quinta-feira, 29 de junho de 2017

Bastou um só chileno para nos derrotar

A selecção nacional de futebol jogou ontem o acesso à final da Taça das Confederações que está a ser disputada na Rússia, defrontando a selecção chilena. Era o encontro do campeão da Europa e do campeão da América do Sul, mas também o encontro de alguns dos melhores futebolistas mundiais. A expectativa era grande, sobretudo na América do Sul, uma vez que Portugal ainda está muito anestesiado e perturbado pela recente tragédia de Pedrógão Grande e a temperatura futebolística está em baixa.
Durante 90 minutos as equipas equilibraram-se e não houve golos. Depois jogaram-se mais 30 minutos e voltou a não haver golos, ermbora os chilenos tivessem acertado no poste e na trave da baliza portuguesa. Era o prenúncio do que estava para acontecer com a decisão nos pontapés de grande penalidade.
Com tudo preparado na forma do costume, avançaram os guarda-redes e os rematadores. Enquanto os chilenos meteram três golos seguidos, os jogadores portugueses remataram de forma tão inábil que permitiram três defesas de Cláudio Bravo. Acontece. O futebol é assim. A equipa do Chile conquistou o direito a jogar a final e a equipa portuguesa terá que disputar o 3º lugar. Cláudio Bravo, que também é o guarda-redes da equipa do Manchester City, teve direito a fotografia nas capas dos jornais chilenos, como por exemplo no El Mercúrio. Os chilenos mereceram a vitória e a derrota portuguesa não deslustra, mas serve para que assentemos os pés na terra nestas questões do futebol. Não é costume que um só homem derrote uma equipa e uma ambição colectiva.

terça-feira, 27 de junho de 2017

HMS Queen Elizabeth e orgulho nacional

O novo porta-aviões britânico HMS Queen Elizabeth saiu ontem pela primeira vez dos estaleiros escoceses de Rosyth e navegou para o mar do Norte para efectuar provas de mar e testar sensores, radios, radares e outros equipamentos.
A construção deste navio e do seu irmão gémeo HMS Prince of Wales, que já está em construção, foram anunciadas em 2007.
Com um orçamento inicial de 4 mil milhões de libras para as duas unidades, em 2013 foi feita uma renegociação com o consórcio de construtores e o preço foi fixado em 6.200 milhões de libras. Pelo que diz a imprensa britânica, o navio parece ser uma obra-prima da engenharia naval, com 280 metros de comprimento e um deslocamento de 65.000 toneladas, onde se poderão instalar 40 aviões de combate, mais uma força de 250 Royal Marines com os respectivos helicópteros de ataque.
A construção do HMS Queen Elizabeth iniciou-se em 2009 e foi montado por secções construidas em diferentes locais do Reino Unido que depois foram transportadas para Rosyth. Trabalharam no projecto cerca de 10 mil pessoas e, por isso, o navio está a ser considerado uma iniciativa tecnológica e militar em que todos se envolveram, o que está a alimentar o orgulho nacional britânico, até porque é o maior e mais poderoso navio alguma vez construido para a Royal Navy. Esta atitude bem pode ser comparada com a mesquinhez e a ignorância com que em Portugal foi tratada a compra de dois submarinos.
Hoje, os principais jornaios britânicos, designadamente The Times, colocaram a fotografia do novo porta-aviões nas suas primeiras páginas e no teor das notícias transparece o orgulho britânico na sua Royal Navy, nos seus navios e nos homens e mulheres que os servem.
Depois das provas de mar o navio irá para a sua futura base de Portsmouth e entrará ao serviço no fim do ano, embora só venha a atingir a sua operacionalidade plena em 2020. Estas coisas de mar são demoradas.
 

domingo, 25 de junho de 2017

O futebol a simbolizar a festa lusitana

Ontem a selecção nacional de futebol defrontou a selecção neo-zelandesa e, ganhando por 4-0, assegurou a presença nas meias-finais da Taça das Confederações 2017 na qual participam, em teoria, as oito melhores equipas do mundo.
A selecção portuguesa está, portanto, colocada entre as quatro melhores equipas de futebol do mundo e isso é muito gratificante para quem gosta de futebol, porque nos tempos que correm, a imagem, o prestígio e o reconhecimento internacional de um país passa cada vez mais pelo futebol.
Goste-se muito ou goste-se pouco, é assim em todo o mundo.
Acontece que esta prova, que é organizada pela FIFA, decorre num período de tristeza e de reflexão nacional devido aos trágicos acontecimentos ocorridos recentemente, para além de não despertar o mesmo entusiasmo do Campeonato do Mundo ou do Campeonato da Europa. Por isso, ao contrário do que aconteceu há um ano quando a selecção portuguesa se sagrou campeã europeia, não tem havido os excessos desproporcionados e doentios da parte da comunicação social em relação à prestação dos nossos futebolistas. Isso é muito positivo, porque é preciso que o futebol seja posto no lugar que merece e não acima nem abaixo, pois é um fenómeno cultural importante na nossa sociedade.
Porém, o inesperado chegou hoje da Venezuela onde o diário desportivo Meridiano, que se publica em Caracas, tratou de destacar a festa lusitana, pela vitória sobre a equipa da Nova Zelândia. É um exagero que só se compreende com o objectivo de vender mais jornais à comunidade portuguesa, ou para atenuar a ansiedade e a incerteza por que ela tem passado nos últimos tempos.

sábado, 24 de junho de 2017

O incêndio trágico e as responsailidades

Passou uma semana desde o trágico incêndio que enlutou o país, roubando 64 vidas ao nosso convívio, queimando aldeias e floresta, destruindo muito património em vários concelhos do centro do país. O balanço é dramático e, para além dos seus duros aspectos emocionais, é também uma consequência do continuado processo de desertificação e de abandono das regiões interiores do nosso país, cada vez mais esquecidas.
Muita gente procura respostas para as dúvidas que persistem quanto ao que aconteceu em Pedrógão e nos concelhos vizinhos, enquanto alguns políticos, acolitados por abutres disfarçados de jornalistas, procuram avidamente por responsáveis para queimar adversários políticos. Lamentável. Contudo, a responsabilidade que os abutres procuram para vender jornais ou para destruir adversários políticos, até pode ser encontrada nas condições meteorológicas excepcionais, na deficiência de funcionamento da SIRESP, a operadora da Rede Nacional de Emergência e Segurança, ou na eventual inconpetência de um ou outro agente que não actou eficazmente, mas a verdadeira explicação está nos nossos comportamentos de risco e nas nossas imprevidências, mas também nos políticos que escolhemos, porque durante décadas não tiveram coragem para enfrentar o problema do ordenamento florestal, que é muito complexo e cuja solução rouba votos. De facto, se o diagnóstico está feito há muito tempo, é caso para perguntar porque razão são adiadas as medidas que se impõem quanto ao ordenamento florestal e à limpeza das florestas?
Ao olharmos para a fotografia hoje publicada na capa da edição do jornal Público facilmente compreendemos, sem ser necessário ser especialista nestas matérias, que a estrada EN 236 bem como muitas outras estradas que existem em Portugal, são verdadeiras ciladas montadas para quem nelas circula no Verão, devido ao denso arvoredo que as envolve até junto das bermas.

quinta-feira, 22 de junho de 2017

Prémio prestigiante para J. E. Agualusa

O escritor luso-angolano José Eduardo Agualusa foi distinguido ontem com o International Dublin Literary Award, um prestigiado prémio literário internacional pela tradução inglesa do romance Teoria Geral do Esquecimento. De acordo com as regras, os 100 mil euros do prémio são entregues na totalidade ao autor se o livro tiver sido escrito em inglês ou, no caso de se tratar de uma tradução, o valor do prémio é repartido em 75 mil euros para o escritor e 25 mil para o tradutor.
Portanto, Agualusa recebe 75 mil euros e é o primeiro autor de língua portuguesa a vencer o prémio criado em 1996, que é atribuido anualmente e que é gerido pelo Município e pelas Bibliotecas Públicas de Dublin. Os autores e as obras apreciadas resultam de um processo de nomeações que é feito a partir de sugestões ou propostas de mais de quatro centenas de bibliotecas de todo o mundo, o que torna o prémio muito importante.
A Teoria Geral do Esquecimento, o romance premiado, foi indicado pela Biblioteca Pública Municipal do Porto, pela Biblioteca Municipal de Oeiras, pela Biblioteca Demonstrativa Maria da Conceição Moreira Salles, de Brasília, e pela Gradska Knjiznica, de Rijeka, na Croácia, que destacaram a forma como o romance equilibra "elementos-chave da história angolana recente com as vidas de gente comum".
Nascido no Huambo em 1960, José Eduardo Agualusa foi hoje homenageado pelo Jornal de Letras e está de parabéns pelo prémio, pelo seu talento, pela sua capacidade criativa e, também, pela sua personalidade e inteligência. Acompanho-o literariamente desde que li Nação Crioula. É um bom amigo.

Causas e culpas do incêndio de Pedrógão

Foi uma das maiores tragédias que aconteceram em Portugal e, durante quatro dias, os acontecimentos ocorridos no centro do país foram acompanhados com ansiedade e emoção. As imagens falaram por si mostrando a brutalidade e a violência do inferno que nos bateu à porta. Gerou-se uma onda de solidariedade nacional e internacional. Elogiaram-se os que enfrentaram as chamas e agradeceu-se às centenas de pessoas que estiveram no terreno. Repetiram-se as declarações dos políticos no sentido de todos se concentrarem no controlo ou na extinção dos incêndios e de darem todo o apoio às vítimas.
Embora os números da tragédia não sejam comparáveis aos mais de 700 mortos pelas inundações na região de Lisboa em 1967, as 64 vítimas já apuradas nos incêndios de Pedrógão Grande e na estrada EN 236 são um número impressionante que nos atinge e nos choca profundamente. A revista Visão dedicou um dossier especial a esta tragédia e refere "a bola de fogo" que "vinha por cima e caía sobre as pessoas". Foi realmente uma tempestade perfeita em que se conjugaram condições meteorológicas excepcionais, com um ordenamento florestal que continua por fazer, com uma desleixada gestão de floresta que não é limpa porque não gera rendimento e com uma preocupante desertificação do território. Como sempre acontece nestes casos, algumas dezenas de especialistas passaram pelas televisões a apontar caminhos e soluções técnicas, que se espera tenham sido ouvidas pelos políticos.  
Aproximam-se eleições e nos funerais das vítimas não têm faltado políticos, o que até pode parecer oportunismo. Têm sido alguns deles que, numa contínua insinuação, têm insistido na necessidade de uma rápida averiguação a tudo o que se passou para apurar responsabilidades. Eu também acho que deva ser assim. Porém, mesmo sob a capa da comoção e do luto, muitos desses políticos não conseguem abster-se de procurar dividendos políticos na tragédia que nos aconteceu e deixar no ar suspeitas sobre a acção das autoridades. A hipocrisia de alguns políticos parece não ter limites.

quarta-feira, 21 de junho de 2017

O fisco espanhol e os portugueses ricos

A edição americana do diário Financial Times destacou hoje na sua primeira página uma notícia sobre dois cidadãos portugueses, ilustrando-a com uma fotografia captada no tempo em que trabalharam juntos em Madrid.
De facto, Cristiano Ronaldo e José Mourinho trabalharam no Real Madrid, onde auferiam salários, recebiam prémios, percebiam direitos de imagem e, certamente, pagavam os impostos a que estavam obrigados por lei.
Como não conheço pessoalmente esses dois meus compatriotas, nem faço ideia da forma como gerem o património que acumularam, também não sei se são ou não são contribuintes exemplares, mas não tenho dúvidas que a sua qualidade de homens ricos e famosos os torna um alvo apetecido das garras do fisco e dos medíocres que invejam o sucesso dos outros.
Assim, as autoridades fiscais espanholas terão entendido que tanto Ronaldo como Mourinho não pagaram todos os impostos que deviam e, segundo informam os meios de comunicação social especializados em escândalos, terão accionado processos de fuga ao fisco ou de ocultação de rendimentos contra esses dois cidadãos portugueses. Eles saberão defender-se e a justiça não deixará de ser feita.
O que torna este assunto mais curioso não é a culpabilidade ou a inocência dos nossos compatriotas que são ídolos mundiais do futebol, mas o simples facto de terem sido notícia nos Estados Unidos, embora por razões menos desejáveis.

segunda-feira, 19 de junho de 2017

A enorme tragédia de Pedrógão Grande

Foi uma tragédia, das maiores que aconteceram em Portugal desde há muitos anos! Foi a brutalidade da perda de pelo menos 62 vidas em condições dramáticas, que deixaram o nosso país impressionado, comovido e de pesado luto, quando no passado sábado o fogo cercou aldeias e atravessou estradas, apanhando na sua fúria muita gente, sobretudo na estrada nacional A 236, onde pereceram 47 pessoas dentro ou junto dos seus automóveis.
Segundo tudo indica, o incêndio que deflagrou na região de Pedrógão Grande terá sido causado por uma trovoada seca, provavelmente com vários focos, tendo sido muito rápida a propagação do fogo. Para isso terão contribuido as altas temperaturas, o aparecimento de vento forte e desencontrado, o elevado estado de secura da floresta, a orografia do terreno com ravinas e desfiladeiros muito acentuados, para além dos problemas existenciais do nosso ordenamento florestal e da falta de limpeza da floresta. Para quem conhece o nosso país e o percorre de automóvel, sobretudo no centro do país onde predominam grandes manchas florestais, este quadro nem é surpreendente.
Agora, é uma hora de profunda dor e não é altura para apontar o dedo a eventuais responsáveis, nem para louvar quem o possa merecer, mas é tempo para uma reflexão sobre as razões de tudo isto, desta crueldade que é a perda de tantas vidas nestas circunstâncias. Porquê, pergunta o Público. Agora, como referiu o Presidente da República, há que reforçar a nossa solidariedade para com os que sofreram ou sofrem e unirmo-nos “todos como um só”.
O dramatismo deste incêndio teve grande repercussão na imprensa internacional e encheu as primeiras páginas de jornais estrangeiros, sobretudo espanhóis, tendo gerado a solidariedade de vários países que de imediato decidiram ajudar com meios aéreos e bombeiros.
A tragédia de Pedrógão Grande não nos sairá da memória.

sábado, 17 de junho de 2017

Macron, Rajoy e a Espanha toda inteira

Mariano Rajoy foi ontem a Paris visitar Emmanuel Macron e almoçaram nos jardins do Palácio do Eliseu. Deve ter sido um frutuoso almoço de trabalho, com o resguardo de uma boa sombra, em dia de grande calor. Depois falaram aos jornalistas, afirmando a sua posição comum de acelerar o projecto de integração europeia e comprometendo-se a trabalhar em conjunto no combate anti-terrorista, na luta contra a imigração ilegal, na política de apoio aos refugiados, na defesa e nas ligações das redes de energia.
O acordo nestas matérias entre Macron e Rajoy, ou entre a França e a Espanha, tem um significado muito importante, sobretudo no quadro da União Europeia que se vai desenhar no futuro sem o Reino Unido.
Naturalmente, os jornalistas interrogaram o Presidente Macron sobre o problema do independentismo catalão e as respostas foram inequívocas, tendo sido largamente reproduzidas pela imprensa espanhola, nomeadamente pelo diário ABC:
- “Se trata de un tema interno de España y no tengo ningún comentario que hacer al respecto. Solo conozco un socio y un amigo que es España, España toda entera. España en su conjunto. Tengo un interlocutor y está aquí a mi lado, Mariano Rajoy. El resto no me concierne”.
Com esta declaração Emmanuel Macron voltou a ter uma postura de grande firmeza e rejeitou qualquer apoio ao independentismo catalão. Como era de esperar.
Nos tempos da ditadura franquista havia alguma simpatia francesa pelas reivindicações das regiões espanholas, mas esse tempo já lá vai. Nas relações entre a França e a Espanha, dois estados democráticos e modernos, a Catalunha não podia esperar outra resposta de Emmanuel Macron. Se os independentistas catalães pensavam que podiam ter um aliado do outro lado dos Pirinéus enganaram-se. Macron afirma-se cada dia como um homem de ideias firmes e capaz de dar um grande contributo para tirar esta Europa deste estado de pré-naufrágio.

Huelva, é mesmo um paraíso da natureza

A cidade de Huelva, que é a capital da província de Huelva e sede do município de Huelva, fica ali bem próximo da fronteira portuguesa e tem uma grande tradição histórico-marítima.
Nas suas proximidades situa-se Palos de la Frontera onde se localiza o Monasterio de La Rabida, no qual se acolheu Cristóvão Colombo antes de partir para a sua viagem à Índia em 1492 ao serviço dos Reis Católicos, durante a qual encalhou na América. Hoje, as réplicas da Niña, da Pinta e da Santa Maria lá estão em Palos acolhendo turistas aos milhares.
Em 1873 iniciou-se a exploração de minas nas margens do rio Tinto, por uma empresa inglesa que hoje é uma grande multinacional anglo-australiana e uma das maiores empresas mineiras do mundo, que ainda se chama RioTinto, o que provocou um forte desenvolvimento da cidade com a construção de linhas ferroviárias e a chegada de muitos operários ingleses com as suas famílias. Nesse tempo nasceu o Rio Tinto Foot-ball Club que deu origem ao actual Real Club Recreativo de Huelva, que é o mais antigo clube de futebol espanhol.
Porém, é a sua marca colombina e a sua relação com o descubrimiento de America - o acontecimento que começou com a chegada de Cristóvão Colombo à ilha Guanahani que ele julgou ser a Índia - que constituem a marca histórica da cidade. No entanto, a região de Huelva também é um paraíso da natureza, até porque fica bem próximo do Parque Nacional de Doñana, como hoje refere o jornal Huelva Information, que ilustra a sua edição com uma fotografia de flamingos a voar sobre a cidade. O que é realmente uma notícia, embora não seja rara, isto é, as cegonhas e os flamingos gostam mesmo de Huelva.

sexta-feira, 16 de junho de 2017

Emmanuel Macron é um caso muito sério

Depois de no passado dia 7 de Maio terem eleito Emmanuel Macron para Presidente da República com 66,10% dos votos, os franceses vão agora escolher os 577 deputados da Assembleia Nacional, que no sistema político francês têm a função legislativa e também o poder de aprovar, ou não, um primeiro-ministro.
Na primeira volta das eleições legislativas realizada no dia 11 de Junho, o movimento “República em Marcha” que foi criado por Emmanuel Macron, teve 32,32% dos votos e tornou-se o grande favorito para vencer na segunda volta que se realizará no próximo domingo. A mais recente sondagem dá uma maioria absoluta confortável ao movimento de Macron, que deverá ficar entre os 415 e os 455 assentos parlamentares, portanto bem acima dos 289 deputados necessários para controlar a Assembleia Nacional.
No próximo domingo se saberá o que vai acontecer, mas o facto é que as sondagens indicam que o jovem Presidente de 39 anos de idade vai poder governar a França com maioria absoluta.
Aparentemente, nada vai ficar como dantes. Macron já levantou a voz a Donald Trump ao referir que antes de cada país está o planeta e a reputada revista The Economist já se interroga sobre se estamos perante o salvador da Europa. Mais curioso, porém, é o título escolhido ontem pela revista Valeurs que lhe chama Macron 1er e alerta para os perigos dos poderes absolutos, ilustrando a sua capa com a adaptação do famoso quadro de Jacques-Louis David em que Napoleão Bonaparte atravessa os Alpes.

quinta-feira, 15 de junho de 2017

Algumas lições do incêndio de Londres



Ainda não são conhecidas as causas do impressionante incêndio que ocorreu em Londres há poucas horas, que as televisões mostraram e cujas fotografias foram divulgadas pela imprensa mundial, mas muitos jornais perguntam como foi possível aquilo acontecer.
As imagens televisivas mostram que o fogo se propagou com muita rapidez, sugerindo que existia muito material combustível nos revestimentos e no recheio dos apartamentos e que, em vez da madeira, se passaram a utilizar os mil derivados do plástico que têm soluções para todas as necessidades decorativas e que tendem a transformar os edifícios em potenciais tochas incendiárias.
Neste caso, embora ainda nos domínios da especulação, também surgiram algumas críticas à segurança destes edifícios de apartamentos, onde vivem pessoas de culturas diferenciadas, sem elos de solidariedade entre si e onde “cada um trata da sua vidinha”, comportando-se à margem das questões de interesse comum. Assim, a manutenção e conservação, a prevenção de incêndios, a qualidade das redes eléctricas e de gás, a limpeza e a segurança, entre outros assuntos de interesse comum, são desvalorizadas pelas pessoas, que são cada vez mais individualistas.
Nessas circunstâncias, a probabilidade de acontecerem estas coisas aumenta. Haverá inquéritos que irão concluir sobre as causas do incêndio e sobre o que correu mal, mas desde já há uma lição a tirar desta catástrofe: é um direito e um dever de cidadania que as pessoas se interessem pelo seu país, pela sua cidade, pelo seu bairro e pelo prédio onde vivem. Se não, é como pôr trancas na porta depois da casa roubada...
Porém há as vítimas e essa é a parte mais dolorosa desta cruel tragédia. E terão sido muitas, que foram apanhadas pela violência das chamas e por aquela horrenda catástrofe.
 

quarta-feira, 14 de junho de 2017

R.I.P. Alípio de Freitas

Estava anunciada para o dia 17 de Junho uma Homenagem Nacional a Alípio de Freitas, mas o destino antecipou-se e, quatro dias antes desse evento, o homenageado morreu em Lisboa aos 88 anos de idade.
Alípio de Freitas teve uma vida de revolucionário em defesa dos mais pobres que só veio a ser conhecida pela voz de José Afonso, que lhe dedicou uma canção e o classificou como "homem de grande firmeza".
Nascido em Vinhais em 1929, foi ordenado padre em 1952 e, de imediato, foi viver junto dos pobres em Guadramil e Rio de Onor na serra de Montesinho. Cinco anos depois aceitou um convite de um arcebispo brasileiro e instalou-se nos subúrbios pobres de São Luís do Maranhão. Nos anos 60 rompeu com a hierarquia da Igreja, deu apoio aos movimentos de camponeses e tornou-se um resistente contra a ditadura militar brasileira. Para poder desenvolver essa luta naturalizou-se brasileiro e foi viver nas favelas do Rio de Janeiro, mas em 1970 foi preso e torturado quando era dirigente do Partido Revolucionário dos Trabalhadores. Foi então que José Afonso o deu a conhecer aos portugueses quando, no seu álbum Com as Minhas Tamanquinhas que editou em 1976, lhe dedicou uma canção-homenagem.
Em 1981 Alípio de Freitas deixou o Brasil e seguiu para Moçambique onde permaneceu alguns anos envolvido em projectos de apoio aos camponeses, regressando depois a Portugal. Teve uma vida cheia e foi padre, professor, jornalista, promotor e dirigente de diversos movimentos sociais e associações cívicas de defesa dos desprotegidos. Homens destes são raros.
Aqui lhe fica a minha homenagem pela voz de José Afonso.
https://www.youtube.com/watch?v=IXNLoTKo4Hw

sábado, 10 de junho de 2017

O renascido independentismo catalão

A Catalunha volta a confrontar o governo de Madrid com a sua reivindicação independentista depois de Carles Puigdemont, o líder do governo regional, numa cerimónia a que estiveram presentes quase todos os 71 deputados independentistas catalães, ter anunciado a realização de um referendo no dia 1 de Outubro de 2017.
Os dois lados deste conflito ainda tentaram dialogar mas sem resultados, porque os independentistas não abdicam da realização do referendo, enquanto o governo de Madrid chefiado por Mariano Rajoy nem quer ouvir falar dele.
A intransigência e a rivalidade de ambas as partes é grande. O governo espanhol já anunciou que o referendo não se realizará por ser ilegal e por não ter o apoio do Tribunal Constitucional,  mas os independentistas de Puigdemont até já anunciaram a pergunta que vai ser colocada aos eleitores: Quer que a Catalunha seja um Estado independente em forma de República?
Nos próximos meses muita tinta vai correr a respeito desta questão. Os dois principais jornais em língua catalã que se publicam em Barcelona têm estado ao lado do independentismo e destacaram o anúncio de Carles Puigdemont. No caso do El Punt Avui, a sua primeira página apresenta um boletim de voto em que está assinalado o sim, indicando também que faltam 113 dias para a consulta.
Vão ser 113 dias muito difíceis para os catalães e para os espanhóis e vai ser necessária muita serenidade.

May e a enorme desorientação britânica

A história é simples. Há tempos, num aparente braço de ferro com Bruxelas por questões de segunda ordem, o governo de David Cameron decidiu ameaçar com a saída da União Europeia. De regresso a Londres, Cameron entusiasmou-se com a sua infantil ameaça e tratou de fazer um referendo, embora ele próprio tivesse feito campanha pela permanência do Reino Unido na União Europeia. Porém, a maioria dos eleitores britânicos votou contra ele e escolheu a saída, isto é, escolheu o famoso Brexit sem saber o que isso significava. Derrotado, David Cameron demitiu-se e sucedeu-lhe Theresa May.
Theresa May chegou ao governo cheia de força, de arrogância e de vontade de encostar à parede a União Europeia e os seus líderes. Imaginou-se uma nova dama de ferro, uma sucessora de Margaret Thatcher. Falou alto e também fez ameaças aos burocratas de Bruxelas. Quis ditar as regras do jogo. Do outro lado do Atlântico pareceu-lhe ouvir o apoio do Donald e sentiu-se ainda mais predestinada para um grande futuro político. Tinha a maioria absoluta no Parlamento mas, iludida pelas sondagens, entendeu que deveria sujeitar-se ao eleitorado para legitimar a sua liderança que não resultara do voto popular. Queria ainda mais poder.
Entretanto as coisas começaram a não lhe correr de feição. Afinal o Donald tratou-a mal nas reuniões da NATO e do G7 e, dos outros líderes, ninguém lhe ligou. May regressou a Londres nervosa e desorientada. Depois aconteceram os atentados em Londres e Manchester. Theresa May começou a perder fôlego.
As eleições gerais realizaram-se no passado dia 8 de Junho e Theresa May perdeu a sua maioria absoluta. Como diz o The guardian, ela foi da arrogância à humilhação. O Reino Unido está desorientado e isolado, cheio de problemas internos. Anda à deriva. É difícil prever o que aí vem, mas certamente que não é de um líder derrotado e tão enfraquecido como Theresa May que o Reino Unido precisa para enfrentar os muitos desafios que tem pela frente.

sexta-feira, 9 de junho de 2017

Macau, a herança portuguesa e a UNESCO

O território de Macau que desde 1999 constitui a Região Administrativa Especial de Macau da República Popular da China, viu em 2005 o seu centro histórico ser inscrito pela UNESCO na lista do Património Cultural da Humanidade. Esse centro histórico inclui estruturas construidas desde o século XVII e estilos arquitectónicos em que se misturam a tradição portuguesa e a tradição chinesa.
Segundo a edição do hojemacau, o Comité do Património Mundial da UNESCO alertou recentemente o governo de Macau por não estar a dar cumprimento às exigências resultantes daquela classificação e, em especial, pela não entrega do Plano de Salvaguarda e Gestão do Centro Histórico de Macau, ao mesmo tempo que mostrava preocupação pela construção de prédios altos e novos projectos de aterro, que colocam em causa a visibilidade do Farol da Guia e da Colina da Penha.
O problema parece ser sério e, aparentemente, tem a ver com o facto de existirem em Macau grandes interesses imobiliários ligados a entidades que sempre foram poderosas, quer durante a administração portuguesa, quer na actualidade. Essa é uma das razões porque não existe um verdadeiro plano director municipal e porque não funciona o regime relativo à salvaguarda do património cultural que existe desde 2013.
Por isso, o Plano de Salvaguarda e Gestão do Centro Histórico de Macau exigido pela UNESCO desde 2013 corre riscos de não ver a luz do dia e Macau corre o risco de ser retirado da lista do Património Mundial da Humanidade, o que seria bem triste para o nosso orgulho pela herança cultural e pelo património arquitectónico que deixamos na Ásia Oriental.

Manuel Alegre vence Prémio Camões 2017

Manuel Alegre venceu o Prémio Camões 2017, o maior prémio da literatura portuguesa. É um justo prémio para um homem que além do talento literário, cultiva a arte poética de uma forma apaixonante e cuja experiência de vida de militância em grandes causas tem sido exemplar.
Como poeta, Manuel Alegre destacou-se com A Praça da Canção (1965) e O Canto e as Armas (1967), que foram apreendidos pelas autoridades do Estado Novo, mas que tiveram grande circulação nos meios intelectuais e estudantis, tendo marcado o seu percurso político de combate contra a ditadura e a guerra colonial. Estas obras ainda constituem referenciais para uma geração e muitos dos seus poemas popularizaram-se nas vozes de Adriano Correia de Oliveira, José Afonso e Amália Rodrigues.
Manuel Alegre foi uma voz de esperança que denunciou a opressão salazarista, a violência da emigração e da guerra, o que lhe custou a prisão e o exílio. O prémio que justamente lhe foi atribuido destaca o conjunto da sua obra literária mas, muitos como eu, acharão que só aquelas duas obras justificariam o Prémio Camões.
O prémio Camões foi instituido em 1988 pelos governos de Portugal e do Brasil para galardoar os autores que tenham contribuido para o enriquecimento do património literário e cultural da língua portuguesa e, de entre os 29 escritores já premiados, encontram-se 12 escritores portugueses. Manuel Alegre junta-se a Miguel Torga, Vergílio Ferreira, Sophia de Melo Breyner, José Saramago e Eugénio de Andrade, entre outros. Desta vez o jornal Público escolheu bem a sua capa e ao fazer de Manuel Alegre a notícia do dia.

quarta-feira, 7 de junho de 2017

A nova esperança das eleições angolanas

As eleições gerais angolanas estão marcadas para o dia 23 de Agosto e José Eduardo dos Santos (JES), que ocupa a Presidência do Estado e a chefia do Governo desde a morte de Agostinho Neto em Setembro de 1979, não é candidato. Depois de cerca de 38 anos na cadeira do poder, esta retirada de JES do poder só peca por ser demasiado tardia e por ter atrasado o progresso de Angola e ter gerado uma profunda desigualdade entre os angolanos.
Nos termos constitucionais vão ser eleitos 130 deputados por um círculo nacional  e mais 5 deputados por cada uma das 18 províncias angolanas, o que dá um total de 220 deputados. O cabeça de lista pelo círculo nacional do partido ou coligação vencedora é automaticamente eleito Presidente da República e chefe do Governo.
Nas últimas eleições realizadas em 2012 o MPLA obteve 71,8% dos votos (175 deputados), enquanto a UNITA teve 18,6% (32 deputados). A longa permanência do MPLA no poder confere-lhe favoritismo nas eleições de 23 de Agosto e o seu candidato, o general João Manuel Gonçalves Lourenço, será provavelmente o sucessor de JES. O processo eleitoral está a andar com normalidade e o Jornal de Angola anuncia hoje que já foram sorteadas as posições de cada um dos seis concorrente nos boletins de voto.
Porém, na democracia plena a que aspira a sociedade angolana, a realização de eleições é uma condição necessária, mas não suficiente. Depois de um tão longo consulado de JES e do MPLA, a sociedade angolana exige mudança de políticas, de processos e de rostos, num ambiente liberto das burocracias e das prepotências dos interesses instalados, muitas vezes envoltos em suspeitas de enriquecimento ilícito, mas também o respeito pelos direitos da oposição e das forças do progresso nacional. Nos tempos que aí vêm e até ao dia 23 de Agosto, todos vamos ter oportunidade de ver como se comportam as autoridades angolanas e como respeitam ou não respeitam os direitos da oposição, para saber se as eleições angolanas serão autênticas ou não. Cabe-lhes convencer o mundo de que Angola é realmente uma sociedade democrática.

sábado, 3 de junho de 2017

A imprensa galega e a Marinha espanhola

A Marinha espanhola celebrou ontem o 300º aniversário da criação da Real Companhia de Guardas-Marinhas com diversas cerimónias, entre as quais um desfile naval realizado nas águas da ria de Pontevedra, a que presidiu o Rei Filipe VI e a que esteve presente o Rei emérito João Carlos I. Na sua primeira página o jornal La Voz de Galicia classifica o desfile como colossal e no desenvolvimento da notícia nas páginas interiores diz que foi espectacular, isto é, a imprensa galega apreciou o acontecimento e deu-lhe a cobertura que merecia, até porque os reis estavam presentes.
Foram sete navios de guerra da Marinha espanhola a desfilar em coluna, com o porta-aeronaves Juan Carlos I a abrir, seguido pelo navio de aprovisionamento logístico Patiño, por cinco fragatas e pelo submarino Tramontana, os quais saudaram os reis embarcados no navio-patrulha Tornado. Não é comum haver tantos navios de guerra na ria de Pontevedra e, por isso, nas suas margens aglomerou-se muito público para ver e para fotografar.
Realizaram-se depois alguns exercícios demonstrativos da preparação operacional da Marinha espanhola e, de seguida, o cerimonial comemorativo passou para terra. Nas instalações da Escola Naval em Marin, a poucos quilómetros da cidade de Pontevedra, o Rei Filipe VI prestou homenagem aos marinheiros caídos pela Espanha e, porque se cumpria o terceiro ano desde que Juan Carlos I renunciara à Coroa, prestou pública homenagem a seu pai ali presente, terminando com a frase “Gracias majestad!”.
Em Portugal também tivemos recentemente o Dia da Marinha com as principais cerimónias a serem realizadas em Vila do Conde mas, ao contrário do que aconteceu em Espanha onde muitos jornais trouxeram o tema para as suas primeiras páginas, o acontecimento não mereceu qualquer destaque da imprensa portuguesa. Certamente não é porque sejamos uma República, mas apenas porque muitos jornais ainda não sabem cumprir a sua função social de informar.

sexta-feira, 2 de junho de 2017

Vikings, os Guerreiros do Mar

A exposição “Vikings, os Guerreiros do Mar” está patente no Museu de Marinha em Lisboa e é uma das mais interessantes exposições que actualmente se podem ver na capital.
Os vikings ou guerreiros do Norte habitaram há mais de mil anos nas regiões onde hoje estão a Suécia, a Dinamarca e a Noruega, navegaram pelas costas europeias até ao mar Negro e pela costa oriental americana. Deslocavam-se em embarcações rápidas e versáteis e atacavam as populações ribeirinhas com grande volência. Chegaram também ao território que hoje é Portugal e há registos da sua passagem por vários locais do Condado Portucalense e, mais a sul, pelos territórios islâmicos do Al-Andaluz, como Lisboa ou Alcácer do Sal.
A exposição inclui mais de seis centenas de peças originais e resulta de um conhecimento proporcionado pela investigação arqueológica, abordando muitos aspectos relacionados com a história e com a cultura viking.
Organizada pelo Museu Nacional da Dinamarca, a exposição apresenta um atraente lay out que a torna muito agradável e muito útil sob o ponto de vista didáctico, pelo que merece uma visita. A exposição está em itinerância e, antes de visitar Lisboa devido à intervenção do Museu de Marinha junto das autoridades culturais dinamarquesas, já tinha estado patente no Museu Arqueológico de Alicante.

quinta-feira, 1 de junho de 2017

Como o Donald ajuda a coesão europeia

O Presidente Donald Trump anunciou esta noite a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris relativo às alterações climáticas e, dessa forma, renegou um entendimento a que tinham chegado 197 países depois de longas negociações e que já tinha sido assinado pelo seu antecessor.
Esta decisão é um desafio ao mundo e uma prova da política isolacionista do Donald, tendo agravado a tensão entre os dois lados do Atlântico que já estava muito perturbada depois das cimeiras da NATO e do G7. Depois do fracasso que constituiu a primeira viagem do Donald ao estrangeiro em que tudo lhe correu mal e em que mostrou ser um ignorante em política internacional, tínhamos assistido à reacção da chanceler Merkel a afirmar  que a Europa não podia contar mais com os Estados Unidos e que os europeus teriam que agarrar as rédeas do seu próprio destino. Agora o Donald e a sua administração deram mais força às declarações de Angela Merkel porque, com a sua decisão, hostilizaram gravemente a Europa e o mundo. O Donald está cada vez mais isolado e não percebeu como é importante a preservação do planeta e o combate às alterações climáticas. Realmente, os americanos mereciam melhor.
Nesse quadro de grande incompetência e de crescente impopularidade interna e externa do Donald, têm-se revelado a firmeza de Emmanuel Macron e o seu alinhamento com o pensamento da chanceler Merkel, isto é, o eixo franco-alemão parece estar coeso, mas também pronto para defender a Europa e para enfrentar a arrogância do Donald. Se assim for, é caso para dizer que estamos perante uma oportunidade para refazer e unir a Europa.
Hoje, o diário francês Libération reconhece que o Donald está a dar um grande incentivo ao reforço da coesão europeia e agradece-lhe a oportunidade do Velho Continente se regenerar com o sugestivo título: Merci Trump.