sábado, 31 de março de 2018

As mentiras, o histerismo e a prudência

Eu não me esqueço do dia 16 de Março de 2003 quando George W. Bush, Tony Blair, José Maria Aznar e Durão Barroso se encontraram na Cimeira das Lajes e do início da intervenção militar americana no Iraque, que começou quatro dias depois. O pretexto foi acabar com Saddam Hussein e com as armas de destruição maciça que afinal não existiam, mas este caso serviu para a criação de uma versão mais actualizada sobre o poder da mentira, na linha de pensamento de Joseph Goebbels, a quem se atribui a frase que uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade.
Outros casos semelhantes têm acontecido desde então, quer no plano interno, quer no plano internacional, em que a mentira tem sido utilizada para enviezar a realidade, manipular a opinião pública e para produzir determinados efeitos.
O mais recente caso deste tipo de actuação é a expulsão de 23 diplomatas russos pelo presumível envolvimento do Kremlin de Moscovo no envenenamento em território britânico de um ex-espião russo e da sua filha, sem que ainda haja prova dessa acusação. O governo de Theresa May invocou a alta probabilidade das autoridades russas estarem envolvidas nesse caso e, dessa forma, desviou a atenção interna e internacional dos problemas que tem entre mãos. Donald Trump, que acabara de felicitar Putin pela sua reeleição, esqueceu o seu slogan “America first” e decidiu expulsar seis dezenas de diplomatas russos, porque viu estar aí uma forma de perturbar o crescente poder de Vladimir Putin e dar ânimo aos falcões americanos. Depois seguiram-se duas dezenas de países que, simbolicamente e numa solidariedade misturada com hipocrisia, expulsaram alguns diplomatas, casos por exemplo da Alemanha, França e Canadá (quatro cada), Espanha, Itália, Holanda e Dinamarca (dois cada) e Bélgica, Finlândia, Suécia, Hungria, Irlanda e Roménia, entre outros (um cada).
Portugal usou da prudência e foi solidário com os seus parceiros da NATO e da UE, mas não alinhou no histerismo daqueles que confundem a Rússia com a União Soviética e que apostam numa nova guerra fria para alimentar as suas indústrias de armamento. Tudo está por provar e não podem ser as políticas erráticas de Theresa May e de Donald Trump a condicionar a diplomacia portuguesa e a boa relação que o nosso país quer manter com a Rússia e com todos os povos do mundo. Significativamente, o importante Washington Post apenas dedicou uma pequena coluna a este assunto que, certamente, considerou um fait-divers da política internacional para desviar as atenções de outras situações.

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