sábado, 18 de fevereiro de 2017

Um prémio como pretexto de luta política

O Prémio Camões é considerado a mais importante distinção que premeia um autor de língua portuguesa. Foi criado em 1988 por acordo entre os governos de Portugal e do Brasil, sendo anualmente atribuído a autores que, pelo conjunto da sua obra, tenham contribuído para o enriquecimento do património literário e cultural da língua portuguesa.
Entre os escritores galardoados figuram os nomes de Miguel Torga, João Cabral de Melo Neto, José Craveirinha, Vergílio Ferreira, Rachel Queiroz, Jorge Amado, José Saramago, Sophia de Melo Breyner, Pepetela e Mia Couto.
Em 2016 o júri do prémio escolheu o escritor brasileiro de origem libanesa Raduan Nassar. Ontem no Museu Lasar Segall em S. Paulo, realizou-se a cerimónia da entrega do Prémio Camões, na presença do Ministro da Cultura brasileiro Roberto Freire e do Embaixador de Portugal, um acontecimento cultural que a edição de hoje da Folha de S. Paulo destaca na sua primeira página com uma fotografia a quatro colunas.
Aconteceu que durante a cerimónia Raduan Nassar não fez o habitual discurso de agradecimento próprio destas circunstâncias, mas aproveitou para fazer um contundente ataque ao governo de Michel Temer que acusou de golpista e repressor, ao mesmo tempo que fez o elogio de Dilma Rousseff pela sua integridade.
O Ministro Roberto Freire reagiu com dureza e disse que Raduan deveria renunciar ao prémio de 100 mil euros, mas durante a sua intervenção foi intensamente vaiado pela assistência, o que revela alguma insatisfação pelos rumos da política brasileira. Porém, o que aqui nos interessa sublinhar é que um evento que deveria ser de natureza cultural se transformou num acontecimento de luta política.

Sem comentários:

Enviar um comentário