designadamente museus, restaurantes, pequenos hotéis ou centros culturais. No entanto, há inúmeras situações em que a adaptação a novas funções não tem viabilidade económica nem desperta interesse de ninguém, sobretudo quando se situam sobre ilhéus ou rochedos isolados e distantes. No sentido de chamar a atenção das autoridades e de mobilizar a sociedade civil para esta causa, o seu presidente Marc Pointud decidiu iniciar ontem uma estadia solitária de dois meses no Farol de Tévennec, um farol que desde 1875 está situado sobre um ilhéu rochoso e inóspito ao largo da ponta du Van, na Bretanha. A iniciativa de Marc Pointud resultou de imediato e Le Télégramme dedica-lhe hoje a sua primeira página.

sábado, 27 de fevereiro de 2016

Austrália: geopolítica e geoestratégia

No quadro da crescente influência chinesa no mar da China e na sua periferia meridional, mas também considerando a tensão na península coreana, o governo australiano do Primeiro-ministro Malcolm Turnbull apresentou um ambicioso “Defence’s White Paper shopping list”, hoje revelado pelo The Sydney Morning Herald. Trata-se, de facto, de um plano de rearmamento militar que prevê um investimento de 195 mil milhões de dolares australianos ($195 billion AUD) nos próximos dez anos. Ao câmbio actual e sem considerar as variações do valor do dinheiro ao longo desse período, esse investimento corresponde a cerca de 127 mil milhões de euros, o que é uma coisa só possível de acontecer num país muito rico.
A lista de material a adquirir é muito extensa e, para além de incluir 9 fragatas anti-submarinas, 12 navios-patrulha costeiros, 72 aviões F-35 e outros tipos de aviões e helicópteros, inclui 12 submarinos. Esses submarinos deverão ser construidos na Austrália e custarão $50 billion AUD (32 mil milhões EUR), estimando-se que os respectivos custos de manutenção ao longo da sua vida útil até meados do século XXI atinjam o dobro daquele valor, ou seja, o anunciado programa de novos submarinos custará cerca de $150 billion AUD.
Não deixa de ser curioso comparar o que se passou em Portugal com a compra de dois submarinos e o que está a acontecer na Austrália com a compra de doze submarinos para juntar à frota de doze unidades que já possui. Por cá foi a crítica e até a chacota da imprensa e da opinião pública, enquanto na Austrália se assiste ao elogio da decisão e a uma  manifestação de orgulho nacional.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

As curiosidades e os riscos de Beirute

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A brutal guerra que tem destruido a Síria e o Iraque, que se anuncia poder ter amanhã um cessar-fogo, passa pelas grandes capitais mundiais mas, também, em menor escala, por outras cidades da região. Uma dessas cidades é Beirute, a capital do Líbano. Beirute fica apenas a 85 quilómetros de Damasco, a capital da Síria, enquanto a destruida cidade de Homs, que foi a terceira maior cidade síria e “berço” da rebelião que conduziu à guerra, está apenas a 40 quilómetros da fronteira libanesa.
O Líbano é um país com uma economia e uma cultura muito abertas, que depende em larga escala do comércio com os seus vizinhos e das remessas dos seus emigrantes no Golfo e em Israel. Assim, o Líbano sofre muito com a guerra ali ao lado, para além de ter os seus próprios problemas, desde as sequelas das guerras civis de 1982 e 2006, até à existência no seu território do partido Hezbollah, classificado como terrorista, que está envolvido na guerra da Síria.
Provavelmente, a melhor informação sobre o que se passa na região é de origem libanesa, pois estará muito menos condicionada do que a informação produzida e veiculada pela generalidade dos intervenientes na guerra. O jornal diário الأخبار ou al-akhbar, tem uma edição online em inglês, que informa sobre as vissicitudes da guerra, os refugiados que estão por todo o território libanês, as ameaças sauditas contra os seus emigrantes, as atrocidades da Frente Al-Nusra, a filial síria da Al-Qaeda, entre outras informações. Porém, na edição de hoje o jornal não destaca as desgraças da guerra, mas tão só o risco dos cafés, das esplanadas e dos restaurantes que podem ser perigosos para a saúde, pois lançam açucar no sangue, isto é, “vendem diabetes”. Curiosamente, trata-se da notícia de primeira página do al-akhbar e é ilustrada com uma imagem do café COSTA, um dos mais famosos franchising de café do mundo. Grande trademark!

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

O FCP na liderança do negócio do futebol

O futebol é cada vez mais um grande negócio que movimenta muitos milhões com a compra e venda de jogadores, com a publicidade nas camisolas e nos estádios e com as receitas das transmissões televisivas. Esse negócio já tem carácter mundial e, nos últimos anos, nele participam activamente alguns países que ainda estavam fora do universo futebolístico, como a China, os Estados Unidos ou a India.
A faceta mais evidente do negócio são as contratações das grandes estrelas do espectáculo do futebol e o facto é que há treinadores e jogadores portugueses um pouco por todo o mundo. Hoje, o diário desportivo Cancha que se publica na Cidade do México, apresenta com destaque de primeira página, uma desenvolvida reportagem intitulada “El club Midas”, um título inspirado no Rei Midas que, segundo a mitologia grega, transformava em ouro tudo aquilo em que tocava.
A reportagem refere que o FCP (Futebol Clube do Porto) “es el único club del mundo que puede presumir ganancias por venta de jugadores de 436,96 miliones de euros en las últimas 12 temporadas, en gran parte a su técnica de adquirir bueno e barato”, promover os jogadores, ganhar títulos e vender.
A capa do jornal é ilustrada com imagens de alguns dos seus mais famosos jogadores oriundos da América do Sul que, depois de terem sido campeões pelo FCP foram vendidos a peso de ouro, o que aconteceu com Hulk, Falcão, James Rodriguez, Lisandro Lopez e Jackson Martinez. Porém, o jornal mexicano salienta que o FCP decidiu apostar “por el talento mexicano con las compras de Héctor Herrera, Miguel Layún, Jesús Corona y Raúl Gudiño”. Será que o FCP e o seu Presidente continuarão a transformar em ouro estes jogadores para depois serem vendidos por muitos milhões? Certamente que não. Isso já foi chão que deu uvas...

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

O Orçamento e os jornalistas-papagaios

A Assembleia da República aprovou ontem o Orçamento do Estado para 2016. O Orçamento é um documento que fixa o limite das despesas autorizadas e faz uma previsão das receitas, que indica as fontes de financiamento, que orienta a actividade financeira do Estado e gere a dívida pública, que assegura a gestão eficiente e racional dos dinheiros públicos, que integra as medidas de política económica, que fixa a política fiscal e que, de uma forma geral, visa contribuir para a coesão da sociedade e para o bem-estar da população. É o documento mais importante para a gestão do Estado. Pela primeira vez na nossa história democrática, o Orçamento do Estado foi aprovado por alguns partidos políticos que até agora se tinham auto-excluido do processo orçamental e essa circunstância deve ser destacada como um exemplo de inclusão, que vem mostrar que não pode haver portugueses de primeira e portugueses de segunda. Além disso, o Orçamento agora aprovado foi viabilizado pela Comissão Europeia, está de acordo com a Constituição da República, cumpre as promessas eleitorais e respeita os acordos parlamentares que viabilizam a actual maioria parlamentar.
Porém, apesar destas garantias a que não estávamos habituados, nunca um Orçamento suscitou tanta polémica em Portugal. Os mesmos jornalistas e comentadores que tudo fizeram para assustar os eleitores antes do 5 de Outubro e que tanto combateram a formação de um governo que acabou com o arrogante conceito de “arco da governação”, têm estado activíssimos contra o Orçamento e contra a actual solução governativa democrática. As nossas televisões perderam completamente o pluralismo que deveriam ter e têm estado vergonhosamente ao serviço do combate ao Orçamento. É mesmo um caso de atropelo à lei e à ética jornalística. A TVI, por exemplo, atingiu o máximo ridículo ao juntar em horário nobre quatro jornalistas-papagaios que, sem qualquer contraditório, puderam repetir-se e vomitar sem qualquer pudor as suas críticas ideológicas ao Orçamento e ao governo. Isto assim não é democracia. Felizmente que a fotografia que ilustra a capa do Diário Económico mostra a confiança que anima os nossos governantes.

Elizabeth Line em honra de Isabel II

A Rainha Isabel II que foi o primeiro monarca reinante que utilizou o Metro de Londres quando em 1969 inaugurou a Victoria Line, visitou ontem os trabalhos que decorrem na estação de Bond Street, uma das principais estações da Crossrail Line, tendo sido informada que essa linha será rebaptizada como Elizabeth Line, quando for inaugurada em Dezembro de 2018.
A nova Elizabeth Line constitui o maior projecto de construção e/ou modernização de qualquer rede de metropolitano europeu, prevendo-se que seja utilizada diariamente por meio milhão de passageiros e que melhore a qualidade de vida de muita gente. O projecto arrancou em Maio de 2012, tem um custo estimado de 14,8 mil milhões de libras e concluiu agora a “maratona” dos trabalhos de perfuração e alargamento de túneis, realizados por uma máquina perfuradora com o nome de Victoria. A nova linha atravessará a cidade de Londres no sentido Este-Oeste, terá cerca de 136 quilómetros de comprimento, cerca de 40 estações, novas ou modernizadas, permitindo a circulação rápida de composições de carruagens com 200 metros de comprimento.
A edição de hoje do diário londrino The Times destaca esta notícia, embora também dê importância “à nação dividida” e ao referendo que se vai realizar no próximo dia 23 de Junho, no qual os britânicos vão dizer se querem ou não pertencer à União Europeia. Curiosamente, foi Boris Johnson, o mayor de Londres, quem convidou a Rainha para visitar a obra em Bond Street e lhe anunciou que a nova linha se chamará Elizabeth Line. Só que Boris Johnson é a principal figura do “não” à permanência do Reino Unido na União Europeia. Será que Isabel II também defende que o Reino Unido abandone a União Europeia?

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Aviões canadianos já regressaram a casa

Na sua edição de hoje, que inclui uma sugestiva capa, o jornal National Post de Toronto faz um balanço da intervenção da aviação canadiana na guerra contra o ISIL (Islamic State of Iraq and the Levant), também conhecido por ISIS (Islamic State of Iraq and Syria) ou, ainda, como ultimamente se vem generalizando chamar-se, o Daesh.
A capa do jornal destaca que os aviões McDonnell Douglas CF-18 Hornet da Força Aérea do Canadá estiveram envolvidos nos teatros operacionais do Iraque e da Síria desde Novembro de 2014, tendo realizado 1378 saídas operacionais, 251 ataques a 267 posições e lançado 606 bombas, sobretudo na área da cidade iraquiana de Mosul. No território sírio os CF-18 canadianos fizeram apenas cinco acções e lançaram 27 bombas. Entretanto, os seis aviões canadianos regressaram a casa e reivindicam que nos seus 251 ataques não causaram quaisquer baixas civis. O fim da participação canadiana na coligação liderada pelos Estados Unidos gerou controvérsia e muito debate na esfera política, mas também na opinião pública canadiana, pois houve quem entendesse este regresso como uma quebra na solidariedade aliada.
Porém, o que é mais interessante nesta notícia é o debate público sobre a participação canadiana nas operações aéreas contra o ISIS, com apreciação crítica dos meios envolvidos e dos resultados obtidos. Por isso, o jornal pergunta o que significaram 606 bombas canadianas no contexto de mais de 32.000 bombas lançadas pela coligação internacional e se essas 606 bombas fizeram alguma diferença na guerra contra o ISIS. Em síntese, a guerra já não é o que era e os contribuintes já não aceitam pagar facturas tão avultadas como esta.

O cemitério português de Richebourg

O jornal La Voix du Nord que se publica em Lille, destaca hoje em primeira página que vão ser propostos para apreciação e classificação pela UNESCO um conjunto de 19 sítios – cemitérios e memoriais – localizados na região administrativa francesa de Nord-Pas-de-Calais, junto da fronteira belga. A proposta será apresentada pela associação “Paysages et sites de mémoire de la Grande Guerre” e inscreve-se na evocação do 1º centenário da Grande Guerra, tendo como objectivo fazer com que os inúmeros cemitérios militares da região integrem a lista de bens culturais da UNESCO. Esses sítios simbólicos já são uma atracção turística, mas as autoridades pensam que a sua classificação poderá potenciar mais visitas à região e, dessa forma, valorizar a sua economia. Numa primeira recolha o comité científico da associação apreciou 138 sítios e bens, sobretudo necrópoles e cemitérios militares, entre os quais alguns cemitérios de tropas expedicionárias portuguesas, indianas e canadianas, além de cemitérios de tropas alemãs, francesas e inglesas, tendo seleccionado cinco no Nord e catorze no Pas-de-Calais.
Entre os sítios selecionados está o cemitério militar português de Richebourg, situado na comuna de Richebourg, onde foram recolhidas as sepulturas de 1831 soldados portugueses mortos durante a 1ª Guerra Mundial, que se encontravam dispersas por diversos cemitérios franceses e belgas. Este cemitério foi inaugurado em 1928 e, poucos anos depois, foi construido um muro de protecção e uma porta monumental com materiais importados de Portugal. Em 1976 o sítio foi valorizado com a construção de uma capela da invocação de Nossa Senhora de Fátima.

sábado, 20 de fevereiro de 2016

R.I.P. Umberto Eco

Aos 84 anos de idade faleceu ontem em Milão o sociólogo Umberto Eco, uma das mais importantes figuras da cultura italiana dos últimos 50 anos, sobretudo como romancista e como académico. Os seus livros tornaram-no conhecido em todo o mundo e, de entre eles, destacou-se O Nome da Rosa, que se transformou num best-seller internacional traduzido em todo o mundo e que vendeu milhões de exemplares, tendo sido adaptado ao cinema. Para além desse romance, também O Pêndulo de Foucault e A Ilha do Dia Anterior constituiram grandes êxitos editoriais.
Porém, o nome de Umberto Eco também se tornou uma referência para a comunidade académica e, em especial, para os muitos milhares de licenciandos, mestrandos e doutorandos portugueses que encontraram no seu livro Como se faz uma Tese em Ciências Humanas, o apoio científico necessário para redigirem as suas dissertações académicas. Através desse livro tornei-me um grande admirador de Umberto Eco que, actualmente, era presidente da Escola Superior de Estudos Humanísticos da Universidade de Bolonha.
Por todo o mundo surgiram louvores aos méritos intelectuais de Umberto Eco e o  jornal Público homenageou muito justamente na sua edição de hoje o académico e o romancista, com uma fotografia na sua primeira página.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

World Press Photo of the Year 2016

O mais importante concurso de fotografia do mundo revelou ontem os trabalhos premiados e o World Press Photo of the Year 2016 foi atribuido ao fotojornalista australiano Warren Richardson, com uma fotografia a que deu o título “Esperança por uma vida nova”. A fotografia mostra um homem a passar uma criança através de uma vedação de arame farpado e foi captada no dia 28 de Agosto de 2015 em Röszke, na fronteira entre a Sérvia e a Hungria. Naturalmente, a fotografia está a ser hoje divulgada mundialmente através de jornais digitais, jornais impressos e televisões, chamando a atenção para o problema dos refugiados.
Os prémios atribuidos dividem-se por oito categorias, respectivamente “Temas Contemporâneos”, “Vida Quotidiana”, “Notícias Gerais”, “Projetos de Longo Prazo”, “Natureza”, “Pessoas”, “Desporto” e “Notícias Locais”, sendo que cada uma destas categorias é dividida em “singles” (fotografias individuais) e em “stories” (conjunto de fotografias).
Entre os premiados também está o fotojornalista português Mário Cruz que conquistou o primeiro prémio na categoria “Temas Contemporâneos” com uma fotografia captada no Senegal com o título “Talibes, modern-day slaves”.
Tal como tem sucedido em anos anteriores, está prevista a apresentação das fotografias premiadas numa exposição a realizar em Lisboa.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

CR7: o fenómeno que antes de ser já o era

No mundo do futebol é um lugar comum verificar como alguma imprensa cultiva o endeusamento dos jogadores, embora isso se aplique apenas a um grupo muito restrito de atletas que adquiriram o estatuto de estrelas. A entrada nesse grupo de eleitos exige um “passaporte” que se adquire através de muitas jogadas, que nem sempre são de bola. Depois de entrarem nesse grupo restrito, essas estrelas recebem as atenções e os elogios de toda a imprensa nacional e internacional. É o marketing a trabalhar. Tudo lhes é permitido, incluindo os contratos milionários para jogar, acrescentados de fabulosos contratos publicitários. Conhecemos o Pélé, o Maradona e o Platini. o David Beckham e o Luís Figo. Agora, entre os Messis, os Neymares e os Iniestas, há o Cristiano Ronaldo que o marketing consagrou como o CR7.
Ontem CR7 esteve em Roma com a sua equipa do Real Madrid para defrontar a equipa local, jogou bem e meteu um golo muito vistoso. Hoje o Corriere dello Sport, que é o principal jornal desportivo da capital italiana, tratou de esquecer a derrota da equipa romana e escolheu uma fotografia do eufórico jogador português e um título a seis colunas com a expressão fenómeno Ronaldo.
A minha veia lusitana sorriu de satisfação, mas o facto é que vi o jogo pela televisão e não vi nenhum fenómeno em campo. Parece-me um caso de endeusamento injustificado, embora não seja desagradável de ler aquele título num jornal italiano, o tal país dos tiffosi e da loucura pelo futebol. É, por isso, um caso como a pescada, que antes de ser já o era.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Um gigante dos mares em doca seca

O diário Le Télégramme que se publica em Lorient destaca na capa da sua edição de hoje uma fotografia do Emma Maersk, um navio porta-contentores dinamarquês que com os seus 398 metros de comprimento e 56 metros de boca, é um dos maiores navios do mundo.
O navio foi construido em 2006 nos estaleiros da Odense Steel Shhipyard, na Dinamarca, desloca 170 mil toneladas, tem 16 metros de calado e pode transportar 15 mil contentores de 20 pés. O seu proprietário é o grupo A. P. Moller-Maersk e o navio está empenhado nas viagens entre o norte da Europa e os portos do sueste asiático e da costa da China, sobretudo Singapura, Hong Kong e Shangai. Dispõe das mais modernas tecnologias para navegação e manuseamento de cargas e, embora disponha de alojamento para 30 pessoas, tem uma tripulação de 13 pessoas apenas!
A pintura do casco do Emma Maersk é uma curiosidade, pois utiliza um produto à base de silicone que reduz a resistência da água e permite uma poupança de cerca de 1,2 milhões de litros de combustível por ano e, pela necessidade de renovar essa pintura, o navio entrou esta semana na doca seca nº 3 dos estaleiros Damen de Brest para uma breve operação de limpeza e pintura do casco. A imprensa local rejubilou porque os estaleiros Damen provaram ser capazes de tratar os maiores navios do mundo. É caso para perguntarmos o que aconteceu por cá com a Lisnave, a Setenave, os ENVC e, naturalmente, com as nossas enormes potencialidades no domínio da construção e da reparação naval.

A paz mundial está muito ameaçada

Embora haja notícias a revelar que há muita gente que procura a paz na martirizada Síria, o facto é que a guerra prossegue no terreno. Diz-se que as forças de Bashar al-Assad recuperam posições e que a oposição síria e o ISIS ou Daesh perdem terreno, enquanto Allepo e muitas outras cidades sírias estão destruidas, havendo milhões de refugiados que procuram a Europa. Nos espaços aéreos da região cruzam-se aviões de muitas origens, que não apenas russos, americanos, franceses, ingleses, canadianos, turcos, sauditas e outros, todos a reclamar acções contra o Daesh. Agora são os holandeses a entrar neste teatro que mais parece um treino de guerra aérea preparatório de qualquer coisa que possa vir a acontecer no futuro, do que uma acção coordenada para fazer frente a uma ameaça comum.
Os turcos são muito suspeitos como suporte logístico do Daesh e têm aproveitado a ocasião para se lançarem sobre os curdos e para atacar as suas pretensões independentistas. Agora desafiam os sauditas para lançarem uma ofensiva comum contra as forças de Bashar al-Assad e para uma invasão do território sírio, ao mesmo tempo que os russos e os iranianos já anunciaram que reagirão com firmeza a essa iniciativa. Nunca se falou tanto numa terceira guerra mundial e, na edição de hoje do Le Figaro, o jornal destaca os bombardeamentos da Turquia aos curdos e da Rússia à oposição síria, o que mostra que cada qual ataca indirectamente o seu adversário principal e que a Rússia e a Turquia estão cada vez mais em rota de colisão.
Estamos realmente perante um problema muito sério que perturba e ameaça a paz mundial e, porque tudo isto acontece desde há cinco anos, não é difícil encontrar os grandes responsáveis por esta enorme calamidade, pois muitos deles continuam instalados no poder em vários países.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Um navio que evoca a glória ibérica

Durante o próximo fim-de-semana, a nau Victoria que é a réplica da nau que concluiu a primeira volta ao mundo da História (1519-1522), estará atracada no porto andaluz de Almeria e poderá ser visitada pelo público. Esta visita está enquadrada numa viagem pelas costa mediterrânica espanhola e, antes de Almeria, o navio esteve em visita aos portos de Sanlúcar, Algeciras e Fuengirola, onde recebeu milhares de visitantes, sobretudo estudantes, que puderam conhecer a história do navio e da sua memorável viagem que, como se sabe, foi inicialmente comandada pelo navegador português Fernão de Magalhães e na qual participaram muitos marinheiros portugueses.
A nau Victoria foi construida entre 2004 e 2006 e já realizou uma volta ao mundo com escala em 17 países, numa viagem de representação nacional e de promoção da cultura e da História de Espanha.
É muito interessante esta iniciativa espanhola de divulgar a sua história marítima através da apresentação da nau Victoria por diferentes portos e, por essa via, estimular o interesse da juventude pelo mar e contribuir para o reforço da coesão nacional, numa acção a que se associa a imprensa da cidade de Almeria. Porém, teremos sempre que lembrar que a glória desta viagem é ibérica, porque na sua preparação e execução houve uma grande participação portuguesa que, por vezes, é esquecida pelos nossos vizinhos.
Aqui entre nós, este tipo de acções de representação não é inédita, embora não tenhamos, nem sei se devíamos ter, uma réplica da nau São Gabriel na qual Vasco da Gama chegou à Índia em 1498. Contentemo-nos com o navio-escola Sagres!

Portugal e a tensão financeira mundial

Vivemos um “tempo de incerteza” como disse, muito sabiamente, o nosso ainda Presidente da República na sua mensagem de Ano Novo, decerto por ter lido que o mundo enfrentava riscos crescentes de entrar em recessão, devido às crises nos países emergentes e em especial na China. A incerteza resulta de muitos factores que intranquilizam o mundo, desde a desaceleração da economia chinesa à guerra na Síria, passando pela crise política brasileira, pelas eleições americanas, pelo problema dos refugiados na Europa e até pelas recentes dúvidas sobre a solidez do Deutsche Bank que, entre os dias 5 e 11 de Fevereiro, viu as suas cotações cairem 9,3%.
O jornal inglês City A.M. (Business with Personality!) é um dos muitos periódicos europeus que hoje analisa a última semana e que destaca a queda das cotações dos principais bancos europeus. O jornal francês Les Echos fala na débâcle boursière, nos banques attaquées e diz que a Société Génerale plonge. Na Espanha, segundo o El Economista, na semana de 8 a 11 de Fevereiro a queda bolsista atingiu 8,86% e é noticiado que, juntos, o Santander, o BBVA e a Telefonica perderam cem mil milhões de euros, isto é, mais de metade do PIB português.
As bolsas estão em vias de entrar em crash e a finança internacional está assustada. Esses é que são os sinais da incerteza mas, num artigo intitulado “Les raisons d’un krach”, o jornal Les Echos destaca hoje a derrocada das bolsas mas, lamentavelmente, vem dizer escrever a frase “le Portugal au centre des inquiétudes”. Como é possível dizer-se uma coisa destas? Como é possível que com tanta incerteza no mundo e tanta falta de rumo na Europa, sejam algumas centenas de milhões de euros do Orçamento português  e dois ou três décimos de défice a perturbar Jean-Claude Juncker, Pierre Moscovici, Wolfgang Schäuble e Jeroen Dijsselbloem?
Estamos realmente perante uma violenta tempestade que ameaça a Europa com a guerra, com milhares de refugiados, com o brexit, o desemprego maciço, o envelhecimento demográfico, os nacionalismos e os autoritarismos, mas estes dirigentes-burocratas vivem obcecados com os países do sul que erguem a sua voz e escolhem um caminho de dignidade. É que eles não estão preocupados com Portugal mas, depois da Grécia, vivem agora assustados com o que pode acontecer com a Espanha e com a Itália.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Mourinho será o “world’s best-paid boss”

Goste-se ou não de futebol, o facto é que o treinador José Mourinho é um dos mais famosos portugueses de todos os tempos, não só pelos resultados desportivos que tem conseguido, mas sobretudo pela forma como tem sabido gerir a sua carreira profissional. Apesar de ter sido despedido dos seus dois últimos clubes, o que sucedeu com o Real Madrid em Maio de 2013 e com o Chelsea em Dezembro de 2015, o facto é que se anuncia que Mourinho já tem novo emprego. E que emprego!
A notícia que é hoje divulgada pela imprensa desportiva inglesa anuncia que Mourinho vai ser o futuro treinador do Manchester United, com um contrato de três anos que lhe irá render 59,7 milhões de euros, o que significa cerca de 385,5 mil euros por semana!
Parece que ainda se trata de um rumor que a imprensa transformou em notícia, mas o facto é que, como dizem os livros de jornalismo, uma notícia é o relato de um acontecimento, verdadeiro ou não. Assim, este facto pode ser verdadeiro ou não verdadeiro, mas é uma notícia e como tal tem naturalmente um enorme impacto mundial.
Acontece que o maior rival do Manchester United é o Manchester City que acaba de anunciar a contratação do catalão Pepe Guardiola para seu treinador. Para alimentar a enorme rivalidade futebolística da cidade de Manchester, o United não olhou a meios e parece ter procurado o melhor treinador do mundo, isto é, alguém que possa afrontar e vencer Guardiola. Parece terem descoberto esse homem e disponibilizam-se para lhe pagar muitas, muitas libras. É por isso que o Daily Express anuncia hoje o pacote remuneratório previsto para José Mourinho e que titula: “United to make Mourinho world’s best-paid boss”.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Os temporais nas costas asturianas

A orla atlântica da Europa tem estado a ser afectada por temporais e por forte agitação marítima, que a imprensa noticia e que, muitas vezes, ilustra com expressivas imagens. Nessa temática destacam-se os jornais britânicos que não resistem à publicação de uma boa fotografia do stormy sea, facto que aqui referimos há bem pouco tempo, mas também os jornais espanhóis, sobretudo os que são publicados no norte de Espanha, cuja orla marítima é banhada pelo golfo da Biscaia (Astúrias, Cantábria e País Basco).
Assim acontece hoje com vários jornais dessas regiões, como por exemplo com o diário La Nueva España que se publica em Oviedo. Este periódico, informa na sua edição de hoje que os temporais atingiram as costas asturianas com o vento a soprar a uma velocidade de 148 quilómetros por hora e com as ondas a atingir os 11 metros de altura. Para ilustrar a notícia, o jornal apresenta uma fotografia do mar a rebentar a toda a altura dos edifícios da zona de El Fuerte, entre o porto e a praia de Sablón, no município de Llanes.
Estamos sensivelmente a meio do Inverno, o que significa que dentro de cerca de um mês e meio teremos a Primavera de volta, o que pode ou não significar uma meteorologia marítima mais favorável.

O bar de excepção numa ilha excepcional

O site de arquitectura ArchDaily promoveu este ano, pelo sétimo ano consecutivo, a atribuição do prémio internacional para o melhor edifício de 2016, isto é, o Archdaily Building of the Year 2016.
Foram pré-seleccionadas mais de três mil propostas assinadas por cerca de 18 mil arquitectos de todo o mundo, que concorreram às 14 categorias em concurso. Nesse conjunto de obras pré-seleccionadas encontravam-se 174 obras da autoria de arquitectos portugueses, concorrendo às categorias Casas (62), Reabilitação (23), Arquitectura Cultural (18), Escritórios (11), Arquitectura Pública (10), Educação (9), Interiores (9), Hospitality (8), Housing (6), Arquitectura Desportiva (5), Healthcare (4), Comercial (4), Industrial (3) e Arquitectura Religiosa (2). 
Desta pré-selecção global foram apuradas 70 obras, isto é, cinco obras por cada uma das 14 categorias, verificando-se a presença na final de sete projectos portugueses: o Cella Bar na vila da Madalena da Ilha do Pico, a sede da Uralchem Headquarters na Rússia, o Centro Equestre de Leça da Palmeira, a Casa em Guimarães, o Mercado Municipal de Abrantes, o Al Shaheed Park no Kuwait e a Cozinha Comunitária das Terras da Costa da Caparica.
A votação decorreu entre os dias 2 e 9 de Fevereiro e veio a declarar o Cella Bar, a Casa de Guimarães e a Cozinha Comunitária das Terras da Costa da Caparica como Edifícios do Ano 2016 de acordo com a votação da ArchDaily.
O Diário de Notícias destaca hoje a notícia da atribuição dos Archdaily Building of the Year 2016 a três obras com marca portuguesa e ilustram-na com a fotografia do espectacular Cella Bar da ilha do Pico, enquadrado por uma paisagem de mar azul, pedras negras e encostas verdes.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Uma imagem vale mais que mil palavras

Há uma forte depressão centrada a oeste das ilhas Britânicas que está a condicionar o estado do tempo na costa ocidental da Europa, com forte ondulação marítima e ventos muito frescos, que estão a afectar a vida das populações do litoral. Embora haja notícia de cortes de estradas, de tráfego costeiro suspenso e de muitas localidades privadas de energia eléctrica, a situação é normal para esta época do ano. Porém, para além dessas  consequências mais ou menos graves, estas situações proporcionam alguns aspectos de interesse, como são as impressionantes imagens do mar a desfazer-se sobre os obstáculos que encontra. É assim nas costas britânicas e irlandesas, no golfo da Biscaia e, naturalmente, na costa portuguesa.
Os amantes da fotografia têm então um tema muito inspirador para exprimir a sua arte e os jornais aproveitam para publicar as belas imagens das enormes ondas a desfazer-se no litoral, a lembrar que o mar é uma força da natureza que sempre desafia o homem. No entanto, embora isso aconteça em diversos países, em nenhum deles é tratado com o destaque que lhe é dado no Reino Unido, onde os principais periódicos escolhem esse tipo de imagens para ilustrar as suas edições. Assim acontece com os principais jornais ingleses e, entre eles, o The Guardian que, na sua edição de hoje, publica uma expressiva fotografia de Graham Lawrence obtida ontem em Porthcawl, no País de Gales.
Como se costuma dizer e parece ser uma verdade universal, “uma imagem vale mais que mil palavras”.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

O deslumbramento do Carnaval brasileiro

Na generalidade dos países de tradição cristã está a viver-se o tempo do Carnaval mas, como se sabe, existem diferentes tradições ou culturas carnavalescas em cada lugar do mundo, com mais ou menos práticas outdoor e indoor, nuns casos de cariz mais popular e noutros casos de tendência mais sofisticada.
Por razões históricas os portugueses levaram o Carnaval para muitas regiões distantes de todos os continentes, nunca deixando de o festejar no seu próprio território. Assim acontece este ano, com festejos anunciados por toda a parte, desde Ovar a Loulé, de Torres Vedras a Estarreja, mas também nos Açores e na Madeira. A programação de todos os canais televisivos portugueses tem dedicado muitas horas à transmissão dos festejos carnavalescos que, muitas vezes, são verdadeiras manifestações de boçalidade e de profundo mau gosto.
Porém, é no Brasil que o Carnaval tem a sua maior expressão cultural em todo o país, sobretudo nas cidades do Rio de Janeiro, de São Paulo e Salvador, mobilizando o entusiasmo e até o delírio de milhões de pessoas nas ruas, nos sambódromos, nos clubes e por toda a parte. Porém, o Carnaval do Rio de Janeiro destaca-se e, por vezes, é considerado como o maior espectáculo da Terra. O seu mais expressivo ex-libris são as escolas de samba com os seus desfiles e as suas espectaculares fantasias, as suas indumentárias, as suas músicas e as suas danças, que constituem um caso único no mundo. Um deslumbramento de cor, de alegria e de vitalidade!
O Carnaval é uma grande festa para todos os brasileiros e uma grande atracção para o turismo e para a economia brasileira, pelo que toda a imprensa lhe dá o devido destaque, como sucedeu hoje com o diário Extra do Rio de Janeiro que parece apostar na Escola Beija-Flor, a campeã de 2015, para voltar a vencer este ano a competição entre as escolas de samba.

domingo, 7 de fevereiro de 2016

Orçamento, TAP e dignidade nacional

A última semana foi politicamente dominada por dois importantes temas. Por um lado, a apresentação do Orçamento do Estado em Bruxelas e, por outro, o fim das negociações a respeito da privatização da TAP.
A questão do Orçamento gerou uma injustificável dramatização conduzida pelos jornalistas e comentadores do costume, a que se associaram alguns deputados da antiga maioria. Porém, o governo português teve uma clara vitória formal e política, pois foi possível garantir um orçamento equilibrado de acordo com os critérios da União Europeia mas, também, alinhado com as promessas eleitorais do governo e com as normas constitucionais e que, além disso, não abdica das medidas que lhe garantem o apoio dos partidos que formam a actual maioria e a sua aprovação na Assembleia da República. Significa que nesse braço de ferro com Bruxelas houve negociação e, naturalmente, houve cedências das duas partes, não tendo havido as imposições arrogantes de outros tempos a um Portugal submisso. A síntese desse processo foi dita publicamente pelo primeiro-ministro Costa, quando com um sorriso disse à chanceler alemã que se preocupasse unicamente com o seu próprio orçamento, o que tanto nos fez lembrar as humilhantes posturas de Vítor Gaspar e de Maria Luís perante Wolfgang Schäuble. Há muito, muito tempo, que não assistiamos a uma tão subtil e eloquente afirmação da dignidade nacional.
O outro tema da semana foi a reversão do processo de privatização da TAP, que fora assinado entre o consórcio Atlantic Gateway e um governo que tinha sido demitido na véspera. Foi uma decisão muito estranha e apressada do anterior governo. Porém, essa decisão sempre foi contestada pelo actual governo e foi agora cumprida através de negociações chegadas a bom porto. Humberto Pedrosa, um dos empresários do consórcio, afirmou que “a boa vontade e o diálogo permitiram o casamento”, enquanto o primeiro-ministro disse que “como nós dizemos em Portugal, é a falar que a gente se entende. E falando, a gente entendeu-se”.
Significa que, quer no caso do Orçamento, quer no caso da TAP, prevaleceram o diálogo e a negociação que defenderam o interesse e a dignidade nacionais. Lamentavelmente, os jornalistas e os comentadores do costume não viram isso.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

A imbecilidade do euro-deputado Rangel

Aconteceu ontem e a televisão mostrou: durante um debate no Parlamento Europeu sobre as consequências da eventual saída britânica da União Europeia, o euro-deputado Paulo Rangel exibiu o seu habitual radicalismo e imbecilidade, atirando-se ao governo do seu próprio país e rotulando-o de extremista. O fulano assumiu o vergonhoso papel de lacaio e de porta-voz das mais reaccionárias instituições internacionais e revelou-se um reles sabujo. Mostrou ser uma vergonha nacional. O seu agressivo discurso, proferido numa altura em que o governo português e a Comissão Europeia discutiam o conteúdo do Orçamento do Estado para 2016, revela a falta de carácter, a arrogância, a inteligência enviezada e a cegueira política deste verdadeiro imbecil que insultou e difamou os portugueses perante os deputados e os jornalistas de toda a Europa.
Em Novembro passado, já este deputado-imbecil chamara a atenção da Comissão Europeia para o facto de “todo o esforço que a população portuguesa fez nos últimos quatro anos, com resultados tão prometedores e tão inspiradores”, estar agora “comprometido” devido ao “acordo de forças da extrema-esquerda com o PS, que põe em causa o equilíbrio que até agora tem sido seguido em Portugal”.
Conforme é do conhecimento público, este deputado-imbecil tem aproveitado o palco de Bruxelas para se promover e para enriquecer, porque além das mordomias de que beneficia como deputado, ainda dá umas aulas, integra uma sociedade de advogados e é comentador televisivo. Porém, apesar dessas actividades todas, Rangel ainda tem tempo para ter este comportamento abjecto de lacaio.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

O inaceitável comportamento europeu

Desde há alguns dias que o governo está debaixo de fogo cruzado relativamente ao Orçamento do Estado para 2016, com críticas e ameaças internas e externas. Por um lado procura cumprir as suas promessas eleitorais e os compromissos que acordou com os partidos que lhe dão suporte parlamentar, mas por outro tem que cumprir as exigências da Comissão Europeia que constam do Tratado Orçamental ou, mais precisamente, do Tratado sobre Estabilidade, Coordenação e Governação na União Económica e Monetária (TECG), que entrou em vigor no dia 1 de Janeiro de 2013. O TECG exige que os orçamentos nacionais sejam equilibrados, isto é, que o défice global se situe abaixo dos 3% e que, para os países com dívidas acima de 60% do PIB, o défice estrutural se situe abaixo de 0,5%.
Tanto quanto vamos sabendo, depois de filtrarmos a informação que nos chega através de uma monumental campanha de propaganda interna e externa, o défice global apresentado de 2,6% não levantou quaisquer problemas aos burocratas de Bruxelas. O problema está no défice estrutural que resulta da diferença entre as receitas e as despesas públicas, excluindo os efeitos temporários e conjunturais, que é um indicador que ninguém sabe exactamente o que é, nem como se calcula. Aqui é que parece residir a polémica quanto à natureza, temporária ou não, dos cortes de salários e pensões que o governo decidiu reverter. Estamos, portanto, perante um braço de ferro político que, como hoje titula o Diário Económico, vale cerca de 500 milhões de euros e vale, veja-se bem, cerca de 0,2% do PIB. Significa que o tratamento dado ao orçamento português revela a vontade da troika de continuar a humilhar o nosso país e de assegurar que as mudanças políticas em curso não contagiem outros países, como por exemplo a Espanha. Este comportamento europeu é inaceitável.
As ameaças que desrespeitam o eleitorado português e a sua vontade expressa de recuar com a receita da austeridade, não podem ser ignoradas, embora seja a soberana Assembleia da República que virá a aprovar ou a rejeitar a proposta governamental. Os tempos mudaram e melhor era que a Comissão Europeia se preocupasse com os refugiados, com o brexit, com os independentismos, com o desemprego jovem e com tantos outros problemas europeus.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

A nossa juventude adere a boas causas

No último quartel do século XIX e nos primeiros anos do regime republicano, a recolha de fundos através de subscrições públicas de âmbito nacional foi uma prática muito frequente em Portugal, para financiar as mais diversas iniciativas. Assim, foi através desse tipo de subscrições que se adquiriram navios de guerra, se compraram aeroplanos, se criaram obras de assistência social, se construiram alguns monumentos e se ergueram muitas estátuas. Habitualmente, eram os grandes periódicos, como por exemplo O Século, o Diário de Notícias e O Comércio do Porto, que organizavam e dinamizavam essas acções de recolha de fundos que se enquadravam no comemorativismo ou no campo da benemerência e de que resultaram, por exemplo, as estátuas do Marquês de Pombal e de Camões, em Lisboa, a estátua equestre de D. Pedro IV no Porto e o Monumento aos Restauradores em Lisboa.
Os tempos são hoje bem diferentes e esse tipo de subscrições públicas de carácter nacional deixaram de ter os periódicos como seus dinamizadores, embora existam outros tipos de iniciativas muito beneméritas, como a recolha de alimentos do Banco Alimentar contra a Fome ou os peditórios nacionais da Cruz Vermelha Portuguesa e da Liga Portuguesa contra o Cancro.
Foi nessa linha de intervenção pública e ao abrigo da lei do mecenato que o Museu Nacional de Arte Antiga iniciou uma campanha de recolha de fundos para adquirir a “Adoração dos Magos”, considerada a obra-prima de Domingos Sequeira, pintada em 1828 e que pertence a colecionadores privados. Em boa hora o Agrupamento de Escolas Domingos Sequeira, de Leiria, convidou os 2.800 alunos das suas 16 escolas a participar na campanha de angariação de fundos, ao mesmo tempo que conheciam e davam a conhecer o pintor-patrono da sua escola. Em boa hora, o jornal Região de Leiria se associou a esta iniciativa de grande impacto educativo, cívico e cultural, dando-lhe uma dimensão regional, neste caso exemplar de mobilização da juventude por uma boa causa.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

As muitas poucas-vergonhas da política

A vida política é uma actividade difícil que exige muita dedicação, muito estudo e, sobretudo, muita vocação para servir a comunidade. Nessa lógica de serviço que poucos praticam e de que muitos se servem de forma perversa e ignóbil, é necessária uma forte sensibilidade social que assegure igualdade de oportunidades mas, também, harmonia e coesão social.
Por isso, num tempo em que se acrescentaram dificuldades à população, que se mandaram emigrar as pessoas, que se empobreceu o país e se retiraram rendimentos aos portugueses, em simultâneo com uma criminosa passividade face à fraudulenta falência de alguns bancos e à apressada e desnecessária venda das melhores empresas nacionais a quem apareceu por aí com um maço de notas, a notícia de hoje do Jornal de Notícias é absolutamente chocante.
No passado mês de Outubro, quando o governo de P & P estava a arrumar os seus papéis para se ir embora, ainda tratou de algumas mal-feitorias que não foi apenas a venda da TAP fora de horas e num vão de escada. Foi, então, que decidiu que os administradores que ele próprio nomeara para a ANAC, a entidade reguladora da aviação civil, fossem aumentados com direito a retroactivos desde Julho. Assim, o presidente passou de 6030 euros para 16075 euros; o vice-presidente passou de 5499 euros para 14.468 euros; a vogal subiu de 5141 euros para 12.860 euros. E quem são os administradores? Os seus currículos estão na internet e revelam verdadeiros boys, daqueles que usam a bandeirinha na lapela, que foram assessores deste e daquele, que frequentaram acções de formação nisto e naquilo. No caso da girl, para além do tempo que passou em gabinetes ministeriais, é notável a sua formação de base em "estudos europeus" que, naturalmente, tem muito a ver com a regulação da aviação civil. Certamente pela sua militância, a licenciada Lígia foi nomeada pelo Sérgio Monteiro e aos 35 anos de idade tem os tais 12.860 euros mensais, mais as mordomias que o cargo lhe dá. Boa menina!
Este caso mostra o desvario que tomou conta da vida política e partidária, evidenciando uma das formas mais subtis da corrupção em Portugal, isto é, o favorecimento dos amigos e dos companheiros de partido. Bom seria que António Costa e o seu governo não entrassem nessa onda e pusessem fim a esta pouca-vergonha.