terça-feira, 17 de outubro de 2017

O "terrorismo del fuego" andou por aí

Ao contrário da imprensa portuguesa que hoje destaca o número de mortes que os incêndios florestais já provocaram e salienta as graves responsabilidades do Estado, a imprensa espanhola descreve os efeitos calamitosos da vaga de incêndios que deflagraram no norte de Espanha e defende a tese da sua origem intencional ou criminosa.
O diário ABC afirma mesmo na sua manchete que o que aconteceu no norte de Espanha e de Portugal é um terrorismo del fuego, com a polícia espanhola a atribuir a responsabilidade por todos os fogos havidos na Galiza a um grupo organizado, enquanto em Portugal se discutem as causas da tragédia com base na seca extrema e no descuido das populações, procurando-se identificar os responsáveis políticos. Será prudente que pensemos como os espanhóis e que também adoptemos a tese da intencionalidade ou do terrorismo, porque foram demasiados incêndios a deflagrar em Portugal no passado fim de semana. Não foi apenas a negligência dos homens, nem as condições meteorológicas anormais. Estamos, portanto, perante um problema a que o Ministério Público não pode ficar alheio.
O problema dos incêndios florestais é muito sério e, durante muitos anos, parece não ter merecido a atenção das autoridades e, por isso, quem agora pretende olhar para o assunto como um caso de negligência ou de incompetência política do actual governo comete um erro grave. O problema foi sempre tratado como um assunto menor e sempre se tapou o sol com a peneira, isto é, financiou-se o combate aos incêndios que tem sido uma manjedoura onde vai beber muitíssima gente de vários partidos e de muitos interesses, em vez de se financiar a prevenção e o ordenamento florestal. Construiram-se quartéis imponentes e compraram-se inúmeras viaturas para os bombeiros, mas acabaram-se com os guardas florestais. Facilitou-se a cultura do eucalipto e do pinheiro bravo. Não foi devidamente promovida a limpeza da floresta. Não se percebeu que o mundo rural já não é o que era. O erro é histórico e muito antigo, mas talvez seja possível que, sobre as cinzas das tragédias recentes que devastaram muitas regiões do país, se possa criar um consenso nacional para encarar o problema, sem a mesquinhez política que se tem visto nas televisões e que tem sido apoiada pela cegueira de muitos jornalistas e comentadores.

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