quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Angola e Portugal: acabem com os amuos!

Nos dois últimos dias realizou-se em Abidjan, na Costa do Marfim, a 5.ª Cimeira União Africana - União Europeia que reuniu os dirigentes dos 55 Estados-membros da União Africana e dos 28 Estados-membros da União Europeia, que teve como tema central o investimento na juventude.
O tema é importante porque a maioria da população africana tem actualmente menos de 25 anos de idade e se estima que, até meados deste século, uma em cada quatro pessoas no mundo será africana. Por isso, a cimeira procurou definir orientações no sentido de se investir nos jovens africanos e na sustentabilidade das suas vidas, através da educação e das infraestruturas, mas também da paz, da segurança e da boa governação.
Nestas cimeiras, acontecem sempre muitos encontros bilaterais e, de entre eles, revestiu-se de particular interesse o encontro entre o Presidente João Lourenço de Angola e o 1º Ministro António Costa de Portugal. No seguimento desse encontro ao mais alto nível, o ministro angolano das Relações Exteriores, Manuel Augusto, garantiu que as relações entre Angola e Portugal “são excelentes”, mas que estão “ensombradas por um caso específico que releva da actuação da justiça portuguesa”, referindo-se ao caso que envolve o antigo vice-presidente angolano Manuel Vicente, que está acusado pela justiça portuguesa por corrupção activa na forma agravada, branqueamento de capitais e falsificação de documentos. O ministro angolano salientou que Angola respeita a separação de poderes e que a única coisa que pretende é que o poder judicial português tenha em conta os interesses de Portugal e de Angola, o que foi destacado hoje pelo jornal O PAÍS em notícia de primeira página.
Sobre o mesmo assunto, António Costa afirmou que o caso transcende o poder político e é da exclusiva responsabilidade das autoridades judiciárias portuguesas, mas também disse que os dois países estão a ultrapassar as dificuldades económicas recentes e que isso “permite encarar com optimismo e confiança o crescimento das relações económicas nos próximos anos” e reafirmar Angola como o principal parceiro português em África.
Os portugueses precisam de Angola e os angolanos precisam de Portugal. Acabem, portanto, com os amuos.

R.I.P. Belmiro de Azevedo

A notícia surgiu inesperada e anunciava que o empresário Belmiro de Azevedo falecera aos 79 anos de idade.
Nunca o encontrei e, provavelmente, não tinhamos concepções de vida parecidas, mas ouvi-o muitas vezes, desassombrado e directo, a comentar a vida política e económica portuguesas, com objectividade, com inteligência e com frontalidade. Porém, não era essa a faceta que mais admirava no homem que reergueu a Sonae e que estendeu a sua actividade a diversas áreas da nossa actividade económica como a distribuição (Continente e Modelo), o jornal Público, as telecomunicações (Optimus) e o retalho especializado (Worten, Vobis, Bonjour, Sportzone), entre outras.
Num país em que há uma enorme lacuna de empreendedores que assumam riscos empresariais, que transformem os nossos recursos e que acrescentem valor aos nossos produtos e serviços, o engenheiro Belmiro de Azevedo foi um pioneiro na gestão e na inovação mas, sobretudo, foi um dos maiores criadores de emprego que Portugal conheceu depois da revolução de 1974.  Nos sectores de actividade em que se envolveu e, em especial, no sector da distribuição, foi um criador de muitos milhares de empregos directos e indirectos. Serão cerca de 40 mil trabalhadores directos que hoje têm um posto de trabalho permanente naquilo a que se chama o “universo Sonae”, que Belmiro de Azevedo criou.
Logo que a notícia da sua morte foi conhecida, sucederam-se inúmeras declarações de elogio e de homenagem a um homem que, sendo rico, se comportava como um grande trabalhador e com hábitos sociais muito moderados. 
Homens destes fazem muita falta a Portugal.

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

O conflito catalão para além da política

A questão da Catalunha que está a mobilizar os constitucionalistas e os independentistas para as eleições de 21 de Dezembro, tem uma dimensão política que prevalece sobre todas as outras, mas também tem uma importante dimensão económica. Porém, nos últimos dias revelou-se uma dimensão cultural ou patrimonial que está a interessar a Espanha e que é hoje tratada no diário catalão elPeriódico.
O Real Monasterio de Santa Maria de Sigena ou Sijena remonta ao século XII e fica situado nas proximidades de Huesca na comunidade autónoma de Aragão, cuja capital é Saragoça. Nele professaram rainhas e princesas, solteiras ou viúvas, pelo que ao longo dos séculos o mosteiro acumulou preciosidades e riquezas de incalculável valor histórico e artístico. Porém, em 1983 as monjas residentes venderam 97 obras de arte religiosa do mosteiro à Generalitat da Catalunha, o que levou as autoridades de Aragão a exigir a devolução imediata dessas obras com mais de três séculos, porque “são parte da história e do património artístico de Aragão”.
O caso chegou aos tribunais. Houve sentença favorável a Aragão em Abril de 2015  e, em Julho de 2016 foram devolvidos 51 objectos que estavam expostos no Museu Diocesano de Lleida, mas o assunto não ficou arrumado. O Departamento de Cultura da Generalitat da Catalunha recusou-se a devolver 44 obras, algumas delas do século XV e únicas no mundo, com o argumento de que a decisão judicial tomada em 1ª instância iria ser revogada na instância superior e que, além disso, porque o transporte das peças era muito arriscado devido a serem muito frágeis.
Até que com a aplicação do artigo 155 da Constitução, que suspendeu a autonomia catalã, o ministro Iñigo Méndez de Vigo passou a acumular o cargo de ministro da Cultura do governo espanhol com a responsabilidade pela cultura catalã, tendo determinado que se proceda imediatamente ao cumprimento da sentença judicial, isto é, que o Museu de Lleida devolva as referidas 44 peças ao mosteiro de Sijena. Significa que o famoso 155, para além dos problemas políticos que resolve ou adia, também resolve outro tipo de problemas.
Para os independentistas esta decisão do ministro foi provocatória e pode ser mais uma pequena acha para a fogueira catalã.

terça-feira, 28 de novembro de 2017

Aprovação do Orçamento reforça Governo

A Assembleia da República aprovou ontem o Orçamento do Estado para 2018 (OE2018) com os votos favoráveis do PS, Bloco de Esquerda, PCP, Os Verdes e PAN e os votos contra do PSD e do CDS, o que significa que foi aprovado por 56% dos 230 deputados. De acordo com a imprensa, o OE2018 consagra menos impostos para as famílias e mais impostos para as empresas com lucros muito elevados, o que se traduz em boas notícias para grande parte dos contribuintes, dos reformados, dos senhorios e dos desempregados.
Em termos técnicos, o Orçamento do Estado inclui em cada ano o montante das despesas autorizadas e a previsão das receitas, pelo que é o documento que assegura a actividade financeira do Estado e, por isso, está muito condicionado pela situação da dívida e do défice públicos. Porém, o Orçamento é mais complexo porque discrimina inúmeras receitas e despesas que afectam o rendimento e a vidas das pessoas, daí resultando que a proposta inicial apresentada pelo Governo acaba por receber muitas alterações para satisfazer interesses muito diversos e para assegurar que é votado favoravelmente. Negociar o Orçamento é sempre uma procura de equilíbrio entre o desejável e o possível, entre as necessidades ilimitadas e os recursos escassos.
Sem Orçamento o Governo não pode governar e, por isso, também é um instrumento de luta política, em que cada partido intervém em função do seu próprio interesse e das suas futuras perspectivas eleitorais. É natural que uns queiram uma coisa e outros defendam outra. O que não é natural é que quem dirige o CDS e porque não sobe nas sondagens, mantendo-se com os habituais 7%, esteja a perder a compostura e a revelar falta de educação, mostrando demasiada agressividade e insultando continuadamente António Costa e o seu governo.

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

A tradição britânica ainda é o que era

Todos os jornais de referência ingleses publicam hoje na sua primeira página uma fotografia alusiva à cerimónia do render da guarda que ontem se realizou em Buckingham Palace, a residência oficial da Rainha da Inglaterra, e esse destaque resulta do ineditismo de uma cerimónia que se realiza desde 1660, isto é, há 357 anos.
Durante esse longo período, a guarda foi sempre assegurada por um dos cinco Foot Guards Regiments da Army's Household Division, mas ontem essa responsabilidade passou temporariamente para a Royal Navy, numa acção de propaganda inserida numa declaração governamental que instituiu o ano de 2017 como o Year of the Navy.
Cerca de noventa marinheiros destacados de 45 unidades e estabelecimentos da Royal Navy foram especialmente preparados para a cerimónia realizada na manhã de ontem que, como sempre, teve a presença de muitos turistas que aplaudiram. As fotografias publicadas nos diferentes jornais, como por exemplo no The Times, mostram o contraste entre a altura do marinheiro Alex Stacey e a considerável estatura do granadeiro que é rendido. A cerimónia vai ser repetida nas próximas semanas nas instalações reais do castelo de Windsor, da Torre de Londres e do St. James's Palace, naturalmente para promoção da Royal Navy. A questão é saber-se porque tudo isto acontece para animar os ingleses e se tem alguma relação com o Brexit.
Em Portugal também temos, não diariamente, mas no terceiro domingo de cada mês pelas onze horas, a cerimónia pública do render da guarda no Palácio de Belém que é um grande espectáculo de cor e som, que atrai muita gente. Será o que o Presidente da República se lembra de promover essa cerimónia e lhe dá para substituir temporariamente a GNR pela Marinha?

sábado, 25 de novembro de 2017

Há ou não paz duradoura na Colômbia?

Durante algumas dezenas de anos a Colômbia foi um palco onde actuaram contra o governo nacional diversos grupos armados de inspiração revolucionária, tendo resultado desse conflito mais de 250 mil mortos.
Há um ano Juan Manuel Santos, o presidente da Colômbia, e Rodrigo Londoño, codinome "Timochenko", o principal dirigente das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), assinaram em Havana um cessar-fogo que terminava com mais de cinquenta anos do conflito armado. Mais recentemente, também o ELN (Exército de Libertação Nacional) e o governo colombiano reunidos em Quito anunciaram um cessar-fogo, que estabelece uma trégua que, desejavelmente, conduzirá a um cessar-fogo definitivo. Significa que os 7000 guerrilheiros das FARC entregaram as armas e que os 1500 guerrilheiros do ELN estão com as armas descarregadas.
As FARC já decidiram transformar-se num partido político, sem armas, baptizado como Força Alternativa Revolucionária do Comum, de forma a manter a sigla FARC e apresentar-se ao eleitorado colombiano com uma rosa vermelha como símbolo, enquanto na eleição presidencial que se realizará no dia 27 de Maio de 2018 irá apresentar como seu candidato Rodrigo Londoño, o médico de 59 anos de idade que é o seu principal dirigente.
Quem não está no convento, não sabe o que lá vai dentro. Há, por isso, muitas coisas que nós não sabemos. Quando hoje o diário El Colombiano se questiona ¿Un año en paz?, apenas reflecte as grandes dificuldades por que passa o processo de paz, com uns a entender que se foi longe demais (os apoiantes do governo) e outros a considerar que os compromissos assumidos estão por cumprir (os ex-guerrilheiros), havendo quem ainda ande de armas na mão.
De facto, há muitos e complexos problemas para resolver e a entrega do Prémio Nobel da Paz a Juan Manuel Santos em 2016, não pode descansar a comunidade internacional nem as Nações Unidas, que tanto se empenharam neste processo. A paz na Colômbia já deu passos importantíssimos, mas ainda falta muito para lá chegar sem retorno.

Um novo e melhor caminho para Angola

A República Popular de Angola tem desde o  dia 26 de Setembro de 2017 um novo Presidente, escolhido nas eleições gerais realizadas no dia 23 de Agosto. Depois de Agostinho Neto e de José Eduardo dos Santos, o terceiro presidente angolano chama-se João Lourenço.
Em menos de dois meses, o novo Presidente mostrou trabalho e determinação, pois procedeu à exoneração das administrações de várias empresas estatais dos sectores dos diamantes, minerais, petróleos, comunicação social, banca comercial pública e Banco Nacional de Angola, anteriormente nomeadas por José Eduardo dos Santos. No entanto, a decisão mais surpreendente foi a exoneração de Isabel dos Santos, filha do anterior Presidente, do cargo de presidente da Sonangol, bem como o afastamento de alguns membros da mesma família de altos cargos da administração angolana.
A oposição tem elogiado a “revolução” que está a ser feita por João Lourenço que nos seus discursos tem salientado a vontade de moralizar a sociedade angolana e de combater eficazmente as práticas correntes de gestores e de funcionários que lesam o interesse público. Porém, as corajosas medidas que estão a ser tomadas não são do agrado geral e há algum mal-estar no seio do MPLA entre os apoiantes das novas políticas e os chamados “eduardistas” que, de certo modo, têm sido o alvo das medidas de saneamento da sociedade que estão a ser tomadas.
Era conhecido o apoio dos Estados Unidos às iniciativas de João Lourenço, mas a sua visita a Pretória e o entusiasmo com que ontem foi recebido pelo Presidente Jacob Zuma, abrem novas e muito positivas perspectivas para Angola, mas também para o entendimento e a cooperação futuros do sul da África. O Jornal de Angola referiu-se a um dia histórico e é verdade, sobretudo se pensarmos que, ainda há bem pouco tempo, os dois países estiveram envolvidos numa dura e prolongada guerra.
Quando regressar a Luanda, João Lourenço chegará mais forte e mais confiante quanto ao caminho que iniciou para fazer de Angola um país melhor.

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Mugabe e o 25 de Abril do Zimbabwé

Na passado dia 15 de Novembro eclodiu um movimento militar no Zimbabwé a partir de Harare, tendo os militares bloqueado os acessos aos edifícios do governo e do Parlamento e ocupado as instalações da televisão. Ouviram-se explosões na cidade e foi anunciado que o Presidente Robert Mugabe estava detido e sob a protecção dos militares. A intenção dos militares não era clara, mas insistiram que não se tratava de um golpe de estado. Sucederam-se episódios diversos e a população começou a agitar-se nas ruas para exigir a demissão de Mugabe, não só pelos seus 93 anos de idade e 37 anos de poder, mas pelas suas práticas ditatoriais e comportamentos impróprios num estado democrático.
Mugabe ainda reapareceu em público mas recusou demitir-se. Na passada terça-feira, dia 21, não aguentou a pressão e renunciou à presidência através de uma carta enviada ao presidente do Parlamento em que dizia: “Eu, Robert Gabriel Mugabe, entrego formalmente a minha renúncia como Presidente do Zimbabwé com efeito imediato. Renunciei para fazer uma transferência de poder tranquila”.
O herói da independência que lutou com armas na mão contra o regime racista de Ian Smith e que estava no poder desde a independência do país em 1980, foi esquecido. O povo não lhe perdoou os excessos e saiu à rua para celebrar festivamente o seu afastamento. Em Harare ouviu-se um monumental concerto de buzinas e houve festa por todo o lado. Tudo normal em situações como esta.
O que não foi normal foi esta operação político-militar que, sem tiros nem confrontos, conseguiu afastar um ditador firmemente agarrado ao poder. Até parecia um 25 de Abril no Zimbabwé. A imprensa internacional acompanhou de perto esta situação e The Economist até dedicou a sua primeira página à queda do ditador.

Uma oportunidade para a paz na Síria

Desde há muito tempo que as notícias sobre a guerra na Síria eram muito escassas e que era muito difícil compreender a evolução de um conflito em que há muitos e bem diferentes envolvimentos e alianças. Porém, nas últimas semanas surgiram notícias de algumas derrotas do Daesh, quer no Iraque, quer na Síria, embora nem sempre se soubesse quem derrotou quem.
Apesar deste quase vazio de informações, nos últimos dias pudemos ver Hassan Rohani a declarar a derrota final do Daesh, depois ver Bashar Al-Assad a visitar a Rússia e a ser abraçado pelo seu Presidente e, por fim, ver Vladimir Putin a juntar à mesma mesa em Sochi, os seus colegas presidentes da Turquia, Recep Tayyp Erdogan e do Irão, Hassan Rohani. Significa que, em poucos dias, muita coisa parece ter mudado.
O jornal Tehran Times publica hoje a fotografia do encontro Putin-Erdogan-Rohani que abre uma enorme janela de oportunidade para acabar com o conflito, depois de seis anos de guerra que fizeram mais de 330 mil mortos. Vladimir Putin mostra-se confiante e declarou que serão necessárias concessões de todas as partes, incluindo do governo sírio, embora todos já tenham dado o seu acordo para a convocação de um congresso do povo sírio essencial para o estabelecimento de um diálogo inclusivo no país, a que se deve seguir uma reforma constitucional e eleições livres.
Nas últimas semanas e com o apoio russo, o regime sírio recuperou grande parte do seu território que estava sob o controlo de grupos rebeldes e extremistas e, segundo foi declarado, mais de 98% do território está agora nas mãos das forças do governo sírio, enquanto estão a ser eliminados alguns focos de resistência. É mesmo uma oportunidade para a paz na Síria.

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

A seca severa ou extrema que nos afecta

A península Ibérica e em especial a sua faixa ocidental, que o mesmo é dizer Portugal e a Galiza, estão a passar por um prolongado período de seca, cujas consequências podem tornar-se dramáticas. O ano de 2017 é um dos mais quentes desde que há registos e diversas regiões portuguesas e espanholas estão a sofrer com a falta de água e com o calor extremo porque choveu apenas 30% do que era habitual e as temperaturas médias têm estado três graus acima do que seria normal.
La Voz de Galicia informava ontem que a Galiza necessita de tanta chuva  [nas próximas semanas] como a que caiu em todo o ano de 2017 e tem em acção muitas medidas restritivas em relação ao consumo da água.
Nas regiões do interior e do sul de Portugal continental, porque a precipitação é muito inferior ao normal, também se atravessa um prolongado período de seca severa e extrema, com a agravante de não terem ocorrido as habituais chuvas do início do Outono que teriam desagravado a situação. Os rios e as ribeiras estão secos e as barragens com níveis de água residuais, havendo já necessidade de fazer transvases para acudir a situações de emergência. Muitas explorações agrícolas estão em risco de perder colheitas por falta de água e o governo admite racionar a água para consumo doméstico através das medidas tomadas ou a tomar pelas autarquias.
Esta alarmante situação é uma consequência das alterações climáticas que têm afectado o nosso planeta e, o que é muito preocupante, é que este cenário tende a agravar-se no futuro com temperaturas mais elevadas e menos chuva. Até há pouco tempo tudo isto parecia uma história de ficção promovida por cientistas da Geofísica e do Ambiente, mas agora a dura realidade das alterações climáticas está a bater-nos à porta. 

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Macau e Timor estão unidos pela História

Entre o território da ilha de Timor, onde está estabelecida a República Democrática de Timor-Leste e o território de Macau, que é uma região administrativa especial da República Popular da China, existem afinidades históricas cujo denominador comum é Portugal, apesar de estarem separadas por 3.666 quilómetros.
No período da expansão marítima para o Oriente, os navegadores e os mercadores portugueses chegaram aos mares da China em 1513 e estabeleceram-se em Macau em 1557, tendo chegado a Lifau na ilha de Timor em 1514 e fundado a povoação de Dili em 1769. Os estabelecimentos de Macau e Timor estavam então sob a tutela do Vice-rei da Índia que residia em Goa, mas em 1844 a cidade de Macau e os estabelecimentos de Solor e Timor foram desligados do Estado da Índia e das autoridades de Goa, passando a constituir a província de Macau, Solor e Timor, com um governador residente em Macau e um governador subalterno em Timor, dele dependente.
Quase dois séculos depois, esses territórios pertencem hoje à China, à Indonésia e a Timor-Leste, mas a ligação íntima entre Macau e Timor que então nasceu por via administrativa e sob a bandeira portuguesa, ultrapassou muitas circunstâncias.
Não admira, por isso, que a edição do hojemacau destaque na primeira página da edição de hoje a fotografia de Mari Alkatiri, o primeiro-ministro de Timor-Leste, a propósito de uma moção de censura ao governo minoritário da Fretilin que a oposição timorense apresentou no Parlamento, por este ainda não ter apresentado o seu programa. É um mari de problemas, titula o jornal.
Entretanto, o presidente timorense Francisco Guterres Lu-Olo já avisou o governo e a oposição que a sua missão é servir o país, tal como todos fizeram conjuntamente na sua luta pela independência nacional.

European Medicines Agency: Amesterdão

A corrida que estava em curso para conquistar a futura localização da Agência Europeia do Medicamento (EMA na sigla inglesa) terminou ontem e os 27 Estados-membros reunidos num Conselho Europeu de Assuntos Gerais escolheram a cidade de Amsterdão.
A EMA é um organismo descentralizado da União Europeia que foi criado em 1995 e que tem total responsabilidade pela monitorização científica, avaliação, supervisão e segurança de todas as substâncias e medicamentos desenvolvidos por laboratórios farmacêuticos para uso no espaço europeu. A sua sede é em Londres, mas por causa do Brexit vai ter que ser relocalizada.
Apareceram 19 cidades candidatas a albergar esta importante agência e uma delas foi a cidade do Porto. Um estudo realizado por uma consultora tinha concluido que a vinda da EMA para Portugal teria um impacto de 1.130 milhões de euros na economia nacional e iria permitir a criação de 5.300 novos empregos. A corrida por esta agência era, por isso, muito disputada.
Na primeira volta da votação nenhuma das 19 candidatas conseguiu reunir as preferências de pelo menos 14 dos Estados-membros para vencer. A cidade do Porto recolheu 10 votos, tendo sido a sétima cidade mais votada, enquanto as cidades de Milão, Amesterdão e Copenhaga passaram à segunda volta. Venceu Amsterdão.
Como curiosidade regista-se que a cidade eslovaca de Bratislava era uma das favoritas, foi a quarta cidade mais votada e foi eliminada. Porém, o ministro eslovaco amuou e recusou-se a continuar a participar na votação o que, obviamente, é um sinal de pouca compostura democrática.
Outra curiosidade foi o destaque dado pela imprensa espanhola a este acontecimento e o seu aproveitamento político. A candidatura de Barcelona não vingou e esse resultado negativo foi atribuído à instabilidade em que vive a cidade por causa do independentismo. “Europa castiga a Barcelona por alentar la independencia”, escreveu o El Mundo; “El soberanismo arrebata a Barcelona a EMA”, titulou La Razón. O diário ABC publicou na capa uma fotografia da cidade onde se destaca a Torre Agbar, a obra-prima de Jean Nouvel, escolhendo como título “Barcelona paga el precio del separatismo”. 
O Porto perdeu, mas não veio daí mal ao mundo. Parece que a candidatura se portou com dignidade. Ficamos sem saber o que fazem os portuenses Paulo Rangel e Nuno Melo em Bruxelas.

domingo, 19 de novembro de 2017

Argentina busca submarino desaparecido

O submarino argentino ARA San Juan (S-42) saiu de Ushuaia, a mais austral cidade do mundo e capital da província da Patagónia, no extremo sul do território da Argentina e navegava para a sua base na cidade de Mar del Plata. Era uma longa viagem de quase duas mil milhas em que teria de navegar desde os 55 graus até aos 38 graus de latitude sul. Na quarta-feira, dia 15 de Outubro, o submarino navegava na latitude de 42 graus sul quando pela última vez comunicou com terra via rádio. Cerca de 48 horas depois, na sexta-feira dia 17 de Outubro, as autoridades navais argentinas comunicaram a falta de informações sobre o submarino e que já estavam a decorrer buscas no sentido de o encontrar. No dia seguinte, todos os jornais argentinos divulgaram a preocupante notícia e o diário Clarín, que é o maior jornal argentino, destacou na sua primeira página a “dramática búsqueda del submarino perdido en el Sur con 44 tripulantes”.
O ARA San Juan integra uma pequena frota de três submarinos que foram incorporados na Marinha argentina em 1985 e que tem a sua base na cidade de Mar del Plata. Foi construído na Alemanha e pertence à classe TR, tendo sido objecto de fabricos de modernização para lhe aumentar o tempo de vida útil, entre 2007 e 2014.
Não há qualquer indício sobre o que se terá passado e a área de busca é muito extensa, mas as autoridades apontam para uma avaria no sistema de comunicações ou no seu sistema de propulsão eléctrico, o que mantém acesa a hipótese de não ter acontecido qualquer tragédia.
Porém, estão decorridos quase quatro dias desde a última comunicação do submarino e o desespero começa a tomar conta das famílias dos 44 tripulantes do ARA San Juan.

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Leonardo da Vinci é um valor eterno

Leonardo da Vinci, Salvator Mundi, ca. 1500
A leiloeira Christie’s vendeu na passada quarta-feira à noite em Nova Iorque um quadro de Leonardo da Vinci datado de cerca de 1500, intitulado Salvator Mundi, que mostra Jesus Cristo com a mão direita levantada em posição de benção e a mão esquerda a segurar uma bola de cristal.
O pequeno quadro de 45 por 66 centímetros é uma das 16 obras conhecidas de Leonardo da Vinci e é a única que faz parte de colecções privadas, tendo sido vendida por 450,3 milhões de dólares (380 milhões de euros). Tornou-se a mais cara transacção do mercado da arte de todos os tempos, pois nunca tinha sido pago um valor tão alto por uma peça de arte num leilão. Antes, a tabela das obras de arte mais caras de sempre era liderada por As mulheres de Argel (Versão 0) de Pablo Picasso que foi vendido por 152 milhões de euros em Maio de 2015, também na Christie's, em Nova Iorque.
Existiam algumas dúvidas quanto à autenticidade desta obra, mas os críticos de arte desfizeram qualquer polémica e certificaram-na.
O comprador não foi identificado, mas certamente não é português. Ao contrário do que sucede com as outras obras de Leonardo da Vinci, como por exemplo a famosa Mona Lisa del Giocondo que pode ser observada no Museu do Louvre, o Salvator Mundi vai continuar fora dos olhares do público.
Fui fazer contas e verifiquei que o valor pago por este quadro dava para comprar quatro aviões Airbus 320 e ainda sobravam alguns milhões.

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

A encomenda do século para a Airbus

Vai ser anunciado hoje no salão aeronáutico do Dubai a compra de 430 aviões de médio-curso da família A320 da Airbus pelo fundo de investimento americano Indigo Partners por um montante de 42 mil milhões de euros. É a maior encomenda da história da Airbus e o jornal La Dépêche du Midi, que se publica em Toulouse, classifica-a como a encomenda do século, porque mais do que duplica a actual carteira de encomendas que estava nas 288 unidades. Agora, com 718 encomendas, a Airbus vai ultrapassar o seu rival americano Boeing que, no corrente ano, tem 605 encomendas.
Há poucos dias, a Boeing recebera uma encomenda de 300 aviões durante a visita de Donald Trump à China e agora foi a companhia Emirates a anunciar a encomenda de 40 aviões Boeing 787 Dreamliner por mais de 12 mil milhões de euros.
Porém, esta encomenda do século projecta a Airbus para a liderança do mercado da aeronáutica comercial, sobretudo nos aviões de médio-curso, tendo entusiasmado as indústrias fornecedoras de componentes, designadamente em Espanha, cuja imprensa destacou esta encomenda pelo trabalho que vai proporcionar na região de Cádis.
Esta competição entre os dois gigantes aeronáuticos que são a Airbus e a Boeing mostra que a economia mundial está a passar por um período de dinamismo e de crescimento, mas também mostra que Portugal é um país demasiado pequeno.

terça-feira, 14 de novembro de 2017

Alterações climáticas: um aviso ao mundo

A edição anual da revista BioScience que ontem foi publicada pelo American Institute of Biological Sciences, inclui um texto intitulado World Scientists’ Warning to Humanity: A Second Notice, que é subscrito por 15.364 cientistas de 184 países e que é um alerta quanto às alterações climáticas que ameaçam o futuro da Humanidade.
O texto surge em linha com um outro texto intitulado World Scientists’ Warning to Humanity, publicado em 1992 e que então foi subscrito por cerca de 1700 cientistas, no qual era afirmado que os seres humanos e o mundo actual estavam em colisão e que as actividades humanas causavam danos severos e, por vezes, irreversíveis no ambiente e nos recursos. É, por isso, um segundo aviso e os cientistas de todo o mundo voltam a chamar a atenção para a continuada destruição do nosso planeta com as emissões de dióxido de carbono ou a desflorestação, a redução dos recursos hídricos, a deterioração das zonas costeiras ou a extinção de algumas espécies. “A Humanidade não está a fazer o que deve ser feito urgentemente para salvaguardar a biosfera ameaçada”, diz o referido texto que se baseia num estudo internacional coordenado pela Universidade do Oregon e inclui nove gráficos que mostram como evoluíram algumas variáveis do ambiente nos últimos 25 anos.
Na sua edição de hoje o jornal Público destaca este texto-aviso na sua primeira página e trata de alguns aspectos críticos das alterações climáticas, desde o aquecimento global à sustentabilidade dos rios e destacando, ainda, a falta de coesão territorial associada à desertificação da paisagem e ao despovoamento do mundo rural.
Ao ler-se este texto, facilmente se conclui que há muito para fazer no mundo e também em Portugal para salvar o planeta, mas que a generalidade dos políticos portugueses ainda não percebeu isso.

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Um novo desafio para Carlos Tavares

Carlos Tavares é um gestor português que, depois de ter sido o número dois do grupo Renault Nissan, se tornou em finais de 2013 o número um do grupo Peugeot Citroën (PSA), o seu principal concorrente no mercado francês.
Em poucos anos o grupo PSA, que produz as marcas Peugeot e Citroën, inverteu os seus resultados devido à estratégia adoptada por Carlos Tavares e, hoje, é salientado que o grupo “está bem e recomenda-se”.
Nos primeiros dias do passado mês de Março o grupo PSA anunciou a compra da Opel ao grupo americano General Motors por 2.200 milhões de euros, incluindo não só a actividade produtiva da Opel e da Vauxhall no Reino Unido, mas também as operações da sucursal financeira da GM na Europa, neste caso em joint-venture com o banco BNP Paribas.
Esta operação faz do grupo PSA o segundo maior grupo automóvel da Europa com uma quota de mercado de 17%, sendo de notar que as marcas de ambos os grupos fizeram em conjunto vendas de 17.700 milhões de euros em 2016.
Carlos Tavares e a sua equipa têm trabalhado no grande desafio que é salvar a Opel e fazer do grupo PSA um grande grupo automóvel mundial, capaz de concorrer com a indústria automóvel americana e asiática. Porém, o desafio é enorme e implica a integração de culturas de gestão e engenharias bem diferentes, a concretização de economias de escala e de sinergias, a concepção de novos produtos e a abordagem a novos mercados.
Carlos Tavares deu ao jornal francês La Tribune uma grande entrevista na qual apresenta a sua visão sobre o futuro do grupo PSA e da nova ligação à Opel. Um português a brilhar.

domingo, 12 de novembro de 2017

Catalunha: a luta soberanista continua

Realizou-se ontem em Barcelona uma gigantesca manifestação a exigir a libertação dos chamados “presos políticos”, isto é, a dezena de pessoas ligadas ao governo regional da Catalunha que a Justiça espanhola constituiu como arguidos e mandou para a prisão com a acusação de sedição, rebelião e desvio de fundos, na sequência das trapalhadas que foram o acto referendário de 1 de Outubro e a declaração unilateral de independência (DUI).
A realização desta grande manifestação onde foi cantada a “Grândola vila morena”, mostra que o independentismo não está derrotado e que já se está a mobilizar para as eleições de 21 de Dezembro e para as lutas que virão no futuro, provavelmente sem Puigdemonts, Junqueras, Forcadells e outros líderes que terão traído a causa catalã. É curioso que enquanto os jornais da Catalunha, caso do ara mas não só, publicaram com grande destaque as fotografias dessa manifestação, a generalidade da imprensa espanhola ignorou-a. Significa, portanto, que a imprensa está alinhada com os unionistas ou com os independentistas e que, para sabermos a verdade, teremos que ler os jornais afectos às duas partes. É enorme a quantidade de mensagens que estão a ser passadas para o público, umas verdadeiras e outras não verdadeiras, com o objectivo evidente de manipular o eleitorado. Hoje, por exemplo, o prestigiado El País invoca uma sondagem para dizer que “a maioria dos catalães apoia a realização de eleições” e que “dois de cada três habitantes da Catalunha consideram agora impossível a secessão”.
Por tudo isto, o imbróglio catalão tem que continuar a ser acompanhado por quem deseje que seja encontrada a melhor solução que, naturalmente, não passa por aventureirismos.

A nascente do rio Douro secou

O Jornal de Notícias apresenta hoje uma reportagem de grande qualidade jornalística assinada por Eduardo Pinto, intitulada “A nascente do rio Douro secou”.
Essa reportagem é ilustrada com excelentes fotografias e como por vezes uma imagem vale mais do que mil palavras, neste caso o resultado é esclarecedor quanto ao que se está a passar.
Eduardo Pinto foi aos picos de Urbión onde o rio Douro nasce a 2.160 metros de altitude, falou com algumas pessoas de Duruelo de la Sierra e viu que o rio já é pouco mais do que um fio de água, devido à falta de chuva e à seca extrema que afecta toda a Península Ibérica. Ouviu os mais velhos dizer que nunca tinham visto uma seca tão grave, que os pastos faltam e que os rebanhos estão ameaçados. Depois, o jornalista seguiu o curso dos 897 quilómetros do rio até ao Porto.
A primeira represa do rio é o Embalse de la Cuerda del Pozo, que fica a 20 quilómetros da nascente e que apenas mostra um fio de água. A ponte romana que ficou submersa aquando da construção da barragem tem, literalmente, a água a passar-lhe outra vez por baixo. É uma imagem impressionante! A caminho de Aranda del Duero, na província de Burgos, vê-se que o rio Douro leva água, mas corre devagar e apresenta-se turvo. Depois a paisagem volta a mudar. Entra-se na zona de Valladolid e na Ribeira del Duero, onde se produzem alguns dos melhores vinhos de Espanha. Chega-se depois a Zamora e o panorama continua a ser desolador. Após passar Zamora e antes de chegar a Portugal há o Embalse de Ricobayo, um dos mais impressionantes da Europa e que nesta altura está com menos de 15% da sua capacidade de água.
A situação do rio Douro impressiona. Em Espanha, tal como em Portugal, a seca é a grande ameaça do momento e as previsões dos técnicos da meteorologia para os próximos tempos não são nada animadoras.

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Um museu das arábias: Louvre Abu Dhabi

A cidade de Abu Dhabi é a capital do emirado de Abu Dhabi e é também a capital federal dos Emirados Árabes Unidos (EAU), uma federação de sete monarquias árabes soberanas que, entre outras, inclui os emirados de Abu Dhabi e do Qatar. A sua enorme riqueza em hidrocarbonetos fez desta federação uma das regiões mais ricas do mundo, com o Abu Dhabi a possuir 9% das reservas mundiais de petróleo e quase 5% das reservas mundiais de gás natural. 
Com uma superfície de 67 340 km2, representando cerca de 86,7% dos EAU, o dinheiro é coisa que não falta no Abu Dhabi. Assim, há dez anos a cidade negociou com o Museu do Louvre a utilização do seu nome por um período de 30 anos num projecto museológico que iria ser construído na ilha Saadiyat, a cerca de 500 metros da costa do Abu Dhabi. Esse projecto – Louvre Abu Dhabi - da autoria do famoso arquitecto francês Jean Nouvel, pretende ser um dos maiores e melhores do mundo e demorou cerca de dez anos a ser construído. É composto por mais de cinco dezenas de blocos brancos, a maioria dos quais rodeada de água o que faz do conjunto uma espécie de arquipélago. A sua peça central é uma gigantesca cúpula prateada que cobre todo o espaço museológico e que apesar da sua aparente leveza pesa 7500 toneladas, o mesmo que a Torre Eiffel.
Segundo refere o diário francês Le Télégramme, os responsáveis do novo museu pagarão mil milhões de euros pelo uso da marca Louvre durante 30 anos e por facilidades no empréstimo de obras de referência de museus e monumentos franceses, estando asseguradas na exposição inaugural obras de Leonardo da Vinci, Van Gogh e Edouard Manet. Vai mesmo ser um museu das arábias!

terça-feira, 7 de novembro de 2017

A anormalidade da meteorologia ibérica

A noção de bom tempo está sempre relacionada com a ocorrência de dias solarengos com altas temperaturas, mas muitas vezes são esquecidos os efeitos que este bom tempo produz quando acontece fora de tempo e fora de lugar. É o que está a acontecer em muitas regiões de Espanha onde, segundo revela hoje o diário ABC, se está a viver o quinquénio mais quente da história espanhola, originando que as barragens estejam a níveis de 20% da sua capacidade, que haja ondas de incêndios devastadores, que sejam feitos cortes no abastecimento de água e se verifiquem perdas milionárias nos campos e nas explorações agrícolas devido à seca. O mês de Outubro foi uma verdadeira anomalia meteorológica e em algumas cidades como Salamanca, Cáceres e Ourense, jamais se tinham verificado temperaturas tão altas com os termómetros a alcançarem valores da ordem dos 35º C. Estas altas temperaturas associadas à falta de chuvas, têm agravado a situação espanhola que é classificada como uma situação grave de seca.
Naturalmente, a situação descrita hoje na reportagem do ABC, também se está a verificar em Portugal.
O IPMA anunciou que o mês de Setembro foi “extremamente quente” e que, em finais do mês, cerca de 81% do território continental estava em seca severa, 7,4% em seca extrema, 10,7% em seca moderada e 0,8% em seca fraca. Significa que a conjugação de valores da precipitação inferiores ao normal com valores da temperatura do ar muito superiores ao normal, deu origem em Portugal aos mesmos problemas que se verificaram em Espanha, com seca severa, incêndios devastadores, escassez de água nas barragens, racionamento na utilização da água e pouca humidade no solo.
O problema é muito grave e só é lamentável que seja aproveitado por alguns para a luta política.

Donald Trump impôs o medo e a incerteza

No dia 8 de Novembro de 2016, com surpresa geral, os americanos elegeram Donald Trump como o 45º presidente dos Estados Unidos e, aos 70 anos de idade, tornou-se o homem mais velho de sempre a ser eleito para um primeiro mandato presidencial.
Apesar de só ter tomado posse no dia 20 de Janeiro de 2017, a passagem do primeiro aniversário da sua eleição está a dar origem ao aparecimento na imprensa internacional de balanços sobre o seu desempenho. Assim faz a revista alemã Der Spiegel na sua última edição, com uma sugestiva capa em que a onda de Trump parece arrasar ou inundar as instituições e a sociedade americana.
Os Estados Unidos estão mais divididos do que nunca quanto ao desempenho presidencial e numa recente sondagem da Gallup Poll, o presidente recebia apenas 35% das opiniões favoráveis, que é a mais baixa taxa de popularidade alguma vez tida por um presidente em exercício. Porém, o bom desempenho da economia americana e a ausência de uma oposição consequente que ainda não se refez da derrota de 2016, têm permitido que Donald Trump esqueça muitas das suas promessas eleitorais.
Porém, para muitos observadores, a política externa errática de Trump pode ter graves consequências para a Humanidade, devido às suas escolhas políticas, à sua fanfarronice e aos seus tweets incendiários e provocadores.
Na Europa, a popularidade de Trump também deixa muito a desejar e, segundo a Odoxa-Dentsu Consulting, quase 90% dos europeus têm uma má imagem do presidente americano. A grandeza e a respeitabilidade americanas que durante sete décadas foram a base da segurança global estão a ser corroídas por Donald Trump e os Estados Unidos já deixaram de ser uma referência para os europeus. O slogan “America first” tem dado muito maus resultados e os exemplos das más políticas de Trump sucedem-se por todo o lado, desde a Coreia do Norte à Síria, passando pelo muro do México, o Obamacare ou os acordos de Paris.
Trump trouxe o medo e a incerteza, quando todos precisávamos de confiança e de serenidade para enfrentar os enormes desafios do nosso planeta. Evidentemente que a América merecia melhor e o mundo também.

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Web Summit 2017 e a Lisboa cosmopolita

A partir de hoje Lisboa vai ser a capital mundial da tecnologia durante quatro dias ao receber no Altice Arena e nas instalações da FIL a conferência global Web Summit 2017, na qual participarão 60 mil pessoas, 20 mil empresas, dois mil jornalistas e mil oradores, entre os quais se destacam o secretário-geral da ONU António Guterres, o antigo vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore, o antigo presidente francês François Holland, o ex-primeiro ministro grego George Papandreou e diversos primeiros-ministros em actividade.
Esta cimeira tecnológica que junta startups e grandes companhias em torno das tecnologias e do mundo digital, nasceu em 2010 na Irlanda, mas em 2016 mudou-se para Portugal por três anos, tendo registado nesse ano a participação de visitantes de 166 países e gerado uma injecção estimada de 200 milhões de euros na economia portuguesa, um quarto dos quais foi absorvido pela indústria hoteleira.
É comummente aceite que a Web Summit veio dar projecção e melhorar a imagem internacional de Portugal como um país moderno e aberto à inovação tecnológica, o que constitui um factor de atracção de investimento. Os elogios à capacidade organizativa portuguesa chegam de todo o lado e esta manhã já se viam muitos participantes na conferência na linha do metropolitano que serve o Parque das Nações, cujas estações estão adequadamente sinalizadas para ajudar os visitantes.
A cidade de Lisboa está, portanto, na agenda mediática internacional por boas razões: ontem assistiu à largada da 3ª etapa da Volvo Ocean Race e hoje vai assistir à abertura da Lisbon Web Summit 2017. Lisboa é mesmo uma cidade cosmopolita.

domingo, 5 de novembro de 2017

Moçambique e a febre dos Mercedes

Em meados do corrente ano, o governo de Moçambique adquiriu 18 viaturas Mercedes-Benz para atribuir a deputados da Assembleia da República, que custaram cerca de três milhões e quinhentos mil euros e essa decisão provocou polémica e muita indignação, porque o país atravessa uma grande crise financeira, tem grandes manchas de pobreza e tem adoptado medidas de austeridade muito severas. O semanário Savana que se publica em Maputo associou-se a essa indignação e, na sua última edição, destaca que “há Mercedes a mais na Pérola do Índico”.
A imprensa moçambicana tem criticado os excessos de despesa com a compra de viaturas e tem salientado as muitas as carências básicas do país, aludindo à falta de medicamentos nos hospitais, à necessidade de carteiras escolares, à falta de papel e de tinteiros nas repartições públicas e à precaridade dos transportes públicos que transporta os passageiros em condições desumanas. A crítica à actuação governamental também se tem centrado na execução do Programa Estratégico para a Redução da Pobreza Urbana que recebe uma verba semelhante à que foi afectada à aquisição de viaturas.
Agora, indiferente a uma generalizada indignação que nascera com a aquisição dos 18 Mercedes-Benz destinados a deputados, o governo moçambicano decidiu comprar mais 45 viaturas de luxo para dirigentes do Estado, em que abundam os Mercedes-Benz e os Toyota Land Cruisers, tendo a respectiva factura atingido um milhão e seiscentos mil euros.
É um escândalo nacional esta febre pelos bons carros. O Presidente da República, Filipe Nyusi, não tem deixado de criticar o despesismo da administração pública moçambicana, sobretudo em relação à aquisição de viaturas e à mentalidade de alguns dirigentes que não abdicam de viatura para a cidade e viatura para o campo. Onde terão aprendido estas vaidades os dirigentes moçambicanos?

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

O independentismo catalão não cede

A Catalunha é uma das 17 comunidades autónomas de Espanha, tem língua, história e cultura próprias e, também, tem a aspiração de se tornar um estado independente. É uma história que tem alguns séculos e que terá começado quando, na segunda metade do século XVI, o rei Fernando de Aragão casou com a rainha Isabel de Castela, levando à unificação da Espanha, que passou a integrar a Catalunha. Mais tarde, com a guerra da Sucessão em que a Europa e a Espanha se dividiram, aconteceu o cerco de Barcelona e a sua rendição no dia 11 de Setembro de 1714. A soberania catalã foi então abolida e foram impostos a língua e os costumes castelhanos, fazendo da Catalunha uma “província espanhola” tutelada por Madrid. Quando em 1931 a Espanha se tornou uma república, a Catalunha voltou a conquistar a autonomia, mas perdeu-a com a ditadura franquista. A restauração da democracia trouxe a autonomia de novo à Catalunha em 1979.
A Catalunha tem, portanto, um arreigado e secular sentimento independentista e as aspirações catalãs não podem ser ignoradas. Porém, como não estamos no tempo de libertadores nem de caudilhos, tudo tem que cumprir certos preceitos, designadamente o da legalidade interna e a da aceitação internacional.
Acontece que o governo da Catalunha foi longe de mais e no dia 1 de Outubro avançou para um pseudo-referendo e inventou algumas centenas de feridos resultantes da violência policial castelhana. Só acreditou quem quis, mas a escalada da tensão entre Madrid e Barcelona acentuou-se. No dia 27 de Outubro, um grupo de 70 dos 135 deputados do Parlamento da Catalunha votou a Declaração Unilateral de Independência. Ninguém a reconheceu externamente. A resposta de Madrid foi dura ao anular aquela declaração, demitir o governo e suspender a autonomia catalã. Alguns responsáveis políticos foram presos, mas Carles Puigdemont está ausente em Bruxelas, numa atitude de grande cobardia e, eventualmente, de traição à causa catalã. Entretanto, a imprensa catalã colocou-se abertamente contra a repressão das autoridades de Madrid e tem-se mobilizado na defesa da autonomia e dos governantes catalães e, na sua edição de hoje, o diário catalão EL Punt Avui publica o cartaz que exige a libertação dos presos políticos.  
Como aqui escrevemos no dia 29 de Setembro a “aspiração independentista catalã vai provavelmente sair reforçada deste processo, mas vai exigir que no futuro seja conduzida por gente mais capaz que os Puigdemont e os Oriol Junqueras”.

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Macau - Creative City of Gastronomy

A imprensa de Macau destacou hoje a recente atribuição do título de Creative City of Gastronomy que foi conferido à cidade pela Unesco Creative Cities Network (UCCN), durante o XI UCCN Annual Meeting que terminou no passado dia 31 de Outubro na cidade francesa de Enghien-les-Bains. O jornal Macau Post destaca aquela notícia na sua edição de hoje e apresenta uma entrevista com Maria Helena de Senna Fernandes, a directora do Gabinete de Turismo do Governo de Macau, em que salienta a importância que terá para o turismo macaense o facto da cidade passar a ser membro da UCCN.
A UCCN foi lançada em 2004 pela Unesco como um projecto destinado a promover a cooperação entre as cidades que apostam na criatividade, na inovação e nas indústrias culturais como factores estratégicos para a promoção do seu desenvolvimento sustentável e, actualmente, já agrega 180 cidades de 72 países, que se distribuem pelas sete categorias ou campos em que as cidades mais se distinguem na área da criatividade: Artesanato e folclore, Media arts, Cinema, Design, Gastronomia, Literatura e Música.
Embora se trate de atributos ou rótulos ainda sem significativo impacto, verificamos que há algumas cidades portuguesas que já são membros da UCCN, assim sucedendo com Óbidos (Literatura) e Idanha-a-Nova (Música) desde 2015, mas também com as cidades de Amarante (Música), Barcelos (Artesanato) e Braga (Media arts), que foram aceites na recente reunião de Enghien-les-Bains.
Com a adesão a esta interessante iniciativa da Unesco, as cidades lutam pela vida, pela sua notoriedade e pelo seu reconhecimento.