sábado, 30 de julho de 2016

Cádiz em festa com os grandes veleiros

A grande festa náutica internacional que é a The Tall Ships Race 2016 tem estado em Cádiz, de onde sai amanhã à tarde em direcção ao porto galego da Corunha. A imprensa andaluza e gaditana têm dedicado grandes espaços informativos a este grande evento, numa cidade fundada pelos Fenícios e que reivindica ser “la gran cita de los veleros”.
A cidade tem aderido ao evento com entusiasmo, proporcionando um vasto programa cultural de acolhimento, onde se incluem visitas guiadas para os participantes, mas também concertos e provas desportivas. A população e os turistas que se encontram na cidade não têm perdido a oportunidade para ver os navios e a imprensa tem publicado muitas fotografias das multidões que os visitam. Na sua edição de hoje La voz de Cádiz destaca o evento e publica uma fotografia a seis colunas na sua primeira página dos veleiros atracados em Cádiz, o que lamentavelmente não fez qualquer jornal português quando recentemente a The Tall Ships Race 2016 passou por Lisboa.
Encontram-se em Cádiz cerca de quatro dezenas de veleiros e, entre eles, estão quatro veleiros portugueses, respectivamente o Creoula, o Zarco, o Polar e o Santa Maria Manuela, o que se traduz numa interessante participação nacional. Curiosamente, a imprensa tem destacado e lamentado a ausência do navio-escola espanhol Juan Sebastián de Elcano, não só porque é o símbolo da tradição vélica espanhola, mas também porque a sua base é exactamente na baía de Cadiz. Só que não se pode estar em dois lados ao mesmo tempo e o Elcano está a ser objecto de reparações.

Trump e Clinton: a campanha começou

No próximo dia 8 de Novembro vão realizar-se as eleições que escolherão o próximo Presidente dos Estados Unidos da América. Depois de vários meses em que se realizaram eleições primárias por todo o país e em que os diversos candidatos foram “ganhando delegados” ou desistindo, nas duas últimas semanas a situação ficou esclarecida. No dia 20 de Julho a convenção do Partido Republicano reunida em Cleveland escolheu Donald Trump, que aceitou a nomeação como candidato presidencial. Alguns dias depois, no dia 29 de Julho, a convenção do Partido Democrata reunida em Filadélfia escolheu Hillary Clinton, que aceitou a nomeação como candidata presidencial. Quer num caso, quer no outro, as nomeações constituiram um espectáculo mediático empolgante para quem neles participou e a imprensa americana tratou essas nomeações com grande destaque.
Agora a campanha vai começar. Apoiantes e adversários já começaram a movimentar-se com as suas máquinas de propaganda. Os dados estão lançados e a luta pelo voto popular vai ser intensa.
A eleição do Presidente dos Estadis Unidos é muito importante para o mundo e, em especial, para a Europa. Por isso, as nomeações de Trump e Clinton tiveram repercussões diferenciadas. Quanto a Donald Trump, temos assistido à sua ridicularização por se apresentar como um fanfarrão a roçar a ignorância, mas também pelas suas ideias que apontam para o regresso dos falcões e para o confronto do poder americano contra todos os que o desafiem. Já Hillary Clinton, que tem a seu favor o facto de ser a primeira mulher a disputar a presidência americana, usa a sua inteligência e a sua larga experiência política e diplomática para apresentar um discurso do agrado da classe média americana, mas também de uma Europa que receia a inexperiência de um milionário aventureiro a dirigir a nação mais poderosa do mundo.
O influente semanário francês Le Nouvel Observateur, tal como a generalidade dos europeus, não hesita na afirmação da sua simpatia por Hillary Clinton.

sexta-feira, 29 de julho de 2016

Resistir e não ceder à ameaça do terror!

As repetidas acções de terror e crueldade levadas a efeito em vários países por radicais terroristas ao serviço do estado islâmico, têm repugnado a consciência da Humanidade. Alguns países e regiões têm sido duramente atingidos por atentados que causaram muitas vítimas inocentes e a França tem estado no centro desse ataque extremista que está a abalar o modo de vida, a gerar a insegurança e a instalar o medo nas pessoas e nas comunidades. As formas de intervenção dos agentes do extremismo deixaram de ser apenas os tradicionais atentados bombistas e têm assumido outras formas igualmente repugnantes e de grande terror, como revelaram as recentes situações ocorridas em Nice e em Saint-Étienne-du-Rouvray.
O mundo está confrontado com uma nova ameaça, que já não é a guerra nuclear, uma qualquer  calamidade natural ou um desastre ecológico. É uma ameaça do terror, muito cruel e traiçoeira, para a qual não pode haver cedências nem contemplações, quer das autoridades, quer dos cidadãos. Resistir tem que ser a palavra de ordem. Não se pode ceder ao medo. As autoridades nacionais e supranacionais têm um enorme desafio pela frente para garantir a segurança das comunidades sem abalar o seu modo de vida democrático. Os cidadãos também são cada vez mais convocados a dar atenção às ameaças e a serem mais vigilantes, mas isso abala a vida comunitária e também envolve o risco de transformar cada cidadão num denunciante.
Estamos perante um desafio que ultrapassa as diferenças políticas, religiosas, económicas, desportivas, culturais e outras, que tradicionalmente separam os cidadãos e atravessam as comunidades. A sociedade da convivência e do culto democrático pode estar em perigo. Teremos que estar unidos nesta luta, para resistir ao terror e não ceder ao medo, mesmo quando a ameaça é muito séria. Essa é a mensagem do Libération a que nos associamos.

quinta-feira, 28 de julho de 2016

O navio-escola “Sagres” está no Brasil

O navio-escola Sagres que foi construido na Alemanha em 1937 e que desde 1962 pertence à Marinha portuguesa, está a realizar a sua anual viagem de instrução de cadetes da Escola Naval, levando também alguns cadetes angolanos, espanhóis, ingleses e marroquinos. O navio saiu de Lisboa no dia 21 de Junho e, depois de ter visitado a cidade da Praia em Cabo Verde e o porto brasileiro do Recife, encontra-se hoje no porto de Salvador da Baía. Não deixa de ser curioso notar que Praia, Recife e Baía são três nomes de três cidades fundadas pelos portugueses, o que reflecte a importância da expansão marítima portuguesa.
Hoje, o jornal A Tarde que se publica em Salvador destaca na primeira página da sua edição a visita do navio português com uma fotografia a quatro colunas e informa que o navio amanhã “estará aberto a visitação” entre as 13 e as 16 horas, pois às 18 horas larga para o Rio de Janeiro. 
No Rio de Janeiro e na sequência de um protocolo assinado com o Comité Olímpico Português, o navio-escola Sagres será um “embaixador de Portugal” e um símbolo da nossa cultura marítima, mas também servirá de “Casa de Portugal” para apoio dos atletas, dirigentes e outras autoridades portuguesas e para a realização de conferências de imprensa durante os Jogos Olímpicos que se realizam entre os dias 5 e 21 de Agosto.
Espera-se que, como sempre, a Sagres dê o melhor contributo para a boa imagem de Portugal.

Os vampiros e o naufrágio da banca

A falência do Lehman Brothers em Setembro de 2008, quando era o quarto maior banco norte-americano, foi a maior da história dos Estados Unidos e provocou a mais grave crise financeira mundial desde a Grande Depressão de 1929. As perturbações financeiras depressa atravessaram o Atlântico e o mundo entrou num período de grande instabilidade de que tem tido dificuldade em sair. A banca, a poderosa e arrogante banca, entrou em dificuldades e revelou que não passava de um império de pés de barro, em que o dinheiro era uma criação virtual sem substância económica e o crédito não era mais do que a forma de ajudar os amigos, de proporcionar negócios duvidosos e de favorecer gestores ambiciosos.
O Finantial Times divulgou um estudo recente, que o jornal i revelou em Portugal, que ajuda a esclarecer a situação, caracterizada por incompetência e corrupção: em 2015, os quinze presidentes executivos mais bem pagos dos Estados Unidos receberam um total de 236,6 milhões de dólares em salários e bónus, quando em 2009 tinham recebido 103,9 milhões de dólares, isto é, desde a crise de 2009 os banqueiros ganharam mais 128%. Absolutamente imoral e vergonhoso, foi como Barack Obama se referiu à situação e, em particular, ao facto de muitos bancos terem recebido ajudas estatais, ao mesmo tempo que mantinham o pagamento de avultados bónus aos seus gestores e trabalhadores.
Não sabemos o que se tem passado em Portugal em relação a esta problemática, mas são conhecidos os trambolhões de alguns bancos portugueses e os enormes buracos que criaram, para os quais os contribuintes são agora convocados a pagar.
Porém, os mesmos banqueiros de sempre circulam pelo interior do sistema sob a forma de administradores e de directores, sem que sejam apuradas as suas responsabilidades quanto à ligeireza, má fé ou incompetência com que destruiram a banca portuguesa. São, certamente os vampiros de que falava José Afonso em 1963, quando dizia que "batendo as asas pela noite calada" eles "vêm em bandos com pés de veludo, chupar o sangue fresco da manada".

terça-feira, 26 de julho de 2016

O incerto rumo em que navega a Turquia

A capa da revista alemã Der Spiegel é elucidativa da situação de repressão que se está a viver na Turquia e, na sua última edição, assume que a democracia foi suspensa e titula que “era uma vez uma democracia”. A numerosa comunidade turca que vive na Alemanha justifica o interesse da imprensa alemã pelo que se passa na Turquia, onde o Presidente Erdogan insiste na necessidade da reintrodução da pena capital com o argumento de que se trata da vontade do povo. Depois de militares, juízes, polícias e professores, a perseguição política tem sido dirigida contra os jornalistas, ao mesmo tempo que se verificam despedimentos em massa em muitas empresas. Independentemente da natureza do golpe de estado, que aconteceu de facto ou que foi forjado pelas hostes de Erdogan, a imprensa mundial vem denunciando a repressão e o aniquilamento da oposição, o que significa o fim do regime democrático. A União Europeia já fez saber que uma eventual entrada da Turquia na União Europeia está congelada.
Entretanto nada é comentado sobre algumas importantes questões, como é o problema religioso, porque o secularismo turco pode estar a ser ameaçado pelas forças islâmicas de Erdogan. Da mesma forma, pouco tem sido comentado sobre a orientação estratégica da Turquia em relação aos curdos, ao Estado Islâmico e à Síria, nem em relação à NATO e à Rússia. Nem as autoridades turcas, nem a imprensa internacional têm abordado essas questões, o que é muito preocupante. A realidade é apenas que a Turquia de Erdogan está cada vez mais a afastar-se da democracia e a seguir um rumo que ninguém sabe em que direcção vai.

Certamente, a mais dura prova do mundo

Terminou a 103ª edição do Tour de France que é uma das mais importantes provas desportivas mundiais. Foram percorridos 3.535 quilómetros em 21 etapas e no final o vencedor foi o britânico Christopher Froome, que viu a sua fotografia na capa dos principais jornais ingleses e franceses, como por exemplo no The Guardian.
Qualquer actividade desportiva é exigente para com os seus praticantes que pretendam ter níveis de desempenho com reconhecimento internacional, obrigando-os a muitos anos de preparação, de treino e de privação de uma vida normal, para depois se confrontarem num tempo muito escasso de minutos ou de poucas horas, com uma prova, um jogo, um salto, um combate ou uma regata, que tanto os pode elevar à vitória e à condição de estrela, como pode derrotá-los e tornar inglório o esforço e a dedicação de muitos anos de preparação.
No caso do ciclismo e em especial no Tour de France, não se exige um esforço de uma ou duas horas, mas um esforço contínuo de muitas horas durante vários dias. Para vencer pela terceira vez o Tour de France em 2016, o ciclista Chris Froome pedalou durante mais de 89 horas, subiu muitas montanhas, suportou muita chuva, sofreu quedas e defrontou adversários igualmente bem preparados. Nenhum praticante de futebol, remo, ténis ou esgrima, suporta um esforço físico e mental tão acumulado e contínuo. Só os super-atletas como Christopher Froome.
Este ano o Tour de France teve dois participantes portugueses, ambos com classificações finais bem modestas, apesar de ambos terem feito alguns brilharetes em etapas: Rui Costa concluiu a corrida na 49ª posição, enquanto Nélson Oliveira terminou a prova no 80º lugar da classificação final. Podia ter sido melhor, mas o facto de terem terminado o Tour já merece uma justa referência e o nosso elogio.

quinta-feira, 21 de julho de 2016

A falta de escrúpulos de José Barroso

A contratação de José Barroso para presidente não-executivo do Goldman Sachs já se transformou num escândalo internacional. Há um coro de protestos contra esta situação que desafia a moral e o bom senso, enquanto um grupo de cinco dezenas de eurodeputados decidiram requerer uma investigação às ligações de Barroso com a Goldman Sachs, durante o tempo em que ele presidiu à Comissão Europeia. Mesmo em Portugal, exceptuando um rapazola de Massamá e alguns dos seus raros seguidores, ninguém compreende que depois de ter presidido à Comissão Europeia durante dez anos, a sua ilimitada ambição o tivesse levado tão longe. Não lhe basta a reforma vitalícia de 132 mil euros anuais que a União Europeia lhe paga, nem as inúmeras avenças que recebe por isto e por aquilo. O homem ambiciona ser rico e quer milhões!
Porém, ao enveredar por um caminho tão sujo, aquele que foi o mordomo da Cimeira dos Açores que marcou o início da guerra do Iraque, revelou toda a sua vulgaridade e ausência de escrúpulos. Ele envergonha Portugal e abala seriamente a credibilidade do país e do seu povo.
José Barroso é em si mesmo uma história triste. Foi maoista e em 1975 acabou expulso do MRPP, na sequência de um roubo de mobiliário feito na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Depois a sua vida política tem sido uma sucessão de habilidades e de jogos rasteiros e um deles, bem recente, foi ter conseguido um emprego no Banco de Portugal para o filho, sem qualquer concurso. A investigação requerida pelos eurodeputados deve ir para a frente, assim como o esclarecimento interno sobre o seu papel no apoio à guerra do Iraque
Hoje a revista Visão ajuda a compreender quem é Barroso e a natureza da carruagem em que embarcou para vergonha de todos nós.

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Turquia era a solução, agora é o problema

No dia 15 de Julho sucederam-se graves acontecimentos em várias cidades turcas, sobretudo em Ancara, a capital da Turquia. Foi noticiado um golpe de estado que parece ter sido quase triunfante, mas que acabou por ser dominado pelas forças leais ao Presidente Recep Erdogan. O que se passou continua sem ser percebido. Há quem defenda que tudo não passou de uma orquestração do poder turco no sentido de reforçar os poderes de Erdogan e de afastar os seus adversários. Em apoio desta tese está o facto surpreendente de continuarem sem ser conhecidas as reais intenções dos golpistas, pois no meio de tantos problemas que o país atravessa, não se sabe se pretendiam reforçar a democracia, se queriam travar a crescente islamização do país, se pretendiam resolver o problema curdo ou se desejavam intervir activamente contra o Estado Islâmico, o que de facto não tem acontecido. A intenção de tomar o poder poderia ser uma quase imitação do golpe militar que tomou o poder no Egipto em 2013, com o objectivo de travar o radicalismo que está a começar a dominar a Turquia. Não sabendo a língua turca, não nos é possível perceber as manchetes e as notícias do Hürriyet, um dos maiores diários turcos.
Sabemos, contudo, que em poucos dias foram demitidos, presos ou suspensos quase 35 mil membros do Exército, da Justiça, da Segurança Interna e da Educação, havendo a intenção de ser reposta a pena de morte. Militares, policias, juízes, funcionários públicos da administração e professores estão a ser os principais alvos da repressão do regime de Erdogan, aumentando a tensão social e política na Turquia.
Com 80 milhões de habitantes, a Turquia é membro da NATO e faz fronteira com a Síria, Iraque, Irão, Arménia, Geórgia, Bulgária e Grécia, mantendo desde data recente uma relação muito próxima com a Rússia. Se até agora a Turquia podia constituir uma solução para os problemas que afectam aquela região, parece que agora se está a tornar no problema. E que problema!
 

terça-feira, 19 de julho de 2016

Campeões também no hóquei em patins

A selecção nacional de hóquei em patins sagrou-se campeã da Europa no passado sábado, o que já não acontecia há 18 anos. Na sua caminhada bateu os espanhóis por 6-1 na fase de grupos e, depois, derrotou os italianos na final por 6-2. Foi uma coisa que já não acontecia há muitos anos.
Embora o hóquei em patins não seja uma modalidade desportiva com implantação mundial, nem por isso deixa de ser relevante que Portugal seja uma das potências mundiais nessa modalidade e de, seis dias depois do futebol, também se ter tornado campeã europeia, parecendo recuperar a sua antiga hegemonia mundial. Como titulava o diário desportivo O Jogo, virou moda Portugal ganhar. O título é feliz e traduz alguma euforia desportiva que tanto nos anima, face a tantas outras coisas menos agradáveis que por aí se passam.
Depois de muitos anos a posicionar-se atrás da Espanha e da Argentina, parece que Portugal reentrou nas vitórias no hóquei em patins. No registo dos campeonatos europeus de hóquei em patins verifica-se que Portugal segue à frente com 21 vitórias enquanto a rival Espanha tem 16 vitórias, mas nos campeonatos do mundo a situação é inversa, com 16 vitórias espanholas e 15 vitórias portuguesas.
O Presidente da República tratou de condecorar os campeões e fez bem. O problema é que, com tantos êxitos desportivos, qualquer dia não há medalhas para tanta gente.

domingo, 17 de julho de 2016

Já não há mau tempo no canal

Mais uma vez percorro as belas paisagens das ilhas do grupo central açoriano, sem nunca me cansar de olhar o horizonte, a ilha em frente, o aspecto do mar, as encostas verdejantes, as pedras negras, os recortes da costa e, sobretudo, a imponente montanha do Pico que é a maior referência física destas ilhas.
Releio sempre As Ilhas Desconhecidas, um dos mais importantes livros de viagem portugueses, escrito por Raul Brandão quando em 1924 efectuou uma visita aos Açores, no qual descreve a ilha do Pico como “a mais bela, a mais extraordinária ilha dos Açores, duma cor admirável e com um estranho poder de atracção”. Raul Brandão tinha razão ou estava muito próximo dela, porque apesar do progresso que tem percorrido a ilha, os seus traços culturais estão preservados em muitas práticas quotidianas, nas memórias dos mais velhos ou foram musealizados.
Agora que as invernias atlânticas retiraram para outras regiões e o sol inunda os dias durante muitas horas, o Pico revela uma paisagem invulgarmente variada e colorida. É o tempo das grandes festas religiosas e profanas, das exibições das filarmónicas e dos grupos de chamarritas e da visita dos familiares que vivem nos Estados Unidos e no Canadá. O Pico começa a tornar-se um destino turístico cosmopolita e há cada vez mais turistas que vêm conhecer as ilhas mais ocidentais da Europa, muitos deles para cumprir a aventura de uma subida até aos 2.351 metros de altitude da montanha. Alguns deles, sobretudo franceses e alemães, compraram casas antigas, restauraram-nas e decidiram fixar-se em permanência na ilha, para viver uma vida mais tranquila e mais sadia. Em boa verdade, com o progresso e com a vulgarização das viagens aéreas, já não há mau tempo no canal.

O insólito aconteceu no Tour de France

No passado dia 14 de Julho disputava-se a 12ª etapa do Tour de France 2016 que tendo saído de Montpellier, terminava com a subida do famoso monte Ventoux. Era uma das mais difíceis etapas da prova e era, também, a vitória mais cobiçada, sobretudo pelos ciclistas franceses.
Nos últimos quilómetros da etapa o britânico Christopher Froome, que envergava a camisola amarela, conseguiu libertar-se dos seus rivais mais próximos durante a subida do monte Ventoux, aproximando-se da meta com dois outros ciclistas. Faltavam três quilómetros para a meta. Como sempre acontece, o público coloca-se na beira da estrada e não consegue controlar o seu entusiasmo. Com os seus aplausos e incitamentos aproxima-se dos ciclistas, ocupa a estrada, perturba a corrida e tende a provocar acidentes. Todos os anos, na maior parte das grandes subidas do Tour, é tão indescritível o entusiasmo do público, como são elevados os riscos a que expõem os ciclistas. Para quem assiste regularmente a estes espectáculos televisivos, espanta que os ciclistas consigam passar por entre estreitíssimas filas de público e que a organização não tome medidas apropriadas que para proteger os ciclistas, o público, a verdade desportiva e o próprio espectáculo.
Porém, este ano, o acidente anunciado e nada improvável aconteceu mesmo. A moto que “abria caminho” teve que travar bruscamente para evitar o atropelamento de um espectador. O ciclista que ia à frente chocou com a moto. Depois, o ciclista seguinte que era Chris Froome, foi abalroado por uma segunda moto. Com a bicicleta partida e com o seu carro de apoio muito longe, o desespero tomou conta de Froome e levou-o a correr estrada acima à procura não se sabe de quê. Nunca se vira um ciclista com a camisola amarela a correr sem bicicleta e logo na subida do Ventoux. Diversos jornais internacionais destacaram este acontecimento na sua primeira página, incluindo o americano Finantial Times, na edição em que, também em primeira página, noticia a declaração do presidente François Hollande de que é “moralmente inaceitável” o novo emprego de Barroso na Goldmann Sachs. E é.

sábado, 16 de julho de 2016

A Europa continua sob ameaça

O terrorismo conduzido por grupos radicais está a martirizar a Europa e, em especial, a França. Desta vez aconteceu em Nice, durante as celebrações do Dia Nacional da França, quando uma viatura pesada percorreu a avenida marginal da cidade a alta velocidade e, de forma deliberada, atropelou mortalmente algumas dezenas de pessoas.
Antes, a mesma crueldade tinha acontecido em carruagens do metropolitano, em casas de espectáculos ou em aeroportos, com o objectivo específico de espalhar o terror e o medo no seio da sociedade. A ameaça terrorista persiste e a insegurança está cada vez mais instalada nas nossas vidas. O problema do combate ao terrorismo não é francês nem belga, nem espanhol ou alemão. É um problema europeu, porque foi a Europa que criou as condições para o aparecimento desta triste realidade com as suas políticas económicas e sociais persistentemente erradas que se têm revelado incapazes de promover o crescimento económico e o emprego, ao mesmo tempo que se tornou refém dos mercados financeiros e dos especuladores. Os refugiados que fogem à guerra e à pobreza, fatalidades de que a Europa não pode excluir responsabilidades, vieram juntar-se aos milhões de europeus desempregados e sem futuro, muitos deles oriundos dos países do sul e, em especial, das regiões magrebinas.
Durante décadas a Europa utilizou essa mão-de-obra barata para crescer economicamente, mas nem sempre terá sido suficientemente justa com as suas políticas sociais de integração. Agora, sofre as consequências e vive um tempo de estagnação que, por vezes, até mostra sinais de declínio. Neste desesperante quadro que se agrava quotidianamente, como mostram os trágicos acontecimentos de Nice, há meia dúzia de burocratas europeus que insistem nas sanções a Portugal, porque em 2015 o défice orçamental ficou em 3,2% e excedeu em 0,2% o limite imposto pelo tratado orçamental. Nem o famoso Ministro da Informação de Saddam Hussein a anunciar vitórias iraquianas quando as tropas americanas entravam em Bagdadd, mostrou tanta cegueira!

quinta-feira, 14 de julho de 2016

A festa do nosso futebol correu mundo

A vitória portuguesa no Euro 2016 foi noticiada na imprensa de todo o mundo, mas também foi festejada um pouco por todo o mundo. Há diversas razões para justificar a enorme alegria popular por esta vitória e uma delas é o facto da selecção nacional de futebol ser um espelho da diáspora portuguesa, da portugalidade ou da cultura lusófona, pois a maioria dos seus jogadores nasceu em Portugal, mas houve alguns que nasceram em França, na Alemanha, no Brasil, em Angola e na Guiné-Bissau, o que confirma a tese de Fernando Pessoa de que a nossa Pátria é a língua portuguesa e não o lugar onde nascemos. Nessas circunstâncias, o mundo lusófono sentiu-se representado nesta selecção e vibrou com esta vitória.
A imprensa, a televisão e as redes sociais mostraram a enorme euforia dos portugueses, dos luso-descendentes e dos seus amigos em muitas regiões do mundo, incluindo países e locais improváveis como o Canadá, mas também em locais tão longínquos como Macau, Dili, Malaca e Goa.
No caso de Goa, onde alguns grupos sociais ou políticos mantém um certo sentimento de desconfiança em relação a Portugal, herdado da forma desastrada como aconteceu o fim da presença portuguesa, ainda se verificam algumas situações de contestação a tudo o que é português, desencadeadas por alguns auto-denominados freedom fighters. Porém, parece que o futebol fez mudar alguma coisa, pois o jornal oHeraldo destacou que a vitória no Euro une Goa e Portugal, tendo publicado uma fotografia da festa portuguesa com a legenda “Viva Portugal”. É um acontecimento jornalístico bem curioso e, provavelmente, é a primeira vez que desde 1961, o nome de Portugal enche a primeira página de um jornal de Goa. 

terça-feira, 12 de julho de 2016

Argentina não desiste das ilhas Malvinas

O país de Ernesto Che Guevara, Jorge Luís Borges, Leonel Messi e do Papa Francisco comemorou o bicentenário da sua independência e as celebrações promovidas pelo governo argentino tiveram larga expressão nacional.
A independência argentina foi declarada no dia 9 de Julho de 1816 quando os representantes das Províncias Unidas do Rio da Prata, reunidos em San Miguel de Tucumán, assinaram uma declaração de renúncia à tutela da monarquia espanhola então personalizada por Fernando VII. 
De acordo com a imprensa argentina as celebrações tiveram um grande impacto popular com programas de actividades comemorativas em todas as províncias e, segundo os números oficiais, só nos festejos realizados em Buenos Aires participaram cerca de seiscentas mil pessoas e actuaram bandas militares de onze países.
No grande desfile militar realizado na capital participaram muitos protagonistas na chamada “Guerra perdida”, a forma como é referida a guerra das Malvinas/Falklands que ocorreu em 1982 entre a Argentina e o Reino Unido, designadamente muitos antigos combatentes e familiares das vítimas, que foram ovacionados espontaneamente pela população em reconhecimento dos serviços que prestaram ao país. Esta manifestação de apoio aos combatentes que participaram na guerra das Malvinas significa que a reivindicação argentina pelas ilhas se mantém viva e tem apoio popular, embora ninguém pense noutra via que não seja o caminho da Diplomacia.
O diário Clarín de Buenos Aires é um dos jornais que destaca o “fervor” argentino pelas Malvinas, mas que, na mesma edição, salienta a vitória portuguesa no Euro 2016 e titula: “Portugal, rey de Europa”.

O histórico dia 10 de Julho de 2016

A vitória de ontem no Euro 2016 foi um acontecimento único e memorável para os portugueses, não só pelo resultado desportivo conseguido em Paris contra a selecção anfitriã, mas também por outras razões igualmente muito importantes. De facto, para além das atitudes provocatórias francesas dentro e fora do campo, houve a exibição excepcional de Patrício, a segurança defensiva de todos, a entrada intimidatória que lesionou Ronaldo e a decisiva bomba de Éder, mas também houve outras coisas que vão ficar para a história.
A primeira foi a enorme alegria que foi dada aos portugueses, em especial àqueles que vivendo e trabalhando fora do país, são muitas vezes marginalizados nos países de acolhimento e até segregados pela arrogância da sociedade local. Esta vitória futebolística devolveu-lhes o orgulho nacional, mas também a todos os portugueses, provocando uma manifestação de entusiasmo e alegria como nunca se registara na nossa vida colectiva e que a televisão registou. Se a união em torno desta vitória prevalecer no tempo, teremos muitas outras vitórias no nosso progresso económico e social.
A outra importante razão que vai ficar na história foi a repercussão internacional desta vitória, noticiada nas primeiras páginas de centenas de jornais de todo o mundo, a constituir a maior campanha promocional alguma vez feita a favor do nosso país. Muita dessa imprensa, provavelmente a reagir à insolência e à fanfarronice francesas, são altamente laudatórias quanto ao mérito da selecção portuguesa e da justiça da sua vitória, que deixou os franceses absolutamente atordoados, porque na sua cegueira pensavam que a final eram favas contadas. De entre todas as capas alusivas à vitória portuguesa escolhemos o italiano Corriere dello Sport e o seu sugestivo título: portogallissimo. Foi isso mesmo, portugalíssimo!
O dia 10 de Julho de 2016 vai ficar mesmo na nossa história, não só pelo resultado desportivo, mas sobretudo pelas duas razões aqui apontadas. Porém, a glória desportiva desse dia, ainda foi acrescentada com o 7º lugar nos Europeus de atletismo e com três medalhas de ouro, uma de prata e duas de bronze, para além do 2º lugar do ciclista Rui Costa na etapa-rainha dos Pirinéus do Tour 2016. Ainda haverá burocratas provocadores a falar de sanções aos portugueses, a este nobre povo e a esta nação valente?

domingo, 10 de julho de 2016

Euro 2016: dia de final, dia de festa

Muitos jornais portugueses e franceses, mas também de alguns outros países, destacam nas suas primeiras páginas o jogo da final do Euro 2016 que se realiza hoje entre as equipas de Portugal e da França, ilustrando as suas edições com as fotografias de Cristiano Ronaldo e de Antoine Griezmann, que são os símbolos maiores de cada uma daquelas selecções. São dois jogadores famosos que jogam no Real Madrid e no Atlético de Madrid e que se conhecem bem. Curiosamente, até se descobriu agora que Griezmann é filho de mãe portuguesa de Paços de Ferreira, que passava férias naquela zona e que até tem dupla nacionalidade. 
Quer em Portugal, quer em França, os jornais incitam as suas equipas nacionais, elogiam os jogadores e exigem-lhes a vitória, mas é interessante ver o que faz o jornal espanhol Marca ao escrever que, num jogo entre vizinhos, que ganhe o melhor. De entre todos os jornais, destaca-se o Ouest France, que se publica em Rennes e que ignora as “estrelas” e prefere escolher como título “dia de final, dia de festa”, ilustrando a sua primeira página com uma fotografia de uma jovem com as bandeiras de Portugal e da França. O futebol é portador de alegria para a população e ambos os países “precisam” desta vitória pois têm passado por situações bem difíceis, incluindo a austeridade e o terrorismo. Os portugueses nunca ganharam uma grande competição internacional de futebol e têm agora uma boa oportunidade, até porque estão tranquilos, confiantes, serenos e jogam bem. Podem ganhar.
Para os portugueses que vivem em França esta final já é uma vitória pois devolveu-lhes o orgulho nacional e a alegria, conforme vemos diariamente nas televisões, mas para os 11 milhões de portugueses residentes no território nacional esta final significa um jogo para a História. Podem ganhar. Espero bem que sim. Vai ser uma festa.

sábado, 9 de julho de 2016

A ganância do cherne que virou banqueiro

A notícia circulou rapidamente e deixou a sociedade portuguesa perplexa, com um grande coro de críticas pela falta de ética e de vergonha do cherne. De facto, a continuada utilização da vida política e do serviço à causa pública, está cada vez mais a transformar-se num trampolim para os negócios e para os bons empregos. Muitos casos envergonham o país, pela forma como certas pessoas se comportam. Vale tudo. É a completa falta de pudor e nos últimos tempos os casos acumulam-se, com o Gaspar, a Albuquerque e o Portas a não olharem a meios para encher os bolsos, como muitos outros já tinham feito. Qualquer coisa serve, desde que seja bem paga. Os conflitos de interesses não existem. É uma imoralidade utilizar a carreira política para enriquecer, mas esta gente não tem vergonha nenhuma.
Agora, houve alguém que foi mais longe na sua falta de pudor e na ganância. O cherne, aquele jovem militante radical e maoista, que em 2003 apoiou a invasão do Iraque, que fugiu do país em 2004 e que depois chegou à presidência da Comissão Europeia onde esteve dez anos a fazer uma triste figura de pau-mandado, a aprofundar as contradições europeias e sem perceber a crise que se aproximava, decidiu entregar-se à Goldman Sachs, onde parece que vai ganhar cinco milhões por ano. É mais um caso de grave promiscuidade entre política e negócios, mas este é ainda mais grave pois envergonha o país. Nunca um presidente da Comissão Europeia aceitara um papel tão servil a troco de dinheiro. Aquele que foi o número um da Europa, passa-se para "o inimigo", por dinheiro. É um mercenário sem causas. A mediocridade e a incompetência foram premiadas.
O Goldman Sachs é um símbolo do capitalismo financeiro global, sem escrúpulos nem respeito pelos países ou pelos povos onde actua como abutre e, no caso de Portugal, está em litígio com o Banco de Portugal e contra o Novo Banco, estando em causa centenas de milhões de euros, por causa da resolução do BES. O cherne vai, naturalmente, estar do lado de lá, ao lado dos radicais americanos, tal como fez em 2003. A França criticou e ficou indignada. Nós também nos indignamos. Barroso é a vergonha dos portugueses e a vergonha da Europa. Ponto final.

Aí está a festa que enlouquece Pamplona

Já começaram as Sanfermines, as fiestas de San Fermin da cidade basca de Pamplona. Até ao dia 14 de Julho, todos os dias pelas oito horas da manhã, realizam-se os famosos encierros, isto é, uma largada de touros ao longo de um percurso de 849 metros por três ruas do centro histórico de Pamplona que termina na praça de touros da cidade. Os encierros duram três a quatro minutos e deixam sempre alguns feridos atrás de si. Ontem foram sete, mas todos os anos há muitos feridos e, na história das Sanfermines, já estão registadas mais de uma dezena de mortes.
As festas têm uma origem muito antiga mas só se tornaram mundialmente conhecidas quando o escritor Ernest Hemingway, que ganhou o Prémio Nobel da Literatura em 1954, lhe dedicou em 1926 o seu livro The Sun Also Rises, que em Portugal foi traduzido como Fiesta e cuja narrativa decorre em grande parte em Pamplona durante as Sanfermines. Mais tarde, com o aparecimento da televisão e a globalização informativa, as festas tornaram-se mundialmente conhecidas e as imagens dos encierros popularizaram-se, embora muitas vezes revelem situações de grande violência.
As imagens que as televisões diariamente nos mostram das largadas de touros mostram o enorme entusiasmo que suscitam, mas também a sua elevada perigosidade, sobretudo para os muitos milhares de turistas que visitam a cidade, exactamente para enfrentar o desafio dos encierros.
Hoje, o Diário de Navarra dedica a sua primeira página às Sanfermines 2016 com uma expressiva fotografia.

sexta-feira, 8 de julho de 2016

A guerra do Iraque e o triste papel ibérico

O relatório Chilcot sobre a invasão do Iraque em 2003 surgiu no Reino Unido como uma bomba e veio mostrar que a intervenção militar anglo-americana e dos seus aliados se baseou na mentira e na grosseira manipulação das opiniões públicas. A conclusão do relatório é muito severa para o governo de Tony Blair, alegando que o antigo primeiro-ministro britânico decidiu a invasão sem antes ter esgotado todas as outras opções disponíveis e exagerou, de forma deliberada, a ameaça que o regime de Saddam Hussein representava. Com este relatório é agora mais evidente que George W. Bush e Tony Blair foram responsáveis pela guerra do Iraque e pela destruição do país, pelo afastamento de Sadam Hussein, pela morte de 150 mil pessoas e pelo início de um processo de destabilização que se estendeu do Iraque por vários outros países. Ainda é cedo para que a História registe o que realmente se passou e conduziu a uma guerra que mudou o Médio Oriente e o mundo, que já destruiu países como o Iraque, a Líbia ou a Síria e que abriu as portas a novas ameaças que estão a entrar pela Europa.
Na Cimeira dos Açores realizada na tarde do dia 16 de Março de 2003 estiveram Bush, Blair, Aznar e Durão Barroso e quatro dias depois foram iniciados os bombardeamentos de Bagdad. A Espanha não ficou indiferente ao Relatório Chilcot. Ontem El Periódico publicou a fotografia “oficial” da Cimeira dos Açores (da qual excluiu Barroso, o mordomo), salientando a participação de José Maria Aznar. Hoje o 20 minutos retoma o assunto com uma imagem de Aznar na sua primeira página,  dizendo que ele é citado 11 vezes no relatório e que “estava muito a favor de ir com a guerra para diante”. Significa que, mesmo em Espanha, a questão do apoio à invasão do Iraque não é assunto arrumado. Bom seria que aqui se soubesse qual foi o papel de Durão Barroso, porque não terá sido apenas mordomo. Era bom que ele esclarecesse junto de uma comissão de inquérito qual foi o seu papel. Com o seu servilismo ele “conquistou” então o lugar de Presidente da Comissão Europeia, onde também deu um bom contributo para a desagregação a que estamos a assistir na Europa.

quinta-feira, 7 de julho de 2016

O Reino Unido não perdoa a Tony Blair

Toda a imprensa britânica de referência destaca hoje nas suas primeiras páginas a fotografia do Tony Blair, a propósito da divulgação do relatório de Sir John Chilcot sobre a invasão do Iraque em 2003, deixando graves acusações ao comportamento do antigo Primeiro-Ministro. O relatório é classificado como implacável e devastador, condenando Tony Blair, ou pelo menos é essa a mensagem que passa para a opinião pública, pois revela uma vez mais que não havendo provas suficientes para derrubar Sadam Hussein, estas foram adulteradas para justificar a intervenção britânica ao lado dos americanos. O relatório revela que a decisão precipitada de Blair fez com que as tropas britânicas fossem mal preparadas para a guerra, salientando que muitos dos que então alertaram para o erro que estava a ser cometido foram ignorados ou perseguidos.
Entretanto, algumas famílias dos 179 soldados e civis britânicos mortos no Iraque, continuam a responsabilizar Blair pela participação britânica na guerra e não estão convencidas de que ele não soubesse o que estava a fazer, pelo que consideram que, após este relatório demolidor, ele deveria ir para a Haia para ser julgado por crimes de guerra. Ao mesmo tempo, os activistas dos direitos humanos britânicos não isentam Tony Blair de responsabilidades na destruição do Iraque e na morte de cerca de 150 mil civis durante a guerra.
Curiosamente, alguns jornais espanhóis noticiaram a divulgação do Relatório Chilcot, mas escolheram a fotografia da Cimeira das Lajes com Bush, Blair e Aznar, ignorando o mordomo desse encontro que foi um tal Durão Barroso que, naturalmente, também tem culpas nesta trapalhada  conduzida por Bush e Blair, que trouxe tanta instabilidade àquela região e ao mundo.

O futebol ressuscita o orgulho nacional

Ontem foi um dia de grande festa para os portugueses espalhados pelo mundo ao verem a sua selecção nacional de futebol atingir a final do Euro 2016, com uma exibição de talento e qualidade. Tinha-se iniciado a segunda parte do jogo das meias-finais com a selecção do País de Gales e pouco passava das 21 horas, quando Cristiano Ronaldo se elevou a 2,88 metros de altura e marcou de cabeça o primeiro golo da partida. Esse momento de grande alegria, mas também de grande capacidade atlética e poder futebolístico do nosso mais famoso jogador, está retratado na capa do diário espanhol Marca, mas também em jornais de muitos outros países. As televisões mostraram repetidamente esse gesto de Cristiano Ronaldo que vai ficar a marcar a presença portuguesa no Euro 2016.
A vitória portuguesa foi reconhecidamente justa e gerou uma onda de euforia não só em Portugal, mas também na generalidade dos países onde vivem portugueses. Através da televisão todos pudemos ver inúmeras cenas de emocionante entusiasmo e de orgulho nacional, ocorridas em cidades tão diferentes como a vizinha Paris ou a distante Dili, onde se cantou A Portuguesa e se agitaram bandeiras verde-rubras. Esse é, porventura, um dos mais importantes resultados da epopeia futebolística que está a decorrer em França. E sendo o futebol um dos palcos onde modernamente se confrontam o poder das nações e as suas rivalidades, o nosso sucesso não só é uma festa para os portugueses, mas é também um soco no estômago daqueles que alguma vez humilharam os portugueses e, em especial, aqueles que a vida obrigou a emigrar. O jogo de ontem não foi apenas uma vitória por 2-0 sobre o País de Gales, nem o acesso à final do Euro 2016, porque também foi um enorme passo a ressuscitar o orgulho nacional de um povo e de uma cultura que a Europa tanto tem marginalizado e, por vezes, humilhado.

segunda-feira, 4 de julho de 2016

4th July: Independence Day of America

Hoje é o 4th July, o Dia da Independência dos Estados Unidos. É um feriado e o dia nacional dos Estados Unidos que celebra a Declaração de Independência de 1776, quando as treze colónias inglesas da América do Norte declararam a separação formal do Império Britânico. Essa declaração foi redigida por Thomas Jefferson e deu origem a uma guerra que muitos consideram ter sido a primeira guerra mundial.
O 4 de Julho é sempre muito festejado pelos americanos e a imprensa é o espelho dessa onda de entusiasmo nacional. Muitos são os jornais que apresentam a bandeira americana na sua primeira página, mas muitos são também os que preferem a fotografia da estátua da Liberdade e outros há que escolhem a imagem de George Washington para ilustrar as suas edições. O jornal The Orange County Register que se publica na cidade californiana de Santa Ana, situada próximo da fronteira mexicana e que é a sede do Condado de Orange, também celebra hoje o Independence Day, mas utiliza uma abordagem diferente e muito original. Assim, em vez da bandeira americana ou da estátua da Liberdade, o jornal utiliza as fotografias dos dois mais que prováveis candidatos presidenciais a nomear pelo Partido Democrático e pelo Partido Republicano, para ilustrar a sua primeira página. Uniformizados com as fardas da guerra da independência, o jornal apresenta Hillary Clinton e Donald Trump e, certamente, a edição teve boa procura.

Os grandes veleiros visitam Lisboa

O porto de Lisboa vai receber entre os dias 22 e 25 de Julho os participantes da The Tall Ships Races 2016, que este atracarão no Terminal de Cruzeiros de Santa Apolónia. Segundo revela a Sail Training Association (STA), a regata deste ano celebra a passagem do 60º aniversário da realização da primeira regata de grandes veleiros que foi disputada entre Torbay e Lisboa no ano de 1956 e que, na época, constituiu um acontecimento de impacto internacional. Desde então, a STA tem promovido verdadeiros festivais náuticos que, mais do que uma competição desportiva, são verdadeiras jornadas de convívio entre os marinheiros de muitos países e um elemento dinamizador da vida cultural dos portos visitados. Dessa forma se mantém vivas as tradições da navegação à vela e se promove o treino de mar e a prática da vela junto dos jovens de muitos países.
Este ano a regata sai de Antuérpia para Lisboa, seguindo depois para Cadiz e para a Corunha. É a oitava vez que Lisboa recebe os grandes veleiros e, para além dos diferentes eventos previsto para o recinto do Terminal de Cruzeiros de Santa Apolónia, o desfile náutico que se realiza no dia 25 de Julho, a partir das 15 horas, será um dos mais interessantes acontecimentos desta festa e um desafio para os amantes da fotografia. Portanto, os lisboetas e os muitos turistas que nos visitam, terão uma boa oportunidade para apreciar a descida do Tejo de muitas velas.

O novo-riquismo e a mania das grandezas

O homem que foi ministro das Finanças, Primeiro-Ministro e Presidente da República Portuguesa e que assistiu ou participou na construção de um castelo económico e financeiro que está agora a desabar, podia já ter sido esquecido, mas continua a andar por aí. Ele podia estar sossegadamente a recordar a sua infância de luta pela vida em Boliqueime ou a deslumbrar-se com as delícias do novo-riquismo na Quinta da Coelha, mas apareceu-lhe um sucessor no palácio de Belém que não lhe dá tréguas e que, pé ante pé, está a irradicá-lo da nossa memória e a revelar algumas surpreendentes facetas do cavaquismo made in Boliqueime.
São tantas as diferenças que não vale a pena enunciá-las, mas basta citar as justas homenagens prestadas pelo actual Presidente da República a Ramalho Eanes e a Salgueiro Maia para verificar como era avassaladora a mediocridade cultural da anterior Presidência.  
Porém, nos últimos dias, a notícia de que algo corria à margem da lei no Museu da Presidência da República deixou-me perplexo. Então, ali ao lado, nem ele nem os seus inúmeros assessores perceberam que alguma coisa não corria bem? Além disso, ainda foi capaz de atirar com uma condecoração ao peito do seu Director, na linha da atribuição de tantas condecorações sem critério. Noutra dimensão que define o provincianismo, o mau gosto e o despesismo próprios de um novo-rico, tratou de comprar um exuberante Mercedes Benz S500 Longo por 129 mil euros que se destinava ao seu sucessor, utilizando o dinheiro dos meus impostos e sem me ter pedido autorização. O Tribunal de Contas autorizou? Essa compra tinha cabimento orçamental ou resultou de uma habilidade contabilística? O mercado foi consultado ou foi uma compra de ajuste directo? Era conveniente saberem-se todos os porquês, porque o venerando devia dar o exemplo de parcimónia e não deu. Entretanto, o carro esteve cinco meses a desvalorizar-se e soube-se agora que o Presidente da República não o quis e que o carro foi entregue ao Primeiro-Ministro, mas Costa não devia ter ficado com ele. Porque não devolveram o carro ao vendedor, mesmo com uma desvalorização e não foi enviada a factura desse prejuízo a Aníbal Cavaco Silva? Se houve prejuízo para o Estado, o responsável por esta mania das grandezas deve pagar!

domingo, 3 de julho de 2016

Há mais desporto para além do futebol

Nos Campeonatos Europeus de Canoagem realizados no passado fim de semana em Moscovo, o português Fernando Pimenta tornou-se campeão da Europa de K1 1000 metros e de K1 5000 metros. Foi um feito muito importante para o desporto português, mas a imprensa ignorou-o e tratou apenas de acompanhar os futebolistas que estão em França, repetindo todas as notícias, análises e comentários. No ranking dos países que estiveram em Moscovo, a canoagem portuguesa aparece colocada em 7º lugar, o que merece ser salientado.
Com estes resultados e a cerca de um mês do início dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, o canoista Fernando Pimenta apresenta-se como um sério candidato às medalhas de ouro olímpicas que, como sabemos, são um produto muito raro no olimpismo português. Em 23 participações olímpicas apenas ganhamos 23 medalhas e, de entre elas, apenas quatro foram de ouro – Carlos Lopes em 1984 (Los Angeles), Rosa Mota em 1988 (Seul), Fernanda Ribeiro em 1996 (Atlanta) e Nelson Évora em 2008 (Pequim). Parece ser a altura de Portugal voltar a ter uma medalha de ouro olímpica e de, pela primeira vez, não ser no atletismo. De resto, Fernando Pimenta já ganhou uma medalha de prata em 2012 nos Jogos Olímpicos de Londres em K2 1000 metros, fazendo equipa com Emanuel Silva, pelo que para além do seu valor desportivo, também tem muita experiência competitiva. Confiemos, portanto. Está de parabéns Fernando Pimenta que trouxe de Moscovo duas medalhas de ouro e dois títulos europeus mas que, lamentavelmente, foi quase ignorado pelos obcecados jornalistas do futebol.

sábado, 2 de julho de 2016

Os dinheiros muito loucos do desporto

Aproveitando a maré de entusiasmo e a sede de informação gerada pelo EURO2016, o semanário francês L’Expansion dedicou a sua edição de Julho-Agosto aos dinheiros loucos do desporto e, na sua capa, apresenta Cristiano Ronaldo, como “o desportista melhor pago do mundo”. Como se trata de um português, o assunto suscita alguma curiosidade.
Acontece que há diversas listas com os nomes dos desportistas mais bem pagos do mundo, mas essas listas geralmente não são coincidentes porque são elaboradas com base em diferentes critérios, em que entram salários, contratos publicitários, direitos televisivos e outros rendimentos. Porém, a lista mais conceituada é a que é anualmente divulgada pela revista americana Forbes, que acaba de apresentar a sua versão actualizada para 2016, na qual pela primeira vez, desde há muitos anos, o atleta mais bem pago do mundo é um futebolista.
Esse atleta é Cristiano Ronaldo que, segundo a Forbes e a L’Expansion, facturou 88 milhões de dólares nos últimos doze meses, entre salários e contratos publicitários. É obra! É uma bênção, como diria a sua irmã, uma cantora de terceira categoria que insiste em fazer carreira. Em segundo lugar nessa lista aparece o futebolista argentino Leonel Messi, seguindo-se o basquetebolista americano LeBron James, o tenista suiço Roger Féderer, o basquetebolista americano Kevin Durand e o tenista sérvio Novak Djokovic. Contrariamente ao que é habitual, nos primeiros lugares deste ranking de atletas milionários não há gente do boxe, do golfe e da Fórmula 1.
Aqui temos, pois, uma ideia do que são os chamados dinheiros loucos do desporto.

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Só há vitórias com bons guarda-redes

A equipa portuguesa de futebol cometeu ontem um feito notável ao apurar-se para as meias finais do Europeu de 2016, ou seja, é uma das quatro melhores equipas de futebol da Europa. Fartos de austeridades, de humilhações e de ameaças, os portugueses bem mereciam a alegria que a televisão ontem lhes ofereceu em directo. Na cidade de Paris e em outras cidades francesas, também os portugueses viveram um raro momento de orgulho ao verem a Torre Eiffel e muitas praças iluminadas de verde e vermelho. Ao mesmo tempo, muitos estrangeiros que costumam desvalorizar o nosso país, tiveram que engolir o sucesso lusitano.
O futebol tornou-se um fenómeno político e social de importância global e, muitas vezes, desperta mais interesse do que a política, a economia ou a cultura. É no futebol que se concentram as grandes emoções nacionais e internacionais, que se defrontam todas as rivalidades e que se molda a imagem dos povos. Por isso, o jogo entre Portugal e a Polónia foi noticiado pela generalidade da imprensa internacional, sendo ilustrada com as fotografias dos abraços felizes dos jogadores a festejar a vitória obtida no desempate por penalties, depois de um empate que durou 120 minutos. Naturalmente, a imprensa portuguesa também dedicou as suas manchetes ao futebol, mas enquanto a chamada imprensa desportiva se concentrou nos Ronaldos, nos Quaresmas, nos Pepes e nos Sanches, que não deixa de endeusar diariamente, a imprensa generalista atribuiu ao guarda-redes Rui Patrício o maior mérito pela vitória sobre os polacos, pois foi ele que, num memorável voo, adivinhou a direcção da bola e conseguiu defender o penalti marcado por um tal Kuba. A imprensa costuma ignorar o mérito dos guarda-redes mas o Jornal de Notícias, o Público e até o correio da manha, trouxeram Rui Patrício para as suas primeiras páginas.