quinta-feira, 31 de março de 2016

Disputas em jogo no Mar do Sul da China

A edição de hoje do The New York Times destaca em primeira página uma reportagem intitulada “Shadowboxing with China in Disputed Waters”, a propósito das ilhas Spratly que se localizam no Mar do Sul da China. Estas ilhas constituem um enorme arquipélado desabitado com mais de sete centenas de ilhéus, recifes e atóis cuja área emersa total é inferior a quatro quilómetros quadrados, dispersos por uma vasta região oceânica. Porém, por razões económicas e militares, há diversos países com interesses e reivindicações sobre estas ilhas, nomeadamente a China, o Vietnam, as Filipinas, Taiwan e a Malásia. Todos estes países afirmam os seus direitos sobre aqueles espaços e, nesse sentido, já dispõem de pistas de aviação nas ilhas, embora a China tenha em construção uma grande pista para fins militares, o que a todos perturba. Enquanto potência global, os Estados Unidos também têm interesses na região e têm alianças que os obrigam a manter uma presença naval e um estado de alerta permanente naquelas águas, onde há sempre hipóteses de haver situações de conflitualidade.
A ilustrar a reportagem do The New York Times encontra-se uma fotografia alusiva a esta disputa de sombras, obtida na ponte do cruzador USS Chancellorsville em patrulha no Mar do Sul da China, em que se vê o comandante do navio Capt. Curt A. Renshaw, provavelmente a observar os movimentos de uma qualquer fragata ou helicóptero chinês.
Pois observem-se todos, mas observem-se com cuidado e contenção.

terça-feira, 29 de março de 2016

Palmira foi libertada. Será restaurada?

As forças governamentais sírias com o apoio das milícias libanesas do Hezbollah e da aviação russa recuperaram a cidade e o sítio arqueológico de Palmira, que esteve ocupada pelas forças do Estado Islâmico desde Maio de 2015. A recuperação da cidade apresentava-se como um grande objectivo para o governo de Bashar al-Assad e para os seus aliados, pois parece corresponder a uma inversão da sorte da guerra que lhes está  a ser favorável, sobretudo depois da intervenção da aviação russa.
Palmira foi um dos primeiros locais a ser declarado Património da Humanidade pela UNESCO e, desde então, tornou-se um grande centro turístico, até que chegou a guerra. Com a ocupação pelas forças extremistas, alguns dos mais simbólicos monumentos do sítio arqueológico foram destruídos, assim acontecendo com o Arco do Triunfo e com alguns templos, colunas e estátuas, enquanto o seu museu arqueológico foi pilhado.
A recuperação de Palmira permitiu verificar o seu grau de destruição, sucedendo-se declarações mais ou menos animadoras quanto à extensão do que foi destruído e sobre a vontade de restaurar o espaço arqueológico e os seus monumentos. Alguns jornais internacionais, como o americano The Wall Street Journal, dedicam alargados espaços à reconquista de Palmira e, através de entrevistas a especialistas, estimam que o restauro de Palmira pode durar entre cinco anos a “muito, muito tempo”. Será preciso muito dinheiro e muita cooperação internacional para concretizar este projecto mas, primeiro, tem que acabar a guerra.

domingo, 27 de março de 2016

A Europa que nos desgoverna e desorienta

Um pouco por toda a Europa sucedem-se as declarações de muita gente sobre a necessidade de se afastar o medo e de se encararem com coragem os tempos de terror que estão a ser impostos aos europeus, mas também a outros povos, por uma ideologia radical, totalitária e intolerante. Os acontecimentos de Bruxelas, tal como os de Paris, mas também de Londres, de Madrid, de Bagdad, de Damasco, de Nova Iorque e de tantos outros locais, são demasiado perturbadores. Os tempos estão realmente difíceis e são cada vez mais aqueles que hesitam em frequentar uma praia ou entrar num estádio de futebol, numa estação do metropolitano ou num aeroporto. O nosso modelo de vida está seriamente ameaçado. A nova imagem de uma Europa policial e securitária já faz parte do nosso quotidiano, como mostra a capa do The Economist. Soldados e polícias mascarados e armados de metralhadora passaram a fazer parte da paisagem humana da Europa. Ao ambiente de incerteza económica e social reinante, juntou-se um ambiente de desconfiança e de medo.
Neste quadro, é evidente que ninguém confia nos dirigentes europeus que têm pouco estatuto e que, depois da casa roubada, põem trancas na porta. Durante alguns anos, muito poucos pensaram na ameaça que agora se revela e vimos os que então deviam ter pensado e actuado, a cometerem erros de enorme gravidade, pelos quais ninguém lhes pede responsabilidades.
É realmente lamentável e muito ridículo o que tem acontecido numa Europa desgovernada e desorientada, desde que um grupo de mentirosos, incluindo políticos e jornalistas que por aí andam, decidiram criar a teoria das armas de destruição maciça e acabar com Saddam Hussein, por vingança ou por ignorância, mas com a ajuda dessa figura inesquecível de mediocridade que foi George W. Bush. Foi então que tudo começou. É bom lembrar esta realidade. Ponto final.

quinta-feira, 24 de março de 2016

A enorme azia do rapaz da bandeirinha

Antigamente não tinhamos dúvidas sobre a natureza da actividade bancária e das operações financeiras pois quase tudo se resumia à recolha depósitos dos clientes e ao pagamento ao depositante de um juro (operações passivas) e à concessão de créditos ao cliente que pagava um juro (operações activas).
Os tempos mudaram e a banca transformou-se numa coisa que o homem comum não sabe o que é, muitas vezes ocupada por gente sem escrúpulos e de duvidosa reputação. Um pouco por todo o mundo as consequências têm sido desastrosas e, em Portugal, também temos sido atingidos por essa hecatombe.
No sentido de prevenir mais surpresas e defender os depositantes e os contribuintes portugueses, o governo autorizou a empresária angolana Isabel dos Santos a entrar no capital do BCP, banco em que a também angolana Sonangol já é a maior accionista. O acordo foi comunicado pessoalmente pelo próprio primeiro-ministro à empresária angolana. Caiu o Carmo e a Trindade!
Pela boca do deputado Amaro, o PSD veio imediatamente exigir esclarecimentos para saber so o governo tinha tido intervenção no negócio, deixando no ar algumas suspeitas. Depois, foi o próprio presidente do PSD, aquele que vendeu a EDP aos chineses, a ANA aos franceses e a TAP a não se sabe quem, que veio desejar “ver tudo em pratos limpos”.
A resposta veio de Belém com o Presidente da República a confirmar um total alinhamento com o governo e a lembrar que, como Chefe de Estado, lhe cumpre respeitar a Constituição. E foi em nome desse dever e da respectiva defesa do "interesse nacional" que considerou "natural" a intervenção do primeiro-ministro para garantir algum equilíbrio na origem dos capitais estrangeiros que entram na banca portuguesa. Foi um soco de luva branca de certos indivíduos que por aí andam, com o Passos à frente. É caso para dizer que o rapaz vai de mal a pior e que nem a bandeirinha na lapela lhe evita o total descrédito, nem um confrangedor isolamento. Com toda esta azia o rapaz vai mesmo precisar de muito Kompensan.

Bruxelas: mais um passo na brutalidade

Os terríveis acontecimentos de Bruxelas, tal como os que já aconteceram em Madrid, em Londres e em Paris, mostram que a barbárie entrou no coração da Europa e que o nosso modo de vida está ameaçado. Não é apenas a crise económica e a falta de solidariedade comunitária que tornam incerto e inseguro o nosso futuro, mas é sobretudo a instabilidade que o terrorismo está a trazer para a Europa, que  está velha, enfraquecida e é vítima da mediocridade das suas lideranças. De facto, os líderes europeus revelam-se incompetentes e incapazes para tratar dos grandes problemas que acontecem para lá das suas fronteiras e de não terem previsto o que poderia ter acontecido no interior do seu território e nas suas cidades, como consequência das suas desastrosas intervenções no Iraque, na Líbia e agora na Síria.
Em Março de 2011, quando Nicolas Sarkozy decidiu acabar com o líder líbio Muammar Kadafi, este deu uma entrevista a um jornal francês e avisou que “milhares de pessoas irão invadir a Europa a partir da Líbia e não haverá ninguém para detê-las”. E acrescentava que “haverá uma jihad islâmica diante de vocês. Os homens de Bin Laden vão cobrar resgates em terra e no mar. Será realmente uma crise mundial e uma catástrofe para todo o mundo. Eu não deixarei isso ser feito”.
Porém, ninguém o ouviu e, pelo contrário, os aviões americanos, ingleses e franceses condenaram-no e abriram as portas a uma das maiores ameaças que pesa sobre a Europa.
Neste quadro desolador e de grande apreensão, é com tristeza que assistimos às negociações entre a Turquia e a Comissão Europeia sobre os indefesos refugiados que são tratados com absoluta desumanidade, mas também às ridículas discussões e diktats da Comissão Europeia sobre o défice orçamental português e sobre se o seu valor deve ser de 2,6% ou 2,4% do PIB, o que mostra como a Europa é incapaz de se governar e tratar do que é importante, preferindo exibir o seu autoritarismo burocrático sobre as coisas assessórias. Além disso, muito pouco é feito para acabar com o fornecimento de armas e a compra de petróleo, operações de que vive o terrorismo, certamente porque esse negócio serve a finança especuladora europeia. 
O banho de sangue que aconteceu em Bruxelas e que a imprensa de todo o mundo relatou, lembram-nos que muita coisa corre mal na Europa da fartura, do dinheiro e da hipocrisia.

terça-feira, 22 de março de 2016

O talento brasileiro que vem a Portugal

Está anunciada a apresentação em Portugal no próximo mês de Abril de um grande espectáculo musical que junta Caetano Veloso e Gilberto Gil.
Os dois talentosos músicos brasileiros irão apresentar “Dois Amigos, Um Século de Música” nos coliseus do Porto (24 e 25 de Abril) e de Lisboa (27 e 28 de Abril), depois de 44 espectáculos esgotados em 35 cidades de 21 países, em que totalizaram mais de 135 mil espectadores.
Caetano Veloso e Gilberto Gil — que celebraram 50 anos de carreira em 2015 — são dois dos mais importantes renovadores da música popular brasileira, com carreiras paralelas que tiveram muitos pontos de contacto, desde a década de 1960 quando atravessaram o tropicalismo e o exílio na Europa, até à atualidade.
Numa época em que tanto se fala do Brasil e de alguns dos complexos problemas por que o país  está a atravessar, com muitos comentadores a não acreditarem na capacidade brasileira para ultrapassar a situação difícil que o país atravessa, a presença destes dois símbolos da cultura brasileira em Portugal também é uma mensagem de confiança que nos chega do outro lado do Atlântico.
Sejam benvindos!

domingo, 20 de março de 2016

Há novos e muito bons tempos para Cuba

Depois de quase noventa anos de ausência, um Presidente dos Estados Unidos inicia hoje uma visita de três dias a Cuba, como anuncia o jornal El Tiempo de Bogotá e outros jornais sul-americanos. Esta visita é um grande acontecimento para aquela região, mas também é uma grande notícia para o mundo e para a paz. Desde que Fidel de Castro e os seus companheiros da Sierra Maestra tomaram o poder em Cuba em Janeiro de 1959, que as relações com os Estados Unidos se deterioraram e conduziram a um embargo económico e a um completo corte de relações. Fidel de Castro que se afirmava socialista, recebeu então o apoio da União Soviética e tornou-se comunista e anti-americano. Em 1962 aceitou a instalação de mísseis na sua ilha, o que constituia uma ameaça para a segurança dos Estados Unidos, então presididos por John Kennedy, que reagiu e obrigou ao completo desmantelamento dos mísseis soviéticos, num caso em que se temeu uma confrontação nuclear. A hostilidade entre Cuba e os Estados Unidos acentuou-se e, a partir de então, a revolução cubana aprofundou-se. Fidel de Castro adoptou um programa de “exportação da revolução”, o que provocou o seu isolamento internacional, enquanto internamente instalou um governo autoritário que reconhecidamente melhorou a saúde e a educação dos cubanos, mas lançou muitos outros para o exílio nos Estados Unidos.
O colapso da União Soviética que se verificou em 1991 foi um rude golpe para Cuba. O seu isolamento internacional e a degradação da sua vida económica acentuaram-se. Em 2008 o presidente Fidel de Castro renunciou por doença à presidência que ocupara durante 49 anos e foi substituido por seu irmão Raúl Castro. Raúl recebeu o Papa Francisco em Setembro de 2015 e agora recebe Barack Obama. São novos e bons tempos para Cuba.

quinta-feira, 17 de março de 2016

Brasil: grande nau, grande tormenta

Adicionar legenda
O Brasil está a passar por uma situação política e social muito complexa, com uma enorme contestação ao governo da Presidente Dilma Rousseff, mas também à classe política brasileira e à generalidade das instituições. Os acontecimentos estão a suceder-se com grande rapidez e todos os dias há novas revelações a tornar mais difícil a resolução da crise. No passado dia 13 de Março, um imenso protesto nacional veio à rua pela voz de milhões de brasileiros a mostrar a sua indignação pela corrupção que está a minar a confiança no sistema político e a coesão nacional, mas também a insatisfação pela má qualidade dos serviços públicos, incluindo a saúde, a educação, os transportes e a segurança pública, entre outros. A cidade de S. Paulo está a ser o centro da contestação e milhões de pessoas vieram à rua, como documenta o jornal O Estado de S. Paulo. Nas ruas, o povo exigiu o impeachment da Presidente da República, isto é, o seu impedimento para governar nos termos constitucionais, com base na gravidade de supostas irregularidades políticas e administrativas de que é acusada. Ontem, o ex-Presidente Lula da Silva aceitou integrar o governo, não sendo claro se o objectivo é apoiar Dilma Roussef e reforçar o governo com a popularidade que ainda conserva, ou se é apenas para poder beneficiar de uma imunidade que o liberte de acusações de envolvimento passivo ou activo em actos de corrupção.
O Brasil é uma grande nau. Ora, grande nau grande tormenta, como se costuma dizer.
O Brasil tem passado por um ciclo de grande euforia que lhe deu um estatuto internacional de potência emergente. O seu potencial económico revelou-se e deu origem a profundas transformações sociais que criaram uma exigente classe média e reduziram a pobreza, mas não procederam às reformas necessárias num país que é o quinto maior do planeta, com 200 milhões de habitantes, uma enorme diversidade cultural e com mais de cinco mil municípios.
O que se deseja é que os brasileiros encontrem rapidamente as melhores soluções para os seus problemas, porque ninguém, sobretudo no grande espaço que é a Lusofonia, quer ver o Brasil a ser dominado pela crise política, pela corrupção, pela incerteza ou pela recessão económica.

terça-feira, 15 de março de 2016

A infâmia dos 5 anos de guerra na Síria

A guerra na Síria nasceu de um conflito interno que começou em Janeiro de 2011 com grandes protestos populares nas cidades de Damasco e Alepo, em linha com o que aconteceu em vários países da região e a que se chamou a Primavera Árabe. Esse conflito evoluiu rapidamente para uma revolta armada em grande escala que, habitualmente, se considera ter tido início no dia 15 de Março de 2011. O governo do presidente Bashar al-Assad não cedeu aos protestos e passou a combater os seus adversários que ocuparam cidades e pegaram em armas. Hoje o governo sírio acusa esses adversários de serem terroristas, enquanto as forças da oposição se dividiram por vários grupos com objectivos diferenciados, que combatem Bashar el-Assad mas que se combatem entre si. Para além dos seus contornos políticos iniciais, a guerra passou a ter contornos religiosos e geopolíticos e, no terreno, há áreas controladas pelo governo sírio, pela chamada oposição democrática do Conselho Nacional da Síria, pelo Estado Islâmico, pelas forças curdas do PKK e pela Frente al-Nusra, o braço sírio da Al Qaeda. Nesta complexa situação, o conflito alastrou ao Iraque, mas também ao Iémen, ao Líbano e, cada vez mais, à Turquia, para além de estar a pôr à prova a coesão europeia e a sua solidariedade para com os outros povos.
Cada uma das partes tem aliados muito poderosos e o conflito internacionalizou-se, com aviões dos mais diferentes países a bombardearem aqui e acolá. As cidades estão destruídas e a população vive em estado de calamidade e foge. As grandes potências que também são a cabeça dos grandes interesses, têm tido um comportamento impróprio e desastroso, pois não compreendem a complexidade da realidade regional e mostram não ter aprendido com o erro que foi o afastamento de Sadam Hussein e de Muammar Kadaffi. Ao longo de cinco anos pouco mais têm feito do que tentar exportar os seus modelos políticos, mas também o seu armamento destruidor para a região.
A política das grandes potências envergonha a Humanidade, pela passividade com que têm olhado para o conflito sírio que já causou mais de 300 mil mortos, cerca de cinco milhões de refugiados, mais de 8 milhões de desalojados e a destruição do país. É uma infâmia, como bem diz o jornal espanhol El Periódico, essa forma desatenta e desumana como a comunidade internacional e os seus líderes, especialmente Obama, Putin, Cameron e Hollande, têm olhado para a Síria.

quinta-feira, 10 de março de 2016

Cavaco já foi esquecido. Viva Marcelo!

Ainda é cedo, muito cedo, para fazerem avaliações, mas os discursos pronunciados e as iniciativas promovidas pelo novo Presidente da República estão a gerar uma onda de simpatia, ou até de entusiasmo, que está a superar tudo o que se pudesse imaginar. O seu discurso de posse foi notável de simplicidade formal e de conteúdo político e simbólico, com a repetida declaração de cumprir e fazer cumprir a Constituição, além de ter utilizado citações de Miguel Torga, de António Lobo Antunes e de Mouzinho de Albuquerque, todas devidamente endereçadas. Destaca-se, também, a sua declaração sobre a identidade nacional que, segundo disse, é “feita de solo e sangue”, mas que deverá ser alicerçada e defendida com apostas na Língua, na Educação, na Ciência e na Cultura, bem como na capacidade de saber conjugar futuro com passado. Da mesma forma, foram meridianas as suas referências à necessidade de termos de sair do clima de crise, o seu sublinhado de que os Portugueses têm igual digndade e estatuto e a afirmação sobre o esforço que deve ser feito para moralizar e credibilizar o sistema político, pelo combate à corrupção, ao clientelismo e ao nepotismo.
Teve particular impacto no discurso presidencial a referência ao 25 de Abril de 1974, “com os jovens capitães, resgatando a liberdade, anunciando a Democracia, permitindo converter o Império Colonial em Comunidade de Povos e Estados independentes, prometendo a paz, o desenvolvimento e a justiça para todos". O ambiente político que começara a desanuviar-se com a posse do actual governo, está agora cada vez mais desanuviado.
Foi realmente um discurso novo, num tempo novo.
Cavaco já foi esquecido. Muitos dos apoiantes de Passos & Portas que tão submissos foram às imposições estrangeiras e que tão insensíveis foram com os seus desmandos autoritários e arrogantes, já estão a meter a viola no saco, enquanto os seus partidos já verificaram que terão que mudar de comportamentos e de protagonistas, acabando de vez com os caceteiros ignorantes que têm inundado as suas hostes. Talvez Marcelo Rebelo de Sousa os inspire.

quarta-feira, 9 de março de 2016

Temos um tempo novo no nosso horizonte

Temos a partir de hoje um novo Presidente da República que, como ele próprio fez questão de sublinhar no momento da sua vitória eleitoral, é o Presidente de todos os Portugueses. Começa, assim, um tempo novo, que deixa para trás dez anos de sombra, de mesquinhez, de arrogância, de sectarismo e de mau entendimento da função presidencial. Cavaco Silva não terá o seu nome na História, a não ser que qualquer historiador obtuso ou vesgo o queira favorecer, o que é muito improvável.
Acordemos, portanto, deste sonho mau que foi ter tido esse homem provinciano e mesquinho durante dez longos anos a ocupar o Palácio de Belém. Agora temos um tempo novo!
Marcelo Rebelo de Sousa tem outra cultura, outro cosmopolitismo e outra erudição. Os sinais que tem dado à sociedade têm sido muito positivos e prenunciam um novo modelo de presidência, com mais diálogo, mais consenso, mais sensibilidade social e muito menos crispação entre os agentes políticos. Espera-se, realmente, um tempo novo e bem precisamos dele. Marcelo pode bem ser um homem de convergências e de inclusões, o árbitro que nos faltava para pôr ordem no jogo político nacional, o incentivador dos grandes ideais e o mobilizador da juventude portuguesa. Marcelo pode ser o símbolo de um Portugal orgulhoso do seu historial, amante da paz, da cultura e do progresso, embora integrado numa Europa decadente e com sérios problemas. Marcelo pode ser o elemento dinamizador da comunidade de expressão portuguesa dispersa pelo mundo e pode ter um papel determinante na recolocação de Portugal no lugar que merece no concerto das nações.
Os primeiros contributos para este tempo novo vieram de António Costa e da sua inteligência e lucidez, ao derrubar a barreira da “esfera da governabilidade” e ao adoptar uma política de inclusão nacional e de uma maior sensibilidade social, mas também ao mostrar aos burocratas de Bruxelas que não estamos dispostos a continuar a ser humilhados pela sua cegueira política. Com Marcelo Rebelo de Sousa todos esperamos realmente um tempo novo. Os que votaram e os que não votaram nele. Viva o novo Presidente da República!

domingo, 6 de março de 2016

Adeus Aníbal. Não nos deixas saudades!

Vai terminar o seu mandato o mais impopular presidente da democracia portuguesa e alguns milhões de cidadãos vão sentir-se aliviados depois de um longo tempo presidencial marcado pelo sectarismo, pela arrogância, pela insensibilidade social, pelo novo-riquismo e pela pequenez cultural e mediocridade cívica.
A impopularidade do filho do Teodoro de Boliqueime vinha de longe, quando falava com a boca cheia de bolo-rei e quando criou a doutrina do bom aluno, da submissão a Bruxelas e do deslumbramento pelos milhões dos fundos comunitários, que gerou a euforia cavaquista que o catapultou da Travessa do Possolo para o Palácio de Belém. Aí, Aníbal deslumbrou-se completamente e começou por abdicar da dignidade do seu salário para se encostar às suas pensões. Encheu-se de assessores, rodeou-se de gorilas e fartou-se de viajar. Nunca foi capaz de fazer um discurso cultural, nem soube revelar preocupações com a pobreza ou com a desigualdade. Distinguiu um agente da PIDE e ostracizou Salgueiro Maia. Falou das cagarras das Selvagens, das vacas que sorriem e do sabor da banana da Madeira. Lamentou-se pela reforma da mulher, faltou ao funeral de Saramago, disse que o BES não corria riscos e nunca se cansou de dizer, sobre tudo e mais alguma coisa, que já tinha avisado.
Durante cerca de dez anos optou por não ser o Presidente de todos os portugueses e ninguém esquece o seu discurso de posse, vingativo, sectário e divisionista. Não percebeu a sua função de garante da unidade e da coesão nacionais, assistiu passivamente à intervenção da troika e não teve uma palavra de conforto para as vítimas da austeridade, nem para os milhares de jovens que foram obrigados a emigrar.
Recentemente, Aníbal empunhou a bandeira do seu partido e fez tudo para não empossar o actual Primeiro-Ministro, mas o experiente e inteligente António Costa decidiu convidá-lo para simbolicamente presidir a um Conselho de Ministros. Fez bem, mas não deixou de ser uma valente bofetada de luva branca.
Aníbal acumulou fortuna e não vai regressar a Boliqueime porque tem agora uma nova mansão na famosíssima Praia da Coelha, enquanto em Lisboa vai ocupar um gabinete novo no Convento do Sacramento, sem se saber para quê. Aníbal foi um mau sonho que passou. Não vai deixar saudades nenhumas e, provavelmente, também não vai ter um lugar na História.

quinta-feira, 3 de março de 2016

A triste opção da deputada Albuquerque

Foi hoje anunciado pela própria, que a partir da próxima 2ª feira a ex-ministra das Finanças vai ser administradora não-executiva da Arrow Global, uma empresa inglesa especializada na angariação e recuperação de dívida pública e privada. Depois de Gaspar e de Moedas, temos Madame Albuquerque a safar-se em grande, enquanto o amigo Passos fica por cá a ver navios e a dizer baboseiras.
A Arrow Global actua em Portugal desde há alguns anos e, entre outros, fez vários e muito lucrativos negócios com o Banif, exactamente quando Madame Albuquerque exerceu funções governativas relacionadas com a gestão de dívida pública nacional e com a salvaguarda do sector financeiro
Quer dizer que a ex-ministra das Finanças vai ser administradora de uma empresa que adquire activos detidos pelas empresas financeiras portuguesas, que especula e que depois os vende com mais-valias exorbitantes. Há quem diga que Madame Albuquerque vai trabalhar com um fundo "abutre", que lucra com a fragilidade do sistema financeiro português e com os activos tóxicos que estão na posse do Estado e que os contribuintes vão ter que pagar. Há também quem diga que esta fraqueza de Madame Albuquerque é uma ilegalidade e uma incompatibilidade, um caso de falta de ética e de promiscuidade, ou uma situação de escandalosa ganância pessoal. Há quem exija a clarificação dos “negócios” da Arrow Global.
As coisas, de facto, não soam bem. Apesar de ter dito que não é incompatível ser deputada e ser administradora de uma empresa sedeada em Londres, há quem diga que é uma irresponsabilidade política e uma desonestidade pessoal que uma deputada portuguesa sentada na última fila do Parlamento, passe o tempo a tratar dos assuntos da britânica Arrow Global. Dizem que é falta de senso, mas Madame Albuquerque tem bom senso. Olá se tem! Então qual é o problema de passar a ter dois empregos que lhe dão bom dinheirinho, de ter passaporte diplomático e de ter imunidade parlamentar? 

Há um mau jornalismo que envergonha

Hoje, a capa do jornal i é um exemplo de muito mau jornalismo, ao anunciar com grande destaque que a TAP é a quinta pior companhia do mundo e que a SATA é a pior, o que não é apenas um disparate mas é, também, uma falta de respeito para com os leitores do jornal e para com os trabalhadores e os passageiros daquelas companhias. Os quatro cidadãos que, no cabeçalho do jornal, colocam os seus nomes com o pomposo título de directores estavam distraídos ou são incompetentes.
Todos sabemos que são frequentes as comparações internacionais entre companhias aéreas e que, anualmente, são publicados rankings das melhores e das piores, das mais seguras, das mais pontuais ou das mais confortáveis, mas os jornais respeitáveis só divulgam esses rankings como curiosidades, porque essas classificações são subjectivas e muitas vezes manipuladas, pelo que não têm qualquer credibilidade. São, isso mesmo, curiosidades. Recentemente, houve três dessas curiosidades em que aparece a TAP.
[1] A Skytrax World Airline Awards anunciou que as melhores companhias aéreas estavam na Ásia e no Pacífico e que os World Airline Awards, considerados os “óscares da aviação comercial” tinham distinguido a Qatar Airways, a Singapore Airlines e a Cathay Pacific. Na lista das Top 100 airlines a TAP aparecia em 70º lugar, à frente de algumas companhias europeias e note-americanas.
[2] Na passada semana a Jet Airline Crash Data Evaluation Centre (JACDEC), uma organização alemã que analisa a segurança da aviação comercial, divulgou o seu relatório sobre segurança aérea e, entre sessenta companhias aéreas mundiais, colocou a TAP no 10º lugar do seu JACDEC Safety Index 2016.
[3] Há poucos dias, a revista norte-americana Fortune publicou um estudo que o Diário de Notícias divulgou que, entre setenta companhias aéreas, considera a TAP a quarta companhia “mais amada” do mundo nas redes sociais.
Nenhum jornal português deu relevo a essas curiosidades, o que é normal. O que não é normal é a capa da edição de hoje do jornal i que é sensacionalista, disparatada e envergonha o jornalismo.

quarta-feira, 2 de março de 2016

As eleições americanas estão na estrada

As eleições presidenciais americanas vão realizar-se no próximo dia 8 de Novembro para eleger o sucessor de Barack Obama, mas o processo eleitoral americano é tão complicado e, por vezes, tão diferente de estado para estado, que não me atrevo a tentar percebê-lo. A minha primeira dificuldade começa logo na constatação que, num país com mais de 300 milhões de habitantes, só haverá cerca de 70 milhões de eleitores recenseados. Até faz lembrar o Portugal de antes de 1974!
A campanha eleitoral dos candidatos Republicanos e Democratas arrasta-se durante alguns meses em eleições primárias que se realizam em todos os estados para escolher os delegados às convenções republicana e democrata, mas também os delegados ao colégio eleitoral que elegerá o Presidente. Ontem aconteceu a chamada Super Terça-feira, assim designada devido ao grande número de eleições estaduais que se realizaram e ao elevado número de delegados que foram eleitos para tomarem parte nas convenções nacionais dos partidos que escolherão o seu candidato.
Na corrida presidencial havia mais de duas dezenas de candidatos, mas depois de muitas desistências estão na corrida apenas cinco candidatos republicanos e dois candidatos democratas. Ontem, Ronald Trump pelos Republicanos e Hillary Clinton pelos Democratas acumularam vitórias que os posicionam muito favoravelmente para serem escolhidos como candidatos pelos respectivos partidos. Hoje, toda a imprensa americana como por exemplo o USA Today, destacam os resultados eleitorais da Super Terça-feira e publicam as fotografias de Trump e Clinton que, depois dos resultados de ontem, provavelmente se defrontarão no dia 8 de Novembro para ocupar o lugar que vai ficar vago na Casa Branca.

terça-feira, 1 de março de 2016

O Brexit é um desafio para muita gente

A decisão do governo britânico de realizar no próximo dia 23 de Junho um referendo para que o Reino Unido escolha se deve permanecer ou abandonar a União Europeia é, porventura, o mais grave acontecimento a afectar a coesão e o futuro de um projecto que se aproxima dos sessenta anos de idade. De facto, os tempos mostram-se difíceis para um projecto que já agrega 28 Estados-membros, com muitas línguas e muitas culturas, com percursos históricos e interesses bem diversos, cujas economias estão a passar por grandes dificuldades. A Europa está em crise profunda, sem liderança, sem solidariedade, sem rumo e à mercê de uma burocracia mais ou menos corrupta que se instalou em Bruxelas.
Embora a adesão do Reino Unido ao projecto europeu tivesse acontecido em 1973, o facto é que a sua integração tem sido um processo muito complicado, que agora se agudizou com a exigência britânica de reformas que devolvam competências aos Estados-membros, que travem ou limitem o processo de  integração europeia e que imponham restrições aos direitos dos imigrantes comunitários. Esta atitude britânica de afrontamente à tirania burocrática de Bruxelas corre o risco de ser seguida por outros Estados-membros, insatisfeitos pelo rumo que a Europa segue, com países com e sem o euro, que pertencem ou não pertencem à NATO, que estão integrados ou não nos Acordos de Schengen, isto é, provavelmente com mais factores de divergência do que de convergência.
Nesta altura, segundo as sondagens, equivalem-se os que dizem Sim e os que dizem Não à permanência do Reino Unido na União Europeia. Aos poucos, vão surgindo estudos que apoiam uma ou outra alternativa e um desses estudos foi divulgado pelo The Economist que, na capa da sua última edição, diz que o Brexit é mau para o Reino Unido, para a Europa e para o Ocidente. Outros estudos asseguram que a vida de dois milhões de cidadãos britânicos que vivem na Europa será muito afectada durante muitos anos, tal como o fabrico de automóveis, a agricultura e os serviços financeiros. Há estudos para todos os gostos, mas não restam dúvidas que o que vier a acontecer em Junho no Reino Unido vai afectar toda a Europa e pode ser a caixa de Pandora europeia que muitos temem.

Os jornais e os jornalistas da treta

Qualquer semelhança entre isto e um jornalista económico...
No passado dia 25 de Fevereiro a agência de notação financeira Moody's deu nota positiva à versão revista do Orçamento do Estado para 2016, considerando que a sua aprovação mostra "a capacidade e vontade do Governo em reverter o curso dos acontecimentos e apresenta um rumo fiscal mais realista que o apresentado no primeiro esboço do Orçamento". Esta opinião da Moody’s mostra que a negociação do Orçamento satisfez todas as partes envolvidas ou, dito de outra forma, foi bem negociado. Andávamos tão habituados a ver a Moody’s baixar o rating da dívida pública portuguesa e a prenunciar mais e piores desgraças financeiras, que este raríssimo e inesperado elogio nos surpreendeu, sobretudo depois da intensa campanha, por vezes caluniosa e insultuosa, que foi feita contra o Orçamento e contra o governo de António Costa.
Fiquei à espera de ver o que a imprensa ia dizer e, em especial, a imprensa económica. Porém, salvo duas ou três excepções que de forma ligeira trataram o assunto, não vi manchete, nem notícia, nem editorial, nem artigo de opinião. É certo que não li tudo, mas o que li foi suficiente para ver que os Gomes Ferreiras, os Antónios Costas, os David Dinizes e os Josés Manuel Fernandes se calaram. A notícia terá passado em algumas televisões mas, ao contrário do que aconteceu quando a agência canadiana DBRS poderia ter descido o rating da dívida portuguesa, agora ninguém tomou a iniciativa de ligar para a Moody’s para se perceber melhor esta sua surpreendente posição.
Hoje, o jornalista Nicolau Santos destacou-se uma vez mais como um profissional de excepção ao denunciar no Expresso este comportamento sectário da nossa imprensa e ao sugerir que aguardemos pelas futuras posições menos favoráveis das outras agências de rating, casos da Standard & Poor’s, da Fitch e da DBRS. Nem foi preciso esperar: hoje o Conselho de Finanças Públicas fez comentários ao Orçamento e os telejornais esqueceram tudo para abrir os noticiários com essa informação. Que tristeza!