sábado, 25 de março de 2017

Os deputados servem-nos ou servem-se?

Há meia dúzia de anos atrás, um antigo vice-presidente da Câmara Municipal do Porto chamado Paulo Morais afirmou que "o centro de corrupção em Portugal tem sido a Assembleia da República, pela presença de deputados que são, simultaneamente, administradores de empresas" e, acrescentou, que a Assembleia da República "parece mais um verdadeiro escritório de representações, com membros da comissão de obras públicas que trabalham para construtores e da comissão de saúde que trabalham para laboratórios médicos". Dizia Paulo Morais, que "os deputados estão ao serviço de quem os financiou e não de quem os elegeu". Estas declarações não ficaram escondidas numa qualquer página interior de um jornal, pois Paulo Morais repetiu-as com frequência quando da sua recente candidatura presidencial.
Porém, passados todos estes anos, nada foi feito para acabar com esta situação de promiscuidade, como mostra o recente caso do a-núncio e das relações entre o poder político e os escritórios de advogados. Ao mesmo tempo revelam-se outras situações igualmente perversas, que desacreditam a vida parlamentar e cavam um enorme fosso entre eleitos e eleitores. Foi o que agora revelou em livro e repetiu numa entrevista publicada no jornal i, o antigo deputado Magalhães. Nessa entrevista ficamos a saber que os deputados, para além do seu generoso salário, têm abonos complementares para trabalho de círculo ou para trabalho nacional, cujo pagamento não é sujeito a qualquer comprovativo ou verificação. É à vontade do freguês! É, por isso, um segundo salário não sujeito a impostos, havendo quem chegue a receber 80 mil euros por ano em subsídios de deslocações, por causa dos contactos com as comunidades de emigrantes. Daí resulta que os 230 deputados com assento na Assembleia da República, muitos deles sem trabalho efectivo ao serviço de quem os elegeu, tenham 230 remunerações diferentes, que são pagas pelos contribuintes. 
Sim, é mesmo verdade: muitas daquelas figurinhas ali sentadas com ar de parlamentares não têm vergonha nenhuma.

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