quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

A turbulência que está a ameaçar o Irão

Desde há alguns dias que nos estão a chegar imagens de grandes manifestações populares e de confrontos de rua em várias cidades do Irão e, ao contrário do Donald que se mostra eufórico e que tratou logo de afirmar que “os regimes opressores não duram para sempre”, eu fico muito apreensivo. Quando os americanos e os seus amigos se atiraram aos regimes de Saddam Hussein e de Muammar Kadafi, exactamente porque eram opressores e constituiam um perigo para o mundo, bem sabemos o que daí resultou. Na Síria o resultado acabou por não ser muito diferente. O  facto é que as “primaveras árabes” e as “revoluções islâmicas” têm dado em tragédia sempre que os americanos e as suas coligações nelas se envolvem com dinheiro, serviços secretos ou aviões. Por isso, era muito desejável que o Donald estivesse sossegado, até porque os sinais que nos chegam do Irão são muito inquietantes. Eles que resolvam o seu problema.
Certamente, a principal causa do descontentamento popular nas cidades iranianas é a crise económica, com o desemprego, o aumento do custo de vida e a corrupção, mas também com o dispendioso envolvimento iraniano no apoio ao regime sírio de Assad, às forças do Hezbollh libanês, aos xiitas do Bahrein e aos hutis do Iémen. Esse descontentamento está, naturalmente, a ser manipulado interna e externamente contra o moderado Presidente Hassan Rohani, um académico que estudou na Escócia e que fala inglês, alemão, francês, russo e árabe.
Internamente, os ultraconservadores do regime, que estão na oposição, não toleram a postura ocidentalizada de Rohani e querem afastá-lo do poder, enquanto externamente haverá interesses americanos, israelitas e sauditas que, invocando a repressão violenta do regime iraniano, que é o poder regional dominante e o maior adversário de Israel, parecem apostar no seu enfraquecimento. Rohani é, por isso, um alvo para todos.
O facto mais preocupante é que o Irão, que se tornou uma potência central no xadrez do Médio Oriente, está confrontado com uma situação que pode tomar proporções internacionais, sobretudo se os líderes do tipo Donald se quiserem intrometer. Não sei o que se passa no Irão, mas sei o que se passou com as intromissões americanas e as suas coligações no Iraque, na Líbia e na Síria. Hoje o diário francês Libération analisa o problema do Irão e, com a propósito, fala no despertar do medo.

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