terça-feira, 22 de agosto de 2017

As nossas televisões são irresponsáveis?

As nossas televisões estão no mercado e em acesa concorrência entre si, independentemente do seu estatuto empresarial ser público ou privado. Lutam por audiências para comerem uma fatia maior do bolo publicitário e usam o sensacionalismo noticioso de uma forma pouco jornalística. Não informam com serenidade e rigor. Usam linguagens e imagens panfletárias para despertar a atenção como se tratasse de um produto comercial. Não distinguem informação de entretenimento. E insistem “não mude de canal”, “fique por aí”, não perca”.
As nossas televisões estão ao nível do que pior se vê nas televisões que nos chegam por assinatura. São uma lástima e um atentado à inteligência das pessoas, com as manhãs cheias de conversas populistas e desinteressantes, com as tardes ocupadas com uma pimbalhada que assusta e com as noites preenchidas por intermináveis debates sobre futebol.
O serviço público de televisão não existe ou parece uma caricatura. Nas nossas televisões dominam os profissionais de segunda categoria, os entertainers e o serviço noticioso está entregue a estagiários, muitas vezes sem qualificação. O direito constitucional a ser informado é subalternizado pela lógica da repetição continuada de peças apresentada por correspondentes locais pouco preparados. Chegou-se ao paradoxo e ao ridículo do canal público anunciar e apresentar uma entrevista a um presumível assassino, em que a jornalista quis fazer espectáculo e branquear o entrevistado, sem que nada lhe acontecesse.
A obrigação de formar e de informar o público é ultrapassada sem escrúpulos e, no caso dos incêndios florestais, tal como nas operações contra o terrorismo, as televisões e os seus responsáveis editoriais parecem tomar o partido dos incendiários e dos terroristas, porque objectivamente promovem as suas acções através das imagens que divulgam e da repetição com que as transmitem. O que tem sido feito nas nossas televisões não é jornalismo. A irresponsabilidade desta gente é mesmo muito grande!  
Hoje o jornal i recuperou na sua primeira página uma declaração da antiga primeira-ministra britânica Margareth Thatcher sobre esse assunto, que mantém a sua actualidade e que bem poderia servir para iluminar a inteligência de quem faz notícias, de quem as edita e até de quem as apresenta como se fosse um espectáculo.

Sem comentários:

Enviar um comentário